ROXELANA, DA SERVIDÃO AO SULTANATO, por Talita Seniuk

  

Este trabalho busca apresentar a trajetória de Roxelana, uma eslava, serva ucraniana de nascimento que viveu durante os primórdios da Idade Moderna e que devido a sua beleza ascendeu socialmente, provando, com o passar dos anos que sua característica principal seria na verdade a inteligência. O artigo estrutura-se em três tópicos, As origens étnicas de Roxelana, O encontro com o sultão, e, O poder, respectivamente. Como referenciais utilizam-se Quataert [2008] que apresenta a temática otomana; Segrillo [2012] e Subtelny [2009] que abordam sobre algumas especificidades da Ucrânia; e por fim, Shutko [2015] e Peirce [1993], duas autoras que tratam especificamente sobre a personagem histórica, foco do debate. Vale ressaltar que existem inúmeros boatos e lendas sobre ela, ora amada, ora odiada; devido a singularidade de sua posição jamais ocupada por outra até a contemporaneidade.

 

As origens étnicas de Roxelana

Para que se possa compreender as origens de Roxelana [grafado também como Roxolana, Roksolana], em especial sua condição de nascimento – serva – faz-se necessário recorrer a história da Ucrânia, antes de se tornar um Estado centralizado como se apresenta hoje; além de relembrar que a nação faz divisa com a Rússia, Polônia, Bielorrússia, Moldávia, Romênia, Hungria e Eslováquia.

 

A Ucrânia atual e todo seu entorno possuem suas raízes no Estado Kievano – também chamado de Rus [formado por tribos eslavas de origem viking] – existente entre os séculos IX ao XIII, que compreendia diversas cidades-Estado compostas entre os povos eslavos orientais, os grão-russos [russos], os pequeno-russos [ucranianos] e os russos brancos [bielo-russos] [SEGRILLO, 2012] que formariam diversos reinos e principados para posteriormente delinear a Rússia, a Ucrânia e a Bielo-Rússia. 

 

O único elemento que unia a todos era a condição de vassalagem em relação ao Grande Príncipe de Kyiv. Devido as suas diferenças e até mesmo pelas suas características descentralizadas, esses reinos não foram capazes de frear as invasões mongóis vindas do Oriente e que se estenderam entre os séculos XIII ao XV, que só terminou com a unificação dos três povos sob o jugo de Moscou, dos russos. Essa investida asiática dispersou os povos eslavos, marcando-lhes a partir desse momento como povos separados [SEGRILLO, 2012].

 

À oeste da Ucrânia entre os séculos XIV e XVI, o território do Reino da Galícia e da Volínia foi dominado respectivamente pelos poloneses e pelos lituanos. Acredita-se que é nesse período que surge pela primeira vez a palavra “ukraína” para designar tudo aquilo que estava aos arredores da atual Kyiv e “rutenos” [русини - rusyny - derivado de Rus] para designar esse povo, vocabulário que valia para os bielo-russos também, enquanto os russos eram chamados de moscovitas [SUBTELNY, 2009].

A região da Galícia auxiliou durante séculos na proteção contra as invasões dos nômades asiáticos e era ao mesmo tempo uma passagem comercial entre o Oriente e o Ocidente, ao ligar trajetos entre os Mares Báltico e Negro com Bizâncio. E os ucranianos étnicos desse reino, pertenciam, entre outros fatores, mas até por esse contato direto, ao cristianismo ortodoxo, enquanto os poloneses, por exemplo, seguiam o cristianismo católico.

 

Roxelana, ou Anastasia Lisowska, nome atribuído à ela mas que divide os historiadores quanto as fontes confiáveis, nasceu em 1502 na cidade de Rohatyn [Рогатин], no Reino da Galícia, entretanto, região sob domínio polonês. Apesar disso, sua família era etnicamente ucraniana, seu pai era padre da Igreja Ortodoxa, que permite o matrimônio de seus sacerdotes desde que casem antes do celibato; totalmente diferente das regras do catolicismo que imperava na Polônia.

 

O encontro com o sultão

No Ocidente Solimão, o Magnífico ou Solimão I Kanuni no Oriente [Kanuni significa Legislador] nasceu perto do Mar Negro em Trabzon, na Turquia em 1495. Foi Califa do Islã e Sultão durante o apogeu do Império Otomano entre os anos de 1520 a 1566, ou de acordo com Quataert [2008] – a Idade de Ouro; num período marcado por campanhas militares, expansões territoriais [expedições na Pérsia, Europa Central e Oriental] e conquistas culturais significativas. Seu sultanato abrangia três continentes.

