O POSICIONAMENTO ANTIGUERRA EM NAUSICAÄ DO VALE DO VENTO [1984] DE HAYAO MIYAZAKI, por Gabriel Lacerda de Souza


Introdução

Inicialmente é de suma importância se ter noção de qual é o contexto no qual Hayao Miyazaki, o diretor da animação analisada, se insere. Ele nasceu em Tóquio no dia 5 de janeiro de 1941, em meio à Segunda Guerra Mundial e seu pai era diretor na empresa familiar Miyazaki Airplane, que construía peças de aviões usados na guerra [CHAVES; TORRES, 2017], o que justifica a paixão por aeromodelismo de Miyazaki e seu deleite com abordagens sobre voar em toda sua filmografia.

 

“Hayao Miyazaki cresceu durante o pós-guerra, as imagens de sua infância eram de um país dominado pelos Estados-Unidos, cuja ocupação teve influência no modelo econômico adotado, portanto o Japão, agora inserido em uma nova economia, utilizou de grande esforço da população para seu crescimento, a chamada ‘Época do Milagre’.” [NOVAES; VADICO, 2020, p. 149]

 

Miyazaki é um dos diretores mais proeminentes e fundador do Studio Ghibli juntamente com Isao Takahata, Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma. Tanto Miyazaki quanto Takahata cresceram com o cenário presente da Segunda Guerra Mundial e com o Japão ocupado por tropas estadunidenses até 1952, eles viveram isso no início de suas formações como indivíduos. Ocupação essa que tinha por intuito realizar reformas políticas e econômicas no país, assim como remover as influências militaristas presentes, inclusive no cinema da época, com muitas animações sendo usadas com a intenção de espalhar discursos militaristas e políticos [NOVAES; VADICO, 2020].

 

Nausicaä do Vale do Vento [1984] é o primeiro filme dirigido por Hayao Miyazaki a ser considerado como parte das produções do Studio Ghibli. Mesmo que na data em questão o estúdio ainda não tivesse sido devidamente fundado, as pessoas envolvidas no projeto já eram aquelas que conjuntamente fundariam o estúdio no ano seguinte. Na narrativa da obra acompanhamos uma sociedade sobrevivente em um mundo pós-apocalíptico quase totalmente destruído após uma guerra de escalas colossais. Os pequenos grupos sociais sobreviventes mantêm uma relação complicada com a natureza, pois devido à guerra surgiram florestas tóxicas e animais gigantescos protetores desses habitats que são um risco para a vida humana sobrevivente. E ao longo dessa história Miyazaki aborda temas como o pacifismo, o ambientalismo e o protagonismo feminino, que se tornariam fortes características de toda sua filmografia.

  

Animações japonesas como ferramenta de propaganda

Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, o Japão já fazia o uso do cinema como uma ferramenta de propaganda militar, conforme nos afirma Mônica Lima de Faria em seu texto História e Narrativa das animações nipônicas: Algumas características dos animês. No contexto da guerra contra a China, a produção cinematográfica voltada às animações, em especial, tinha um viés propagandista. Algo que condicionalmente se desenvolveu ainda mais à medida que o Japão passou a fazer parte do eixo na Segunda Guerra Mundial. Segundo Faria esse foi o período no qual a animação japonesa mais evoluiu, devido ao incentivo por parte do governo para a produção do material de propaganda contra as nações consideradas inimigas japonesas no momento.

 

“Na década de 30 o Japão entra em guerra contra a China, e nessa época toda a produção cinematográfica é voltada à exibição de filmes e animações de propaganda militar. A influência militarista estendeu-se até a Segunda Guerra, fincando os meios de comunicação, inclusive estúdios de cinema e animação, sob controle dos militares. Porém, apesar da censura e falta de liberdade de expressão, foi no período militar que a animação japonesa mais evoluiu tecnicamente, graças ao incentivo financeiro do governo para a produção de seu material.” [SATO, 2005 apud FARIA, 2008, p. 151]

 

Isso exemplifica de uma forma bem direta como a guerra e seu discurso já estava presente nas animações japonesas e cinema desde antes da Segunda Guerra Mundial. O que podemos ver que se estendeu mesmo para depois disso, nas produções do Studio Ghibli, porém com a intenção contrária. Neste caso, ao invés de incentivar a guerra, agora o intuito com Hayao Miyazaki é o de criticá-la e mostrar suas consequências e horrores.

