OS CONFLITOS ISRAELO-PALESTINOS NA RELAÇÃO ENTRE O SIONISMO E O CAPITALISMO, por Christian Souza Pioner

  

Os conflitos entre Israel e Palestina tornam cristalinas as contradições inerentes ao funcionamento do sistema capitalista, ao escancarar ao mundo as transgressões aos direitos humanos operadas por interesses hegemônicos. É necessário entender os motivos levaram à deflagração de tal beligerância, assim como quais foram e são os atores que a financiam desde os bastidores. Dessa maneira, se buscará aqui entender a origem e a responsabilidade do sionismo enquanto elemento de arrimo de tal situação histórico-político-social e como pode se dar a construção de um novo paradigma, que objetive, acima de tudo, o respeito indistinto aos direitos humanos e elimine na raiz o minadouro destes problemas.

 

A formação de Israel e os conflitos que o envolvem

A criação do Estado de Israel remonta ao Primeiro Congresso Sionista, de 1897, quando surge, nos debates públicos encampados pelo líder do movimento, Theodor Herlz, a reivindicação de um lar nacional dos judeus, principalmente europeus, que viviam desde a diáspora judaica promovida ainda em 70 d.C. pelo Império Romano espraiados por toda a Europa. Entretanto, a Terra Prometida já era povoada por árabes-muçulmanos — predominantemente camponeses espraiados em centenas de aldeias pelo território — e detinha identidade nacional própria, a palestina [CHEMERIS, 2002, p. 21–27].

 

Então parte do Império Otomano, a Palestina vê-se envolta em a partir da Grande Guerra por articulações políticas que buscavam, ao cabo, a concretização de tal empreendimento. O apoio que Herlz encontra na Grã-Bretanha é essencial, na medida que a Declaração Balfour, de 1917, inicia uma série de movimentos que culminam na criação de um protetorado inglês na Palestina e permite que o projeto sionista tenha sucesso na medida que o Império Otomano vislumbrava seu ocaso [CHEMERIS, 2002, p. 57–58].

 

Desde este momento os palestinos iniciam um movimento de resistência que afasta as pretensões sionistas na região até a Segunda Guerra Mundial. Contudo, com o Holocausto a empresa que Herlz iniciara ganha apelo internacional e, com o apoio das duas potências do pós-guerra, culmina, a partir de 1945, na Aliyah, ou a migração maciça de judeus para a Palestina [CHEMERIS, 2002, p. 59–62]. Tal influxo deflagra uma série de conflitos entre Israel e as nações árabes que perdura até hoje. Mesmo seu estabelecimento inicial ocorreu por meio da atualmente conhecida Primeira Guerra Árabe-Israelense.

 

Em 1947, a ONU promulga a Resolução 181, que, reconhecendo a falta de ação inglesa — que já entrava em franca decadência face aos EUA — em controlar a situação, determina a criação de dois Estados, que repartiriam equitativamente o território disputado [ONU, 1947]. Tanto o bloco soviético quanto os países capitalistas, como Grã-Bretanha, França e EUA apoiaram a Resolução. Para os socialistas, a ideia era garantir um espaço vital e de autodeterminação judaica logo após o holocausto, enquanto ao restante das potências supracitadas, pretendia-se construir na região do Oriente Médio um entreposto militar visando o controle dos maiores países produtores de petróleo no planeta e também capaz de atingir Moscou com a instalação de ogivas nucleares [VIDAL, 2019]. Entretanto, a assinatura dos representantes de Israel não representou respeito à Resolução, pois — mediante o exponencial financiamento estadunidense, estes passaram a se alinhar cada vez mais estreitamente com a política de Washington, ultrapassando as fronteiras definidas, expulsando violentamente a população palestina e criando assentamentos efetivamente neocoloniais.