 

Uma de suas características principais era seu efetivo controle sobre a administração do reino, inspecionava regularmente os registros e liderava pessoalmente as campanhas militares [QUATAERT, 2008]. Obteve inúmeras vitórias com estas expedições e de acordo com Subtelny [2009] durante todo o século XVI a Europa estremecia só de pensar nas invasões otomanas, que devastaram a Hungria em 1529 e quase conquistaram Viena. Todo o lado oriental europeu ficava exposto às investidas asiáticas e ao sul, às otomanas.

 

Apesar de Anastasia viver no Oeste da Ucrânia, foi capturada por tártaros em 1520 e, depois de uma longa viagem, vendida como escrava no comércio de pessoas em Istambul. A data exata de quando ela se tornou uma das concubinas do harém de Solimão é imprecisa, mas de acordo com Peirce [1993] provavelmente foi um pouco antes dele se tornar sultão ou no primeiro ano que alcançou o poder. E ainda, para a mesma autora, ela pode ter sido um presente de outrem por ocasião da sua ascensão. 

 

Foi no harém que recebeu o nome de Roxelana, uma referência aos seus cabelos ruivos [PEIRCE, 1993], apesar de existirem várias histórias para esta origem e até de que seu verdadeiro nome é desconhecido [SHUTKO, 2015]. Embora houvessem inúmeras mulheres disponíveis para o sultão, em pouco tempo sua preferência ficou evidente e o casamento foi arquitetado. A cerimônia aconteceu no Palácio de Topkapi, de onde provinham todas as ordens do sultão na época; então, ela passou a se chamar Hurrem Haseki [Hurrem significando sorridente e Haseki favorita] um título bastante importante [PEIRCE, 1993] e inaugurar uma nova fase histórica, o Sultanato das Mulheres.

 

O poder

Solimão, que expandiu e enriqueceu o Império Otomano graças a sua maestria ao administrar um território tão vasto, articulou a permanência de elementos herdados do governo de seu pai e sultão, Selim I, mas soube romper com aquilo que se mostrava ineficiente, reformando questões jurídicas e administrativas no seu governo, que lhe renderam ser conhecido como O Legislador.

 

Durante o tempo que esteve à frente do Sultanato, conquistou Belgrado, Rodes, Tabriz, Bagdad; cercou Viena, Diu na Índia, Malta; tornou a Hungria um Estado vassalo e posteriormente o anexou ao seu Império [QUATAERT, 2008]; tudo em quarenta e seis anos.

 

Antes de Solimão, a política dinástica tinha a característica de ser descentralizada em diversas famílias reais, para com ele, ser unificada na sua pessoa e as decisões serem tomadas em Istambul [PEIRCE, 1993]. Isso rompeu com algumas tradições e permitiu que novas articulações fossem tecidas, em especial, pelos membros da sua própria família – filhos e esposa – o que não poupou-lhe de tragédias pessoais como traições e assassinatos.

 

Para Peirce [1993] se o século XVI foi uma era de destaque para reis e rainhas europeus, os otomanos na mesma época, também forjaram a sua, tendo como expoente Roxelana. A ascensão de uma concubina aos grandes espaços de poder, chancelada pelo sultão, representou uma ruptura no modus operandi da dinastia do sultanato.

 

O pouco tempo que separava a situação dela enquanto consorte real até sua nova posição como esposa legal, bem como as mudanças que aconteciam na administração do governo, fez com que o povo lhe chamasse de ziadi [que significa bruxa] e comentasse que ela havia enfeitiçado o sultão [PEIRCE, 1993], embora ninguém ousasse falar isso em público.

 

Vale ressaltar que segundo a tradição religiosa, Solimão poderia ter quatro esposas legais e quantas concubinas pudesse sustentar. Depois dela, o harém foi dissolvido e as mulheres foram doadas para os filhos dele ou tornaram-se empregadas do palácio [SHUTKO, 2015], além disso, o sultão recusou outras mulheres como presente a partir desse momento. E ainda, Roxelana, diferente de todas as outras esposas dos sultões anteriores rompeu com o protocolo de viver na residência real com seus filhos, mudando-se para o palácio [PEIRCE, 1993].

