O NATURALISMO EPISTEMOLÓGICO DO FILÓSOFO XUN, por Matheus Oliva da Costa


Sobre o Xúnzǐ e o significado de “epistemologia naturalizada”

Defendemos nesse texto que a obra Xúnzǐ 荀子 (1999; 2006; 2014) pode ser entendida como uma epistemologia naturalista em sentido amplo. Nesse sentido, este texto tem como principal pergunta quais são as características que possibilitam categorizar o Xúnzǐ como tendo produzido uma epistemologia naturalista? O filósofo Xun (aproximadamente 310-211 AEC), autor da obra Xúnzǐ, foi um dos mais relevantes filósofos na China antiga, sendo um dos primeiros acadêmicos em um contexto de debate livre e aberto a múltiplas posições e tendo um estilo mais analítico e direto que seus antecessores (para maiores detalhes: Knoblock, 1988; Sato, 2003; Costa, 2022b).

 

Enquanto um tipo de abordagem filosófica, o naturalismo é a posição que foca suas investigações somente no que é natural ou físico, no que está neste mundo, limitando-se a não usar explicações que envolvam aspectos sobrenaturais. A própria filosofia em suas origens se confunde com o naturalismo na busca por explicações sobre princípios impessoais que configuram a realidade. Mas há pelo menos duas formas de naturalismo numa linguagem atual: (1) o metafísico ou ontológico, que defende que tudo que existe no espaço-tempo é natural, material ou físico – é a versão mais forte; já o (2) naturalismo metodológico ou moderado é sua versão mais “fraca” ou modesta, e apenas usa uma linguagem que limita-se a abordar as propriedades e os estados naturais tratados pelas ciências (Feldman, 2001; Papineau 2021; Rysiew, 2021).

 

Ambas as formas de naturalismo “são unânimes na compreensão de que é necessário o recurso a certas categorias naturais, como comportamento”, organismo, ambiente e o “esquema estímulo-resposta” para que possamos ter uma “compreensão adequada da estrutura da linguagem e do pensamento” (Imaguire, 2006, p. 73). Independentemente da adoção da posição forte ou modesta do naturalismo, ambas encaminham para uma estratégia epistemológica de limitar-se ou reduzir a explicação da realidade apenas ao que for próprio do mundo natural observável cientificamente. Aqui nos preocupamos apenas com a posição epistemológica, não o naturalismo ontológico.

 

O sentido estrito de naturalismo em epistemologia tem como principal referência o filósofo analítico Willard Quine (1969; 1975) em seu famoso artigo Epistemologia Naturalizada. Assim, o uso de um naturalismo epistemológico em sentido estrito cabe apenas para as filosofias analíticas que adotam tal posição a partir da segunda metade do século XX. No entanto, é possível falar em naturalismo epistemológico no sentido amplo, que abarca todas as formas de filosofar sobre o conhecimento que limitam-se a investigar este mundo, no sentido dado pelas ciências naturais (de sua época), que abrem mão de explicações sobrenaturais, e que entendem que não há teleologia ou valor moral intrínseco nesse mundo natural.

 

Sigo o entendimento de que mesmo autores anteriores a Quine, e que não fazem a defesa explícita do uso das ciências naturais para o filosofar, como Ludwig Wittgenstein (1889-1951), podem ser vistos como naturalistas em sentido amplo (Imaguire, 2006). Entendo que “ciência” pode ser tanto no sentido empírico e contemporâneo do termo, quanto no sentido da ciência que existia anteriormente, que seriam conhecimentos confiáveis e que se pretendiam verdadeiros ou válidos em cada época. Nesse sentido, eu incluo também entre os naturalistas em sentido amplo, p. ex., já os Epicuristas na Grécia antiga, os Carvakas da Índia antiga, e, claro, o filósofo Xun (Van Norden, 2018).

 

O naturalismo de Xun contra explicações que envolvem o sobrenatural

Um trecho dos Analectos de Confúcio pouco lembrado em discussões epistemológicas é o 6.22, em que Confúcio (2007, p. 89) é questionado sobre o que é conhecimento, e ele responde que “trabalhar pelas coisas às quais o povo tem direito e manter-se à distância dos deuses e dos espíritos enquanto lhes mostra reverência pode ser chamado de sabedoria”. Aqui fica claro o compromisso com este mundo, mais especificamente com a política social. Mas ficou ambígua a posição quanto ao que poderia ser chamado de sobrenatural (deuses e espíritos): ao mesmo tempo em que ele recomenda um distanciamento, ele também sugere a reverência, o que poderia indicar a aceitação da existência deles. Nos Analectos não há uma posição naturalista ontológica, apenas há uma inclinação para focar nos vivos, na política, nos ritos culturais, e não em aspectos da realidade que estão além da nossa possibilidade de conhecimento.

