POSSIBILIDADES DE UM ESTUDO DE GÊNERO EM SILLA A PARTIR DA CULTURA MATERIAL, por Luiza Santos Freire de Souza e Pedro Vieira da Silva Peixoto

 
Introdução

A escrita da história está intimamente relacionada ao mundo em que estamos inseridos. Ao pesquisar sobre qualquer que seja o assunto, partimos de preocupações que estão presentes no momento em que vivemos e também nas nossas vidas pessoais. O ofício historiográfico, como nos lembra Croce, não deixa de ser um “ato de entendimento e compreensão induzido pelas exigências da vida prática” (CROCE, 2006, p. 26). Não à toa, questões como as de raça, de gênero, do meio ambiente e muitas outras têm sido tratadas em recentes pesquisas sobre a Antiguidade, mostrando a proximidade entre o passado e o presente  e como a atualidade influencia a produção acadêmica no campo da historiografia. O presente trabalho tem como objetivo apresentar algumas possibilidades do estudo de gênero em Silla. O mesmo deriva de uma pesquisa, que se encontra em estágio inicial, desenvolvida no Laboratório de História Antiga da UFRJ. Devido ao estágio em que se encontra, o foco da discussão, no momento, concentra-se mais nos grandes debates historiográficos internacionalizados sobre Silla produzidos por autores coreanos e estrangeiros, ao passo que, no futuro, esperamos que alguns debates técnicos provenientes exclusivamente da historiografia produzida em língua coreana possam também ser acrescidos.

 

Existem, atualmente, diferentes estudos sobre a sociedade de Silla. Alguns desses trabalhos têm tratado sobre temas não tradicionais e usado metodologias recentes que trazem novas contribuições de diversos campos, como é o caso das análises de Conte e Kim (2016) sobre o sacrifício humano a partir de uma perspectiva política e econômica. Outro exemplo, ainda, de estudo inovador nesse sentido pode ser encontrado em Choy et al. (2021), que examinaram em detalhe a estratificação social de uma das sociedades que existiu adjacente a Silla, sendo que os investigadores usaram a investigação isotópica dos remanescentes humanos enterrados na região como principal ferramenta analítica para o estudo do contexto em questão.

 

A maioria dos estudos atuais, contudo, não possui um grande foco em gênero. Em uma pesquisa de Lee et al. (2016), um raro remanescente humano, que estava relativamente intacto, foi encontrado e analisado. Os remanescentes pertenciam a um indivíduo do sexo feminino, mas a análise conduzida não considerou esse fator de grande relevância, tratando apenas dos aspectos biológicos. Fica evidente, assim, apesar de diversos trabalhos serem produzidos mesmo a partir de novas abordagens, como ainda poucos abordam a temática de gênero ou a consideram importante para a compreensão dessa sociedade.

 

Silla, contudo, possui inúmeras possibilidades para investigar questões de gênero. Entendemos que a temática possa ser investigada a partir de diferentes materiais e documentos, porém, devido às peculiaridades de seu estudo, a cultura material se apresenta como uma importante e produtiva maneira de se estudar a temática citada.

 

Gênero: definição do conceito

O conceito de gênero tem sido utilizado para o estudo de diferentes sociedades nos mais diversos campos, como o da sociologia, história e arqueologia, para citar apenas alguns. Esses estudos se valem, contudo, de diferentes ideias acerca da categoria “gênero” e de como ela existe e atua nas sociedades do mundo. O fato de que existem diferentes concepções teóricas acerca do que é gênero é essencial para o entendimento dessa questão. Como foi observado por Conkey e Gero (1997, p. 412), não existe uma orientação comum para o estudo de gênero, nem uma única metodologia para realizá-lo. Tendo em vista o foco na arqueologia que o presente trabalho possui para o estudo de Silla, as autoras aqui mobilizadas são, em sua maioria, teóricas da chamada arqueologia de gênero (cf. HAYS-GILPIN & WHITLEY, 1998; GILCHRIST, 2012; SØRENSEN, 2013). Isso porque entendemos que gênero não é algo fixo e que a cultura material participa na construção de valores e ideais de gênero, servindo também como veículo de negociação e contestação por parte de agentes históricos.

