PRESSUPOSTO DOMINANTE E O ESTUDO DA CHINA, por André Bueno



Ao falar sobre como estudamos a China no Brasil, resta uma longa caminhada a cumprir. Estamos longe de superar a agenda orientalista ultrapassada do século 19 – repleta de preconceitos e imprecisões - que ainda domina grande parte das mentes brasileiras, apesar dos esforços persistentes que um pequeno número de estudiosos tem promovido. Seja por motivos estratégicos, seja para ampliar nossa visão de humanidade globalizada [e ambas as motivações são complementares], compreender a civilização chinesa é uma necessidade, indispensável para a superação de nossas limitações epistêmicas. A negação disso tem levado os estudiosos brasileiros a acreditarem na incauta possibilidade de definir o mundo ignorando mais de um sexto dele [e um terço da humanidade, se expandirmos essa dimensão para toda a Ásia], se satisfazendo assim com análises superficiais e – porque não dizer – pouco científicas [Bueno, 2020c].

 

Esse ‘critério científico’, a propósito, é o tema desse nosso pequeno ensaio. Quando alguém se pronuncia a partir do senso comum, compartilhando fragmentos de ‘conhecimentos científicos’ advindos de fontes midiáticas ou não especializadas, incorpora naturalmente uma série de preconceitos culturais que sobrevivem no imaginário brasileiro há pelo menos dois séculos. Isso não é aceitável, mas esperado dentro de um contexto educacional limitado, insuficiente, excludente e preconceituoso – basta ver que não há qualquer lei que obrigue escolas e universidades a trabalharem conteúdos asiáticos e braso-asiáticos -, como foi feito com as leis 10.639/2008 e 11.645/2008 que sabiamente trouxeram a história e a cultura indígena e africana para as salas de aula.

 

Contudo, há algo pior: o uso do recurso científico, por meio de seus promotores [os acadêmicos, cientistas, pesquisadores, intelectuais, professores, etc], como um instrumento de legitimação da exclusão dos chineses da agenda global contemporânea. Invertendo a ordem do processo científico, os preconceitos têm secundado os mais diversos tipos de hipóteses errôneas, que usualmente buscam reforçar antagonismos e preconceitos.  

 

Nesse sentido, gostaríamos de iniciar o texto desenvolvendo o conceito de pressuposto dominante, que nos serve de orientação para esse ensaio. Por definição, o pressuposto dominante é uma condição hipotética, baseada numa afirmação não comprovada, que guia o processo de ‘investigação’ por parte de alguns especialistas. Ou seja; ao invés de uma hipótese ser formulada a partir das evidências e de proposições constatáveis pela experiência, uma afirmação axiomática serve de hipótese a priori e guia a interpretação do problema, fazendo com que as evidências sirvam para comprová-la ou que sejam descartadas.  É uma hipótese inviável de ser comprovada; seus propositores elencam como elemento de prova aquilo que responde a sua ideia inicial, de maneira que tudo que possa divergir é excluído.

 

Nesse sentido, um excelente texto de James Rachels nos serve de orientação para esse ensaio. Nele, a filósofa define o que seria o pressuposto dominante, uma condição hipotética, baseada numa afirmação não comprovada, que guia o processo de ‘investigação’ por parte de alguns especialistas. Selecionai aqui um trecho, editado, que usaremos em nossa discussão:

 

