VESTINDO VINGANÇA: EXPLORANDO A ICONOGRAFIA YŪREI, por Luiz Vinicius Rodrigues dos Santos e Rodrigo de Sousa Barreto

  

A sociedade japonesa já foi conhecida por ser uma sociedade com um forte protagonismo feminino. Entre o final do período Yayoi (1000 a.C. — 300 d.C.) e início do período Yamato (250 d.C. — 710 d.C.), devido ao controle sobre as atividades agrícolas, a mulher estava à frente da sociedade. Além disso, a mulher também esteve, fortemente, presente na produção artístico-literária da civilização japonesa, responsáveis pelo desenvolvimento de um aspecto importante da identidade nacional, a língua, criadoras do hiragana, quando ainda eram proibidas de aprender a língua chinesa. Mulheres estiveram por trás de xogunatos, influenciando as dinâmicas políticas, e participaram de atividades guerreiras, como as Onna-Bugeisha (女武芸者).    

 

Apesar das grandes contribuições, o domínio dos homens seguiu tentando diminuir a participação das mulheres na história, construindo a imagem de uma civilização patriarcal onde as mulheres não possuem voz. 

 

Cada vez mais ignoradas, às sombras, a história das mulheres foi vinculada ao ambiente doméstico, onde as suas narrativas não importavam, e tudo orbitava em torno do homem. Apesar disto, o homem seguiu temendo o feminino e, como forma de opressão, perpetuou histórias onde o perigo era a mulher.

 

Independentemente da cultura, o mal instituiu-se como algo feminino, a curiosidade e o desrespeito de Eva, condenam a humanidade a desgraçada, desgraça essa que nunca conheceriam se estivessem sob a proteção do Éden. Na cultura Iorubá, as histórias de Ọṣun são cercadas de desavenças, guerras, rivalidade com outros orixás; tal qual o fruto de Eva, Pandora liberou todos os males imagináveis ao abrir a caixa; no Brasil, Iara afogava os homens que seduzia. No Japão não diferiu: o mal foi pensado como feminino e, assim como com as bruxas no Ocidente, tudo que era visto como símbolo do feminino foi veiculado como propagação do Mal.

Este artigo propõe-se, através do levantamento de fontes bibliográficas, literárias e visuais, a análise da construção iconográfica dos espíritos vingativos de mulheres na cultura japonesa, e como essas narrativas foram construídas.

 

Espíritos Vingativos: Lendas e Literatura

A visão japonesa do pós-morte se distingue do universo judaico-cristão sob o qual o Ocidente e as nações ocidentalizadas estão acostumados ou foram submetidos. A concepção japonesa sob a morte e o mundo espiritual é semelhante, em diversos aspectos, a maneira que os povos nativos americanos enxergavam o pós-morte, porém, essa se perdeu diante da imposição da ótica do colonizador.

 

As barreiras entre mundo espiritual e carnal nas culturas asiáticas não são tão bem definidas, no sentido de que morte e vida não são conceitos opostos, a existência de um não implica no fim do outro, assim como diversos outros aspectos da filosofia japonesa, ambos conceitos coexistem em equilíbrio.

 

No universo espiritual japonês, e o mesmo se estende ao asiático, há conceitos que podem ser equiparados e/ou transpostos a uma crença ocidental para melhor compreensão.

 

O Reikon (霊魂) seria o equivalente à alma, ao morrer, se faz necessária a execução de todos os ritos funerários para que alma se reencontre com seus ancestrais no plano espiritual. Quando mortos inesperadamente, traumática ou violentamente, esses espíritos são chamados de Yūrei (幽霊) e para sua “ascensão” ao plano espiritual é necessário que eles finalizam seus assuntos inacabados no mundo dos vivos. Quando tomados por sentimentos negativos diante das dores e injustiças que lhe foram causadas em vida, esses espíritos convertem-se em espíritos vingativos denominados Onryō (怨霊), o que pode ser entendido como o dito “espírito obsessor” em algumas crenças ocidentais.