 

Ainda sobre esse aspecto propagandista do cinema nipônico, no minicurso: Os cartoons no front: A Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva estadunidense e japonesa [1936-1955], ministrado por Viktor Danko Perkusich Novaes em 2021 na Universidade Federal do Paraná, em II Diálogos sobre a História, foi possível constatar que o Japão usou a mesma estratégia nesses dois momentos do cinema de animação como uma ferramenta popular de cunho militarista e propagandista. Em primeiro momento, esses filmes faziam uso de personagens folclóricos e de conhecimento popular japoneses em narrativas que tinham por intenção mostrar como a nação japonesa era melhor do que outras nações asiáticas. Mais tarde isso passou a ser utilizado com relação a nações ocidentais, nesse caso para se representar como superior aos referenciais culturais norte-americanos.

 

Porém, tal uso de animações para propagar ideais militares foi censurado após a ocupação estadunidense em solo japonês, após a rendição do país ao final da Segunda Guerra Mundial. Visto que a ocupação era proibida de ser criticada publicamente durante sua vigência.

 

“Com o fim da Segunda Guerra, o Japão sofreu imediatamente um processo de desmilitarização, entre suas com seqüências está a censura em relação ao material nacionalista ou de propaganda bélica, exatamente o contrário da realidade anterior.” [LUYTEN, 2005 apud FARIA, 2008, p. 151]

 

Novaes [2021] também aborda como esses usos cinematográficos japoneses, somados com a censura estadunidense, acabaram por influenciar o modo de se fazer animação no Japão, o que acarreta diretamente na carreira de Hayao Miyazaki quando este começou a atuar na área e por sua vez, influenciando também suas produções futuras no Studio Ghibli. Pois com a censura estadunidense, restava aos japoneses fazerem adaptações de livros e histórias de origem estrangeiras em suas animações, não mais usando seus personagens folclóricos como antes, que eram usados para expor ideias de superioridade cultural. O novo cenário das animações japonesas acaba por refletir em toda a atuação de Miyazaki produzindo e dirigindo filmes muitas vezes adaptados de obras literárias ou de sua própria autoria.

 

Vale se salientar para o fato de que a Segunda Guerra Mundial marca a memória do povo japonês de uma forma que mesmo hoje no século XXI, mais de sete décadas depois. ainda é muito perceptível. E isso é algo que se torna fixo no imaginário de sua população, visível através das mais diferentes formas de representação cultural, como nos ressaltam Viktor Danko Perkusich Novaes e Luis Antonio Vadico em seu texto A metáfora do comportamento japonês após a Segunda Guerra Mundial presente no filme “O Serviço de Entregas da Kiki” [1989] de Hayao Miyazaki.

 

Alguns exemplos populares desse marco na memória do povo japonês são as representações famosas do Godzilla em seus produtos culturais, como uma clara alusão aos efeitos das bombas atômicas na natureza. Então podemos afirmar que a abordagem antiguerra no cinema e produções culturais japonesas é um elemento presente mesmo bem antes do Studio Ghibli começar a sua produção de animações na década de 1980.

 

Em um último momento, antes de partir para a análise proposta, vale ressaltar uma característica do cinema de animação realizado por Hayao Miyazaki, acerca de sua forma de tratar o onírico e o real de forma que essa separação não é direta, esses dois elementos são presentes nos trabalhos do diretor de forma muito sutil e sempre se mesclando. Ainda mais pelo fato de serem animações, como pontua Alcebíades Diniz Miguel em O fluxo imaginário da memória: A animação como arte de conjurar/construir o passado israelense, algo que se relaciona diretamente com a forma do diretor abordar as temáticas da guerra em suas histórias, de uma forma estilizada criticando a violência. E mesmo que o autor do texto trabalhe outro contexto de produção cinematográfica, com relação ao passado israelense, o ponto crucial do que fala pode ser aplicado sobre a mesma lente no contexto japonês, dado o impacto de seu passado na memória dos dois diretores em seus filmes. Já que Miguel fala sobre a utilização da animação como um modo de estilização acerca do real e portadora de ideais em seu discurso, isso é algo que também se pode correlacionar com o produzido nas narrativas de Hayao Miyazaki.