 

Roxelana, embora fosse cristã de nascimento, converteu-se para o Islamismo, condição indispensável para conquistar seu espaço. Além da sua língua materna, o ucraniano, obrigou-se a estudar turco, árabe e persa, idiomas que usava no palácio; aprendeu a tocar alguns instrumentos e a dançar, pois o sultão apreciava isso nas mulheres; lia e recitava poesias em voz alta.

 

As primeiras articulações de poder vieram com o nascimento do primeiro filho em 1521, Mehmed. Até esse momento, o sultão ainda frequentava seu harém mas com uma rara frequência; não obstante fosse conhecido além de tudo por outros líderes como um homem extremamente lascivo. E nos três anos seguintes, tiveram mais três filhos, período pelo qual ele deixou de se relacionar com outras mulheres, até com a mãe de seu primogênito, que inclusive naquele momento, segundo a tradição seria o seu sucessor, mas não por ser o primeiro, mas o mais forte [PEIRCE, 1993].

 

Até aqueles que visitavam o palácio tinham impressões bastante interessantes sobre o poder de Roxelana, registrando-as para a posteridade. O relato abaixo é do embaixador veneziano Bernardo Navagero em 1553, quando da sua visita ficou espantado com as mudanças que aconteciam na sua frente:

 

“Este sultão tem duas mulheres muito queridas; uma circassiana, mãe de Mustafa, o primogênito, a outra, com quem, violando o costume de seus ancestrais, ele se casou e considera como esposa, uma russa, tão amada por sua majestade que nunca houve na casa otomana uma mulher que gozava de maior autoridade. Diz-se que ela é agradável e modesta e que conhece muito bem a natureza do sultão.” [PEIRCE, 1993, p. 59]

 

Durante toda a vida tiveram seis filhos, além de Mehmed já citado, Selim, Abdullah, Bayazid, Dzhihangir e a única filha, Mihrimah. Entre os homens apenas Selim sobreviveu, pois dois morreram jovens e os outros além de brigarem entre si pelo trono do pai, não concordavam com o poder de sua mãe, chegando a conspirar contra. A ausência do sultão para as expedições militares, que ao todo foram treze, alimentavam insurreições que eram abafadas com muita habilidade por Roxelana.

 

Sobre sua trajetória, existem diversos fatos que são atribuídos à ela, mas que pela inexistência de fontes, são considerados apenas boatos, como a história de que ordenou que todos os filhos de Solimão fossem encontrados – o que aproximava-se de quarenta – e mortos, para abrir caminho para que seu filho Selim pudesse acender ao trono. A questão da sucessão do trono era o principal problema do sultanato de Solimão [PEIRCE, 1993].

 

Embora cada concubina do sultão pudesse até então ter apenas um filho dele, devendo se afastar para cria-lo nos subúrbios, e quando o mesmo alcançasse a maioridade deveria seguir com ele para uma cidade em que fora designado pelo próprio pai para cuidar; tal regra mais uma vez não se aplicou a Roxelana. Ainda que ela tenha se tornado sua esposa legal, havia estado no harém na posição de amante.

 

Percebendo o perigo que isso poderia causar para sua mãe e para sua ascensão ao trono, o primogênito do sultão, Mustafa, filho de Mahidevran, a primeira esposa legal, brigaram com Roxelana. Além da troca de ofensas, ela teve sua roupa rasgada e seu rosto machucado pela rival. Dias depois, quando Solimão solicitou a presença da sua mais nova favorita que ousou recusar seu convite, alegando que não estava digna o quanto ele merecia, ao saber os motivos para isso e ver o seu rosto, acredita-se que nesse momento ele tenha realmente se apaixonado e ficado bastante zangado com os causadores da intriga [PERICE, 1993]. 

 

Em tempos de beligerância, ela se correspondia com o sultão através de cartas, os temas versavam da saudade a administração do reino. Em uma delas, o sultão pedia informações específicas sobre as finanças [PEIRCE, 1993]. Outro fator que demonstra a confiança dele na sua esposa era que constantemente pedia que escrevesse cartas aos demais familiares que viviam em outros locais, trocando informações essenciais. Além disso, era tradição que as esposas e filhas do sultão se correspondessem também com outros reis e rainhas de outros lugares, selando amizades e uma relação diplomática.

