OS TATUADOS DE EDO: CONTEXTUALIZANDO MARCAS CORPORAIS, por Caroline Perin e Clarissa Sampaio Amantea

 Edo

O período Edo, ou Tokugawa, compreende aproximadamente dois séculos da história japonesa. Segundo Nishiyama Matsunosuke (1997), o período Edo é dividido em primeiro, de 1600 a 1750, e segundo período, de 1750 a 1868, além de possuir dezenove outras subdivisões que contemplam dos períodos Genna ao Ansei. Apesar das divergências autorais sobre qual ano de fato marca seu início, será considerada a data de 1603, a partir de referências trazidas na publicação de Madalena Cordaro (2002).

 

Este é um momento de intensa mudança, tanto cultural quanto política. A Batalha de Sekigahara, em 1600, dá fim a um intervalo centenário marcado pela guerra civil. A vitória de Ieyasu Tokugawa (1543-1616) possibilita a unificação do arquipélago em um único governo central, através de sua promoção a xogum. Quando o xogunato, ou bakufu, é instaurado em 1603, executa-se a construção de um castelo na já existente capital do leste, Edo, acompanhado de uma cidade para acomodar a população em geral. Como nos conta Matsunosuke (1997), cerca de um século depois, a atual Tóquio já contava com um número aproximado de um milhão de habitantes.

 

Está em vigor uma estratificação rígida de classes sociais com diferentes funções atribuídas pelo xogunato com a finalidade de minimizar a flexibilidade social. No Japão de Ieyasu, os oficiais, samurais que agora atuam em funções burocráticas, são moralmente superiores, já que assistem a governança. Abaixo estão os agricultores, com sua produção que permite a alimentação da população. Em seguida os artesãos, que transformam matéria prima em bens para uso comum. E em último ficam os comerciantes, que nada produzem e somente deslocam bens de um mercado a outro. Essa partição é referida como shi-nô-kô-sho.

Conforme explica Howland (2001), estas ‘quatro divisões’ são uma construção baseada em antigos discursos chineses confucionistas, onde a divisão do trabalho se alia a uma hierarquia moral em que talento e habilidade justificam o lugar social. Para Cordaro (2002), é comum no estudo do período Edo que essa divisão seja tida como inquestionável. Ainda segundo a autora, este modelo social de origem estrangeira, não faz dos samurais a elite econômica, papel assumido pelos comerciantes.

 

O trânsito e concentração de oficiais na cidade estimulou uma rica cultura de consumo, fazendo com que comerciantes e artesãos migrassem de diversas regiões do país em busca de fortuna. A demanda fomentou o desenvolvimento de artesãos habilidosos e refinados, ofertando uma variedade de artefatos nunca vista, consolidando Edo como um dos grandes centros culturais do país.

Em novembro de 1618 é inaugurado Yoshiwara, uma área de prostituição licenciada pelo xogunato, dando continuidade a uma tradição com vasta aceitação desde muito antes do século 17. Apesar de não ser o único ‘quarteirão dos prazeres’ do país, que já contava com cerca de 20 bordéis licenciados em 1612, possui um microcosmo singular, permanecendo ativo em Edo, com maior ou menor distinção, até o ano de 1958.

 

Ainda, estabelecem-se na cidade de Edo várias oficinas familiares de xilogravura, arte já existente no Japão desde o século 14, funcionando em um tradicional sistema hierárquico, denominado iemoto. Explica Cordaro (2002) que com o desenvolvimento da xilografia um mercado editorial se abre, possibilitando a invenção de novos recursos, profissionalização de pintores e escritores e a divisão do processo xilográfico. Na forma de fabricação japonesa da gravura, cada etapa é feita por um profissional diferente: escritor, calígrafo, pintor, editor, entalhador de matrizes, impressor e distribuidor. Fomentada pela intensidade cultural do período, é notável a crescente demanda por livros-pinturas e estampas xilográficas. Imagens ilustravam diversos momentos e características da vida na metrópole, configurando como um catálogo das experiências vivenciadas neste novo mundo de prazeres.