“Há alguns anos, os membros de um grupo de investigadores liderados pelo Dr. David Rosenhan, professor de psicologia e direito na Universidade de Stanford, conseguiram introduzir-se em vários hospitais psiquiátricos fazendo-se passar por doentes. Os funcionários dos hospitais ignoravam que eles eram especiais; pensavam que os investigadores eram doentes como os outros. Os investigadores eram perfeitamente normais, seja qual for o significado do termo, mas a sua simples presença nos hospitais criou o pressuposto de que estavam mentalmente perturbados. Apesar de se comportarem com normalidade — nada fizeram para se fingir doentes — descobriram rapidamente que tudo quanto faziam era interpretado pelos médicos como sinal de seja qual for o problema mental que tinham inscrito nos formulários de admissão. [...] Do pessoal dos hospitais, ninguém deu pelo logro. Os verdadeiros pacientes, no entanto, perceberam tudo. Um deles disse a um investigador, "Você não é louco. Está a investigar o hospital". E de fato estava. Por que razão os médicos não perceberam? A experiência revelou algo sobre o poder de um pressuposto dominante: uma vez aceite uma hipótese, tudo pode ser interpretado para a apoiar. Quando a ideia de que os pacientes falsos tinham perturbações mentais foi admitida como pressuposto dominante, o seu comportamento não importava. Fizessem o que fizessem isso seria interpretado de modo a adaptar-se ao pressuposto. Mas o "sucesso" desta técnica não provou que a hipótese estivesse correta. Era sinal, isso sim, de que algo correu mal. A hipótese de que os pacientes falsos sofriam de perturbações mentais era defeituosa porque era insuscetível de ser testada. [...] Mas os médicos não estavam a agir desta forma. Para eles, nada podia ser admitido contra a hipótese de que os "pacientes" estavam doentes.”

 

O mais fascinante nessa história é que James Rachels a publicou na primeira edição do seu livro “Elementos de Filosofia Moral” [2004]; mas na segunda edição [ver versão em pt, 2013], o trecho foi retirado. O trabalho da jornalista Susannah Cahalan [2021; ver também BBC, 2020] revelara que Rosehan havia alterado e omitido parte dos resultados negativos de suas pesquisas, o que provava que ele também fora guiado por um pressuposto dominante... e mesmo assim, atualmente o trabalho de Rosehan ainda é considerado uma revolução nos meios psiquiátricos.

 

Esse é um exemplo que quero tomar para voltar a Sinologia, como um campo de ciência. Muitas das práticas relacionadas ao estudo da China tem se mantido assustadoramente ligadas a pressupostos dominantes, formulando – ou simplesmente admitindo – hipóteses que não são comprováveis; e ainda, usando as ferramentas disponíveis para afirmações infundadas. O ponto de partida desse movimento é calcado na quintessência do orientalismo eurocentrado colonial: a afirmação de que os asiáticos [no geral] eram ‘estranhos’, ‘diferentes’, e que os especialistas que se dedicaram a estudá-los seriam ‘tão estranhos quanto eles’.

 

No caso do estudo da China, o pressuposto dominante continua a ser determinado pelas teorias racialistas e imperiais do orientalismo oitocentista. Daniel Vukovich [2019] mostrou como, na análise de eventos históricos chineses, o pressuposto dominante é de que os chineses não tem voz, consciência ou capacidade crítica para expressarem suas próprias opiniões sobre a história de seu país. No debate sobre qualquer episódio do passado, os especialistas ocidentais tendem a enxergar toda e qualquer movimentação como uma resposta ás suas próprias demandas teóricas e ideológicas. Quando autores chineses respondem a essas críticas de forma positiva, eles são considerados como ‘corretos’; mas quando propõe visões contrárias, eivadas de suas experiências e do seu acesso privilegiado às fontes [tanto em função do domínio da linguagem como pelo trânsito em arquivos e por suas redes associadas de pesquisa], são automaticamente taxados como ‘errados’, ‘manipulados’, ‘ingênuos’, ‘acríticos’, entre outros. Não se trata de reconhecer que os chineses podem eventualmente produzir materiais com problemas, mas de afirmar que toda e qualquer visão chinesa que discorde dos especialistas ocidentais está essencialmente errada

 

No Brasil, muitas das práticas relacionadas ao estudo da China tem se mantido assustadoramente ligadas a esse tipo de pressuposto dominante, formulando – ou simplesmente admitindo – hipóteses que não são comprováveis; e ainda, usando as ferramentas disponíveis para referendar afirmações infundadas. O ponto de partida desse movimento é calcado na quintessência do orientalismo eurocentrado colonial: a afirmação de que os asiáticos [no geral] eram ‘estranhos’, ‘diferentes’, e que os especialistas que se dedicaram a estudá-los seriam ‘tão estranhos quanto eles’ [e para isso, ver o clássico livro de Said, 1998].