 

“A arte da animação apresenta, como base de constituição, a estilização radical do universo que lhe serve de referência. Essa estilização, contudo, não ocorre a partir de materiais desconectados da realidade referencial, a realidade referencial, como nas caricaturas, ainda está presente e sua deformação denuncia um processo ideologicamente formativo.” [MIGUEL, 2010, p. 4]

 

Análise de Nausicaä do Vale do Vento [1984]

Roteirizado e dirigido por Hayao Miyazaki, Nausicaä do Vale do Vento [1984], é o primeiro filme do diretor a ser considerado parte do Studio Ghibli que viria a ser fundado, de fato, no ano seguinte, porém já apresenta todas as características de destaque do estúdio de animação japonês e de seu renomado diretor. Tais como, o discurso antiguerra aliado do ambientalismo, o protagonismo feminino, elementos de paixão pessoal do diretor como diferentes veículos aéreos: “[...] outra característica autoral de Miyazaki. As metáforas como forma de transmitir uma mensagem do diretor para o público que assiste suas obras.” [NOVAES; VADICO, 2020, p. 143], entre outros aspectos.

 

“Seu pai era diretor da empresa familiar Miyazaki Airplane, que construía aviões usados na guerra. Essa ligação com o universo aéreo o levou a desenhar aviões desde cedo, mesmo antes de aprender a desenhar pessoas ou outros seres. Sua paixão pelos objetos que voam tornou-se marca registrada do autor, bem apreciada em Porco Rosso (1992) e em seu último filme, Vidas ao Vento (2013).” [CHAVES; TORRES, 2017, p. 172]

 

Ainda sobre esse aspecto ideológico de Miyazaki, na sua forma de transmitir uma mensagem ao longo de metáforas em suas narrativas, há um trecho do trabalho de Novaes e Vadico, A influência da Segunda Guerra Mundial nas animações japonesas: Um Histórico de características e influências que são observadas até os dias de hoje, que creio ser muito relevante para se ter em vista quando observamos esse aspecto da direção e argumento de Hayao Miyazaki:

 

“[...] Miyazaki evita elogiar qualquer agenda ideológica, liderada por sua própria desilusão pessoal com a política revolucionária, toma cuidado com qualquer sistema codificado de pensamento. Profundamente influenciado por teorias marxistas em sua juventude, como atestado por suas atividades como presidente da União Animadores na Toei Animation Studios, Miyazaki desenvolveu gradualmente uma aguda aversão à noção de aderir servilmente a qualquer doutrina e procurou, ao contrário, princípios pacifistas e igualitários. Para este efeito, ele afirmou que nos anos 90, ele ‘abandonou totalmente o marxismo’ como resultado de ter ‘parado de ver as coisas por classe. É uma mentira que alguém está certo só porque ele é um trabalhador. O público em geral faz muitas coisas estranhas. Eu não posso confiar em política’. [Miyazaki, 1994].” [CAVALLARO, 2015, p. 33 apud NOVAES; VADICO, 2019, p. 96]

 

Dando seguimento à animação em questão, o mundo que Hayao Miyazaki nos apresenta em Nausicaä do Vale do Vento [1984] transcorre 1000 anos após a devastação gerada destrutiva e quimicamente pela guerra, na história intitulada de Os Sete Dias de Fogo. Conflito este no qual seres humanos criaram criaturas de aspecto humanoide gigantescas com capacidade de destruição em massa, chamadas de Deus Guerreiro, um elemento que se pode facilmente ser comparado com a magnitude e poder de destruição das bombas atômicas. Visto que tais criaturas causam a destruição no planeta todo, alterando inclusive as propriedades da própria natureza, resultando em um mundo pós-apocalíptico. Tal representação dessa figura no filme pode ser vista na imagem abaixo:

 


Fonte: NAUSICAÄ do Vale do Vento. Direção: Hayao Miyazaki. Japão: Studio Ghibli, 1984. [117 min]

 

“Toda a flora e fauna foram destruídas como resultado dessa guerra, ou seja, o ecossistema terrestre entrou em degradação. Como consequência, surgiram, as terríveis e temidas, florestas de gás tóxico chamada de Mar da Podridão ou Fukai.” [CHAVES; TORRES, 2017, p. 172]