 

Gênero é, pois, mutável histórica e socialmente, não sendo nem natural nem estável. Em outras palavras: trata-se de um constructo sociocultural dotado de historicidade. Em seu trabalho, Flax (1987, p. 628) considera que gênero, tanto como uma categoria analítica quanto como um processo social, é relacional. As relações de gênero são, assim, processos complexos e instáveis, o que significa que elas variam de acordo com múltiplos fatores, como qual momento, os grupos sociais e o local em que elas estão inseridas. A redução portanto de gênero ao binarismo do sexo ignora outros conceitos em que gênero pode ser expresso, como não sendo apenas dois, como sendo transcendido por indivíduos ou como fluido e em mudança (STRATTON, 2016. p. 855). A afirmação de Stratton é esclarecedora nesse aspecto:

 

“Gênero é aprendido e performado dentro de um contexto cultural, expresso pela cultura material, e apresentado através da prática de gênero. Ele não é necessariamente estático durante a vida de um indivíduo, baseado no sexo, ou o aspecto mais importante da identidade de uma pessoa. Ele certamente não é sempre binário.” (STRATTON, 2016, p. 862. tradução da autora)

 

A ideia, assim, de que gênero é uma construção social e que ele pode se apresentar de diferentes formas em diferentes sociedades e períodos é essencial para o entendimento da categoria aqui aplicada.

 

Silla: um breve contexto

A sociedade de Silla é comumente considerada um reino, apesar de existir diversos debates acerca de sua condição política e social e suas mudanças ao longo dos anos. Localizada na península coreana, em seu momento inicial coexistiu com mais dois reinos, o de Paekche e o de Goguryeo, além da Confederação de Gaya, em uma época que ficou conhecida como período dos Três Reinos. Os dois reinos foram, contudo, conquistados por Silla, em um novo período, conhecido como Silla Unificada, no qual essa se tornou hegemônica.

 

A datação tradicional que é dada à Silla é composta por dois períodos, o primeiro, com seu início em 57 AEC e fim em 676 EC, chamado de Silla Antiga e, o segundo, de 676 a 935 EC, chamado de Silla Unificada. Muitos autores, como Lee e Leidy (2013), contudo, propõem uma cronologia mais sistematizada, propondo uma divisão em três períodos chamados de Antigo (57 AEC a 654 EC), Médio (654 a 780 EC) e Tardio (780 a 935 EC). Essa será a divisão escolhida para o presente texto, que terá como foco o período Antigo de Silla.

 

O estudo de Silla possui algumas características particulares. Os dois principais documentos escritos acerca do período foram produzidos muito posteriormente, são eles: o Samguk Sagi (1145), escrito por Kim Pusik (1075-1151) e o Samguk Yusa (1282-1289), por Iryeon (1206-1289). Ambos os textos apresentam a história de Silla e têm sido usados por historiadores como essenciais formas de acesso para entender esse período, escolha justificada por serem raros os documentos escritos nessa sociedade contemporaneamente ao período discutido.

 

A cultura material se torna, portanto, uma importante forma de se estudar a sociedade em seus diferentes aspectos a partir de evidências produzidas contemporaneamente aos contextos analisados. Dentre muitos materiais possíveis, um destaque especial deve ser dado aos enterramentos, que, devido a sua grande quantidade e variedade, abrigam informações essenciais acerca do período. Os mais distintos deles são as tumbas com montículos, chamadas popularmente de tumbas reais. Para Geun-Jik (2009, p. 100), no entanto, essas tumbas não podem ser consideradas tumbas reais em sua totalidade. Ele argumenta que as tumbas construídas antes do reino do Rei Beopheung podem ser identificadas como pertencentes aos membros da elite dominante, mas que somente aquelas construídas após esse período podem ser consideradas tumbas reais de fato. Apesar dessa discussão, os sepultamentos referidos continuam sendo uma importante maneira de se entender a sociedade de Silla, a partir não somente de seus artefatos, mas de sua relação com a política, economia e outros aspectos sociais da mesma.