 

A busca por compreender a cultura chinesa em profundidade, a partir de suas próprias raízes, tornou-se um exercício de alguns poucos, vistos como ‘excêntricos’, ‘diletantes’ ou ‘esotéricos’. Não se justificava, epistemicamente, a análise de uma sociedade hierarquicamente ‘inferior’ no imaginário cultural do Ocidente – ou seja, o pressuposto dominante que dominava as relações e os estudos sobre a Ásia. As exceções a essa visão preconceituosa seriam aqueles estudiosos cujos trabalhos, focados em fins estratégicos, serviam antes de tudo ao cumprimento do projeto de dominação imperial. Suas análises pretendiam apresentar as ‘limitações culturais e intelectuais’ dessas sociedades, e explorar oportunidades econômicas e políticas.

 

Podemos dizer que, no caso do Brasil, a situação tornou-se ainda mais complicada no século 20 [Bueno, 2020a]. Nossos acadêmicos acompanharam as divisões ideológicas da partição chinesa [continental e Taiwan], e construíram visões diversas que oscilavam entre ver a China como um modelo inspirador ou um antimodelo de civilização. Ao cabo desse processo, o resultado foi que, com as poucas exceções dos especialistas que visitaram o mundo chinês, o que se sabia sobre a China por aqui era uma mistura dos preconceitos do século 19 com um conhecimento terceirizado, produzido por pesquisadores não brasileiros, e cujos interesses culturais e políticos estavam vinculados a projetos coloniais ocidentalistas.

 

Gradualmente isso ajudou a formar um panorama complexo e difícil de ser desconstruído, no qual o pressuposto dominante sobre a China é de que ela seguiria sendo ‘estranha’ e de certa forma ‘inferior’ ao Brasil. No entanto, a constatação inevitável das transformações chinesas – principalmente a partir dos anos 1990 e 2000 – criou uma distonia cognitiva no imaginário brasileiro. Afinal, como uma civilização propagandeada como ‘atrasada’ ou ‘estranha’ conseguira alcançar tamanho sucesso econômico, tecnológico e político, após as terríveis crises vividas em um passado recente? [Bueno, 2020b] Como conceber que a vida material brasileira foi transformada pelo influxo de produtos chineses, antes chacoteados como baratos e ruins, e hoje, saudados como soluções tecnológicas de custo mais acessível? Como um país considerado pobre e atrasado alcançou a bomba atômica, o domínio militar e contrabalançou as hegemonias globais, instaurando uma nova ordem mundial?

As tentativas de responder a essas perguntas, feitas usualmente por especialistas [mas não especialistas em estudos chineses], redundam em verdadeiros desastres epistemológicos que buscam debilmente manter preconceitos com a ajuda da ciência. Podemos dar alguns exemplos claros de como o pressuposto dominante segue gerenciando hipóteses sobre a China.

No campo das interações culturais, os preconceitos grassam como cogumelos após a chuva. ‘Chineses são materialistas’, ‘chineses compram o Brasil’, chineses tem hábitos estranhos’, ‘chineses querem dominar o mundo’ são afirmações sem qualquer fundamento real que, no entanto, busca-se justificar com os malabares mais hábeis possíveis. Qualquer avanço no campo econômico da parte chinesa é entendida como um movimento de domínio global [como se alguns países não tivessem direito a crescer, e devessem permanecer em posição de subalternidade], assim como a ‘estranhezas culturais’ passam a ser uma norma na grade de leitura sobre a China. Sabemos o efeito claro disso: a invocação de uma vaga ideia de ‘perigo amarelo’ e a disseminação rápida do racismo e da xenofobia no período pandêmico revelaram a temerária profundidade dessa ignorância. Uma leitura do ótimo sítio ‘Outra Coluna – resistência asiática e solidariedade antirrascista’ pode proporcionar uma leitura consciente sobre essas questões, alertando-nos sobre os vivos e presentes problemas do racismo antiasiático no Brasil.