 

Florestas essas onde apenas habitam seres de aparência insectoide de proporções gigantescas, que são capazes de viverem dentro do Mar da Podridão, compartilhando dessa natureza tóxica para com os humanos sobreviventes. Algo que, com facilidade, remete a imagem perpetuada pela figura do Godzilla no cinema japonês, uma criatura gigantesca resultado da radiação, um reflexo direto da utilização das bombas atômicas. No caso de Nausicaä do Vale do Vento [1984] os insetos enormes são uma resposta da natureza frente aos danos químicos causados pela de guerra. A seguir uma cena que demonstra esse local com a protagonista o explorando atrás de recursos:

Fonte: NAUSICAÄ do Vale do Vento. Direção: Hayao Miyazaki. Japão: Studio Ghibli, 1984. [117 min]

 

“‘Mar podre’ refere-se ao ecossistema das terras devastadas pela poluição da antiga cidade industrial. O mundo estava prestes a ser engolido de forma silenciosa pela floresta gigante, que produz fungos venenosos a que apenas insetos conseguem sobreviver.” [MIYAZAKI, 2006, p. 20, vol.1 apud CHAVES; TORRES, 2017, p.172]

 

Os poucos agrupamentos populacionais de sobreviventes vivem em locais onde a toxicidade presente no chamado Mar da Podridão tem maior dificuldade de chegar, como no Vale do Vento que dá título à obra, que se trata de um povoado localizado na costa marítima e por conta dos ventos vindos do mar consegue se manter livre das partículas tóxicas. Como podemos ver na imagem a seguir que explicita de forma visual essa forma de vida com a proteção dos ventos marítimos que mantém o vale puro:

 

Fonte: NAUSICAÄ do Vale do Vento. Direção: Hayao Miyazaki. Japão: Studio Ghibli, 1984. [117 min]

 

Já se faz muito visível o discurso antiguerra de Miyazaki nesta breve apresentação do cenário no qual se passa a história. Além desse elemento, há a temática do ambientalismo, que anda lado a lado com o pacifismo nas obras do diretor. Como também identificam Ravena Amorim Chaves e José Wanderson Lima Torres em seu artigo Distopia e Animação: O universo fantástico em Nausicaä do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki, a história trata de uma distopia ambiental e ressaltam como o diretor apresenta em seu argumento cinematográfico a preocupação ecológica acompanhada do humanismo [2017, p. 169]. Ou seja, os discursos tanto antiguerra quanto ambientalista característicos.

 

Chaves e Torres ainda pontuam conforme sua análise da obra de Miyazaki que: “desta catástrofe o homem só poderá escapar, segundo entrevemos nas entrelinhas da obra, se a sua razão não reduzir a Natureza à simples fonte de matéria-prima. A Natureza não é o Outro do ser humano; é parte dele.” [2017, p. 175]. O que novamente nos possibilita relacionar com a intencionalidade do discurso antiguerra presente na história de Hayao Miyazaki, pois os seres humanos na história só conseguirão viver de forma plena novamente quando fizerem as pazes com a natureza e não seguirem mais perpetuando a cultura violenta da guerra.

 

Um momento, logo no início da história, que nos exemplifica muito bem esse ideal pacifista e antiguerra presente no roteiro é a forma que Nausicaä lida com os conflitos que cruzam o caminho de si própria e seu povo. Uma nave de um reino vizinho tenta pousar emergencialmente no Vale do Vento, enquanto está sendo atacada por insetos da floresta, o que por si só já é um risco para todo o vale, visto que poderiam contaminar o local e sua forma de subsistência. Mas ao invés de deixar que matem um grande inseto e acabem por atrair ainda outros mais, Nausicaä se prontifica a para o ato de violência antes que esse seja realizado e guia novamente o bicho para dentro de seu habitat natural. Aliviando companheiros que admitem que não fariam nem ideia do que fazer depois de matarem aquele indivíduo e atraírem mais ainda para o vale. Com esse breve momento da narrativa, Miyazaki já nos mostra claramente o posicionamento de Nausicaä frente conflitos, tomando ação contra o que seria a lógica de agir com violência e dar continuidade a um comum cenário de guerra e violência, agindo então num ato de pacifismo e direta relação de respeito com a natureza.