 

Os sentimentos mais comuns associados a corrupção do espírito, transformando-o em espírito vingativo, são ciúmes, ódio, inveja, ganância e rancor. Sob o Feminino esses sentimentos vão estar sempre atrelados ao homem. Seja o espírito da esposa que não aceita a nova vida de seu parceiro; mulheres vítimas da crueldade masculina, que além de sofrerem em vida, sofrem com a punição de se tornarem algo que simplesmente existe e se move pela força de sentimentos que não buscaram para se envenenar. Imbuídas em um contexto de violência doméstica, essas histórias refletem a desumanização do corpo feminino, a perversidade masculina que demoniza, pune e coloca-se como vítima.

 

A mais famosa, e talvez mais trágica das histórias do gênero conhecida, seja de Oiwa (お岩). Baseada em eventos reais do século XVII, a história de Oiwa se transpôs por diversas mídias.

 

Casada com o samurai Iemon, um homem sem qualquer tipo de honra ou valores, Oiwa vivia um casamento infeliz até decide retornar a casa de seu pai, por interesse em suas posses, Iemon vai atrás de Oiwa, e quando confrontado pelo pai de sua esposa, o samurai o mata. Para sua esposa, Iemon diz que alguém o matou e usa a promessa de realizar justiça a morte dele como artifício para levar sua esposa de volta para casa.

  

Ao retornar para casa, a vida de Oiwa volta a ser o mesmo tormento, e em meio a isso ela acaba engravidando. Enfrentando uma difícil gestação, após o nascimento de seu filho Oiwa acaba ficando muito doente, despertando descontentamento em Iemon. O samurai acaba se apaixonando pela neta de seu vizinho, o médico Itō Kihei, um homem muito rico que faz de tudo para que sua neta seja feliz.

 

Vendo o estado de Oiwa, e desejando casar sua neta com Iemon, Itō recomenda a Iemon uma pomada que deveria acelerar a morte de Oiwa, mas o medicamento acaba deformando-a e a aparência da esposa causa repulsa no samurai.

 

Oiwa segue sofrendo com a enfermidade e sem qualquer poder para reagir, enquanto isso seu marido começa a penhorar seus bens. Vendo que o plano de Itō não deu certo, o homem decide executar um novo plano, contratando seu amigo, Takuetsu, para estuprar Oiwa, assim ele poderia alegar traição e se separar.      

 

Iemon sai de casa para que Takuetsu possa cumprir o acordado, chegando lá ao ver o estado de Oiwa o homem fica tão assustado que não segue o combinado e revela todo plano a mulher, além de mostrar-lhe seu reflexo em um espelho. Desolada pela realidade, Oiwa de mata e até seu último suspiro amaldiçoa o homem que causou sua ruína.

 

O corpo de Oiwa é descoberto pelo servo de Iemon, que estranha a reação de seu senhor, e é imediatamente morto pelo samurai. Agora livre, ele pode se casar com a bela, jovem e rica mulher por quem se apaixonou.

 

Tomada pelo ódio, o espírito de Oiwa começa sua vingança na noite de núpcias de Iemon. O espírito da falecida esposa assombra os sonhos do samurai, suas aparições o atormentam, dificultando distinguir o real do imaginário, até que ele saca sua espada e corta o corpo de Oiwa. Ao acordar de seu transe, o samurai depara-se com o corpo de sua esposa partido ao meio, e então o samurai é atormentado pela visão de seu servo, e toma a mesma atitude que com Oiwa: ao recobrar sua consciência percebe que matou Itō.

 

Desesperado, Iemon foge rumo às montanhas, perseguido pelo espírito de Oiwa, que inclusive se manifesta na forma de uma lanterna, recluso em uma cabana abandonada, Iemon sucumbe à loucura.    