 

No mesmo sentido, a propagandeada afirmação da ‘excentricidade gastronômica’ serve para secundar o pressuposto dominante que acabamos de comentar: os documentários televisivos usualmente ‘provam’ que os hábitos alimentares chineses circunscrevem-se ao consumo de animais e vegetais estranhos [como insetos, partes incomuns de aves e mamíferos, vegetais desconhecidos, etc.], reforçando estereótipos baseados pura e simplesmente nesses mesmos preconceitos culturais – afinal, quem define o que é certo comer ou não? E deliberadamente, esses mesmos materiais esquecem - bastaria estudar mais sobre história da alimentação – que as práticas culinárias foram sendo construídas por trânsitos globais. No Brasil, nos transformamos em grandes consumidores de chá, arroz, laranja, soja, pastel e canja, em uma lista extensa de produtos, que vieram todos da China. Nos apropriamos delas, mas queremos romper com essas heranças asiáticas em nossas terras para garantir a eficácia de uma pretensa ‘ocidentalização’ [como comentado por Leite, 1999 e Freyre, 2003].

 

Outra afirmação, a do ‘atraso intelectual’ é quase tão fértil em procedimentos teóricos e metodológicos equivocados. A história das ciências na China revelou como essa civilização foi capaz de inventar inúmeros aparelhos que revolucionaram a humanidade - papel, bússola, pólvora, leme, magnetismo, moinhos d’água, entre outros, são apenas as mais evidentes de uma longa lista. Joseph Needham [1900-1995], o destacado pesquisador britânico que dedicou sua vida a descobrir e apresentar as descobertas científicas chinesas, mostrou que o período histórico de decadência da China no século 19 foi muito mais contextual do que propriamente cultural [2013]. As hegemonias vão e vem; já houve império romano, abássidas, império português, império britânico, União Soviética... A China também já foi grande, e hoje retoma um papel histórico no cenário global.

 

E o que isso significa quanto ao pressuposto dominante? Afirmações, por exemplo, de que os chineses ‘apenas copiam e nada inventam’ são equivocadas. Afinal, eles muito inventaram no passado; e qualquer país em busca de novas tecnologias aprende com o que já está feito antes de produzir suas próprias invenções. É simplesmente o que os chineses fizeram para superar o delay tecnológico no século 20. O famoso termo ‘Shanzhai’ é um adágio polissêmico que significa algo como copiar para aprender, reproduzir e depois criar, inovar, mantendo uma atitude de rebeldia ante o dominador. De certa forma, a cultura ‘Shanzhai’ guarda uma atitude antihierárquica, contraopressiva e libertária, enfraquecendo e subvertendo a dominação capitalista por seus próprios meios. Como afirmou Byung-Chul Han: ‘são na verdade tudo, menos falsificações grosseiras. Em termos de design e função, dificilmente são inferiores ao original. As modificações tecnológicas ou estéticas conferem-lhes uma identidade própria. [...] O shanzhai explora totalmente o potencial da situação. Por esta razão, representa um fenômeno genuinamente chinês’ [2017, 72].

