OS SAMURAIS: PARA ALÉM DAS VISÕES ROMÂNTICAS, por Arthur D´Elia dos Santos

 


O presente texto visa se contrapor às visões romanticamente antagônicas de Inazo Nitobe e do mangá Samurai X acerca dos samurais. Para isso será tomado como exemplo a história dos quarenta e sete Ronin; que inclusive já foi tema de filme. Entre os mangás e animes também tem outras muitas obras envolvendo a temática samurai. Como é o caso do arco de Wano em One Piece. Desse modo, o tema acaba sendo de extrema importância para a reflexão no que tange aspectos éticos e morais.

 

Ronin era o nome dado a um samurai sem senhor. Isso poderia ocorrer por demissão ou quando o senhor era executado ou despromovido [HENSHALL, 2014]. Geralmente esses samurais que não tinham a quem servir perambulavam pelo Japão causando perturbações a aldeões ou inquietando autoridades [HENSHALL, 2014]. No entanto, os quarenta e sete representariam na verdade a real virtude samurai. A seguir será exposta, a partir de Kenneth Henshall, a história dos quarenta e sete Ronin:

 

“Em 1701, o seu senhor, Asano Naganori (1665-1701), de Ako, em Harima (Prefeitura de Hyogo), tinha sido insultado por Kira Yoshinaka (1641-1703), o chefe do protocolo do xogum. Asano tinha puxado da sua espada no castelo do xogum, uma ofensa capital. Teve de fazer seppuku e o seu domínio foi confiscado à família. Quarenta e sete dos seus samurais servidores, agora sem senhor, juraram vingar a sua morte, tirando a vida a Kira. Ocultaram o seu intento durante dois anos, fingindo levar uma vida dissoluta, e depois atacaram e mataram Kira num momento em que estava sem guarda, colocando a sua cabeça no túmulo do seu senhor” [HENSHALL, pág. 87, 2014].

 

Apesar da conduta de tais samurais estarem de acordo com o código de ética da classe, o bushidô, ainda assim foram condenados por terem tomado a lei nas suas próprias mãos [HENSHALL, 2014]. O resultado disso foi o suicídio num seppuku (enfiar a espada contra o próprio abdômen) coletivo. Ora, essa história trás alguns pontos que seriam primordiais para a teorização de Inazo Nitobe: a honra e a lealdade como valores dos samurais. Ambos que, de certo modo, foram muito presentes por conta da influência confucionista [HENSHALL, 2014]. Para compreensão da teoria de Nitobe é necessário antes entender o contexto em que ele está imerso, ou seja, o período Meiji (1868-1912).

 

Trata-se de um momento da história japonesa marcado pela adoção de um sistema nacional de ensino, forte centralização política, fim de privilégios da classe samurai como o de carregar duas espadas e pouco a pouco seu fenecimento, investimento no setor têxtil e indústria nacional. Aqui entra também outros dois aspectos que serão importantes para o posterior imperialismo japonês: busca pela legitimação política e militar junto com a construção de uma poderosa marinha [UNZER, 2020]. Cabe dizer que os japoneses não eram reconhecidos como “civilizados” pelos ocidentais (era raça “amarela”); isso vai gerar um ressentimento que depois será crucial para a primeira guerra mundial. Tempo depois o Japão vai demonstrar soberania ao derrotar a Rússia na guerra russo-japonesa de 1905 [UNZER, 2020].

Estes componentes no que se passava globalmente são bastante compreensíveis de existirem por conta do nacionalismo que pairava sobre a Europa [NUNES, 2011]. Também vai ser nesse momento da história que no Japão o xintoísmo vai se tornar religião oficial do Estado [NUNES, 2011]. A extinção da classe dos samurais vai culminar na criação de uma imagem heroicizada deles cujo objetivo vai ser o desenvolvimento de uma identidade nacional [NUNES, 2011].

 

O bushidô, que foi um termo cunhado para representar a ética dos samurais do Japão, vai ser utilizado para difusão de uma política nacionalista [NUNES, 2011]. O processo de unificação japonês partiu da já mencionada idealização do samurai, o qual era agora considerado um herói. Após esta breve exposição, pode-se agora avaliar as considerações de Nitobe e refletir sobre sua teorização, os quarenta e sete Ronin e o que de fato significava o samurai ao longo da história japonesa a partir de uma perspectiva crítica.