 

Imagens do mundo flutuante

A esta realidade, de intensos sentimentos e gozo dos desejos, cunha-se o vocábulo ukiyo. No período Kamakura-Muromachi (1185-1573), ukiyo é escrito com ideogramas que, pela pesquisa de Cordaro (2002), significam ‘este mundo presente, transitório, infeliz, soturno, miserável’, numa ótica budista de compadecimento pelo sofrimento da humanidade. Já no período Edo (1603-1868), escrito de outra forma, passa a significar um mundo flutuante e transitório, de fruição intensa em cada momento. Nesta ótica hedonista, ukiyo designa a busca por paixões e entretenimentos sensoriais, na qual a produção artística, ou a chamada ukiyo-e, irá refletir tal mudança de mentalidade.


E é neste contexto que ukiyo-e ganha sentido de novidade, moderno, na moda. As imagens do mundo flutuante do período Edo centram-se, então, em expor e catalogar minuciosamente a vida contemporânea citadina.

 

Tatuagem e Ukiyo-E

A gravura aflora em popularidade a partir da segunda metade do século 18, e com a invenção da policromia em 1765 pelo artista Suzuki Harunobu (1725-1770), se desenvolve em sua forma mais conhecida e aclamada, por ser multicolorida. Nota Matsunosuke (1997) que o auge do ukiyo-e policromático, conhecido como azuma nishiki-e (pintura brocado da cidade de Edo) ou Edo-e (pintura da cidade de Edo), durou até a última década do século 18.

 

Inserido neste contexto de evidência do ukiyo-e, o ilustrador Kuniyoshi Utagawa (1797- 1861) lança, a partir de 1827, sua série de sucesso ‘108 Heróis da Margem Popular da Água’, conhecida como Suikoden. Em sua obra, o autor reinterpreta os personagens de um conhecido romance chinês de artes marciais, se aproveitando do interesse da época em resgatar estudos culturais sobre aquele país. Em suas gravuras coloridas, Kuniyoshi expande as breves menções a tatuagem vistas na história original, criando desenhos que cobrem extensamente o corpo dos heróis.

 

Para Thompson (2017), não é possível afirmar se Kuniyoshi estava respondendo a uma recente moda por grandes tatuagens pictóricas ou se foram suas gravuras as responsáveis por criar tal interesse. Segundo a autora, talvez a resposta esteja num meio termo: grandes tatuagens já começavam a aparecer e Kuniyoshi foi o responsável por transformar em uma arte duradoura o que teria sido, inicialmente, algo passageiro. Tigres, dragões, grandes serpentes, deuses do trovão, leões chineses, peônias e flores de cerejeiras enfeitavam os corpos dos heróis e os cenários das gravuras, se tornando inspiração para tatuagens feitas na época.

 

Ao ilustrar uma história na qual criminosos enfrentam oficiais corruptos na China do século doze, Kuniyoshi brinca não só com a ideia do exótico, mas também do ilícito, como sugere Thompson (2017). Principalmente caso seja verdade o fato de que as primeiras tatuagens pictóricas foram utilizadas por infratores para só depois serem incorporadas na moda urbana. É difícil confirmar tal hipótese, uma vez que as lojas de tatuagem que afloraram entre 1615 e 1868 foram destruídas pela polícia após sua proibição, no início da Era Meiji (1868-1912).

 

Shahan (2019) aponta que entre 592 e 1603 praticamente não houve registros de práticas de marcas corporais. As exceções se dão no reino das marcas religiosas, usadas pelos povos Ainu do nordeste e pelo povo das ilhas de Ryukyu, conhecida hoje como as ilhas de Okinawa, ao sul do país. Thompson (2017) salienta que essa lacuna nos registros se dá ao fato de que nenhuma das classes dominantes, os nobres da corte e os samurais, mantinham esta prática.