 

Por seu lado, os palestinos criticam duramente a Resolução, entendendo tratar-se de um flagrante ataque à sua soberania nacional, a medida em que denunciam os avanços sobrescritos. A URSS, paralelamente à tomada de posição israelense, afasta-se dos sionistas e junta-se aos árabes no apoio à luta palestina [VIDAL, 2019]. Núcleos de resistência organizada começam então a se formar, como a Organização para Libertação da Palestina (OLP), em 1959, e a Frente Popular de Libertação Palestina (FPLP), em 1967. A primeira, liderada por Yasser Arafat até 2004, ganha protagonismo na luta com o tempo, tornando-se não só plataforma política — ao passo que é reconhecida pela ONU em 1974 legítima representante do Estado palestino — como também militar, arregimentando braços armados no combate direto às investidas de Israel, como o Fatah, também liderado por Arafat [SOARES, 1989, p. 60].

 

Contudo, a partir do final da década de 1980, após sucessivas derrotas face a Israel e com o processo de enfraquecimento e, posteriormente, dissolução da URSS, a OLP passa a cada vez mais buscar soluções pela via diplomática, abandonando a resistência beligerante. É nesse ínterim que se dá a formação do Hamas, que substitui rapidamente o Fatah nas frentes de luta enquanto tece críticas públicas quanto ao recrudescimento de sua luta política histórica [SAAB, 2016, p. 64].

 

Esse período também é considerado momento chave para a compreensão da dinâmica política atual, por ser o momento no qual é deflagrada a Primeira Intifada, revolta civil de grande proporção sem a organização de núcleos de resistência [SAAB, 2016, p. 63–64]. A flagrante disparidade de forças entre as partes é amplamente noticiada, com imagens de crianças palestinas participando da revolta, atirando pedras em tanques de guerra israelenses, tornando-se famosas em todo o mundo.

 

Resulta da Intifada os Acordos de Oslo, assinada na Casa Branca por Arafat e Shimon Peres, primeiro-ministro israelense, garantiu um período efêmero de paz entre as partes e um Nobel da Paz aos envolvidos. Contudo, conforme aponta Klein [2007, p. 730], o Acordo é duramente criticado pelos árabes por conter termos muito desproporcionais e garantir um controle ainda maior de Israel e, consequentemente, dos EUA, sobre a região.


A Intifada Al-Aqsa, deflagrada poucos anos depois, demonstram ainda mais intensamente o nível de pauperismo da vida palestina. É nesse conflito, com o início da construção do chamado Muro do Apartheid, que é criada, por meio do enclausuramento de Gaza e Cisjordânia com barreiras físicas, uma prisão a céu aberto. Davis [2019], em viagem que fez para a região em 2011, relata que:

 

As Forças Armadas israelenses não fizeram nenhuma tentativa de esconder nem mesmo de abrandar o caráter da violência que infligiam ao povo palestino. Mulheres e homens do Exército […] estavam por toda parte, portando armas. O muro, o concreto, o arame farpado em todos os lugares transmitiam a impressão de que estávamos em uma prisão. Antes mesmo de serem detidas, as pessoas palestinas já estão em um cárcere. Um passo em falso, e a pessoa pode ser detida e arrastada para a cadeia; pode ser transferida de uma prisão ao ar livre para uma fechada [p. 45].

 

O papel do sionismo no sistema capitalista

A conformação histórica e política da relação entre Israel, Palestina e os demais países árabes é o mais patente exemplo das condições e contradições que o capitalismo, enquanto sistema-mundo, impõe sobre os povos de todo o planeta. As similitudes encontradas entre a descrição de Davis e a fronteira entre EUA e México não são meras coincidências, ao contrário, são facetas diversas de uma questão comum, qual seja: o racismo como instrumento de manutenção das iniquidades sociais construídas historicamente, manutenidas e aprofundadas com o sistema de acúmulo de capital.