 

Isso significa que não existe qualquer injunção cognitiva que dificulte a aprendizagem dos chineses em relação aos novos saberes. A afirmação de que a escrita logográfica causa atrasos cognitivos beira o surrealismo. O uso da mesma não impediu as grandes descobertas do passado, e nem impede a absorção de tecnologias atuais. Esse processo de tradução e apropriação é o ajuste pelo qual todas as civilizações passam quando buscam redefinir e atualizar seu papel no mundo. No mesmo sentido, a imaginação tem sua sede no córtex pré-frontal, e isso caracteriza o sistema de funcionamento humano. Portanto, alternativas no processo de desenvolvimento cognitivo podem ampliar a percepção do espaço e das coisas, não necessariamente restringindo-as. Pretender uma ‘inferioridade cultural’ em função da linguagem e da escrita é um dos arcaísmos mais graves no entendimento antropológico da humanidade – tal como a ideia de que sociedades ágrafas são ‘inferiores ou primitivas’ por não terem escrita. Invertendo o paradigma, o pressuposto dominante nunca permite questionar as razões pelas quais a escrita logográfica chinesa sobreviveu ao tempo, e hoje contribui na estruturação de linguagens informáticas. 

 

A dificuldade em aceitar a China como um centro de produção de saberes fez ainda com que os filósofos se mexessem contra sua ascensão no panorama intelectual, requentando a absurda teoria de que somente os ocidentais ‘filosofam’ enquanto os outros povos apenas ‘pensam’. Uma grande quantidade de ignorância e má-fé precisa ser utilizada diariamente para a manutenção desse preconceito epistêmico, herdado de Hegel, que limita a capacidade dos próprios ‘ocidentais’ em escapar de sua gaiola logocêntrica e abraçar uma perspectiva mais global. Quem afirma que os chineses têm uma ‘outra lógica’, por exemplo, leia o ótimo texto de Julio Sameiro sobre ‘Tocar a campainha aqui e na China’ [2015], que mostra que os chineses não apenas pensam como nós em muitas ocasiões, como afirmar que eles possuem uma ‘outra lógica’ é desconhecer as próprias teorias da lógica. Por outro lado, as construções teóricas chinesas proporcionam alternativas ao entendimento humano que podem expandir nossas percepções sobre os mais diversos campos do saber [Jullien, 2010]. Por qual razão perder de vista esse conhecimento? A persistência nessa postura tem tornando a Filosofia um campo e uma profissão essencialmente eurocêntrica, contrariando seus postulados fundadores de tentar conhecer e explicar o mundo, e transformando-a numa reducionista racionalização de sentidos e objetivos limitados [Norden, 2021].

 

 

Referências

André Bueno é professor de História Oriental na UERJ, diretor do Projeto Orientalismo e pesquisador em Sinologia.

 

Alleton, Viviane. Escrita chinesa. Porto Alegre: L&PM, 2010.

 

BBC Brasil: ‘A famosa experiência que revolucionou a psiquiatria, mas acabou desmascarada’, 19 dezembro 2020. Link: https://www.bbc.com/portuguese/geral-55332999

 

Bueno, André. ‘A China pelo olhar de brasileiros, 1880-1990’. In: Bueno, André; Campos, Carlos Eduardo; Neto, José Maria. (Orgs.). Estudos sobre História e Cultura do Extremo Oriente. Rio de Janeiro: Sobre Ontens/Projeto Orientalismo, 2020a, 20-29.

 

Bueno, André. ‘O complexo de Fu Manchu.’ Leituras da História, n.136, 2020b, 11-14.

 

Bueno, André. 'Sinologia e Orientalismo no Brasil' in Bueno, André (org.). Sinologia Hoje. Rio de Janeiro: Pro.Ori., 2020c: 151-160.

 

Cahalan, Susannah. O Grande Impostor: A Missão Secreta Que Mudou Nossa Compreensão Da Loucura. São Paulo: Alta Cult, 2021.

 

Freyre, Gilberto e Fonseca, Edson N. (ed.). China Tropical e outros escritos sobre a influência do Oriente na cultura luso-brasileira. Brasília: Ed. UNB, 2003.