 

A cultura material e o caso de Hwangnam Daechong

O estudo arqueológico de Silla não tem, no entanto, a questão de gênero como principal ou mesmo relevante. Segundo Nelson, “o feminismo é bom para a arqueologia e por implicação focar em gênero leva a uma melhor arqueologia” (NELSON, 2012, p. 1). Para a autora, a arqueologia feminista traz novas questões e interpretações acerca de informações existentes e sugere novos conjuntos de dados, possibilitando que novidades possam ser aprendidas sobre papéis e relações de gênero em diferentes lugares e períodos, que, segundo Nelson, enriquecem o entendimento dos pesquisadores (NELSON, 2012, p. 2). Referenciamos o trabalho de Nelson não apenas por sua seminal contribuição teórica ao campo da arqueologia de gênero, mas por ela ser uma das poucas e essenciais referências para se pesquisar a questão de gênero em Silla, sendo seus estudos arqueológicos muito relevantes, tendo em vista o fato de ter trabalhado com diferentes enterramentos e artefatos levando a perspectiva de gênero como central para sua análise.

 

Em Silla há um cenário muito rico para o estudo de gênero. Essa investigação pode se dar a partir de seus distintos documentos, tanto escritos quanto materiais. Isso se dá porque as relações de gênero aparentam ser menos hierárquicas do que em outras sociedades que se desenvolveram na península coreana com influências e dinâmicas que não existiam muito fortemente em Silla (NELSON, 2013). É possível perceber essa questão, por exemplo, partindo do fato de que mulheres podiam ser e, de fato, foram rainhas regentes. Nas listas do Samguk Sagi e do Samguk Yusa aparecem três rainhas regentes, Sondok, Chindok e Chinsong, mas, segundo Nelson (2013), podem ter existido mais rainhas que não estão presentes nelas. As questões de gênero, contudo, não se limitam a isso, sendo importante observar também, por exemplo, qual era a participação das mulheres na política e sociedade, tendo em vista que no período antigo o poder estava dividido entre diversos grupos, não apenas centrado na figura de um ou uma governante que possuía o poder unicamente.

 

As tumbas são importantes evidências para estudar as relações de gênero dessa sociedade. A determinação do sexo dos indivíduos é raramente realizada, devido às condições do solo que não permitem a preservação dos remanescentes humanos, o que, como pode ser observado no estudo de Stratton (2016), não nos impede de estudá-las a partir de uma arqueologia de gênero. Esses casos onde o sexo dos indivíduos não podem ser identificados devem ser colocados em categorias separadas dos demais, mas não devem ser ignorados em análises posteriores (STRATTON, 2016, p. 866).

 

No estudo realizado por Pearson et al. (1986), no qual foram analisados enterramentos de Silla do século IV ao VI, a identificação do sexo foi possível em apenas 13 enterramentos dos 131 estudados. Os enterramentos femininos parecem ser maiores e mais faustosos, mas o número de evidências é muito pequeno. Apesar da pequena quantidade, o estudo entende que mulheres não são inferiores aos homens, baseado no que foi encontrado. A análise, contudo, de outros casos em que o sexo não foi identificado, como proposto por Stratton (2016), permite um estudo de gênero que não se limite a categorias binárias e reforça o caráter social e não necessariamente biológico do gênero.

 

Um outro exemplo de como a questão de gênero possui um enorme potencial para o estudo de Silla é a tumba de Hawangnam Daechong, o maior dos enterramentos da região. Ela está localizada em Gyeongju, no sítio de Hwangnam-Dong e consiste em um enterramento duplo, com dois montes, norte e sul. O ocupante do monte sul não foi identificado no estudo de Pearson et al. (1986), mas Lee e Leidy (2013) o identificaram em seu trabalho como sendo um homem. O monte norte, construído posteriormente, foi identificado por diversos autores (PEARSON et al., 1986; GEUN-JIK, 2009; LEE & LEIDY, 2013) como sendo ocupado por uma mulher.