 

“A relação entre o tipo de sofrimento que a mulher suporta e as ações de seu fantasma é um elemento notável em muitos desses contos. Frequentemente, quanto mais duro o tratamento da vítima, mais violenta é a reação do fantasma.” (JORDAN, 1985, p.27, tradução nossa)

 

A história de Oiwa é rodeada por crueldade. Há um esvaziamento da humanidade no corpo feminino, Oiwa, assim como as demais mulheres, não são indivíduos por si sós, mas sim, uma propriedade masculina. Iemon não hesita em armar para que sua própria mulher fosse estuprada, para então alegar traição, isso por que a mulher é vista como algo que só pode ser usado pelo seu dono. Entrando em questão, neste arranjo social, não era a violação sob o corpo feminino, mas sim, a violação sob a propriedade de outro homem.  

 

Outros elementos da vida de Oiwa há de se perpetuar como instrumentos de narrativas que tenham como protagonistas a mulher. A perda da beleza e a rivalidade com uma mulher mais bela ou mais jovem, temos um bom paralelo com a história da Branca de Neve onde sua madrasta fica cega por vingança ao saber que Branca de Neve é a mulher mais bela do reino. Perpetuando o estereótipo de que mulheres sucumbem à loucura com excesso de poder. No caso de Oiwa sua beleza e vitalidade são tomadas, primeiro pela enfermidade após sua gestação e depois pela crueldade de seu marido, a vingança da protagonista sob a nova esposa de Iemon não é gratuita ou movida pelo desespero diante da perda do efêmero.

 

O destino de Oiwa também é definido pela maternidade: devido às condições da época, a gestação de Oiwa foi um período difícil. Após dar à luz, a personagem acaba sendo acometida pela doença, acarretando uma ideia da maternidade como veículo de vida tanto quanto de morte.

 

A maternidade também é um dos caminhos narrativos abordados em histórias de espíritos vingativos, como em “A Rocha Chorosa”. Nesta história temos uma mulher grávida, morta em meio a uma viagem, seu sangue cai sobre uma rocha que guarda seu espírito que realiza aparições até seu marido cruzar seu caminho, entregando-o seu bebê e relatando o ocorrido, onde o mesmo jura vingança. Assim como a história de Oiwa, essa narrativa há de sofrer modificações conforme o tempo e região que for contada, mas em sua essência, ela carrega a ideia da maternidade como algo que transcende a vida.

 

Geralmente em narrativas de espíritos de mulheres grávidas, o espírito da mãe trata de preservar a vida de seus bebês alimentando-os com doce de arroz até que sejam encontrados. Nessas narrativas, a maternidade serve tanto para punição quanto para idealização do feminino, o que será bastante explorado no cinema de horror, onde a maternidade é uma virtude, e a heroína corre contra o tempo para salvar sua criança.

 

 

O Visual e o Vestir Fantasmagórico Feminino

 

FIGURA 1. Enjaku, Ichikawa Yonezô como o Fantasma de Oiwa, 1865. Gravura em bloco de madeira. 25.1 × 17.8 cm. The Metropolitan Museum of Art.

 

A visualidade desses espíritos vingativos femininos é muito característica. Para além de sua construção no mundo flutuante das imagens das gravuras ukiyo-e, onde esses visuais se assentaram no imaginário coletivo, essas referências partiram, primeiramente, de elementos históricos de um mundo assentado.

 

Por quimono ou kimono (きもの/着物), temos literalmente “coisa de vestir” (YAMANAKA, 1982), onde ki () = “vestir” e mono () = “coisa”, ou ainda “objeto”. A história da clássica vestimenta em formato de T que conhecemos hoje está intrinsecamente ligada às formas ancestrais de vestir no Japão, advindas de uma variedade de culturas tanto internas quanto externas ao país.