 

Garfiled, Jay e Norden, Bryan V. 'Se a Filosofia não quer e não vai se diversificar, então vamos chamá-la daquilo que ela realmente é'. Coluna Anpof, 08-12-2021. Disponível em: https://www.anpof.org.br/comunicacoes/coluna-anpof/se-a-filosofia-nao-quer-e-nao-vai-se-diversificar-entao-vamos-chama-la-daquilo-que-ela-realmente-e

 

Han, Byung-Chul. Shanzhai: Deconstruction in Chinese. Translated by Hurd, Philippa. MIT Press, 2017.

 

Jullien, François. ‘Pensar a partir de um fora’. Revista Periferia, v. 2, n. 1, jan./jun. 2010, 1-20.

 

Leite, José Roberto Teixeira.  A China no Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na sociedade e na arte brasileiras. Campinas: Editora da UNICAMP, 1999.

 

Li, Zhong. ‘Creative thinking in the teaching of Chinese language and literature in colleges from the perspective of educational psychology’. Front. Psychol., 13 October 2022. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2022.1018289/full

 

Needham, Joseph. Science and Civilisation in China. Cambridge University Press, 1954-1994. 7 vols.

 

Needham, Joseph. The Grand Titration: Science and Society in East and West. Londres: Routledge, 2013.

 

Outra Coluna: resistência asiática e solidariedade antirrascista. Disponível em: https://outracoluna.wordpress.com/

 

Rachels, James, Elementos de Filosofia Moral. Lisboa: Gradiva, 2004. Tradução de F. J. Azevedo Gonçalves

 

Rachels, James. Elementos de Filosofia Moral. AMGH Editora, 2013.

 

Said, Edward. Orientalismo – A invenção do Oriente pelo Ocidente. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1998.

 

Said, Edward. Orientalismo, a invenção do oriente pelo ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

 

Sameiro, Julio. Tocar à campanhia, aqui e na China. Crítica na Rede, 15-07-2015. Disponível em: https://criticanarede.com/jsameirotocaracampainha.html

 

Vukovich, Daniel.'Sociedade incivil: Orientalismo e a Praça Tiananmen em 1989'. Revista Ópera, 26-06-2019. Disponível em: https://revistaopera.com.br/2019/06/26/sociedade-incivil-orientalismo-e-a-praca-tiananmen-em-1989/ 

12 comentários:

  1. Excelente texto, André. Como um colega pesquisador de China, noto cotidianamente esse mecanismo de reprodução do Orientalismo e que você bem denominou, com base em James Rachels, de pressuposto dominante. Entretanto, há um ponto que me chamou atenção. Você mesmo menciona o Said e o termo "orientalismo". Se bem me lembro, Said aponta que, embora o preconceito contra "orientais" já exista na antiguidade, é no século XIX que ele ganha corpo, notadamente por meio dos "saberes científicos", consolidados em prestigiosas universidades e grupos de estudos orientais. As noções preconceituosas eram construídas em tal contexto com um forte verniz científico e circulavam entre uma elite. Quando você descreve tal fenômeno no Brasil, não ficou claro para mim se ele ocorre em um plano acadêmico/científico ou em um plano mais popular e desordenado. Minha questão seria se, em sua opinião, a prevalência de tais pressupostos dominantes são construídos de maneira ordenada em instituições tidas por científicas, como parece sugerir Said, ou se surgem de um preconceito disseminado na sociedade, sem que emane propriamente de algum núcleo ou se preocupe com algum verniz de cientificidade. Digo isso pensando nas manifestações que vimos no Brasil, inclusive a nível presidencial e ministerial, que para mim pareciam muito mais reproduzir um preconceito chulo (como na infame referência ao personagem cebolinha por um ex ministro da educação), do que propriamente tentar construir uma imagem acadêmica e científica que aponte para alguma inferioridade chinesa.