 

O ressurgimento da tatuagem no Japão, depois de mais de mil anos, se dá durante a efervescência cultural do período Edo, no qual Kuniyoshi desempenha um papel fundamental, entendido por Shahan como diretamente responsável pelo surgimento de tatuadores profissionais (apud GULIK, 2019).

 

Marcas corporais - Votos de Devoção

Tatuagens simples e amadoras surgem nos quarteirões dos prazeres, simbolizando votos românticos de eterna devoção. Acredita-se que o costume desponta primeiramente na região de Kamigata, que engloba Osaka e Quioto, no século 17, se espalhando mais tarde para Edo.

 

Um formato inicial de marca corporal, o irebukuro, ou verruga falsa, era um círculo preto tatuado na base do dedão, em que a ponta do dedo o tocaria quando um amante apertasse a mão do outro. A partir do século 18, cortesãs demonstravam seu amor fervoroso ao tatuar o nome do cliente seguido da palavra inochi , vida, no antebraço direito ou esquerdo, tipicamente do lado externo. Esta última prática também foi registrada entre homens homossexuais do período e entre clientes masculinos de cortesãs.

 

Caso o amor eterno não se comprovasse sincero e para evitar constrangimentos, a marca poderia ser removida através de um dolorido processo de queima por moxabustão, utilizado tradicionalmente na Ásia oriental como prática medicinal relacionada à acupuntura. Se permitida queimar completamente, a pelota de moxaterapia deixava apenas uma pequena cicatriz e sua repetida aplicação poderia remover a tatuagem. Uma alternativa, também pelo uso do fogo, era através do uso de velas.

 

Thompson (2017) afirma que marcas de devoção iam além da esfera romântica e dos quarteirões dos prazeres: diversos registros mencionam tatuagens com os nomes de deidades budistas, tais como Buda Amida e o deus Hachiman. Apesar da pacificidade do período Edo, alguns samurais ainda temiam o retorno ao campo de batalha, encontrando na tatuagem uma forma de proteção espiritual. Frases como Namu Amida Butsu e Namu Myoho Rennge Kyo garantiam o amparo divino do Buda. Além disso, monges budistas já haviam incorporado em sua prática o uso das marcas como parte de seu Kugyo, práticas devocionais através da dor.

 

Irezumi: Tatuagem Punitiva

Durante os séculos 17 e 18, conforme afirma Thompson (2017), as tatuagens no Japão cumpriam duas funções principais: marcas involuntárias de punição ou voluntários votos solenes, fossem românticos ou religiosos.

 

Acredita-se que a prática de tatuagens punitivas fora importada da China para o Japão através da península coreana. Tal forma de penalidade foi inicialmente realizada durante a dinastia Shang (1600-1046 AEC) e era considerada altamente eficaz durante a maior parte da história chinesa.

 

Involuntariamente aplicadas nos braços e faces dos criminosos, o produto era deliberadamente desfigurador e doloroso. Visto que a outra opção seria a decapitação, Thompson (2017) sugere que tais marcas eram possivelmente bem-vindas e serviam como símbolo de sobrevivência ao rígido xogunato no submundo criminoso. Esta forma de punição não era a sentença principal, e sim um castigo adicional.

 

Shahan (2019) relata que o começo da prática se deu durante a administração do quarto xogum Ietsuna Tokugawa (1641-1680), como parte do seu plano de governo da Era Kanbun (1661-1673). Durante este período, quando sentenciado, o criminoso receberia um ideograma em sua testa. Yoshimune Tokugawa (1716-1745), oitavo xogum, aderiu à prática no período Kyoho (1716-1736), em 1720, regulamentando que ladrões deveriam ter duas linhas paralelas tatuadas circundando o braço, antes de serem libertos da prisão.

 

Havia outras possibilidades de símbolos, como círculo, quadrado, triângulo, ideograma de trigo , suástica budista e o ideograma de cachorro . É importante ressaltar a simplicidade dos desenhos, afastados da qualidade intrincada das tatuagens nas gravuras de Kuniyoshi, que surgirão anos depois.