 

O sionismo é exatamente o instrumental ideológico que cria a noção de um inimigo comum para os judeus, na medida que caricatura árabe-muçulmanos como potenciais “terroristas jihadistas”, e dá forma a uma identidade nacional profundamente marcada pelo racismo contra tais grupos. Os interesses do capital se evidenciam plenamente com a divisão social erigida com a violência financiada pela burguesia internacional e a exploração da mão-de-obra palestina que diuturnamente atravessa a fronteira com Israel para trabalhar.

 

O sionismo é também é marcado por aquilo que Said [1996, p. 54] chama de orientalismo. Para ele, tal categoria sintetiza a noção de que o mundo é dividido de forma permanente entre o Ocidente e o Oriente. O primeiro, autopoiético, advoga para si o pendão civilizacional à medida que lega ao outro a pecha do exotismo e do barbarismo, e, portanto, da superioridade. Sob tal manto, justifica toda e qualquer transgressão àqueles cometidas. O orientalismo é elemento-chave na construção de narrativas que alicerçam a prática imperialista dos países centrais do capitalismo, pois a um só tempo clamam “levar a civilização aos povos selvagens” e afirmam a si próprios como os modelos de sociedade, que devem ser indistintamente seguidos, mesmo que isso seja impossível exatamente pelos motivos acima elencados acerca da constituição de tal sistema. O orientalismo é chave para a compreensão do sionismo como um tipo de racismo.

 

No caso palestino, o orientalismo aparece principalmente nas construções que Israel e a mídia internacional fazem dos conflitos, com a criação de imagens estereotipadas das populações árabe-palestinas que justificam a violência neocolonial realizada. Ademais, o sionismo contribui para a reprodução de situações que façam tal ciclo de desinformação, justificação e violência se perpetuar. Como exemplo cabe citar o chamado Massacre de Munique, de 1972, em que membros da organização de guerrilheiros palestinos Setembro Negro invade a vila olímpica durante os jogos, toma como refém e assassina onze esportistas de Israel [SOARES, 1989, p. 61–62]. O episódio desencadeia a Operação Cólera de Deus, que captura e assassina ainda em 1972 todos aqueles diretamente envolvidos em Munique e destaca a questão pan-arábica que emanava desde o Egito. Em 1973, EUA e Israel vencem a Guerra do Yom Kippur, mantendo o controle do Sinai até Suez, tomando Golã e pondo fim ao projeto do já falecido presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser [SOARES, 1989, p. 63–67].

 

Aqui, importante um parêntese para ressaltar que, conforme Butler [2017] demonstra, há uma diferença fulcral entre o sionismo e o judaísmo moderno, pois este último não só é uma das religiões abraâmicas, como têm, desde o bíblico êxodo de Moisés e a diáspora judaica de outrora supracitada, o exílio como elemento de identidade nacional histórica:

 

[…] incorporado na ideia de judaico (não em termos analíticos, mas históricos, ou seja, no tempo); nesse sentido, ‘ser’ judeu é estar afastado de si mesmo, jogado num mundo dos não judeus, fadado a progredir ética e politicamente justo ali, naquele mundo de uma heterogeneidade irreversível. A ideia de exílio ou galut na cultura judaica caracteriza uma população que perdeu um lugar e não foi capaz de retornar a outro. A ideia de ‘retorno’ continua implícita na ideia de exílico, na medida em que é ligada a Sião e ao sionismo. Assim, dentro do discurso sionista, a galut é considerada um domínio decaído, um domínio que só pode ser retificado e restaurado pelo retorno à pátria. O diaspórico funciona de modo diferente, significando uma população e até mesmo um ‘poder’ que dependem da coabitação com os não judeus e evitam a ligação sionista da nação com a terra [p. 24].

 

O sionismo, em essência, na medida que se contrapõe a esta noção, confronta o que é ser judeu irremediavelmente. Assim, revela, ao cabo, sua essência enquanto ideologia, aqui já debatida. Esta, por seu lado e conforme bem apontam Karl Marx e Friedrich Engels [2007, p. 47], é construída pela burguesia de maneira a expressar o conjunto de ideias partilhado por todo o corpo populacional a si subordinado:

 

As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe também dos meios da produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo, os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da produção espiritual. As ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante, são as ideias de sua dominação.