 

Roxelana também influenciou seu marido e por vezes usou seu próprio dinheiro para construir [o que era permitido apenas aos homens] instituições filantrópicas, como hospitais, escolas, casas de passagem para peregrinos, asilos e cozinhas comunitárias, além de mesquitas. Recebeu sozinha diversos embaixadores, artistas e nobres enquanto seu marido estava ausente do palácio. Organizou festas familiares, cívicas e religiosas quando haviam datas que careciam de comemorações.

 

“A posição de Hurrem como a favorita do sultão deu a ela acesso a fontes de poder que nenhuma outra mãe de príncipe havia desfrutado. Ela dispunha de uma enorme riqueza, e sua residência na capital lhe dava maior acesso a informações e mais oportunidades de formar alianças políticas. A proximidade de Hurrem com o sultão – tanto emocional quanto física – deu a ela grande poder de persuasão sobre ele.” [PEIRCE, 1993, p. 90]

 

Não obstante a necessidade do véu pelas mulheres, ela andava com o rosto descoberto. Quebrando todos os protocolos reais, sentava-se ao lado do marido nas reuniões e tinha permissão para opinar também, o que era proibido para todas as outras. Outra regra que não se aplicava a Roxelana era a visita a biblioteca real e consequente leitura das obras, local que passava horas do dia.

 

Um elemento que merece destaque, foi o fato de que houve menos ataques otomanos à Ucrânia enquanto o relacionamento durou. Para alguns historiadores isso é resultado direto da ação dela sobre o marido, demonstrando um pouco de estima pelos seus compatriotas. Entretanto, há autores como Shutko [2015], que afirmam que esse período de relativa paz foi fruto da aliança entre o sultão e o rei polonês. 

 

O casamento durou aproximadamente quarenta anos. Roxelana morreu em 18 de abril de 1558 em Istambul, sendo enterrada na Mesquita de Solimão. Assim como sua vida, sua morte também é repleta de boatos, se fora envenenada ou se morreu naturalmente. Ele manteve-se viúvo por oito anos, até falecer em 6 de setembro de 1566 e ser sepultado ao lado da esposa. Selim, o filho de ambos, tornou-se sultão com a morte do pai, apesar da mãe não ter vivido para assistir seu desejo.

 

Considerações

Roxelana teve uma trajetória de vida análoga a um conto de fadas com suas respectivas especificidades, ao ascender da escravidão para o sultanato. Se sua beleza pode ter sido um dos motivos de Solimão se encantar por ela, certamente sua inteligência logo se sobrepôs a qualquer primeira impressão.

 

Esse casamento por si só já foi algo extraordinário para a época; e ainda, suas capacidades lhe permitiram manter-se numa posição delicada que exigia talento e cuidado frente a inúmeros inimigos, entre eles os próprios familiares, caso contrário não sobreviveria. E tal atitude lhe rende até hoje o reconhecimento como a Grande Imperatriz Oriental.

 

Roxelana estampa os anais da História como uma excelente representante do poder feminino em tempos que não permitiam tal empreita, o que demonstra sua habilidade em lidar com isso. Sua história é dividida entre aqueles que reconhecem seus esforços para se manter no poder considerando suas origens e os que alegam que para isso ela agiu de forma egoísta para alcançar seus objetivos.

 

Contemporaneamente, sua vida tanto na Ucrânia quanto na Turquia é tema de livros, poesias, músicas, séries, óperas, filmes, novelas, peças, pinturas, entre outros; além de nomear ruas, praças, lojas e estátuas que buscaram de alguma forma resgatar a história de uma eslava em domínios orientais.

 

Referências

Talita Seniuk é licenciada em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo e em Filosofia pela Universidade Metropolitana de Santos; pós-graduada em Metodologia do Ensino de História e Geografia pelo Centro Universitário de Maringá e em Ensino de Sociologia pela Universidade Cândido Mendes. Coautora do livro As Ucrânias do Brasil: 130 anos de cultura e tradição ucraniana pela Editora Máquina de Escrever. Atualmente é Professora de História efetiva na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, colunista do Jornal Ucraniano Pracia - Праця e colaboradora do Blog Exílio-migração política.

 

PEIRCE, Leslie. The Imperial Harrem: Woman and Sovereignty in the Ottoman Empire. Oxford: Oxford University Press, 1993.

 

QUATAERT, Donald. O Império Otomano das origens ao século XX. São Paulo: Edições 70, 2008.