 

Horimono

Marcas corporais receberam diversos nomes conforme a natureza do procedimento, como geikei (tatuagem facial de punição) e bokukei 墨刑 (punição com tinta). Entre a população em geral, a tatuagem punitiva involuntária recebia o nome de irezumi 入墨 (escurecimento) e a tatuagem feita com tinta azul por pessoas comuns voluntariamente recebeu o nome de horimono 彫物 (gravação).

 

Escritos da época já relatavam uma interessante conexão entre horimono e o submundo criminoso, sendo uma clara evidência para Shahan (2019) que a cultura da tatuagem já estava estabelecida em Edo pelo menos desde o período Genroku (1688-1704).

 

Acredita-se que grandes tatuagens pictóricas já existiam desde o fim do século 18, sendo alvo de proibições a partir da década de 1810. A prática atingiu seu pico de popularidade na Era Tenpo, entre 1830 e 1844, quando tatuadores profissionais começaram a surgir, atendendo a uma demanda cada vez maior de desenhos amplos e complexos para uma clientela formada por trabalhadores, cortesãs, chefes do crime, chefes de casas de sumô e seus lutadores, cafetões, apostadores e, ocasionalmente, samurais.

 

Thompson (2017) conta que homens com tatuagens complexas eram frequentemente empregados em trabalhos braçais e intensos, onde o uso de mínima roupa favorecia o conforto e o movimento, facilitando também a exibição dos desenhos. Construtores civis, tratadores de cavalos, carregadores, correios, transportadores de palanquins, motoristas de riquixá e tobi (sem tradução direta para o português, profissão responsável pela manutenção de telhados e vigas, ativos também como bombeiros) eram algumas destas ocupações. Em uma Edo com superlotação de moradores e estruturas feitas principalmente de madeira, bambu e papel, tobi eram responsáveis por destruir telhados para impedir o fluxo do fogo.

 

Diferentes de práticas contemporâneas de tatuagem, onde o artista é responsável pelo completo desenvolvimento do desenho a ser tatuado, o horimono desta época empregava um outro profissional para a elaboração do rascunho preliminar, tipicamente ilustradores de estampas ukiyo-e, referidos como zuanka, como o próprio Kuniyoshi e o famoso pintor Katsushika Hokusai (1760-1849). Isto porque o tatuador copiava o desenho na pele diretamente da folha de papel, sem desenhá-lo de antemão no corpo.


Semelhante à divisão da xilogravura, onde cada profissional é responsável por uma etapa do processo, em certas ocasiões, a tatuagem era dividida entre dois profissionais: um deles fazia o traçado, ou gaku, e o outro executava o preenchimento e sombreado, ou bokashi. Tal relato nos permite cogitar que existiam intersecções entre as práticas de gravação em madeira e gravação em pele humana.

 

Shahan (apud YASUDA, 1952) aponta que Erwin Bälz (1849-1913), médico e antropólogo alemão, creditado cofundador da medicina moderna ocidental no Japão, registrou a prática enquanto esteve assistindo a família imperial no início da Era Meiji (1868-1912). Em seu livro de 1883, assinala que na cidade de Tóquio havia mais de 30 mil pessoas tatuadas. As marcas se limitavam ao torso, braços e pernas, excluindo membros como a cabeça, pescoço, mãos e pés. Comenta que se o indivíduo vestisse um kimono, roupa tradicional, nenhuma tatuagem estaria visível, e que horimono-shi, tatuadores, não consideram parte verdadeira da prática a gravação em qualquer outro lugar no corpo. Nota que a tatuagem é limitada a classes inferiores e que a prática se tornou tão cotidiana que é difícil encontrar um artesão ou trabalhador sem tatuagem.

Ainda, John Skutlin (sd), pós-doutor em estudos asiáticos, em seu artigo de 2019 Fashioning Tattooed Bodies: An Exploration of Japan’s Tattoo Stigma, discorre que o estilo tradicional de tatuagem japonesa, conhecido como wabori, torna-se um símbolo de desfiliação social e, ao mesmo tempo, de associação a elementos menos prestigiosos da sociedade devido à ampla proliferação de filmes envolvendo a yakuza, máfia japonesa desde os anos 1960. Por ser uma mídia de fácil acesso, cria-se uma relação no imaginário popular do pós-guerra entre marcas corporais e homens poderosos atuando em atividades ilegais.