 

É possível observar a importância da tumba primeiramente, em termos de sua morfologia, por conta de seu tamanho, um fato relevante para se entender e analisar os enterramentos com montículos. Seu tamanho, contudo, não é a única razão que a faz distinta. Os artefatos que estavam dentro dela são muito faustosos e diversos, contendo objetos de jade, vidro, ouro, prata, bronze e muitos outros. Um dos mais importantes artefatos encontrados foi uma coroa de ouro, artefato que é localizado apenas em 6 tumbas em Silla, sendo elas: Hwangnam Daechong, Cheonmachong, Geumnyeongchong, Geumgwanchong, Seobongchong e uma tumba em Gyo-dong, que foi saqueada e depois confiscada (HAM, 2013, p. 38). A coroa de ouro é considerada em consenso pelos estudiosos, como Lee e Leidy (2013) e Conte e Kim (2016), como o símbolo de autoridade máxima. Esse artefato foi encontrado, junto a um cinto de ouro, com a inscrição “cinto para minha senhora”, no monte norte, o que fez com que inúmeros questionamentos surgissem. Por existirem dificuldades na datação, há muitas dúvidas de quem poderiam ser os ocupantes das tumbas, fazendo com que os estudiosos não saibam precisar qual o significado e qual a posição social deles. A tumba, no entanto, é considerada como pertencente a um período anterior ao das rainhas das listas, fazendo com que muitos pesquisadores considerem que o governante era o ocupante do monte sul, usando termos como “sua rainha” para descrever a mulher do monte norte (LEE & LEIDY, 2013. p. 6). Para Nelson (2013. p. 89), contudo, a ocupante do monte norte era a rainha governante. Em seu argumento, ela traz o caso de algumas rainhas que governaram enquanto regentes por certo tempo e que, entretanto, não aparecem nas listas, como é o caso da esposa do rei Gyeongdeok ou da esposa do rei Beopheung. Assim, a partir de Nelson, não seria descabido considerar que o monte norte tenha sido ocupado por uma mulher que não foi nomeada nos documentos mas que possa ter atuado como rainha e governante em sua época.

 

Conclusão

O estudo de gênero em Silla se mostra como uma grande possibilidade, que, contudo, permanece amplamente inexplorada. A arqueologia pode ser, nesse cenário, um importante meio para suprir essa ausência, devido não somente a suas ferramentas teóricas e metodológicas, mas também às peculiaridades que a própria sociedade de Silla e seu estudo possuem, como, por exemplo, a natureza dos dados disponíveis e o distanciamento cronológico de boa parte dos relatos textuais.

 

A definição do conceito de gênero também se faz essencial para que essa possibilidade seja explorada, tendo em vista que devemos considerar gênero como uma construção social que não se mantém a mesma nos diferentes locais e períodos examinados. O presente trabalho buscou, assim, apresentar a possibilidade (e diríamos, ainda, a necessidade) de se realizar um estudo que tenha a perspectiva de gênero como central para se analisar a cultura material e a história da antiga Silla.

 

Referências

Luiza Santos Freire de Souza é graduanda em história na Universidade Federal do Rio de Janeiro

Dr. Pedro Vieira da Silva Peixoto é professor adjunto de História Antiga na Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

CHOY, Kyungcheol et al. Isotopic investigation of skeletal remains at the Imdang tombs reveals high consumption of game birds and social stratification in ancient Korea. Scientific Reports, v. 11, n. 1, p. 22551, 2021.

 

CONKEY, Margaret W.; GERO, Joan M. Programme to practice: Gender and feminism in archaeology. Annual review of anthropology, v. 26, n. 1, p. 411-437, 1997.

 

CONTE, Matthew; KIM, Jangsuk. An economy of human sacrifice: The practice of sunjang in an ancient state of Korea. Journal of Anthropological Archaeology, v. 44, p. 14-30, 2016.

 

CROCE, Benedetto. História como história da liberdade. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.

 

 

FLAX, Jane. Postmodernism and gender relations in feminist theory. Signs: Journal of women in culture and society, v. 12, n. 4, p. 621-643, 1987.

 

GEUN-JIK, Lee. The Development of Royal Tombs in Silla. International Journal of Korean History, v. 14, p. 91-124, 2009.

 

GILCHRIST, Roberta. Gender and archaeology: contesting the past. Routledge, 2012.

 

HAM, Seon-Seop. Gold culture of the Silla Kingdom and Maripgam. In: LEE, Soyoung; LEIDY, Denise Patry. Silla: Korea's golden kingdom. Metropolitan Museum of Art, 2013.