    Robson Lins Souza Damasio de Oliveira

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  2. Caro Robson, tudo bem? Agradeço por sua pergunta totalmente pertinente! Penso que o senso comum é alimentado por fragmentos de conhecimento científico, disseminados pela mídia e de forma acidental [ou não] pela educação. Ou seja, há uma imbricação entre um ponto de vista construído com informações errôneas e outro que deriva de um projeto de exclusão, que filtra as influências culturais que devem ou não ser absorvidas. Nesse caso, o pressuposto dominante de algumas das 'elites' acadêmicas é a própria xenofobia, trajada de ciência. É a inversão do paradigma: a figura 'cientista de humanas' se torna a agente da exclusão. Por isso que ela quebra o próprio princípio da investigação científica... mas nenhuma pesquisa é neutra, o problema sempre é o que a objetiva; e no caso do Brasil, ela é o paraíso dos fake news e de preconceitos arraigados.
    Saudações! =)

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  3. Olá! Um texto provocativo e ilustrativo. Já pesquisei a respeito do sítio comentado. Fiquei a pensar em todos os vossos pertinentes questionamentos. E me sugiram outros, próprios de quem os sente a partir das necessidades da Educação Básica, no ensino de História da China. Em geral os livros didáticos são superficiais e centrados na visão de poder, mais a partir da experiência desde a revolução. Quanto a cultura, os costumes antigos, se ocorre certa ocidentalização por lá, pouco sabe o geralmente desprovido de referenciais professor de História de Educação Básica. Neste sentido, o que é mais importante tratar? Até por que se deverá fazer um recorte, por exemplo, no Ensino Médio, no 1º ano, o período antigo, no 3º ano a Revolução Chinesa, não se vai além, infelizmente. Existem caminhos que possam trazer mais em evidência o ensino de História chinesa, pelo menos no Ensino Médio? Agradecido. Manoel Adir Kischener

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    1. Caro Manoel, agradeço pela pergunta, que tem se transformado numa constante - felizmente - sobre o desafio de se ensinar a China em sala de aula. Isso significa que de alguma forma, o impacto chinês numa nova ordem mundial não permite mais ignorar essa civilização como parte da experiência humana. Por outro lado, é inevitável constatar que falta-nos recursos ou experiências nesse sentido. Tive oportunidade de escrever sobre isso, peço que dê uma olhada nesse artigo, e espero que ele possa contribuir em algo sobre essa discussão: https://revistas.uepg.br/index.php/tel/article/view/10891
      Grato! =)

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    2. Muito agradecido! Vou acessar vosso artigo. Manoel Adir Kischener

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  4. Parabéns pelo texto, André. Minha questão é sobre qual o principal pressuposto dominante acerca dos chineses presentes no meio acadêmico brasileiro.

    Alisson Eric de Souza Simão Pereira

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    1. oi Alisson! pois... um? acho que temos vários! mas o principal, é o recalcitrante discurso xenofóbico e preconceituoso, que se autojustifica por um 'receio' contra 'influências chinesas' [o que sempre me cheira a racismo, fascismo e outros ismos] baseado numa imaginária concepção de hierarquia cultural global - e que não sei por qual razão, muitos acadêmicos brasileiros acham que estão no topo. O problema mesmo é realizar a abertura em direção ao simples exercício científico, ou seja, conhecer o problema para entendê-lo, e disso extrair as experiências necessárias. buscamos dar alguns exemplos disso no texto =)
      grato!