 

Os processos sociais de tal lógica capitalista são em si antinômicos, pois, garantindo a diferentes classes sociais quinhões excessivamente diferentes do conjunto de riquezas produzidas coletivamente, fragmentam os trabalhadores e mantém conflitos perenes entre tais grupos sob diversas matizes. A ideologia, como a sionista, tem por papel escamotear as raízes destes problemas, fornecendo “soluções” que sequer as tangenciam e, não raro, as aprofundam.

 

Como aponta a denúncia de Davis [2018], não é apenas o exército israelense que atualmente reprime a população palestina. A multinacional de segurança privada G4S tem desde a última década avançado sobre o setor na região e contribuído para o acirramento do que a autora identifica como verdadeiro apartheid. O manifesto do Congresso dos Sindicatos Sul-africanos é pontual:

 

O modus operandi da G4S aponta para dois dos mais preocupantes aspectos do capitalismo neoliberal e do apartheid israelense: a ideologia da ‘segurança’ e a crescente privatização de setores que têm sido tradicionalmente administrados pelo Estado. Segurança, nesse contexto, não significa segurança para todas as pessoas; ao contrário, quando se observam os principais clientes da G4S Security (bancos, governos, corporações, etc.), fica evidente que [...] ela se refere a um mundo de exploração, repressão, ocupação e racismo.

 

Na atual quadra, a burguesia aparta-se dos trabalhadores justamente por deter dos meios de produção, legando à sua contraparte o único direito de manter-se livre para vender sua força em troca do mínimo capaz de garantir a existência e a reprodução de tal mão de obra. O capitalismo é, em essência, contrário à dignidade da vida humana, uma vez que a acumulação contínua e cada vez mais concentrada de tais riquezas nas mãos de um quórum que só faz reduzir impede a concretização daquilo que se conhece por Direitos Humanos.

 

Marx, Engels e os marxistas propõem, com o método histórico-dialético, que a consubstanciação dos direitos humanos somente pode ser efetivada com a destituição do modelo de sociedade que a eles se contrapõe. Não há que se falar apenas em tornar o capitalismo mais justo, mais humano, uma vez que ele se funda na incorrigível disparidade das diferentes classes sociais [HUNT, 2009, p. 198].

 

A acumulação capitalista é a um só tempo elemento sine qua non de caracterização de uma sociedade sob tais moldes e prática ilógica, pois inverte os papéis construídos no curso da história. Se, na alvorada da humanidade, os agrupamentos se formaram sob a necessidade precípua de sobrevivência e, à medida que criaram novas tecnologias as utilizaram em benefício coletivo, aumentando a produção e a concorrentemente diminuindo a carga de trabalho individual, com a fundação do capitalismo tal conformação se inverte. Os seres humanos, que antes sofriam as duras penas da escassez de insumos básicos para a vida, agora se veem tanto imersos nas possibilidades de possuírem o que bem entenderem, como continuam praticamente sem acesso algum, pois não detém os meios de produção e tem de vender sua força de trabalho àqueles que exercem o controle desses meios e por meio deles acumulam — a este processo, Marx e Engels nomeiam exploração da mais-valia [2005, p. 40–51].

 

Tais questões se acirram com passar do tempo, dada a já citada necessidade irrefreável de acumulação capitalista, e, portanto, são gestadas novas formas de aprofundar da exploração do proletariado pela burguesia. O sionismo, no contexto abordado, é uma dessas formas.