 

Com enfoque em referências externas, o quimono utilizado pela maioria das figuras fantasmagóricas que vemos é denominado kyōkatabira, onde kyo () significa “sutra”, e katabira (帷子) que é um quimono de verão leve, sem forro e feito de fibras de cânhamo, essencial para ocasiões como um café da manhã ou um banho, originado a partir de adaptações desde o período Heian (794 d.C. – 1185 d.C.) (IWAO, Nagasaki in JACKSON, 2015, p. 10).

 

“Acredita-se que o uso do katabira branco tenha surgido por volta do mesmo período, como uma mistura de tradição xintoísta e budista. Dizia-se que o imperador usava um quimono branco ao realizar rituais religiosos durante o período Heian. Ao contrário do cânhamo grosseiro dos plebeus, a vestimenta do imperador era feita de seda e era chamada de byakue (白衣), significando nada mais complicado do que “manto branco”. Os sacerdotes xintoístas adotaram a moda, com um traje completo chamado jōe (浄衣) que significa “manto purificado”. No dia do casamento, as noivas usavam um quimono branco chamado shiromuku (白無垢), que significa “pureza branca”.” (DAVISSON, 2012)

 

A cor branca permanece como um dos principais legados do impacto budista na cultura nipônica, edificado eximiamente às crenças nativas (ou shintō). De fato, a cor branca em muitas localidades do hemisfério asiático representa o luto e o divino. No Japão, não sendo diferente, ela conjectura uma cor de elementos sagrados e da pureza (HIBI, 2000), pouco utilizada em ocasiões comuns. É também reconhecida como a cor dos peregrinos, onde japoneses budistas se vestiriam em um traje totalmente alvo, imbuído de escritos e sutras, e sairiam pelo mundo com uma bengala, uma bolsa, uma faixa-de-cabeça triangular, um terço e protetores para mãos, joelhos e costas em sua “jornada final à morte”, ou shidenotabi (死出の旅). A denominação de todo esse visual é tida por shinishozoku (死に装束), que significa algo como “o traje para alguém que vai para a morte”. Outra parte essencial deste visual é o fechamento do kyōkatabira do lado direito sobre o esquerdo: pessoas vivas devem sempre vestir o quimono com o lado esquerdo sobre o direito. O teórico Zack Davisson defende uma hipótese que a utilização do quimono com o lado direito sobre o esquerdo é advinda da utilização das cortes chinesas antigas, onde os mesmos que não teriam a necessidade de um trabalho braçal se vestiriam dessa forma para se distinguirem da forma de utilização das grandes massas. Dessa forma, quando os membros da sociedade comum morriam, eles seriam saudados da mesma forma e com o respeito que se saudavam os aristocratas.

 

Ao observar a gravura Yūrei-zu (幽霊図), gênero artístico que retrata fantasmas, espíritos vingativos ou atividades sobrenaturais, retratada na Figura 1, podemos constatar algum dos elementos essenciais à visualidade artística de um espírito: a começar pelo próprio kyōkatabira amarrado por um obi (), “faixas” ou “cintos” dos quimonos, de maneira bastante expressiva: arrastando-se no chão, com mangas alongadas e uma miríade de drapeados. De maneira geral, nunca vemos os pés dessas mulheres, pois esse seria um elemento que as colocariam “assentadas” na realidade; como a própria gravura se trata de uma representação de um espetáculo cênico, o comprimento excessivo do figurino ajuda a formar a sensação “flutuante” que temos a mirar tal figura. Em conjunção ao “corpo” de Oiwa, temos seu filho enrolado em algo que aparenta ser uma espécie de quimono em cores vibrantes, o que nos informa que a criança permanece viva.

 

Fatores como braços torcidos de uma maneira não humana, caras tortas e cabelos longos e despenteados são características também muito regulares. Um fantasma não tem uma “forma” física, logo ele pode se tornar o que quiser; a cara torta de Oiwa indica os últimos resquícios de sua vida humana: mais especificamente temos um lado de seu rosto caído, o que seria efeito do veneno tomado; por fim, os cabelos despenteados entram em voga com a situação que aparta Oiwa do mundo carnal: penteados são para seres vivos de uma sociedade extremamente exigente em relação a sua aparência e porte social. De outro modo, seu cabelo também representa seu estado de ódio e raiva, artifício essencial para a expressividade das gravuras ukiyo-e.