Sobre a honra, Inazo afirma o seguinte: “O sentido de honra, implicando uma consciência vívida do valor e da dignidade pessoais, não poderia deixar de caracterizar o samurai, nascido e criado para valorizar os deveres e privilégios de sua profissão” [NITOBE, pág. 59, 2019]. Esta consideração não está longe do que de fato ocorria, sobretudo quando no período Edo da história japonesa os samurais tinham sobre si o dever moral de recusar o deleite em casas de prostituição que se formavam [UNZER, 2020].

 

Por conseguinte, a lealdade vai ser o outro atributo fundamental. Porém, seu conteúdo é a reverência e fidelidade ao senhor [NITOBE, 2019]. Isso fica evidente nesta consideração: “A vida sendo considerada como um meio de servidão a seu mestre, e seu ideal sendo assentado sobre a honra, toda a educação e todo o treinamento do samurai eram coordenados com este propósito” [NITOBE, pág. 71, 2019]. Outras virtudes requeridas são: benevolência, autocontrole e simplicidade [NITOBE, 2019]. Agora, uma real idealização e romantização dos samurais pode ser vista na seguinte colocação:

 

“[...] O que ele carregava em seu cinturão era um símbolo do que carregava em sua mente e em seu coração – lealdade e honra” [NITOBE, pág. 96, 2019].

Trata-se de uma forma de enxergar os samurais como se fossem aqueles que atingiram a plenitude de caráter e um modelo ético a ser seguido. Conforme diz Nunes: “A versão do bushidô de Nitobe se tornou mais difundida no ocidente, e um dos principais pontos que chamam atenção na obra é a presença da imagem idealizada do samurai como um herói nacional que deveria servir de modelo de identidade nacional a todos os japoneses visando à unificação de todos os povos do arquipélago” [NUNES, pág. 66, 2011].

 

Nitobe vai expressar de forma mais cristalina a essência por trás de sua teorização bem como da função histórica dos samurais na sociedade nipônica quando aborda a questão da mulher. Ele compara o sacrifício, subserviência que a mulher deveria realizar ante ao marido e sua casa com o modo como este último teria de se portar diante do seu senhor ou “suserano”. Para explicitar isso que foi dito: “A capitulação de si própria da mulher em nome do bem de seu marido, casa e família era tão desejável quanto o sacrifício do homem pelo bem de seu senhor e país. A renúncia, sem a qual nenhum enigma vital pode ser resolvido, era a tônica da lealdade do homem assim como do âmbito doméstico da mulher. Ela não era mais escrava do homem do que seu marido era do senhor feudal, e o papel que cumpria era reconhecido como naijo, “o suporte interior”. Na escala ascendente dos deveres contratuais figurava a mulher, que se sacrificava pelo homem de modo que ele pudesse se sacrificar para o mestre [...]” [NITOBE, pág. 104-105, 2019].

 

Aqui percebe-se como o pensador evoca a defesa da propriedade privada e da hierarquia social por meio de uma obrigação moral entre os que mandariam e os que obedeceriam. É um posicionamento conservador e romântico envolvendo bushidô e os samurais. Contudo, essa já mencionada classe guerreira ao longo da história japonesa sempre tinha a missão de defender as terras dos grandes proprietários, guerrear quando estes estavam em meio a alguma disputa e reprimir insurreições camponesas [HENSHALL, 2014]. Ou seja, toda esta moral que aparentemente exala fortes virtudes humanas sempre foi um meio para justificar um processo de dominação de classe.

 

Os quarenta e sete Ronin estão inclusos nessa lógica na medida em que sentem a necessidade de honrar seu senhor assassinando Kira. Precisam demonstrar sua lealdade ao vingar seu mestre. E a honra ao não deixar o suserano na mão mesmo após a morte.

 

O que foi dito até aqui é ainda insuficiente pela carência de demonstração da gênese dos samurais. Foi mencionado alguns deveres com os quais a classe guerreira deveria se comprometer. No entanto, para a continuidade da presente investigação no sentido de romper com a imagem idealizada dos samurais, torna-se necessário explicitar seu surgimento. Seguindo Yamashiro, a chave pode ser a disputa por terras por volta do séc. VIII em diante: “Convém lembrarmos que estamos diante de uma sociedade eminentemente agrária, na qual praticamente toda a atividade econômica está ligada ou depende da produção agrícola. Por isso mesmo, toda tensão social, todos os conflitos, armados ou não, giram quase sempre em torno de questões de terra. E, enquanto a aristocracia metropolitana se compraz na fruição da vida de lazer e culto ás belas artes e amor livre [...], surge e evolui no campo a classe samurai. Em meio à labuta árdua cotidiana do lavrador e de incessantes conflitos fundiários (estes mais violentos nas áreas pioneiras), forja-se o caráter marcial e espartano dos novos guerreiros.” [YAMASHIRO, pág. 45, 1993].