Mesmo nos tempos atuais, pessoas que possuem marcas corporais, associadas a yakuza ou não, se veem proibidas de frequentar áreas comunais como praias, academias, termas e restaurantes, tendo até suas possibilidades empregatícias e habitacionais limitadas. Por conta desta ostracização, Skutlin propõe que no Japão contemporâneo a tatuagem funciona como um indicativo de que o contato com aquela pessoa deve ser evitado.

 

Os tatuados de Edo

A apreciação da progressão da tatuagem em Edo é inseparável do entendimento do contexto histórico e social que a circundou. O surgimento dos citadinos, uma nova classe social com poder aquisitivo, estimula a indústria de gravura ukiyo-e que mais para a frente será responsável por imprimir o trabalho de Kuniyoshi.

 

Emaranhada em problemáticas de consentimento, as marcas corporais parecem se comportar como um sinalizador social a partir do momento em que as classes dominantes, enredadas em regimes de hereditariedade, não a consideram uma prática razoável e as compõem como exercício punitivo.

Pode-se analisar também que são sinalizadoras de consumo por gênero, uma vez que, segundo Thompson (2017), a tatuagem pictórica para mulheres parece ter começado apenas no século 20, sem evidências concretas que datem do período Edo (1603-1868) ou mesmo da Era Meiji (1868-1912). As exceções se dão apenas nos cenários de prostituição.

 

Durante a história japonesa, datando desde o período Jômon (14000 a 300 AEC), passando pela sua era de ouro no período Edo (1603-1868) e sua posterior proibição a partir da Era Meiji (1868-1912), até sua versão atual que atravessa a discussão da legalização, a prática e o ofício da tatuagem no Japão permeiam diferentes indivíduos e objetivos através dos tempos. Uma característica, porém, parece se manter perene: a capacidade humana de afetar e ser afetado pela sua ambiência, e uma necessidade intrínseca de buscar a compreensão da própria natureza através do manuseio de desenhos, símbolos e cores.

 

Referências Bibliográficas

Caroline Perin é graduanda em Artes Visuais pela FMU (c.perin44@gmail.com)

Profa. Me. Clarissa Sampaio Amantea. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Docente na Escola de Ciências Sociais Aplicadas, Educação, Artes e Humanidades da FMU (clarissa.amantea@fmu.br)

 

CORDARO, Madalena Natsuko Hashimoto. Pintura e escritura do mundo flutuante: Hishikawa Moronobu e ukiyo-e - Saikaku Ihara e ukiyo-zôshi. São Paulo: Editora Hedra, 2002.

 

HOWLAND, Douglas R. Samurai Status, Class, and Bureaucracy: A Historiographical Essay. Disponível em <https://www.jstor.org/stable/2659697?read-now=1&refreqid=excelsior%3Ad443b60a68cc1328d3856e989821a527&seq=1>

 

MATSUNOSUKE, Nishiyama. Edo Culture - Daily Life and Diversions in Urban Japan, 1600- 1868. USA: University of Hawai’i Press, 1997.


SEIGLE, Cecilia Segawa. Yoshiwara: The Glittering World of the Japanese Courtesan. USA: University of Hawai’i Press, 1993.


SHAHAN, Eric. Tattoo as Punishment. Amazon Digital Services LLC - KDP Print US, 2019.

 

THOMPSON, Sarah. Tattoos in Japanese Prints. Boston: MFA Publications, 2017.