 

HAYS-GILPIN, Kelley; WHITLEY, David S. (Ed.). Reader in gender archaeology. Psychology Press, 1998.

 

LEE, Soyoung; LEIDY, Denise Patry. Silla: Korea's golden kingdom. Metropolitan Museum of Art, 2013.

 

LEE, Won-Joon et al. Bio-anthropological studies on human skeletons from the 6th century tomb of ancient Silla Kingdom in South Korea. PLoS One, v. 11, n. 6, p. e0156632, 2016.

 

NELSON, Sarah M. How a Feminist Stance Improves Achaeology. University of Denver, 2012.

 

NELSON, Sarah Milledge. Gyeongju: The capital of golden Silla. Routledge, 2017.

PEARSON, Richard et al. Social ranking in the kingdom of Old Silla, Korea: Analysis of burials. Journal of Anthropological Archaeology, v. 8, n. 1, p. 1-50, 1989.

 

SØRENSEN, Marie Louise Stig. Gender archaeology. John Wiley & Sons, 2013.

 

STRATTON, Susan. “Seek and you Shall Find.” How the Analysis of Gendered Patterns in Archaeology can Create False Binaries: a Case Study from Durankulak. Journal of Archaeological Method and Theory, v. 23, n. 3, p. 854-869, 2016.

2 comentários:

  1. Boa noite! Primeiramente gostaria de parabenizar pela pesquisa. Eu pessoalmente tenho muito interesse em estudos de gênero e História Antiga coreana.

    Dito isso, eu gostaria de saber, na opinião dos autores, o motivo pelo qual estudos de gênero não são tão fortes como deveriam ser, na Coreia Antiga. Além disso, gostaria de saber também se existem perspectivas de mudança desse cenário.

    Por fim, saberiam informar se nos documentos escritos existem registros acerca de mulheres em Silla?

    Muito obrigada e, mais uma vez, texto interessantíssimo!
    Gabriela Soares Lima dos Santos

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  2. Oi, Gabriela! Muito obrigada pelo seu comentário, que bom que se interessou pelo tema.

    Os estudos de gênero em todos os campos, apesar de serem muito mais recorrentes do que eram alguns anos atrás, ainda não possuem tanto espaço quanto poderiam ter no cenário atual. No campo da história antiga essa observação se faz muito presente, o que muitas vezes se dá pela crença em uma impossibilidade em se estudar gênero nessas sociedades.

    Quando observamos que o tema não é muito explorado, tendo em vista, no Brasil e em muito outros países, uma cultura de pesquisar a história antiga a partir de sociedades grandes e que possuíam Estado (uma discussão que, em Silla no período antigo, é muito pertinente de se fazer sobre essa existência ou não de um Estado), sociedades como Silla acabam sendo pouco estudadas. Com isso, a própria questão de existirem poucas pesquisas sobre a mesma faz com que sejam escassos muitos temas que poderiam ser tratados. A questão das peculiaridades do estudo dessa sociedade também é uma das razões para que a pesquisa a partir da perpectiva de gênero seja pouco realizada. Isso se dá pelo motivo de os documentos escritos serem muito tardios, fazendo com que a arqueologia seja uma importante forma de estudá-la. Como mencionado no texto, existe uma forte corrente da arqueologia de gênero, contudo, grande parte das análises arqueológicas não levam em conta essa perspectiva, o que leva a poucos estudos arqueológicos em Silla que tratam da questão.

    Desse jeito, o cenário passará por mudanças com o maior conhecimento do tema por parte tanto dos pesquisadores quanto do público. O mesmo se dá para a questão de gênero, sendo o aumento de pesquisas sobre ela e a movimentação a respeito de sua importância, não apenas na academia, mas fora dela, essenciais para que possam existir mudanças nesse aspecto.

    Os registros escritos falam sim sobre mulheres, sendo o maior exemplo o caso das rainhas. Eles estão organizados na forma de anais e falam dos governantes de Silla durante todos os anos em que existiu. Existe registro de três rainhas regentes, além de, em geral, os mesmos mencionarem as esposas e outras mulheres relacionadas aos governantes.

    Agradeço o seu comentário e espero ter respondido suas questões.

    Luiza Santos Freire de Souza

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