 

Vai ser com a revolta de Taira Masakado e a grande mobilização que ocasiona um relativo sucesso militar nas suas tomadas de posições contra o governo central; valendo destacar a supressão realizada por grupos guerreiros [MOTTA, 2018]. O termo “samurai” vai surgir posteriormente no séc. X conforme aponta Motta [pág. 6, 2018]: “Tal fato denotava a consolidação desta nova força no jogo de poderes daquele momento. Com o reconhecimento da importância estratégica, militar e política que estes guerreiros exerceriam a partir daquele momento, a corte estimula a cooptação dos mesmos. Então, a partir do Século X, começam a surgir a denominação samurai para estes guerreiros [...]”.

 

Nada mais óbvio num contexto de guerras contínuas do que o surgimento de uma classe guerreira. Existem outros exemplos na história como é o caso de Esparta. Estrategicamente tais indivíduos tornaram-se cada vez mais importantes para os confrontos envolvendo a terra [MOTTA, 2018]. Tendo os samurais se constituído como uma elite guerreira latifundiária que chega a governar o país do sol nascente por sete séculos. A forma de governo vem à tona após o fim de um conflito conhecido como Guerra Genpei (1180-1185). Trata-se de uma guerra civil que teve clãs samurais como protagonistas; tendo o clã Minamoto saído vencedor e depois disso estabelecido o xogunato [MOTTA, 2018]. É uma forma de governo altamente militarizada cabendo ao imperador funções unicamente religiosas. O xogum vai ser o representante político-administrativo [TURNBULL, 2016].

 

Esta breve exposição serve como pano de fundo para desvencilhar-nos de um outro extremo em se tratando dos samurais: a comunhão entre ímpeto guerreiro e a recusa do assassinato. Conforme aponta Motta [pág. 12, 2018]: “Na história acompanharemos a redenção de Kenshin Himura que após muita matança decide mudar completamente sua vida e achar a paz que ele tanto sonhou.”

 

A escolha de Kenshin é de participar dos combates usando a parte cortante da espada voltada para o próprio corpo, evitando assim que ele acabe matando seus adversários [MOTTA, 2018]. Se Nitobe está em busca de um símbolo para pregar identidade nacional, em Samurai X entra em cena a mudança gerada pelo período bakumatsu: o fim do shogunato e retorno do poder para as mãos do imperador. Como expõe Feijó: “Durante o Shogunato Tokugawa o Japão fechou suas portas para o exterior. Este cenário, que durou aproximadamente dois séculos e meio sofreu uma mudança na segunda metade do século XIX uma vez que o bakufu, pressionado pelas potências ocidentais (principalmente pelos Estados Unidos) acaba abrindo suas portas para diversas nações, como resultado uma nova guerra civil começa. A este período de turbulência que levou ao final do Shogunato Tokugawa e o retorno do poder de fato às mãos do imperador deu-se o nome de bakumatsu.” [FEIJÓ, pág. 37, 2013].

 

O mangá é uma grande metáfora deste contexto histórico. Percebe-se aqui o contraste com Nitobe, porém sem abandonar o aspecto romântico. Enquanto Inazo enxerga no samurai um ser humano praticamente perfeito, íntegro e suprassumo moral, em Samurai X tem a trajetória de um guerreiro que se recusa matar e mesmo assim sai vitorioso em combates. De um lado tem o exagero em torno da vida guerreira e do outro a redução disso a algo que historicamente seria inaceitável (inclusive considerando a gênese da classe guerreira): não matar em confrontos.

 

Portanto, o que se pode aqui afirmar contra estas tendências é: os samurais constituíram uma classe social cujas atribuições era a defesa da propriedade latifundiária dos seus senhores, a proteção destes últimos, participação em guerras por terras e a repressão dos camponeses quando se agitavam. Sua moral estava mediada pelos interesses particulares da classe dominante japonesa da época. Não se tratando, contudo, de um atendimento da “comunidade” (ainda que formada unicamente por homens proprietários de escravos desde o nascimento atenienses) como fora em Atenas, e sim da correta manutenção de uma sociedade altamente hierarquizada com os indivíduos da classe dominante em posição de constante antagonismo.