 

Considerações finais

Os conflitos israelo-palestinos tornam cada vez mais evidente como a manutenção de tal estado permanente de guerra na região serve aos interesses tanto do grupo sionista que controla o país, que operam em uma lógica neocolonial, como dos que financiam tal projeto desde a fundação do Estado de Israel, a burguesia internacional, e principalmente, os EUA. Os países centrais do capitalismo reiteradamente põem em xeque a estabilidade social daqueles que estão às margens do sistema, e não há acaso nisso. A estrutura do capitalismo monopolista necessita da contínua reprodução da lógica acumulativa, que em um planeta finito em recursos e espaços, leva a destruição de sociedades inteiras — para que se possa lucrar tanto na guerra quanto na reconstrução — como do próprio ecossistema, o que no não tão longo prazo pode significar o fim da humanidade como um todo. No caso palestino, há uma efetiva substituição, por meio da violência financiada internacionalmente, de uma população por outra. A destruição e a reconstrução convivem diariamente.

 

É sabido, porém, que o desenvolvimento de um novo paradigma somente ocorre pela transformação das estruturas sociais. Tal tarefa não é fácil, pois depende da compreensão da realidade em suas múltiplas determinações, bem como da organização por parte daqueles que restam irresignados perante tal status quo. Estudar a questão palestina e sua relação com o sionismo e o capitalismo é observar diretamente as contradições intrínsecas no seio do sistema capitalista.

 

O sionismo, como instrumento político de dominação e aprofundamento das contradições e violências promovidas por Israel contra a população palestina, precisa — em conjunto com o sistema capitalista, que lhe garante o vigor da existência — ser denunciado e combatido nas diversas searas em que possa se apresentar. Não basta, portanto, a defesa abstrata dos direitos humanos no Oriente Médio, correndo inclusive o risco de se auxiliar as narrativas hegemônicas e contrapostas a tais direitos. Certamente, posicionamento também não pode se realizar uma metonímia, tomando todos os judeus e israelenses por sionistas, repetindo a falácia antissemita que levou em 1933 o nazismo ao poder e, mais tarde, ao Holocausto. É necessário, sim, alinhavar o estudo da situação concreta da situação na região e a tomada de posição contra o sionismo, especificamente, e os avanços dos interesses do capital sobre as vidas árabes e, sobretudo, palestinas.

 

Ao cabo, os direitos humanos, há muito negados aos palestinos e tão universalmente reconhecidos no grande teatro das nações, não podem florescer a cada um dos seres humanos que caminhou e caminha sobre a Terra sem que se fale na extirpação do sistema social que se mantém de pé em alicerces como o racismo, a misoginia, a desigualdade econômica, etc. A ONU, a União Europeia e outras organizações internacionais de grande destaque não têm e nem podem ter condições de mudar o curso de situações como a palestina, posto que são primordialmente balcões de negócios dos países capitalistas. Não basta, portanto, o endosso a discursos pouco inflamados que lideranças social-liberais fazem em favor de uma defesa abstrata da paz. É preciso reafirmá-la diuturnamente nas ruas, visando a construção de um novo paradigma que finalmente tenha a humanidade, e não o capital, como aquilo que realmente mereça proteção e respeito.

 

Referências

Christian Souza Pioner é historiador pela Universidade do Estado de Santa Catarina e graduando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9016028101476085

 

BUTLER, Judith. Caminhos Divergentes: judaicidade e crítica do sionismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017. 328 p.

 

CHEMERIS, Henry Guenis Santos. Os Principais Motivos que Geraram os Conflitos entre Israelenses e Árabes na Palestina (1897–1948). 2002. 75 f. TCC (Graduação) — Curso de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.

 

DAVIS, Angela. Sobre a Palestina, a G4S e o complexo industrial-prisional. In: DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo Editorial, 2018. Cap. 4. p. 41–46.

 

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 285 p. Tradução de Rosaura Eichenberg.

 

KLEIN, Naomi. A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. 872 p.

 

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005. 255 p. Tradução de Álvaro Pina.

 

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845–1846). São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. 616 p. Tradução de Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano.