 

Em segundo plano, no canto superior esquerdo ao lado de Oiwa, temos um hitodama (人魂), “alma humana” em tradução literal, bolas de fogo flutuantes de diferentes cores que poderiam ser associados às lendas dos fogos-fátuos no cânone ocidental. Existem teorias e contos que dizem que sua presença está intrinsecamente relacionada ao nascimento de bebês, prelúdios de morte ou na cena após a morte de um indivíduo, assim como quase sempre aparecem junto às manifestações de espíritos vingativos, principalmente nas gravuras yūrei-zu. Existem diferentes denominações e tipos de paralelos ao conceito de “fogo-fátuo” no Japão, mas deixemos isso para um futuro tópico. Na Figura 2 temos um bom exemplo da imaterialidade desses espíritos: Oiwa se transforma em uma lanterna, ou a consome ao tomar sua forma? Já na Figura 3 temos a manifestação fantasmagórica da Rocha Chorosa e seu fiel hitodama a seu lado.

 

Outrossim, os fundos das Figuras 1, 2 e 3 evocam momentos de sobriedade cromática para a construção de sua visualidade, com o preto e tons de cores sóbrias realçando os elementos focais das gravuras, trabalhados aqui como o elemento vital da arte japonesa: a sombra.

 

“A arte japonesa tem um gosto pelas sombras. Sombra não significa ausência de luz, mas sim a tenuidade dela. A luz se torna fraca, servindo para destacar aquilo que poderia ser escondido pela total escuridão. A sombra é um elemento de apreciação estética, um objetivo da arquitetura e parte de um código de etiqueta. Ela ocupa todos os devidos espaços e limita-se diante daquilo que a fraca luz consegue iluminar.” (SANTOS, 2023, p. 84)

FIGURA 2. Shunbaisai Hokuei, Iemon e o Fantasma de Sua Esposa, Oiwa. 1832. Gravura em bloco de madeira. Disponível em: <Iemon and the Ghost of His Wife, Oiwa - Legion of Honor - Ukiyo-e>.

 

FIGURA 3. Utagawa Kuniyoshi,  A Rocha Chorosa, 1845-46. Gravura em bloco de madeira, 35.8 x 23.3 cm. Museum of Fine Arts, Boston.

 


 

Considerações Finais

O Japão sempre foi motivo de curiosidade, com as barreiras dentre conceitos que o “ocidente” sempre considerou dicotomias, borradas. O folclore japonês ocupou-se de atravessar a sociedade e estabelecer novos diálogos.

 

Enquanto em outras culturas as lendas possuem um caráter de “aviso”, as histórias de espírito vingativos trazem denúncias de situações quotidianas. Tirando o passado do lugar sacro que o saudosismo o atribui, as histórias de espíritos vingativos colocam sob a luz uma problemática que nunca abandonou a história da humanidade: a violência de gênero.

 

Se alguns contos alertam seu público a questões como “cuidado com o que deseja”, “não entre em lugares proibidos” ou “não fale com estranhos”, as histórias aqui abordadas mostram que o aviso é claro: a mulher está em perigo aonde quer que for. Enquanto o homem, através da violência, faz valer sua vontade, a mulher é colocada no papel de vítima e antagonista de sua própria história, tendo sua imagem e memória demonizadas.

 

A arte se mostra como principal suporte deste imaginário ao exercer um papel fundamental na construção e disseminação dessas imagens do mundo flutuante perante uma sociedade extremamente moderna, onde uma de suas principais atividades é produzir e, consequentemente, consumir imagens (SONTAG, 2004). Deste modo, restam os resquícios de toda uma potência visual que determina a forma que até mesmo um espírito deve se vestir, manifestar-se e portar-se, embasados, em parte, em uma visão masculina.