 

Referências

Arthur D’Elia dos Santos é mestrando em Filosofia da UERJ.

 

FEIJÓ, L. C. C. Narrativa e representação nos quadrinhos: a restauração Meiji (1868) nos mangás. 2013. 135 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2013.

 

HENSHALL, K. História do Japão. 2 Ed. Lisboa: Edições 70, 2014.

 

MOTTA, L. M. V. . Análise da Construção Identitária Arquetípica do Samurai nos Mangás. In: XIV Encontro Estadual de História, 2018, Porto Alegre. Democracia, liberdade e utopias. Anais [do] 14 Encontro Estadual de História da ANPUH-RS. Porto Alegre: ANPUH-RS, 2018. p. 1-15.

 

NITOBE, I. O caminho do samurai. Brasil: Pé da Letra, 2019.

 

NUNES, G. P. . A Ética Samurai no Japão Meiji. Gama (Rio de Janeiro) , v. 13, p. 56-69, 2011.

 

TURNBULL, Stephen..Samurai Warfare. London: Cassel Imprint, 1996.

 

UNZER, E. Período Edo ou Tokugawa (1603-1868). 2020. Disponível em: https://youtu.be/Nl6SywnP1Qc.

 

UNZER, E. Era Meiji (1868-1912). 2020. Disponível em: https://youtu.be/SrJAJMWDUIo.

 

UNZER, E. Era Taishô (1912-1926). 2020. Disponível em: https://youtu.be/f5jsKEP-Nzc.

 

YAMASHIRO, José. História dos Samurais. São Paulo: Ibrasa, 1993

19 comentários:

  1. Salve!

    Você chegou a pesquisar sobre de que forma a figura do samurai vem sendo utilizada pelos movimentos ultranacionalistas (e militaristas) japoneses, notadamente nos últimos 20 anos?

    Saudações.

    Willian Spengler

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    1. Salve! Não cheguei a pesquisar sobre isso. Seria interessante. Mas no artigo que citei do Nunes fala um pouco do ultranacionalismo (que era uma das facetas da época. A outra seria a concepção de Nitobe, etc). Creio que os ultranacionalistas gostem também dessa visão romântica.

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  2. Arlindo José Reis de Souza8 de agosto de 2023 às 08:33

    Caro Arthur D'Elia.
    Primeiramente, parabéns pelo seu texto.
    Cotejar as visões que recaem sobre a temática dos samurais torna a compreensão das representações sobre os mesmos ainda mais aprofundada e representativa de quem as produz. No entanto, o que eu gostaria de trazer é o próprio protagonismo/evidência da temática do samurai na literatura e nas representações sobre o Japão em si. O seu texto traz, e muito bem, que existe uma "questão de classe" importante: além de guerreiros, os samurais eram/são representativos da estrutura de poder na sociedade japonesa.
    Dito isso: duas perguntas interligadas:
    1)Existe algum estudo que ponha em perspectiva a origem dessa ênfase na figura do guerreiro samurai na literatura dos séculos XX/XXI?
    2)Estas representações são, no caso da produção literária feita no próprio Japão, por autores japoneses, em alguma medida, "adaptadas" ao "gosto" Ocidental? E, com isso, relacionada a uma espécie de "orientalismo interno"?

    Muito obrigado pela leitura!

    Arlindo José Reis de Souza

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    1. Opa! Olá, Arlindo. Agradeço os elogios! Fico Feliz que tenha gostado. Sobre a 1⁰ pergunta, indico o artigo do Nunes que citei. Apesar de muito provavelmente poder ter coisas em inglês, etc.

      Sobre a segunda questão, acho que é complexo. Porque basicamente usei em grande medida autores do "Ocidente". Só que a questão envolvendo a temática samurai é, antes de tudo, objetiva. Acredito que é preciso se ater aos aspectos históricos. Deve ter coisas feitas por teóricos japoneses em japonês, mas desconheço tais textos e nem conseguiria ler porque não sei japonês. Kkkkk.

      Mas assim, é fato que houve romantização dos samurais em determinado momento. Assim como aqui no Brasil na literatura chegamos a romantizar os indígenas. Esse tipo de coisa é comum a países que passam por um processo de unificação ou tentativa de estabelecimento de uma coesão interna.