 

O capítulo 17 do Xunzi, Discurso sobre o Céu (Tiān Lún 天倫), é um escrito sistemático de um período em que o filósofo Xun já havia estudado, trabalhado como ministro, e, provavelmente, era professor-chefe da Academia Jixia (Knoblock, 1988, p. 11). Em síntese, nesse texto ele defende uma posição metafísica como um naturalista “fraco”: o mundo é entendido como processos naturais regulares e irregulares, mas não nega a existência de seres espirituais, apenas concentra-se e limita-se na cultura humana. Seguindo Confúcio, ele apenas se detém no que é possível conhecer (Costa, 2021b).

A própria distinção entre processos naturais independentes do querer humano, por um lado, e ações culturais humanas deliberadas, por outro lado, é um ponto central da sua filosofia. Seu naturalismo é usado como um meio para argumentar que os humanos precisam deliberar sabiamente para viver bem, pois o mundo natural funciona apesar de nós. A deliberação adequada em confluência com a naturalidade levaria a benefícios políticos e materiais, enquanto decisões equivocadas e comportamentos individualistas que ignoram os padrões naturais e culturais poderiam levar a pessoa e sua comunidade a ter prejuízos, ou até mesmo à morte (Costa, 2021b). Mas, de que forma alguém pode saber que sua distinção é correta e funcional? Vamos entender a descrição dele sobre como nosso organismo processa o conhecimento no trecho 17.4:

 

“[...] Amar ou odiar, alegrar ou enraivecer, entristecer ou regozijar estão contidos no que podemos chamar de emoções naturais. Os ouvidos, os olhos, o nariz, a boca e o corpo têm cada um deles uma habilidade de receber [informações sensoriais], mas suas habilidades não são intercambiáveis, isso é o que chamamos de ‘órgãos naturais’. O coração-mente localiza-se na cavidade central [do corpo] para ordenar os cinco órgãos [dos sentidos], isso é o que chamamos de ‘soberano natural’. [Usar] recursos diferentes da sua espécie para nutrir a sua própria espécie, isso é o que chamamos de ‘nutrir-se do natural’. [...] Obscurecer seu soberano natural, desordenar seus órgãos naturais, abandonar sua nutrição natural, opor-se ao seu governo natural, virar as costas às suas emoções naturais, de forma a perder as realizações naturais, isso é o que chamamos de ‘grande temor’. O sábio aclara seu soberano natural, regula seus órgãos naturais, prepara sua nutrição natural, segue o governo natural, nutre-se das suas emoções naturais, de forma que se integra com suas realizações naturais. Assim, segue-se que ele sabe o que fazer, ele sabe o que não fazer; o Céu e a Terra são como o seu palácio e as dez mil coisas são como os seus servos. Suas ações são minuciosamente ordenadas, sua nutrição é meticulosamente apropriada, sua vida não é danificada, isso é o que chamamos de ‘conhecer o Céu [a natureza]’” (Xunzi, 17.4 In: Costa, 2021b, p. 214-215).

 

Xun entende que os humanos são seres naturais como outros, e que o nosso organismo é fruto de processos naturais. Assim, o que nos é inato, como a condição de produzir emoções, são também processos naturais. Nossa percepção do ambiente se dá também via nossos órgãos naturais, ou sentidos físicos. E, mais importante, há um aspecto do nosso organismo que é um “soberano”, que está no controle de tudo que é nosso naturalmente, que, na China antiga, foi identificado como sendo o coração, xīn , o que faz muitos traduzirem como “coração-mente”. Voltaremos nesse ponto depois.

 

Ainda sobre a citação, o raciocínio é que somos seres naturais, mas a natureza em geral, de que somos um dos frutos, continua seus processos impessoais apesar de nós, logo, cabe-nos adequarmos a ela. Essa adequação, no entanto, não deve ser passiva e nem cega às singularidades próprias da cultura humana, como ele acusa de ser o caso dos daoístas Lǎozǐ 老子, nesse mesmo capítulo 17, e do Zhuāngzǐ 莊子, no capítulo 21. Xun defende que devemos conhecer ativamente e profundamente os processos naturais para usar esse conhecimento a favor da humanidade, para nos nutrir.