 

Referências

Luiz Vinicius Rodrigues dos Santos é bacharel em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e co-coordenador do Grupo de Estudos em Arte Asiática (GEAA - UFRJ) [luizvrs21@gmail.com];

 

Rodrigo de Sousa Barreto é mestrando em Design pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e co-coordenador do Grupo de Estudos em Arte Asiática (GEAA - UFRJ) [barreto_rodrigo@yahoo.com.br].

 

CÁNEPA, L. L. ; FERRARAZ, Rogério . Espetáculos do medo: o horror como atração no cinema japonês. Contracampo (UFF), v. 1, p. 04 – 23, 2012.

 

DAVISSON, Zack. What is The White Kimono Japanese Ghosts Wear?. Hyakumonogatari Kaidankai, 2012. Disponível em: <https://hyakumonogatari.com/2012/04/04/what-is-the-white-kimono-japanese-ghosts-wear/>

 

JACKSON, Anna. Kimono: The Art and Evolution of Japanese Fashion. Londres: Thames & Hudson, 2015.

 

JORDAN, B. Yurei: Tales of Female Ghosts. In: ADDISS, S. Japanese Ghosts & Demons: Art of the Supernatural. New York, George Braziller. 1985. p. 25 – 33. 

 

Oiwa. Yokai. Disponível em: <Oiwa | Yokai.com>. Acesso em: 08 de outubro de 2022.

 

ONRYŌ E YŪREI: OS ATERRORIZANTES ESPÍRITOS VINGATIVOS JAPONESES. Caçadores de lendas, 2014. Disponível: <Onryō e Yūrei: O Mito dos Espíritos Vingativos no Japão (cacadoresdelendas.com.br)>. Acesso em: 27 de novembro de 2022.

 

SANTOS, Luiz Vinicius Rodrigues. Caipirinha de Saquê: Artistas nipo-brasileiros na Montmartre carioca. Rio de Janeiro, 2023. Monografia (Bacharelado em História da Arte) Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

 

THAISY. Monstruosidade Feminina no Folclore Japonês: entre lendas e história. Valkirias, 2020. Disponível em: <Monstruosidade Feminina no Folclore Japonês: entre lendas e história (valkirias.com.br)>. Acesso em: 27 de novembro de 2022.

 

YAKUMO, K. Uma Promessa Quebrada. In: Horror Oriental. org.: Lua Bueno Cyríaco. Rio de Janeiro: Laboralivros, 2018.

YAMANAKA, Norio. The Book of Kimono. Tokyo, New York and San Francisco: Kodansha International, 1982.

Weeping Rock. UCI School of Humanities. Disponível em: <Weeping Rock (uci.edu)>. Acesso em: 25 de dezembro de 2022.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!
    Vocês saberiam responder se a mudança de forma, como Oiwa se transfigurou em lanterna, é uma característica presente em outras lendas fantasmagóricas ou de terror, ou se é algo pertencente apenas ao universo das histórias sobre espíritos femininos vingativos?

    Caroline Perin

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    1. Olá, Caroline! Muito obrigado pela leitura do texto e sua pergunta.
      Com base nas histórias elencadas no texto, podemos afirmar que as transfigurações (tanto de Oiwa quanto da Rocha Chorosa) abordadas aqui são próprias das respectivas personagens. Normalmente, temos diversas manifestações desses espíritos vingativos: em emulações de sons, lamentos, a forma que elas ficam a vagar pelo espaço; e todos esses tópicos entram de acordo com a forma com que elas morreram.
      Um exemplo mais contemporâneo para sua pergunta pode ser visto no filme "House" (1977) de Nobuhiko Obayashi: Temos um espírito vingativo feminino possuindo/assumindo diversas formas, inclusive a de um "gato diabólico".
      Quanto a questão que vai para fora do universo fantasmagórico feminino: não poderíamos responder vide que não nos aprofundamos no tópico "fantasmas masculinos". Seria necessário um maior embasamento teórico para isso.
      Luiz Vinicius Rodrigues dos Santos
      Rodrigo de Sousa Barreto