      Abraço.

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  3. Boa tarde!
    Caro Arthur D'Elia, primeramente gostaria de parabenizá-lo pelo texto.

    Gostaria de perguntar sobre a relação entre os ideais do bushidō, principalmente no que tange à lealdade, e as traições que eram comuns durante o período do xogunato, o que poderia demonstrar que os interesses pessoais dos samurais muitas vezes estavam acima do código de honra do bushidō. O que inclusive poderia ter contribuído para tomadas de decisões drásticas por Toyotomi Hideyoshi como ordenar a morte de aliados e até do mestre do chá Sen no Rikyū, pois julgava que eles poderiam lhe trair em algum momento. Os samurais que de certa forma quebravam esse código de honra eram mal vistos? Ou mesmo não demonstrando essa lealdade ao senhor, era sua força militar que mais importava?
    Por fim, demonstrar que os samurais nem sempre seguiam o bushidō poderia contribuir para uma desconstrução da imagem romantizada dos samurais que é difundida hoje em dia e talvez afetar a identidade nacional do Japão?

    Desde já, agradeço.

    Francisco Bahia da Silva

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    1. Olá, Francisco. Muito obrigado pelo elogio e fico Feliz que tenha gostado do texto. Sobre suas questões: sim, esse fato envolvendo as traições e até mesmo o fato dos samurais frequentarem prostíbulos quando as cidades se desenvolveram contribuem para acabar com essa visão romantizada.

      Agora, essa galera que acabava fazendo esse tipo de coisa poderia ser punida (dependendo da traição) . Mas também não havia esse rigor moral como preconizam certas visões acerca dos samurais.

      Sobre a questão da força militar, sem dúvidas esse era o aspecto mais fundamental dessa classe. Não sei dos pormenores, mas acredito que uma traição tipo um pequeno furto seria perdoada se o samurai demonstrasse muita serventia em termos de força militar.

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  4. Parabéns pelo seu texto.

    Muito bom e instigante. Quais foram as causas do desaparecimento dos samurais no Japão?

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    1. Olá. Obrigado pelo elogio. Olha, a principal causa foi o crescimento comercial e urbano juntamente com a ausência de grandes disputas, guerras no interior do território japonês. O que fez com que a classe samurai ficasse ociosa e as vezes até endividada. Pouco a pouco perdeu a razão de ser até se extinguir.

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  5. Oi Arthur! Muito interessante seu texto. Pensando além do Samurai X, uma vez que o mangá de samurai é um gênero bastante difundido no japão e a classe de seu personagem e a ideia de que ele segue um código próprio, ou algum tipo de honra também tem bastante apelo, não vai de encontro ao ideais xintoistas, que pregavam um desapego a existência em nome dos antepassados e da honra? E aí o samurai "simbólico" acaba se difundindo mais do que seu equivalente histórico?
    Atenciosamente,
    Janaina de Paula do Espírito Santo

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    1. Olá. Muito obrigado pelo elogio. Fico Feliz que tenha gostado do texto. Bem, o xintoísmo durante certo momento da história japonesa foi religião oficial. Isso inclusive quando os samurais existiam e tinham seu código. Não acredito que exista contradição. Sobre a segunda pergunta, há essa difusão simbólica muito mais por uma tentativa de unificar o povo em torno de um herói ou de algo que "seja" a marcar do Japão.

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  6. Parabéns pelo estudo! Bastante interessante e completo!
    Vejo a honra como algo ainda muito forte e presente em meio a sociedade atual japonesa. Mesmo em assuntos que não envolvem diretamente a história dos samurais, como por exemplo no futebol, onde mencionam o "samurai damashii" sendo um "espírito de samurai", como compreendo, dentro de meu limitado conhecimento.
    Porém me surge a dúvida, na verdade, na "construção de uma poderosa marinha", como mencionado no estudo. No período em que os samurais perderam seus privilégios de carregarem suas espadas e surge então uma nova potência (marinha), me questiono se houve uma resistência da parte dos samurais em aceitar essa nova situação onde o poder lhes é tirado das mãos e direcionado a uma outra área, ainda que fosse para defender sua nação? E o "espírito samurai" teria sido também aplicado aos conceitos de "preparo" da marinha japonesa? Ou teria sido separado essa imagem da marinha com um modelo de preparo mais "ocidentalizado"?