 

Outro aspecto da sua posição naturalista era a de que a forma mais adequada de entender os fenômenos naturais era vendo-os como processos de transformações continuas e impessoais. No trecho 17.11 ele defende que os eventos naturais que causam temor na maioria das pessoas são apenas “transformações do Yin e do Yang”, e que não haveria o que temer nisso (Costa, 2021b). Depois, de forma ainda mais assertiva, ele diz:

 

“Fizeram um sacrifício ritual para chover e choveu, por que isso ocorreu? Digo: não há relação nisso, é como se não fizessem o sacrifício ritual para chover e chovesse [mesmo assim]. Ao pedir ajuda para salvar o sol e a lua do eclipse, ao fazer um sacrifício ritual para chover quando há seca, ao realizar adivinhações para decidir grandes assuntos, não se trata de agir para obter o que se [parece] buscar, [mas sim para] fazer o uso cultural daquilo. Então o Educado considera isso cultura, mas as cem famílias consideram ser algo espiritual. Ao considerar como cultura, será afortunado, ao considerar como espiritual, serão temerosos!” (Xunzi, 17.13 In: Costa, 2021b, p. 220).

 

Assim, ele crítica que a população em geral tende a ver os ritos mágico-religiosos como de fato tendo a eficácia que prometem ter, o que pode causar medos injustificados nas pessoas, e, por consequência, prejuízos (como ele diz no trecho 21.13). Pensem, por exemplo, em recursos limitados gastos com rituais mágicos ou amuletos da sorte, ou até no uso de supostos remédios milagrosos que podem destruir a saúde de alguém desesperado. Xun faz uma distinção entre atos culturais e fenômenos naturais: entende que supostas interferências mágicas não procedem, mas que há, na verdade, um sentido cultural para esses ritos, pois nutrem as emoções humanas (por exemplo, apaziguando ou animando a comunidade), e podem ser formas de memória coletiva. Entendidas assim, a cultura é justificada, mas é abandonada a ingenuidade de crer nos aspectos que não são justificáveis naquelas práticas.

Já sabemos então, os limites epistêmicos propostos por Xun, seguindo os passos de Confúcio: o mundo natural em geral, e mais especificamente as sociedades (feitas de humanos, que também são organismos naturais), são o que realmente importa conhecer. Mais exatamente, é o que estamos justificados a buscar conhecer, pois temos condições de observar os processos naturais e entender os significados das ações culturais. Porém, é sugerido como imprudente aceitar explicações sobrenaturais para entender a realidade.

 

O que é e como é possível o conhecer?

Mesmo que saibamos que os processos naturais e as ações culturais são o que podemos e devemos conhecer, ainda resta entender o que é conhecer e como é possível o conhecimento. O termo chinês antigo equivalente a conhecimento ou saber seria zhī , ou, em alguns contextos, zhì . Daí que vem o termo chinês atual equivalente a “epistemologia” como área da filosofia que teoriza sobre o conhecimento: zhīshì lùn 知识论 , também chamado de rènshí lùn认识论.

 

Do ponto de vista da Escola dos Eruditos (Rú Jiā儒家), mais conhecida como “confucionistas”, o conhecimento relaciona-se com estar ciente de que sabe ou não de algo (Harbsmeier, 1993). Segundo Confúcio (2012), nos Analectos 2.17: “[...] Se você sabe, então sabe; se você não sabe, então não sabe. Nisso consiste o saber” (zhī ). Na mesma obra no trecho 9.8, Confúcio (2012; 2007) diz que não tem conhecimento por não saber responder um camponês, mas disse que se esforçou para responder mesmo assim. Ou seja, o primeiro esboço epistemológico dessa tradição atribuiu o saber ao estar consciente de X a ponto de saber expressar o conhecimento sobre X verbalmente.

Para Xun, conhecimento é apresentado no trecho 2.3 em uma referência direta à Confúcio: “Por conhecimento designo saber o que é e o que não é; Por ignorância designo [acreditar que] o que não é, é, e o que é, não é” (Xunzi, 2006, tradução minha). Nesse caso, o sentido de “ignorância” é de um conhecimento falso, errado, equivocado, que não corresponde, em realidade, com o que é afirmado. Avançando além dessa distinção inicial Xun realizou várias definições, descrições e argumentações que formam sua teoria do conhecimento no trecho 2 do capítulo 22, Nomeação Correta (Zhèng Míng 正名):

 

“[...] O que é de nascença é chamado de “caráter natural”. O caráter natural é aquilo harmonizado com o que vem de nascença, da mesma forma, a conexão essencial entre o estímulo e a resposta, o que não é trabalhado e continua espontâneo, é chamado de caráter natural. O que o agrada ou desagrada ao nosso caráter natural, o alegrar-se ou o enraivecer, [o ficar] triste ou feliz são chamadas de “emoções”. Ao surgirem as emoções o coração-mente faz escolhas, o que é chamado de “ponderação”. Quando o coração-mente pondera e consegue promover mudanças, isso é chamado de ‘construção consciente (wěi )’. Ponderando e acumulando, sendo capaz de praticar, e depois finalmente é chamado de ‘construção consciente’” (Xunzi, 22.2 In: Costa e Li, 2021, p. 119, adaptado).