           

O que podemos ver ao longo do filme, enquanto a protagonista da história que dá título à obra, Nausicaä traça um caminho pacifista para enfrentar aqueles que querem perpetuar a guerra mesmo nesse mundo já devastado em consequência desta. E ao combater a violência de forma até mesmo semelhante a um caráter messiânico, Nausicaä consegue ao fim da história chegar nesse ponto de harmonia entre as partes, da humanidade em relação ao restante da natureza. Deixando uma mensagem final de Miyazaki muito clara com relação a suas intenções contra a guerra, vide as consequências que essa causa, e juntamente com o ambientalismo estruturando tal argumento.

 

“A animação, ao criar um universo diverso, mas ainda reconhecível, situa-se como poderosa ferramenta de ressonância, ultrapassando a prosaica associação com a realidade usual.” [MIGUEL, 2010, p. 5]

 

Conclusão

Mesmo que de forma breve, acredito que o que foi apresentado até aqui esclareça a forma na qual se dá o discurso antiguerra em uma obra em específico de Hayao Miyazaki. Ainda que sendo apenas um filme do início do Studio Ghibli, tal modo de trabalhar os temas e o discurso está presente em vários outros trabalhos tanto de Miyazaki quanto de outros diretores do Studio Ghibli.

 

Além do que podemos ver como a memória japonesa foi extremamente marcada pelas consequências civis sofridas durante o processo da Segunda Guerra Mundial, seja em seu período de ação direta ou em suas inúmeras consequências à longo prazo. Aquilo que foi causado pela guerra na população nipônica se mantém constante em suas representações culturais mesmo nos dias de hoje.

 

“A Segunda Guerra Mundial teve grande impacto no imaginário japonês e por consequência em suas representações culturais. Devido a isso podemos perceber diversas referências aos acontecimentos da Segunda Guerra em filmes, no entanto o diretor Hayao Miyazaki em ‘Serviço de Entregas da Kiki’ [1989] se foca não nos acontecimentos em si, mas em uma consequência destes.” [NOVAES; VADICO, 2020, p. 149]

 

Por fim, esta análise é parte de um trabalho de maior escopo em andamento, com análises de outras obras do Studio Ghibli. Uma proposta de produção neste campo historiográfico ainda tão abrangente para nós historiadores. Aberto a críticas construtivas e sugestões após sua leitura.

 

Referências

Gabriel Lacerda de Souza é graduando do 4º ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa [UEPG]. Este texto é resultante de pesquisa desenvolvida no Programa de Iniciação Científica da UEPG, ao longo de 2021-2022, bem como de TCC em andamento.

 

CHAVES, Ravena Amorim; TORRES, José Wanderson Lima. Distopia e animação: O universo fantástico em Nausicaä do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki. In: Revista Desenredos. n. 27. Teresina: Publicação independente, 2017. p. 169-175.

 

FARIA, Mônica Lima. História e narrativa das animações japonesas: Algumas características dos animês. In: Actas de Diseño. n. 5. Buenos Aires: Universidade de Palermo, 2008. p. 150-157.

 

MIGUEL, Alcebíades Diniz. O fluxo imaginário da memória: A animação como arte de conjurar/construir o passado israelense. In: Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos. v. 4. n. 6. Belo Horizonte: UFMG, 2010. p. 4-12.

 

NOVAES, Viktor Danko Perkusich; PAULO, Inajara Barbosa. Os cartoons no front: A Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva estadunidense e japonesa (1936-1955). In: II Diálogos sobre História: Ciclo de Minicursos Online da UFPR. Curitiba: UFPR, 2021.

 

NOVAES, Viktor Danko Perkusich; VADICO, Luis Antonio. A influência da Segunda Guerra Mundial nas animações japonesas: Um histórico de características e influências que são observadas até os dias de hoje. In: Revista de Debates Insubmissos. v. 2. n. 5. Caruaru: UFPE, 2019. p. 79-106.