    Muito obrigado, desde já!

    ASS: Leonardo Tadeu Marchini

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    1. Olá. Agradeço o elogio e fico Feliz por ter gostado do texto. Sobre a primeira questão, não houve essa "raiva" por conta do fortalecimento da marinha não. Samurais vão ficar ociosos e insatisfeitos com o crescimento comercial e urbano. Apesar de o crescimento da marinha com certeza ter relação também, junto com desenvolvimento das armas, da "inutilidade" dos samurais.

      Sobre a 2⁰ questão, o preparo da Marinha japonesa, creio, se deve a esse aspecto cultural do japão de forte ênfase no cumprimento de um dever, etc.

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  7. Me surgiu também, relendo alguns pontos, uma nova dúvida:

    No texto, fora mencionado que "toda esta moral que aparentemente exala fortes virtudes humanas sempre foi um meio para justificar um processo de dominação de classe"; na sua opinião, os samurais tinham consciência plena de que esta imagem era apenas uma "máscara" para justificar o processo de dominação de classe? Ou estes viviam as virtudes e a moral como algo real, cegamente, sem consciência de que era, na verdade, para um controle de classe onde eles mesmos estavam "presos" sob um domínio, ainda que seus senhores estivessem mortos (como no caso dos 47 ronins, que mesmo após perderem seu senhor, viveram "presos" em um processo de vingança por seu falecido senhor)?

    ASS:
    Leonardo Tadeu Marchini

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  8. Eles não tinham essa consciência e até lhes era confortável por conta do privilégio. Mas realmente não tinham dimensão do que de fato estavam fazendo. Essas virtudes, valores, são pano de fundo para a prática do samurai. Até porque precisam ter para si um sentido pra justificar sua existência enquanto classe samurai.

    Não acredito que estavam Exatamente "presos", mas sim conformados com o status quo. Somente vão fazer algo quando veem seus privilégios e vida militar perdendo razão de ser.

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  9. Rafael Vidal de Oliveira10 de agosto de 2023 às 12:50

    Prezado Arthur D'Elia,

    Estimo que esteja bem!

    Venho lhe congratular pelo incrível trabalho realizado. De fato, minha primeira leitura sobre o assunto. Como já havia assistido Samurai X, muito do panorama do enredo ficou mais claro e agradeço prontamente pelos seus esforços no tema pesquisado.

    A visão romantizada dos samurais é largamente disseminada por meio da indústria midiática, quer seja pelos filmes, animações e quadrinhos japoneses. Sempre remetendo à bravura e lealdade. Por meio do seu trabalho, pude compreender que essas características se referiam principalmente à um jogo de interesses específico da classe dominante, o que já desconstruiu esse romantismo largamente divulgado.

    Dito isto, venho aqui lhe indagar se, entre as suas pesquisas realizadas, você se deparou com alguma obra (anime, mangá, filme, livro, ou outro) que mostrava mais essa face menos romantizada e mais realista dos samurais e que iam de encontro aos estudos acadêmicos realizados.

    Desde já obrigado pela atenção!

    Rafael Vidal de Oliveira

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    1. Olá, Rafael. Agradeço pelo elogio e pergunta! Olha, não me recordo de anime, filme, etc. Que mostre essa faceta mais realista. Em One Piece no arco de Wano entra muito em voga a temática samurai, inclusive com uma traição estando presente. Mas não chega a aparecer questões como senhores "feudais" . Até por tambem nao fazer muito sentido ali.

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    2. Muito obrigado pela resposta Arthur!

      Entendo. Vou ver se, por inspiração ao seu trabalho, consigo recomeçar a assistir One Piece, visto que sempre paro na primeira temporada.

      Abraços!

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  10. Olá Arthur,

    Adorei o seu texto.
    Tenho curiosidade em saber o porquê o bushidô de Nitobe sobressaiu no Ocidente. Saberia dizer se há algum registro de como teria sido sua recepção no Japão?

    Desde já, agradeço.

    Carlos Germano Gomes Gonçalves.

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  11. Olá, Carlos. Muito obrigado. Nitobe sobressaiu porque, creio eu, foi muito mais alinhado com algumas concepções mais romanticas. Presentes até na filosofia. Como Nietzsche (anticapitalismo romantico), literatura. No Japão ele ficou em 2⁰ plano, digamos. Um outro autor que agora nao recordo o nome acabou sendo mais influente. Inclusive bem reacionário.

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