 

Assim, há a distinção entre o que é inato, o caráter natural (ou natureza humana) e o que desenvolvido a partir do inato (a construção consciente). Esse desenvolvimento a partir do natural, mas que busca ir além dele, ocorre por meio de um uso do que hoje é denominado de funções executivas do sistema nervoso. Naquele contexto, incluso o Xun, entendiam que o que fazia essa função era o coração-mente, o soberano natural. Está claro, hoje, que, por um lado, erraram a localização desse órgão que tem funções de controle central do organismo; por outro lado, a percepção de Xun de que é um mesmo órgão que processa os dados dos sentidos recebidos pelos cinco sentidos, as emoções e a cognição (ou razão) se mostrou condizente e aproximado com o que sabemos atualmente de como funciona o organismo humano, com ênfase para o encéfalo no sistema nervoso central.

 

Já vimos um trecho do capítulo 17 em que Xun descreve que nossos órgãos naturais percebem o mundo. No trecho 22.5, ele defende que já esses sentidos naturais e seus órgãos conseguem reconhecer distinções iniciais, que são melhor identificadas com as disposições e emoções (qíng ) internas geradas em seguida. Por exemplo, podem sentir se algo é macio ou áspero, azul ou verde etc, e a valência afetiva positiva ou negativa que surge a seguir pode rapidamente sinalizar se é mais adequado se aproximar ou se afastar daquilo com que teve contato. O coração-mente processa tudo isso, mas também pondera e avalia sobre o que recebeu e sentiu. É durante esse processo natural que há a possibilidade de nos desenvolvermos para além da nossa natureza “bruta”, usando de funções executivas como planejamento, memória de trabalho ou deliberações.

 

“O coração-mente tem o poder de comprovar o conhecimento [com consciência]. Se sua consciência comprova, é devido ao ouvido poder conhecer os sons, devido aos olhos poder conhecer as formas. Porém, para a consciência comprovar [algo] ela precisa requerer que os seus órgãos naturais registrem [qual é] o tipo [da coisa percebida], só depois disso ela pode [comprovar]. [Se] os cinco órgãos [naturais] registrarem mas não reconhecerem, [se] o coração-mente comprova o conhecimento mas sem [conseguir] explicar, então as pessoas concordam que não há [conhecimento]: isso é chamado de “não saber”. É por essa razão que se faz [a distinção entre coisas] iguais e diferentes” (Xunzi, 22.2 In: Costa e Li, 2021, p. 122).

 

Para Xun, o conhecimento está relacionado principalmente com a capacidade de fazer distinções (yì , bié e, principalmente, biàn ), uma influência tanto de Confúcio quanto do Mòzǐ 墨子 (Goldin, 2023; Elstein, 2022; Rošker, 2022; Wu, 2018). Assim, o conhecer não é apenas informacional, pois precisa também de um entendimento correto que saiba avaliar se a percepção dos dados dos sentidos faz sentido. É devido a isso que, mesmo recebendo e sentido uma infinidade de informações constantemente, podemos conhecer de algum modo ordenado. Nossas funções cognitivas incluem a ordenação dessas sensações, que podem ser desenvolvidas amplamente, gerando todo tipo de classificação, comparação, síntese e raciocínios sobre qualquer assunto.

 

Em resumo, o processo de conhecer o mundo passa: (1) pelo contato e captação do ambiente pelos cinco sentidos naturais, (2) a percepção interna dessa captação através das emoções naturais que filtram o igual e o diferente são processadas pelo coração-mente, para, finalmente, (3) o coração-mente analisar o que é admissível ou não. Feito todo esse processo, uma pessoa saberá expressar a realidade percebida através de uma explicação – quando tudo isso ocorre, podemos dizer que alguém sabe algo. Se alguma parte desse processo falhar entre o início e o final, então não podemos afirmar que a pessoa sabe que X, mas apenas que percebeu, sentiu ou afetou-se com X.