 

NOVAES, Viktor Danko Perkusich; VADICO, Luis Antonio. A metáfora do comportamento japonês após a Segunda Guerra Mundial presente no filme “O Serviço de Entregas da Kiki” (1989) de Hayao Miyazaki. In: Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación. v. 19. n. 34. São Paulo: ALAIC, 2020. P. 140-150. 

9 comentários:

  1. Maria Silvia Duarte Guimarães7 de agosto de 2023 às 14:37

    Boa tarde! Tudo bom?

    Parabéns pela comunicação, Gabriel! Foi uma leitura interessante. Já há algum tempo venho pensando sobre esse aspecto antiguerra dos filmes do Miyazaki e, naturalmente, Nausicaa se destaca nesse ponto.

    Mais pro final do seu texto, você fala que em "O serviço de entregas da Kiki", o diretor foca mais nas consequências da guerra do que no acontecimento em si. Você poderia elaborar um pouco mais sobre isso?

    Atenciosamente,

    Maria Silvia Duarte Guimarães

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde, Maria! Tudo bem?
      Muito obrigado, fico contente. Legal que tenha essa percepção também.
      Então, em "O serviço de entregas da Kiki" (1989) o Hayao Miyazaki faz uso de metáforas e alegorias para demonstrar esse Japão pós-guerra. É algo muito mais sutil do que aquilo visto em "Nausicaä do Vale do Vento" por exemplo.
      Como não analisei esta obra em específico ou diretamente na pesquisa, faço uso de Viktor Novaes e Luis Vadico, como referenciados, para afirmar isso.
      Partindo daí o que vemos no filme é a jornada de Kiki, uma jovem bruxa de 13 anos que sai de casa para começar a trilhar sua vida como uma jovem independente, seguindo a tradição familiar de sua cultura de bruxa. Ela encontra diversos obstáculos para enfrentar, em grande maioria ligados ao fator econômico de como se manter sozinha e também relacionados ao mundo do trabalho.
      Através desse breve resumo acredito que já fique visível o que Miyazaki usa de analogia, o momento do Japão pós-guerra, mais especificamente falando, o período do "milagre econômico japonês". Representando a Kiki como uma alegoria de jovem japonesa inserida nesse contexto, entre tradição e modernidade trilhando o avanço. Demonstrando o pensamento japonês nesse período de recuperação econômica após o conflito, com forte influência capital e política estadunidense, imediatamente após a ocupação norte-americana. Onde a população assim como as grandes empresas agiram em esforço coletivo, capaz de tornar o Japão a terceira maior economia mundial em 1968.
      Mas como pontuado de início, isso tudo é posto na obra de forma sutil e até mesmo subliminar. Nos possibilitando fazer essa leitura do filme sobre essa característica do Japão pós-guerra, do período do "milagre econômico japonês".
      Muito obrigado pela sua questão, espero ter respondido de forma clara.
      Gabriel Lacerda de Souza

      Excluir
  2. Jõao Guilherme Sousa da Silva10 de agosto de 2023 às 00:21

    Olá!

    Parabéns pelo ótimo texto, sou um grande fã dos filmes do Miyazaki e Nausicaa é com certeza um filme de bastante peso em sua cinematografia.

    Fora o pacifismo, ambientalismo e representações a Segunda Guerra Mundial, poderia me dizer que outros aspectos ficam marcantes a Miyazaki na produção de seus filmes, na forma de conscientização sobre problemáticas na sociedade?

    Grato!