 

SKUTLIN, John M. Fashioning Tattooed Bodies: An Exploration of Japan’s Tattoo Stigma. Disponível em <https://jayna.usfca.edu/asia-pacific-perspectives/center-asia-pacific/perspectives/v16n1/skutlin.html>

15 comentários:

  1. Em relação às tatuagens punitivas, o fato dos mal feitores serem marcados, os separam dos cidadãos vistos como não criminosos. Meu questionamento é si durante a pesquisa foi possível identifica uma divisão dos desenhos punitivos para cada região do país, ou seja, cada região tinha as suas marcas, ou era unificada?

    Felicitações pela pesquisa, Elaine Alves da Silva

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    1. Olá Elaine, obrigada pela pergunta!
      Durante o levantamento de dados sobre tatuagens punitivas, especialmente no livro 'Tattoo as Punishment: An Illustrated History of Tattooing in Japan' do pesquisador Eric Shahan, notamos a diferenciação das imagens a serem marcadas nos corpos de criminosos. Diferentes regiões possuíam diferentes desenhos a serem gravados por agentes correcionais, em diferentes tamanhos e progressões (como por exemplo na região de Hiroshima, onde cada ofensa adicionaria um traço a mais no rosto do perpetrador até formar o kanji de cachorro).

      Espero ter esclarecido sua dúvida,
      Caroline Perin

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  2. Fernando de Barros Honda8 de agosto de 2023 às 10:09

    A reflexão que a sua pesquisa traz é exatamente a utilização das tatuagens para algo que vai além da apreciação estética, que envolve o "eu gosto", "as cores e as formas são lindas", enfim, características subjetivas de desejo. pelo Japão ser considerado como uma sociedade fria, mas que se preocupa com a coesão social. Bem similar àquela máxima de que se um prego se destaca dos outros ele deve ser martelado. Gostaria de saber se, conforme a sua pesquisa, na contemporaneidade, em 2023, como estaria a relação com esse histórico? Me parece que, embora a história mostre a utilização das marcas para diferenciar criminosos ou os "à margem", grupos criminosos como a Yakuza desde os anos de 1960 deslocaram essa noção de arte. O que você pensa sobre isto? Faz sentido de alguma forma?

    Fernando de Barros Honda PPGF-PUCPR

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    1. Olá Fernando, obrigada pela pergunta!
      Acredito que nossa pesquisa é bem direta em apontar que as condições sociais são inerentes ao processo de absorção ou rejeição de uma prática estética.
      Pelo que acompanho em canais mais informais, como Youtube por exemplo, há um movimento de ressignificação da tatuagem dentro do Japão contemporâneo, envolvendo a tentativa de descriminalizar a profissão.
      No artigo 'Fashioning Tattooed Bodies: An Exploration of Japan’s Tattoo Stigma', que cito no texto, você encontra diferentes categorias de marcas corporais que são realizadas atualmente no país.

      Espero ter esclarecido sua dúvida,
      Caroline Perin

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  3. Olá, gostei muito do texto, parabéns!

    Ainda hoje existe um estigma presente no Japão ao encararem os japoneses tatuados. Minha dúvida é se esse estranhamento ocorre de forma igual à estrangeiros tatuados. vocês tem algum conhecimento sobre a recepção de estrangeiros tatuados no Japão?

    Rafael Meira de Oliveira

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    1. Olá Rafael, obrigada pelo comentário!
      Posso falar a partir da minha experiência pessoal sobre isso. Quando fui ao Japão em 2019, já possuía desenhos em partes muito visíveis do corpo, como rosto e mãos, e não fui impedida de entrar em nenhum local. Sabendo que termas que aceitam estrangeiros tatuados são raras de encontrar, esse tipo de estabelecimento foi o único que não experienciei.
      Tenho um amigo que mora na região de Shiga, onde há uma quantidade razoável de brasileiros imigrantes, e que é descendente nipônico, segunda ou terceira geração que resolveu por voltar ao Japão. Mesmo sendo o que consideraríamos fisicamente japonês ( 'puro' ou não-mestiço, em termos vulgares), ele me contou que os nativos percebem que ele não nasceu por lá, então o tratamento é diferente, mesmo sendo todo tatuado.