Como Xun afirma entre os trechos 14 a 18 do capítulo 22 (Costa e Li, 2021), e aprofundado em todo capítulo 21, Livrar-se das obsessões (Jiě Bì 解蔽), as avaliações e as ponderações feitas por alguém que está desequilibrado acarretarão em erros. Isso ocorre pelo fato de que as emoções e funções executivas fazem parte dos processos cognitivos que ocorrem principalmente no coração-mente, influenciando-se mutuamente. Assim, estar com emoções extremas em intensidade (menor/maior) ou valência (positiva/negativa) tem forte impacto na cognição, podendo mesmo prejudicar desde a captação e percepção do ambiente até as avaliações mentais mais refinadas. Ao contrário, com as emoções equilibradas, usando essas disposições naturais ao seu favor e de forma moderada, então é possível entender e conhecer – os dois tipos de ganhos epistêmicos.

 

Para Xun, nesse capítulo 21 (Costa, 2023), a melhor forma de não se dividir cognitivamente e ainda equilibrar essas emoções é ter a habilidade de unificar ou sintetizar o conhecimento, contra a tendência dualista natural da mente que nos leva a distração. No programa epistemológico de Xun é necessário ser habilidoso não só com nossas funções cognitivas geralmente chamadas de “racionais”, mas também com as próprias emoções, que são parte do processo de produção do conhecimento pelo agente epistêmico. Dessa forma, sua epistemologia é naturalizada tanto por se deter no conhecimento do ambiente natural e das ações culturais humanas, quanto por focar em entender como nosso organismo processa o conhecimento por meio de suas ferramentas naturais que são desenvolvidas e aperfeiçoadas pelo agente epistêmico.

 

Sobre o autor

Matheus Oliva da Costa é pós-doutorando pelo Departamento de Filosofia da USP, é doutor e mestre em Ciência das religiões pela PUC-SP, é graduado em Filosofia pelo Centro Universitário Internacional e em Ciência das religiões pela UNIMONTES-MG.

 

Referências

CONFÚCIO. Os Analectos. Tradução, comentários e notas de Giorgio Sinedino. São Paulo: Editora UNESP, 2012.

 

CONFÚCIO. Os Analectos. Tradução e introdução de Dim Cheuk Lau. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.

 

COSTA, M. O. Xunzi - Tradução do cap. 21 - Jie Bi 解蔽 - Livrar-se das obsessões. Anais de Filosofia Clássica (Online), v. 16, p. 171-200, 2023.

 

COSTA, M. O. A obra Xunzi como fonte de pesquisa da história da filosofia chinesa antiga. In: Bueno, André (org,). (Org.). Novos Estudos em Extremo Oriente. Rio de Janeiro: Proj. Orientalismo / UERJ, 2022b, p. 119-127.

 

COSTA, M. O. Discurso sobre o Céu (Tiān Lùn 天論) - cap. 17 do Xunzi 荀子 (tradução e introdução). Modernos & Contemporâneos - International Journal of Philosophy, Campinas, v. 5, n. 13, 2021b. Disponível em: <https://ojs.ifch.unicamp.br/index.php/modernoscontemporaneos/article/view/4649>. Acesso em: 27 mai. 2023.

 

COSTA, M. O.; LI, P. Nomeação correta (Zheng Ming 正名) – Xunzi. Prajna: Revista de Culturas Orientais, v. 2, n. 3, p. 113-139, 2021. Disponível em <https://revistaprajna.com/ojs3/index.php/prajna/article/view/35>. Acesso em: 27 mai. 2023.

 

ELSTEIN, David. Xunzi. In: Internet Encyclopedia of Philosophy. Online: SUNY/New Paltz, 2004. Disponível em: <https://iep.utm.edu/xunzi/>. Acesso em: 13, set. 2022.

 

FELDMAN, Richard. Naturalized Epistemology. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy (First Edition). Online: Stanford, 2001. Disponível em <https://plato.stanford.edu/archives/spr2014/entries/epistemology-naturalized/>. Acesso em 03 jul. 2023.

 

GOLDIN, Paul. Xunzi. In: BUENO, André; CABRAL, Pedro R. (orgs). Textos selecionados de filosofia chinesa II: a filosofia pré-imperial. Pelotas: NEPFIL Online, 2023, p. 443-465.

 

HARBSMEIER, Christoph. Conceptions of Knowledge in Ancient China. LENK, Hans; Paul, Gregor (orgs.). Epistemologial issues in classical Chinese philosophy. New York: SUNY, 1993, p. 11-30.

 

IMAGUIRE, Guido. O conceito de identidade no naturalismo. Filosofia Unisinos, v.7, n. 1, pp. 72-86, 2006.

 

KNOBLOCK, John (ed.). Xunzi: A translation and study of the complete works (v. 1). Stanford: Stanford University Press, 1988.