    João Guilherme Sousa da Silva

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, João! Muito obrigado e que massa que também curta a obra de Miyazaki.
      Olha, acredito que existam três aspectos muito fortes nas obras de Hayao Miyazaki que remetem diretamente a sua forma de contar histórias quando vemos uma obra de sua autoria.
      Primeiro de tudo, o ar bucólico e os momentos de "respiro" em certos momentos dos filmes, o conhecido conceito japonês de "ma" (vazio). Que é escrito se utilizando o kanji de portal preenchido com o kanji de sol dentro de si. Em sua própria escrita já nos passa essa ideia de uma luz de adentra por uma porta, passando por essa porta para um novo espaço num breve momento transitório de calmaria. Vemos isso em diversos momentos de toda a cinematografia de Miyazaki. Algo que se destaca ainda mais por serem animações produzidas de forma manual, em celulose frame a frame. Então nenhum segundo de animação está lá de forma automática criada com tecnologia CGI, tudo é minuciosamente pensado e feito à mão demandando horas de produção.
      Segundamente, outro aspecto intrínseco aos filmes de Miyazaki é a sua forte paixão por veículos voadores, sejam eles aviões, planadores, naves, qualquer espécie de veículo que voe. Isso é algo que tem relação direta com sua infância, visto à sua ligação familiar com uma fábrica que produzia peças utilizadas nos aviões modelo Zero japoneses. Esse encanto pelo aspecto poético dos aviões e veículos voadores se mostra presente em diversos momentos de sua obra, com os mais lindos e diferenciados designs que a criatividade de Miyazaki foi capaz de produzir.
      E terceiramente, mas nem por isso menos importante, crio inclusive que a sua outra característica de destaque mais relevante e de peso, o protagonismo feminino. Isso é uma constante nos filmes de Miyazaki, não em absolutamente todos, mas em sua grande maioria. Mesmo quando a mulher não é a protagonista, ela anda lado a lado com o protagonista homem, nunca tenho menor importância ou sendo apagada e diminuída. Isso é de uma força de representatividade tremenda, ainda mais quando pensamos que se dá como presente desde "Nausicaä do Vale do Vento", seu primeiro filme já considerado pertencente ao Studio Ghibli, ainda na década de 1980. Creio que esse seja o que mais se relaciona com sua questão sobre a conscientização sobre problemáticas na sociedade, essa representatividade feminina de maneira forte, independente e com destaque nas obras. Algo que tem ganhado muita força no Ocidente no século XXI, mas que como podemos ver já existia nas obras de Miyazaki na segunda metade do século XX no Oriente.
      Creio que tenha conseguido levantar os aspectos e características mais marcantes das obras de Hayao Miyazaki nessa breve explanação.
      Agradeço sua questão e espero tê-la sanado.
      Gabriel Lacerda de Souza

      Excluir
  3. Boa noite, Gabriel! Gostei muito da sua pesquisa e também dos pontos apresentados. Não sabia que Hayao Miyazaki vinha de uma família que construía peças de avião e as fornecia. Como um grande fã e também apreciador da coletânea de Miyazaki, me surgiram duas perguntas.

    1)Devido a essa paixão por aeronaves e veículos aéreos de Miyazaki, como você classificaria a temática do voo presente em Nausicaa e até em algumas outras obras? Seriam uma forma de representar a liberdade, de conexão com a natureza, ou talvez algum outro aspecto?

    2)Você diz no final do texto que é um escopo de um trabalho em andamento, e que também estariam analisando outras obras. Você poderia falar qual(is) obras estariam em processo de análise e, se a temática principal focaria ainda na temática antiguerra?

    Agradeço pela atenção e pelo trabalho que escreveu!