 

RESOLUTION adopted on the report of the Ad Hoc Commitee on the palestinian question nº 181(II). United Nations. p. 131–152. Disponível em: https://undocs.org/A/RES/181(II). Acesso em: 20 mar. 2023.

 

SOARES, Jurandir. Israel x Palestina: as raízes do ódio. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1989.

 

VIDAL, Dominique. Por que a URSS apoiou o jovem Estado de Israel? 2019. Disponível em: https://bit.ly/3MI1P20. Acesso em: 25 abr. 2023.

 

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005. 255 p. Tradução de Álvaro Pina.

 

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845–1846). São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. 616 p. Tradução de Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano.

 

RESOLUTION adopted on the report of the Ad Hoc Commitee on the palestinian question nº 181(II). United Nations. p. 131–152. Disponível em: https://undocs.org/A/RES/181(II). Acesso em: 20 mar. 2023.

 

SOARES, Jurandir. Israel x Palestina: as raízes do ódio. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1989.

 

VIDAL, Dominique. Por que a URSS apoiou o jovem Estado de Israel? 2019. Disponível em: https://bit.ly/3MI1P20. Acesso em: 25 abr. 2023.

 

10 comentários:

  1. Excelente texto, Christian. De fato, é bastante interessante a relação que você faz entre sionismo e capitalismo, bem como a hipocrisia por trás de certos discursos em defesa dos Direitos Humanos. Meu ponto é que talvez seja necessário evitar juízos cabais sobre elementos demasiadamente complexos. Parece-me difícil a crítica ao papel da ONU, por exemplo, sem notar como a organização funciona de fato e de direito. Há no âmbito da Assembleia Geral uma postura majoritária em defesa da Palestina, inclusive sua completa adesão à ONU. Como sabemos, os impeditivos da aceitação do país se dá por meio de um mecanismo que permite o veto estadunidense, dado o país ser membro permanente do Conselho de Segurança. Lembro também que um juízo cabal tanto sobre palestinos quanto sobre israelenses pode nos levar a não ver com a acuidade necessária a multiplicidade de visões entre os próprios palestinos e entre os próprios israelenses. Eu creio que concordamos quanto ao fato de não ser difícil estabelecer os culpados e as vítimas das inúmeras agressões citadas por você, aliás a própria ONU já condenou Israel inúmeras vezes, mas me parece que a busca por soluções requer que nos aprofundemos nas contradições internas às partes em disputa também. Assim, partindo da nossa concordância em relação às inúmeras agressões sofrida pelos palestinos e pela hipocrisia por trás de muitos discursos de Direitos Humanos, gostaria de saber se você acha possível a construção de um estado Palestino em um mundo marcado pelo capitalismo global ou se isso só seria possível por meio de uma mudança na ordem internacional como um todo?
    No mais, parabéns novamente pelo texto.

    Robson Lins Souza Damasio de Oliveira

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    1. Robson,

      Agradeço profundamente as críticas apontadas e as levarei em consideração em produções futuras. Procurei, o que não ficou realmente muito claro, exprimir que minha crítica à Israel se dá no campo político-governamental. Certamente existem e merecem ser lembrados aqueles que rechaçam dentro do país a atuação sionista, assim como, e foram os quais busquei focar, atuam em favor de um genocídio que deve ser denunciado tanto quanto possível. De igual forma, também merece crítica a Autoridade Palestina, que em seu imobilismo age, como bem ressalta Marcelo Buzetto em “A questão Palestina” (que abaixo referencio), como mantenedores da política de opressão sionista. Fato é que existem críticas a serem tecidas a ambos os lados da contenda. Quanto à ONU, entendo seu ponto e concordo com ele em parte, pois, se a ONU, com o passar do tempo passou a ter quadros que defendem uma visão mais humanista, sua fundação e forma organizativa não se deu e não se dá ainda hoje por tal perspectiva. A existência prevista em estatuto de um grupo como o Conselho de Segurança, com capacidade de veto, mina toda e qualquer proposição de resolução para conflitos, surgindo fora e dentro da própria Organização. Nesse sentido, a estrutura da ONU mantém-se, ao meu ver, como balcão de negócios incapaz desde seu cerne constitutivo de dirimir questões mais sérias como a que apresentei.