 

PAPINEAU, David. Naturalism. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2021 Edition). Online: Stanford, 2021. Disponível em < https://plato.stanford.edu/archives/sum2021/entries/naturalism/>. Acesso em 03 jul. 2023.

 

QUINE, Willard V.O. Epistemology Naturalized. In: QUINE, Willard V.O. Ontological Relativity and Other Essays. New York: Columbia University Press: 1969, p. 69–90.

 

QUINE, Willard V.O. Epistemologia Naturalizada. In: PORCHAT, Oswaldo (ed.) Ensaios - Gilbert Ryle, John Langshaw Austin, Willard Van Orman Quine, Peter Frederick Strawson (Coleção os Pensadores, n. 52) Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1975, p. 163-175.

 

ROŠKER, Jana. Epistemologia na Filosofia Chinesa. In: COSTA, M. O (org.). Textos selecionados de filosofia chinesa I: áreas de investigação e perspectivas comparadas. Pelotas: NEPFIL Online, 2022, pp. 441-283.

 

RYSIEW, Patrick. Naturalism in Epistemology. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2021 Edition). Online: Stanford, 2018. Disponível em < https://plato.stanford.edu/archives/fall2021/entries/epistemology-naturalized/>. Acesso em 03 jul. 2023.

 

SATO, Masayuki. The Confucian quest for order: the original and formation of the politial thought of Xun Zi. Leiden: Brill, 2003.

VAN NORDEN, Bryan W. Introdução à Filosofia Chinesa Clássica. Tradução Gentil Avelino Titton. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

 

XUNZI. Xunzi (2 volumes). Translated into English by John Knoblock, translated into Modern Chinese by Zhang Jue. Changsha/Beijing: Hunan People's Publishing House/Foreign Languages Press, 1999.

 

XUNZI. Xunzi: The complete text. Translated and with an introduction by Eric L. Hutton. Princeton: Princeton University Press, 2014.

 

XUNZI. Xunzi. In: STURGEON, Donald. Chinese Text Project. Online: 2006. Disponível em <https://ctext.org/xunzi>. Acesso em: 27 mai. 2023.

 

WU, Chun. Filosofia chinesa. Rio de Janeiro: Batel, Go East Brasil, 2018. 

9 comentários:

  1. Achei sensa, xiexie 🙏. Queria deixar estes comentários na qualidade de alguém que não manja de Xunzi (espero não ter viajado demais):