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  2. Olá, parabéns pelo excelente texto.
    Poderia a personagem Asami da obra Audição de Murakami Ryuu ser considerada como uma "modernização" do arquétipo de uma Onryou? Visto que a mesma apesar de não ser um espírito, apresenta parte da iconografia das Onryou, como as vestimentas brancas e a busca por vingança contra os homens que causaram sofrimento a ela.

    Bruno Valério Jesus de Assis Abreu

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    1. Oi, Bruno! Obrigado pela atenção ao texto!
      Não poderíamos afirmar que a personagem Asami se trata de uma 'modernização' do arquétipo Onryou (principalmente ao levarmos em consideração que ela não chega a ser um espírito). Contudo, fica um tanto claro que a escolha de seu figurino, em conjunto com suas motivações, mostra-se como uma decisão estética/criativa que faz um 'link' direto com a iconografia desses espíritos vingativos, ainda muito viva no Japão. Logo, ela mantém essa ligação com a tradição, mas seu principal referencial são as imagens contemporâneas.
      Para citar algumas 'modernizações' mais precisas, indicamos os anime/mangá: "Tomie" (1987-2000), de Junji Ito, e "Hell Girl (Jigoku Shōjo)" (2005-2009), de Miyuki Etoo. Também os filmes "House" (1977) e "The Discarnates" (1988), ambos de Nobuhiko Obayashi.
      São obras contemporâneas que trabalham com personagens mais próximas da ideia de 'modernização' dessas icônicas figuras.
      Luiz Vinicius Rodrigues dos Santos
      Rodrigo de Sousa Barreto

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  3. Olá, e meus parabéns pelo texto!
    A introdução me lembrou o poema que deu início à revista feminista Seitou, "Genshi, josei wa taiyō deatta" (“No princípio, a mulher era o Sol”), de Hiratsuka Raichou, e como a autora descreve a transição da figura feminina, que no princípio era o Sol e aos poucos se tornou a Lua, perdendo seu destaque, seu 'brilho'.
    Agora minha pergunta.
    Em Jujutsu Kaisen, de Gege Akutami, existe a personagem Rika Orimoto, que é uma menina que morre ainda na infância de maneira trágica diante de seu amigo, Yuta Okkotsu. Ela se torna um espírito vingativo amaldiçoado, sendo referida até mesmo como 'rainha das maldições'. Ao longo da história, apesar de parecer que a origem dessa maldição foram os próprios sentimentos negativos de Rika, nos é revelado que, na verdade, ela foi amaldiçoada pelos sentimentos de Yuta diante de sua morte. Se consideramos que as 'maldições' de Jujutsu Kaisen seriam de algum modo um paralelo com as 'Onryou', é possível a leitura de que o caso de Rika é uma subversão a ideia tradicional de que a transformação de um 'Yūrei' para 'Onryou' estaria sempre atrelada a sentimentos associados ao feminino?
    Rafaella Candido Rodrigues

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    1. Olá, Rafaella! Agradecemos sua leitura e pergunta...
      Poderíamos aplicar essa ideia de subversão em relação ao próprio gênero, que desde o ínicio aplica, basicamente, uma visão masculina sobre como seriam os sentimentos e atitudes femininas: transformando mulheres em criaturas monstruosas.
      A subversão então (no caso do anime em questão) trata de 'expôr' o fato de que esse espírito vingativo e amaldiçoado se tornou assim graças a uma ação aplicada em detrimento de noções ancestrais construídas pelo patriarcado (neste caso, japonês, mas que opera negativamente em diferentes âmbitos globais).
      Luiz Vinicius Rodrigues dos Santos
      Rodrigo de Sousa Barreto

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