      Finalmente sobre sua questão, entendo que apesar de ser possível angariar algumas poucas melhorias na qualidade de vida palestina a partir da drástica redução da belicosidade israelense, ao fim e ao cabo só é possível constituir uma Palestina soberana e autodeterminada a partir de uma mudança geopolítica de conjunto. Os financiadores da manutenção do genocídio são conhecidos, bem como seus interesses em tal estado de coisas, imaginar a Palestina sem um novo paradigma que coloque o ser humano antes do dinheiro não me parece possível. O capitalismo diuturnamente encampa novos golpes e faz dos países, por meio de seu arsenal ideológico-bélico, cativos de sua irrefreável acumulação. Lutar por um mundo mais humano é lutar pelo fim de uma lógica tal como esta.

      Atenciosamente,
      Christian Souza Pioner

      BUZETTO, Marcelo. A questão Palestina: guerra, política e relações internacionais. São Paulo: Expressão Popular, 2015. 223 p.

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  2. Christian, boa tarde!

    Gostei muito da relação traçada entre o avanço do acúmulo capitalista e da instauração formal do Estado de Israel pela ONU com base no Sionismo. Interessante também o histórico trazido, pois é comum nos depararmos com informações sobre o início da contenda sendo o pós-Segunda Guerra, sendo que desde o século XIX já há indícios que esse conflito poderia acirrar-se. Queria sua visão sobre possíveis paralelos entre as práticas imperialistas israelenses na Palestina e o holocausto sofrido pelos judeus na Alemanha durante o século XX. Vejo muitos tabloides explorarem essa questão como um possível revanchismo dos judeus direcionado aos árabes palestinos pelo viés do racismo, uma vez que Israel não poderia se voltar contra a Alemanha por também ser indiretamente financiada pela UE e compartilhar a xenofobia contra os árabes.

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  3. Christian, boa tarde!

    Gostei muito da relação traçada entre o avanço do acúmulo capitalista e da instauração formal do Estado de Israel pela ONU com base no Sionismo. Interessante também o histórico trazido, pois é comum nos depararmos com informações sobre o início da contenda sendo o pós-Segunda Guerra, sendo que desde o século XIX já há indícios que esse conflito poderia acirrar-se. Queria sua visão sobre possíveis paralelos entre as práticas imperialistas israelenses na Palestina e o holocausto sofrido pelos judeus na Alemanha durante o século XX. Vejo muitos tabloides explorarem essa questão como um possível revanchismo dos judeus direcionado aos árabes palestinos pelo viés do racismo, uma vez que Israel não poderia se voltar contra a Alemanha por também ser indiretamente financiada pela UE e compartilhar a xenofobia contra os árabes.

    Breno P. Andrade

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    1. Breno,

      Agradeço seus comentários e questionamento! Penso que o racismo compõe certamente o imaginário israelense e é componente ideológico necessário para a continuidade das agressões cometidas contra os palestinos. É necessário o apoio popular para que tal estado de coisas permaneçam, ainda mais considerando que há baixas em ambos os lados da contenda.

      Não vejo, contudo, que tal paralelo revanchista faça sentido. Se de fato Israel está de mãos atadas quanto a possibilidade de retaliar a Alemanha, atacar os palestinos não fariam tais sentimentos postos pelo holocausto desaparecerem. Há um componente geopolítico que não pode ser desconsiderado e que envolvem os interesses externos ligados ao controle da região para a exploração de petróleo. Tanto assim o é que não apenas Israel possui laços fortes com os países centrais do ocidente, com os Emirados Árabes Unidos, e vê-se que a política externa de ambos, ao cabo, é bastante parecida em relação a seus vizinhos.