    1. O Xunzi influenciou o naturalismo do Wang Chong?
    2. Eu fico pensando se havia alguém nos dias de Xunzi defendendo “aspectos sobrenaturais” de fenômenos. Se pá o povo (e talvez o próprio Xunzi, sei lá) pensava em seres “espirituais” como compostos de yin e yang, e como parte do mundo natural. Aí seria apenas uma distinção entre duas concepções de naturalismo: um impessoal e não influenciável pelo homem, o outro mais pessoal e passível de ser influenciado por práticas de tipo mágico.
    3. Parece que o Needham tbm sugeriu que Xunzi se limitava à dimensão da cultura humana (1956: 29). Isso aliado a uma atitude mais utilitária em relação à natureza e às suas preocupações políticas teria prejudicado o desenvolvimento da ciência na China. Vc vê algum valor nesse argumento?
    4. O Xunzi aceitava de cara a autoridade de sábios antigos e dos textos clássicos? Ele via contradições entre o que se pode conhecer com certeza e afirmações nos textos clássicos que não se possíveis de se demonstrar? Por exemplo, como ele interpretaria partes do Shijing, onde certos intérpretes viram eventos “miraculosos”, como Jiang Yuan estéril engravidar, por intervenção divina, depois de sacrificar e pisar em uma pegada?
    5. A expressão 遠之 aparece em outros trechos nos Analectos. Se mantém distância dos príncipes (17.9) das mulheres e servos (17.25). Tem tbm 遠其子(16.13): se mantem distância em relação aos filhos. Talvez se possa defender que 遠 é uma questão de hierarquia e respeito msm. Até porque, como vc apontou, o próprio 6.22 diz que se deve respeitar (敬) guishen, e não dá para se respeitar o que se acredita não existir.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, querido Pedro Cabral!
    1. Até onde sei, sim. O quanto e como, ainda pretendo investigar. Mas no livro da Anne Cheng ela diz ter relações sim.
    2. A noção de naturalismo que usei é necessariamente impessoal. Sei que podem existir outras definições, mas não trabalhei assim. Meu intuito era usar a noção de naturalismo em que os fenômenos naturais ocorrem constantemente sem que haja qualquer "intenção" ou "vontade" de um agente, mas apenas pelo próprio fluxo espontâneo que é completamente independente do querer humano (em condições em que nossas interferências não são fortes o suficiente para modificar o curso natural).
    Havia várias noções de seres sobre-humanos ou de coisas que estão para além desse fluxo natural observável, como a fisiognomia (divinações, inclusive do futuro, a partir de marcas no rosto, como ele critica no capítulo 5), os fantasmas (gui 鬼) que os moistas defendiam existir e os Fangshi exorcizavam.
    3. Sobre isso, apresentei algo no início da pesquisa, em 2021, mas não publiquei. Basicamente entendo, ao contrário de Needham, que as ciências não são apenas as naturais, mas também as humanas e sociais, como o equivalente à linguística ou à filologia que Xunzi ajudou a dar fundamentos classificatórios lógicos/seguros.
    Então, talvez os confucionistas realmente teriam desincentivado (mas não muito) as ciências naturais (sentido amplo) em seu aspecto teórico, mas incentivaram ciências humanas/sociais e também qualquer outra ciência que ajudasse a sociedade (ou o governo), como astronomia, engenharia e botânica.
    4. Interesse! Valeria um longo artigo (ou tese, rsrsrs, dependendo do fôlego).
    De forma geral, ele faz releituras. No cap. 1, Persuadir a Aprender, ele diz a "benção" é ficar saudável e não doente ("sem acidentes"). Originalmente o clássico que ele citou dava claramente conotação espiritual/religiosa. (ver o trecho 3, traduzido aqui: https://www.revistas.usp.br/ziyue/article/view/174080/185221).
    5. Não é nada claro se Xun acreditava ou não na existência de seres espirituais. O ponto é que ele não via nenhum motivo para apelar para tais seres. É uma postura já conhecida na antiguidade em outras civilizações (Índia, com Buda e os Jainistas, e Grécia, com Epicuro e os céticos), em que a existência de deuses e afins nem mesmo é colocada em discussão, mas é defendido que a humanidade é autônoma e não tem relação direta ou interferência de tais seres espirituais. Por isso mesmo, defendi um "naturalismo fraco" do Xun, pois ele não chega a ser materialista ou fisicalista (como os Carvakas na Índia, ou os epistemólogos analíticos naturalistas atuais), mas apenas abre mão de falar de seres que estão fora da ordem natural ou de inseri-los na suas explicações. Assim, o "respeito" que ele defende, seguindo Confúcio, tem o sentido de valorização cultural, de saber que tais práticas tem o objetivo de tornar a vida em sociedade mais organizada, deslocando a atenção para a própria humanidade e suspendendo a questão da existência de tais seres. A lembrança dos ancestrais, por exemplo, é para os vivos, e não para os mortos mesmos, como ele afirma no cap. 19, Discurso sobre os Ritos. O funeral, o luto, o respeito mantido e transmitido, tudo é para os humanos vivos. Se existe outra coisa além disso, ele não trata. Vejo como uma atitude interessante a ser aplicada na vida cotidiana: saber o que realmente importa em nossas ações, que como tratamos a nós mesmos e as pessoas em nossa volta. Sobre no que acreditamos além disso, é uma segunda questão, opcional à vida em sociedade.
    Obrigado novamente.

    ResponderExcluir
  3. Caro Matheus, grato por seu texto! minha pergunta é sucinta, mas penso que nem menos 'enrolada', rss Boaventura de Sousa Santos costuma invocar a necessidade de pensar outras epistemes fundadoras na construção do conhecimento...contudo, episteme é, essencialmente, uma categoria ocidental, ou 'ocidentalizada', ao menos de início. e contudo, o jogo das relações epistemológicas muda o próprio sentido de sua definição, o que se dá justamente em contato com outras culturas/ideias. Nesse sentido, como você entende a pesquisa epistemica de Xunzi como uma alternativa ou caminho de reformulação de estratégias epistemologicas? =)
    saudações!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela pergunta, prof. Andre!

      A resposta curta ou não enrolada, rsrsrs, é que mesmo que haja uma série de pontos em comum nas mais diversas fontes filosóficas em epistemologia (dos antigos Confúcio Xunzi, Platão, Aristóteles, Gotama, Vasubandhu etc. até os modernos Hume, Kant, Quine, Gettier ou Sosa), todas elas nos ajudaram a entender melhor o entendimento, a conhecer melhor o processo de conhecer. Entendo que eles todos erraram em alguns pontos e acertaram em outros, e a trajetória do raciocínio deles é muito relevante para a epistemologia como área. Assim, pensar ou repensar estratégias argumentativas em epistemologia é enriquecida se nos abrirmos culturalmente para as várias estratégias á usadas. Essa é uma vantagem mais geral de uma epistemologia interculturalmente aberta, que usa de uma humildade intelectual perante as várias possibilidades em que a humanidade pensou o próprio pensar, o que incluí aí o Xunzi.