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  5. Arlindo José Reis de Souza8 de agosto de 2023 às 07:46


    Estimado André Bueno, parabéns pelo texto!
    A percepção de "oriente" é algo que de fato, da perspectiva ocidental (ou ocidentalizada), via-de-regra, oscila entre o negativo e o positivo. Oscilação esta que normalmente provém de essencializações orientalistas: ou o oriental é um "denegerado", "místico", "misterioso", "traiçoeiro", "preguiçoso" etc; ou "sábio", "puro", "inocente" etc. Acrescido, "recentemente", de um elemento percebido e analisado por autores como David S Roh, Betsy Huang e Greta A Niu, que organizaram o livro "Techno-Orientalism: Imagining Asia in Speculative Fiction, History, and Media". O "oriente" seria, assim, também um lugar de hipertecnologia. O que seria quase que como uma consequência do "modo oriental de ser": "frio", "robotizado", "recluso", "aficionados por tecnologia" etc. Mas, fora este comentário (talvez excessivamente longo), pergunto se autores como Gilberto Freyre (citado no seu texto através do compilado "China tropical") não seriam chaves importantes para compreendermos as concepções disseminadas no século XX especialmente no pós-segunda guerra. E faço essa pergunta por estar estudando os textos dele e ver que o "Oriente" é uma tópica muito importante (e relativamente pouco abordada) que atravessa toda a obra do autor.
    Ou seja, qual seria o "lugar", no seu ver, de Freyre, nesta construção discursiva sobre "os Orientes" no Brasil? Uma vez que Freyre é reconhecido como um autor de grande importância para a noção que se tem no Brasil sobre o próprio Brasil.
    Grato pelo texto!
    Arlindo José Reis de Souza

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    1. oi Arlindo, essa é uma pergunta ótima! Freyre, em todas as controvérsias que percorrem sua obra, trouxe a lume algo que precisa ser resgatado: somos 'orientais', muito mais 'asiáticos' do que supomos. somos indigenas, europeus, africanos e orientais também. Urge relê-lo. nem sempre, claro, os estudiosos da época [tal como o próprio Freyre] conheciam bem os limites do orientalismo com o qual lidavam. Contudo, sua escrita deixa transparecer sempre, a meu ver, a paixão pela miscigenação, pela hibridização, pela mistura que torna o Brasil tão singular, apesar deste perder-se em miragens eurocentradas. obs: e adorei a indicação do livro sobre techoorientalismo! Grato! =D <3

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  6. Caro professor André,
    Texto excelente e muito necessário. Como circulo bastante não apenas nos cursos de História, mas também nos de Relações Internacionais, tenho ficado bastante surpresa, no caso desses últimos, com o total desinteresse pela história da China na longa duração. Mesmo considerando professores que não demonstrem preconceito acerca dos chineses, é como se, para eles, aquela sociedade só tenha começado a existir a partir do século XIX. Já presenciei alunos desejando organizar eventos para os quais seriam chamados conhecedores da China, mas de períodos históricos mais afastados da atualidade, e suas solicitações terem sido consideradas "pouco relevantes para especialistas em Relações Internacionais". Ora, a formação de uma sociedade lança raízes no passado e me parece muito pobre essa colocação de "nos interessa apenas a China Contemporânea". Você vê alguma possibilidade de motivar ao menos algumas mentes mais abertas na academia para que se possa sanar este verdadeiro "culto ao contemporâneo"? Óbvio que entendo os interesses comerciais, empresariais, no entanto no ambiente acadêmico deveríamos ir muito mais fundo, não? Obrigada, um abraço.

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  7. Cara Prof. Carmen, saudações! agradeço por sua presença aqui entre nós, e por sua pergunta ótima! Compartilho dessa certeza: é inviável tentar compreender a China sem entender seu passado! Esse culto ao presentismo é um passo certo na decepção, no abismo de erros que tem se cometido por falta dessa base [e é só ver as previsões equivocadas sobre Afeganistão, Ucrânia e também China...]. Não há como contornar, é preciso de base. Sem isso, serão apenas profissionais inacabados, jogando com apostas de curto prazo. Haverá um choque inevitável entre as pretensões de tentar explicar a China e a falta de conhecimento. Nesse entrelugar, cabe-nos oferecer tão somente conhecimento e resistência, de modo a preparar aqueles que verdadeiramente se interessam, e que já tem alguma consciência disso. Grande abraço! =)

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