 

SEGRILLO, Angelo. Os Russos. São Paulo: Contexto, 2012.

 

SUBTELNY, Orest. Ukraine: a history. Toronto: University of Toronto Press, 2009.

 

UKRAINKY. Como a ucraniana Roksolana se tornou amante do sultão. Oleksandra Shutko. Disponível em: https://ukrainky.com.ua/yak-podolyanka-nastya-lisovska-stala-volodarkoyu-sultana/

4 comentários:

  1. Muito interessante seu texto, uma figura muito instigante. Parabéns.
    Minha questão é: como Roxelana influenciou diplomaticamente o sultão? Com o povo dela e demais povos (como ela auxiliou na paz, de acordo com as referências que citam a paz). Havia noções de estratégia por ela? Quais?

    Paola Rezende Schettert

    ResponderExcluir
  2. Olá, Paola.
    Obrigada por sua pergunta e interesse na temática.
    Roxelana, podemos dizer, como escrevo rapidamente no texto, influenciou diplomaticamente o sultão ao receber os estrangeiros que visitavam o reino, corresponder-se com eles, e o que pode ser o ápice de um ato diplomático é o fato de que enquanto esteve “no poder” houve menos ataques otomanos à Ucrânia (na época, a região que hoje é este país). O que se sabe é que ela tinha conhecimentos que a colocavam a frente de algumas situações. É difícil mensurar as ações dessa mulher importantíssima, devido a diversos aspectos, como o acesso as fontes e até possíveis distorções sobre a realidade por ela ser mulher, ter inaugurado um período de poder feminino frente a uma historiografia que fazia questão de enaltecer os feitos masculinos.
    Espero ter respondido e contribuído com o debate.
    Obrigada!
    Talita Seniuk

    ResponderExcluir
  3. Talita, boa tarde!
    Excelente texto e tema interessantíssimo. Minha dúvida vai mais em direção ao uso de fontes históricas para o estudo da vida e dos feitos de Roxelana: há fontes? Se sim, quais? E como você trabalha com essas fontes e com as referências bibliográficas sobre o tema?
    Júlia Clara de Oliveira Carvalho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Júlia.
      Obrigada pelo interesse na temática e pela pergunta.
      Há fontes históricas sobre ela sim, embora, se comparada com outras personalidades femininas, muito poucas. O livro da Leslie Peirce intitulado The Imperial Harrem: Woman and Sovereignty in the Ottoman Empire que utilizei, tem bastantinha coisa e ele é relativamente fácil de encontrar a venda, apesar de não ter sido traduzido para o português até onde sei.
      Já o livro do Orestes Subtelny que também foi meu referencial de nome Ukraine a History não cita ela, mas trata muito bem do contexto; e para mim é o melhor livro de história da Ucrânia até hoje e se não me engano ou recentemente foi traduzido ou está em processo de tradução para nosso idioma, fácil encontrar a venda.
      O melhor referencial que podemos ter dela é a obra Roxolana: The Greatest Empresse of the East da autora Galina Yermolenko, mas ele não está disponível nem na Amazon, pra você ter ideia da dificuldade que é consegui-lo.
      Na Ucrânia tem mais coisa, mas o que mais tem são livros de ficção, que não confio muito. Ela é tema de músicas, séries e filmes com certa frequência, então o pessoal usa do conceito de “liberdade ficcional” para chamar a atenção, por vezes com o que não é real. Por exemplo, o livro Roxelana de Osyp Nazaruk, foi publicado em 1930, trata-se de uma novela, que só depois da queda da URSS em 1991 voltou a ser liberado pela censura soviética e passou a figurar no gosto do povo, baseando diversos programas de televisão. Não conheço essa obra, não sei se há verdade nela, mas ela é identificada como um drama. Recentemente foi traduzida para o inglês.
      Eu consigo trabalhar com essas fontes porque tenho algumas. A maioria da minha mini coleção é em inglês e ucraniano. Como domino os dois idiomas, não tenho tanto problema, inclusive em pesquisar nos acervos estrangeiros. Mas qualquer pesquisa que envolva personagens históricas femininas, sempre encontra resistência né? A historiografia é repleta de fatos legais, mas é difícil encontrar os feitos das mulheres.
      Espero ter respondido e contribuído com o debate.
      Obrigada!
      Talita Seniuk

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.