      Atenciosamente,
      Christian Souza Pioner

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  4. Christian, boa noite e parabéns pelo texto! Lendo-o, pensei em duas questões que talvez ajudem na reflexão geral:
    1) qual foi o papel dos sionistas de esquerda (marxistas ou de inspiração marxista) no estabelecimento e primeiros anos do Estado de Israel, e como eles conciliavam suas posições de esquerda com o fato de que promoviam um Estado que se objetivava às custas dos direitos dos palestinos?
    2) a defesa americana de Israel desde o começo estava relacionada ao controle do Oriente Médio e a ameaçar a URSS, ou essas questões se colocaram posteriormente (por exemplo, depois da Guerra dos Seis Dias de 1967, quando os israelenses de fato se provam como um estado de força viável)?
    Obrigado!
    Felipe Alexandre Silva de Souza

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    1. Desculpem pelo comentário duplicado, comentei novamente abaixo com a mesma pergunta porque vi que a postagem original saiu como "Anônimo".

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  5. Oi Christian, boa noite! Parabéns pelo texto e obrigada pela oportunidade de dialogar sobre este tema num ambiente acadêmico. Minha pergunta é: baseado no que você tem pesquisado, principalmente nas leituras críticas marxistas, o que os autores têm apontado como possível horizonte ao conflito - a "solução" de um ou de dois Estados estaria entre esses encaminhamentos? Muito obrigada!
    Camila Cunha de Lacerda

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    1. Camila,

      Obrigado pelas considerações e a questão levantada! Os autores e autoras que estudei acerca deste assunto realizam seus apontamentos e balanços histórico-dialéticos que certamente demonstram que a atuação de Israel não apenas é contrapõe-se à construção de uma sociedade sem classes como aprofunda em muito das já enormes contradições existentes no capitalismo. Contudo, apesar de entenderem ser necessário a constituição efetiva de um novo paradigma através da tomada de consciência de classe e da luta revolucionária, não realizam exercícios para imaginar a longo prazo como se daria uma solução para o conflito. Mesmo Marx escreveu muito pouco sobre as sociedades socialista e comunista, pois entendia que os seres humanos são a um só tempo atores e autores da vida que vivem. Isso porque nascem imersos em condicionantes que extrapolam suas decisões pessoais, como de quem são filhos, onde nasceram, quanto dinheiro sua família tem, etc., mas tornam-se autores ao decidir, dentro das limitações impostas, determinadas escolhas que se lhes apresentam. Nesse sentido também coloca-se a luta revolucionária, que nasce e amolda-se aos condicionantes preexistentes e faz deles a leitura para determinar um curso de ação rumo ao objetivo vitorioso. Em meus estudos sempre vejo a luta surgir como forma possível e necessária para acabar com o genocídio em curso, mas como ela se dará e como terminará não podemos ainda conceber.

      Atenciosamente,
      Christian Souza Pioner

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  6. Felipe,

    Agradeço as questões apontadas e suas considerações! Sobre a primeira, confesso que tive que ler alguns textos acerca do assunto a partir de seu apontamento, pois não havia tido contato com tal terminologia. Não tenho maiores informações, portanto, para lhe fornecer acerca disso, mas vejo que a tal “sionismo de esquerda” não é bem quisto pelos estudiosos brasileiros, que entendem-no como uma armadilha ao movimento de resistência palestina, dada a capitulação que realizam constantemente, ora apoiando um lado, ora outro.

    No que toca a segunda questão, de fato o apoio estadunidense dá-se desde as tratativas na ONU concernentes à Resolução 181. O lobby sionista já era crescente no congresso dos EUA desde o final da Segunda Guerra Mundial, o que levou a uma alteração na política externa do país — que até então buscava se aproximar dos árabes no jogo de influências que nascia com a Guerra Fria.

    Atenciosamente,
    Christian Souza Pioner

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