      Espero ter esclarecido sua dúvida,
      Caroline Perin

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    2. Esclarecido, obrigado!

      Rafael Meira de Oliveira

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  4. Olá, parabéns pelo excelente texto.

    Fiquei curioso quanto ao hábito das tatuagens de devoção romântica e se o mesmo se manteve após o século 18, ou se foi se perdendo com o advento das irezumi?

    Bruno Valério Jesus de Assis Abreu

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    1. Olá Bruno, obrigada pela pergunta!
      Importante ressaltar que a palavra Irezumi, apesar de ter uma conotação mais informal hoje em dia e significar tatuagem de forma geral, é usada neste texto de forma bastante específica para falar sobre tatuagens punitivas involuntárias. Tatuagens de devoção romântica eram feitas de forma voluntária.
      Não posso te afirmar sobre a continuidade dessa prática frente ao advento de novas técnicas e temáticas. É um interessante recorte para um futuro aprofundamento de pesquisa.

      Obrigada pela pergunta,
      Caroline Perin

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  5. Lohanna de Lima Tavares10 de agosto de 2023 às 16:58

    Parabéns pelo trabalho, interessante a temática. Fiquei curiosa sobre as tatuagens, elas poderiam de alguma forma se relacionar com status social, ser um indicativo de classe?

    Att.,

    Lohanna de Lima Tavares

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    1. Olá Lohanna, obrigada pela pergunta!
      Sim, esta é precisamente a conclusão que chegamos: as tatuagens deste período são indicativos de consumo por classe e gênero.

      Espero ter esclarecido sua dúvida,
      Caroline Perin

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  6. Excelente reflexão! Foi de grande valor para acrescentar em meus conhecimentos.
    Atualmente vejo que muitos possuem tatuagens de diversos estilos, contendo ou não um significado em si na arte escolhida.
    Até um tempo atrás, sinto que as pessoas se preocupavam muito com o significado de um desenho ou o que ele simbolizaria e como seria interpretado por outras pessoas ou por outras culturas. Atualmente sinto que essa preocupação vem se tornando menos intensa, dando muito mais espaço para um "tatuei, pois gostei". Que inclusive, foi o meu caso.

    O que eu gostaria de saber é: em meio as pesquisas, além do significado religioso, romântico e do significado de marcar punições, houve alguma informação referente à preocupação dos japoneses naquela época, com os significados dos desenhos como dragões, tigres, carpas, deus do vento e do trovão, serpentes, peonias, etc. na hora de escolher o que seria tatuado?
    Ou se esses significados que encontramos hoje como poder, sucesso, superação, etc. para muitos dos desenhos só surgiram muito posteriormente, na tentativa de "justificar" ou de dar algum sentido para algo que antes não possuía necessariamente um significado além de artístico?

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    1. Olá Leonardo, obrigada pela pergunta!
      Em 'Tattoo as Punishment', o pesquisador Eric Shahan comenta alguns significados gerais para os desenhos, como prosperidade e boa sorte, geralmente citando fontes a partir do século 19.
      Outros autores falam sobre o uso do Horimono como questão estética, de moda, além da tentativa do usuário de apresentar-se de forma mais intimidadora.
      Sua pergunta sobre uma justificativa posterior ou anacrônica é muito interessante. Caberia um aprofundamento de pesquisa para respondê-la de forma mais completa.

      Espero ter esclarecido sua dúvida,
      Caroline Perin

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  7. Gostaria de saber um pouco mais sobre a tatuagem das cortesãs e sobre por que no Japão ainda hoje há interdição das pessoas tatuadas?

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    1. Olá Kalna, obrigada pela pergunta!
      Sugiro dar uma olhada nas referências bibliográficas, especialmente 'Yoshiwara: The Glittering World of the Japanese Courtesan' e 'Fashioning Tattooed Bodies: An Exploration of Japan’s Tattoo Stigma'. São textos que fazem um aprofundamento que não seria possível fazer aqui em um comentário.

      Espero ter esclarecido sua dúvida,
      Caroline Perin

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