    Atenciosamente,

    Bernardo Barcala Alves Zacharias

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde, Bernardo! Muito obrigado, fico contente. E pois é, quando eu soube desse fato pessoal de Miyazaki fez muito sentido o apreço por aeronaves em suas obras.
      Respondendo sua primeira pergunta, eu acredito que é algo por esta linha que você sugeriu mesmo, mas também sobre outro aspecto, o da violência, dependendo de qual personagem está ligado à aeronave em questão. Por exemplo em "Nausicaä do Vale do Vento", temos o planador de Nausicaä que voa apenas com a força da natureza, com os ventos, algo que coloca esse elemento em harmonia com o meio ambiente. Porém as aeronaves utilizadas pelas outras nações apresentadas no filme, estão ligadas à violência e a guerra. Enquanto o planador é representado de forma simples, estes outros exemplos são rebuscados em detalhes passando um ar "poluído" inclusive por conta de seu tamanho em proporções muito maiores.
      E em outras obras sempre se mostra presente essa dicotomia entre a beleza do voar e do que essas máquinas são capazes de fazer dependendo daquele que as pilota, para o bem ou para o mal. Creio que o exemplo mais perfeito disso seja feito em "Vidas ao Vento" (2013) onde Miyazaki se baseia na biografia de Jiro Horikoshi, quem projetou o avião modelo Zero japonês, claro que no filme há liberdade poética e o lado ficcional. Mas o grande conflito gira em torno desse fator, o dilema do Jiro, criador de uma aeronave linda, que foi usada como um instrumento de violência e de mortes. Nesse ponto Miyazaki coloca muito de si em Jiro, acredito. Visto essa representação do lado poético e belo do voar, a capacidade humana de engenhar equipamentos capazes de fazer as pessoas voarem, transitarem pelos céus, algo que não poderia ser capaz com nossos corpos. Ao mesmo tempo que esse instrumento belo pode ser utilizado para a guerra, tal qual como o foi ao longo da história. Creio que essa dicotomia se mostra presente principalmente em "Vidas ao Vento", mas também em provavelmente todas as obras de Miyazaki em que ele faz o uso de aeronaves com maior destaque.
      Agora sobre sua segunda pergunta, minha pretensão é de analisar além de "Nausicaä do Vale do Vento" (1984), "Túmulo dos Vagalumes" (1988) de Isao Takahata, "Princesa Mononoke" (1997) e
      o já citado "Vidas ao Vento" (2013), estes dois últimos também de Hayao Miyazaki. E sim, a temática principal ainda é antiguerra. Mais em específico, analisar o discurso antiguerra presente nessas quatro obras, a partir de uma perspectiva da sensibilidade, visto que tal elemento é característico na obra de ambos os diretores por conta do fato dos dois terem sido crianças durante a Segunda Guerra Mundial e crescido em meio ao Japão pós-guerra, algo que sem sombra de dúvidas teve papel fundamental na formação de ambos como indivíduos. O que, consequentemente, se mostra presente em suas obras.
      Espero ter lhe respondido de forma adequada às perguntas e agradeço pelas duas.
      Gabriel Lacerda de Souza

      Excluir
  4. Oi Gabriel! Sua análise é interessantíssima. Parabéns. Fico pensando em até que ponto a questão do pacifismo e do discurso antiguerra não são complementares, já que passam por uma construção narrativa de respeito a ideia de vida e humanidade. Vc identifica essa ligação em NAUSICAÄ?
    Obrigada!
    Janaina de Paula do Espírito Santo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Janaina! Muito obrigado, fico feliz pela recepção da leitura.
      Olha, eu acredito que de fato os dois elementos são complementares mesmo. Não só em "Nausicaä do Vale do Vento", mas também em outras obras de Hayao Miyazaki e Isao Takahata no Studio Ghibli. Principalmente porque quando não é tanto um elemento ou outro que se mostra mais presente, os dois acabam aparecendo juntamente na narrativa.
      No exemplo aqui de "Nausicaä do Vale do Vento", acredito que é justamente quando a Nausicaä vê que a violência não iria resolver nenhum conflito, só geraria mais mortes em um ciclo sem fim, que ela encontra no pacifismo a única chance de salvar o seu povo, seu lar e até mesmo de salvar aqueles outros que buscavam a expansão militar violenta que se continuassem assim acabariam todos mortos em tempo. Nesse ponto quando confronta as nações que buscam a violência e o ataque umas às outras, vejo como o discurso antiguerra em si, visto que literalmente ela está discursando para eles como as consequências disso não darão em nada, a guerra não é o caminho. Assim como no início da obra, quando o Vale do Vento é invadido e Nausicaä se mostra violenta e capaz de matar para proteger o que lhe pertence, é preciso a intromissão de um personagem na figura de sábio que a avisa que aquele caminho de sangue que ela queria trilhar só geraria a destruição mútua. E então ela vê que precisava da comunhão com o ambiente, com a natureza e para alcançar a paz. Então nesse momento perto do fim ela se coloca frente à morte em sacrifício para salvar a todos, o ápice do pacifismo para ela naquele momento. Tanto que resolve o conflito todo agindo dessa forma.
      Então é muito possível de analisar e ver como o pacifismo e o discurso antiguerra andam de mãos dadas nesse caso, como complementares um ao outro, dois lados da mesma moeda diria. Também creio ser possível fazer essa análise em outras das obras de Miyazaki e Takahata de forma semelhante ao longo do argumento presente nas histórias.
      Agradeço muito pela questão, foi bem construtiva para a pesquisa como um todo. E espero que tenha respondido de forma clara e concisa.
      Gabriel Lacerda de Souza

      Excluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.