      Excluir
    2. Numa versão mais longa e sendo mais específico com o caso perguntado, estudar a sua epistemologia, ou, como prefiro, filosofar sobre o conhecimento a partir da inspiração do Xunzi, me proporcionou duas atualizações que tenho divulgado como relevantes para todos que pensarem os mesmos temas:
      1. Do lado do estudo histórico e/ou exegético da epistemologia chinesa em si mesma, em seu próprio desenvolvimento, a leitura atenta do Xunzi sintetiza todo um debate de séculos que ocorreu antes dele em torno do que é conhecer, de como os humanos conhecem, os limites e alcances do conhecimento, a relação do conhecimento com a linguagem e a convenção social, e, tudo isso, sob uma metodologia analítica e altamente assertiva para com aliados e adversários intelectuais.
      Sendo mais explícito, a vantagem da leitura do Xunzi está em evidenciar que na China antiga não predominava, como muitos imaginam, pensamentos místicos, ainda que estes existiram e tiveram relevância. Na verdade, o final da antiguidade chinesa é marcada por filosofias cada vez mais diretas, politizadas, analíticas, que passaram por uma "virada linguística" própria e elaboraram refinadas estratégias argumentativas para vencer debates e mostrar que estavam corretos sobre o que defendiam.

      Excluir
    3. 2. Do ponto de vista da área "epistemologia" da Filosofia acadêmica como um todo e em todo o mundo, Xunzi se mostra atual e relevante tanto por se aproximar da mais forte abordagem epistemológica atual em termos de número e qualidade de produções, a epistemologia das virtudes, como, mais relevante ainda, pelas suas relações com os achados mais atuais das neurociências. Mais especificamente, ele não faz uma separação rígida ou setorial entre emoções e racionalidade (ou cognição), pelo contrário, ele mostra como, mesmo que exista um "órgão" que de alguma forma centraliza os dados da percepção e os organiza (que ele chamou de coração-mente [xin] e nós chamamos de encéfalo), a percepção, as emoções e os elementos que tradições europeias chamaram de "racionais" passam todos por esse órgão humano processador do conhecimento.
      Isso implica em algo bem sério a ser repensado em termos de estratégias epistemológicas: não é possível pensar sem emoções, não é possível uma suposta "pura racionalidade" ou "razão pura", pois as condições do processamento cognitivo como a distinção, síntese e memória operam em circuitos neurais compartilhados com as emoções (e afetos e estados de humor), e são impactados por eles, em maior ou menor intensidade, e em diferentes direções. Afinal, somos um só organismo (daí a relevância do seu naturalismo). E, como um só organismo, todas as nossas "partes" impactam umas às outras. Assim, seja o conhecimento "crença verdadeira justificada" que depende da "performance excelente/virtuosa do agente epistêmico" como aponta há décadas Sosa, ainda assim nossos estados emocionais (de afeto ou de humor) impactam também o processo do conhecer e do entender. Se levarmos a sério essa conclusão que tive a partir do Xunzi, não faz mais sentido falar epistemologicamente como se somente razão ou mesmo fatores de poder social impactassem o conhecimento, e torna-se imprescindível que o estado emocional do agente epistêmico seja levando em conta também. Em termos práticos para saber que você sabe que X, além de levar em conta se X é verdade/correto, que você está justificado pela sua performance excelente (ou outros meios), temos ainda a necessidade de saber se você estava emocionalmente equilibrado no processo de saber que X.

      Excluir
    4. Por exemplo, pense no famoso "Revisor 2" (R2): ao avaliar um artigo X numa revista acadêmica, R2 é um especialista reconhecido por suas virtudes epistêmicas de leitura apurada e discernimento claro, aparentemente há boas razões para inferir que o artigo X tem uma série de erros, e, em situações comuns, quando está equilibrado, ele retorna com um parecer cuidadoso à revista mostrando como poderia melhorar um artigo (independente se aprovasse ou não); contudo, naquele dia em que fez seu parecer, ele(a) estava com uma intensa emoção que chamamos de "raiva", que tende a nos levar a ser reativos contra qualquer coisa que nos pareça ameaçador, sendo que, no entanto, pouco antes ele teve motivos para ter "raiva" contra uma ameaça real de enfrentou ao observar uma injustiça de uma pessoa que foi agressiva com outra na rua e R2, por estar envolvido, teve que se posicionar e agir em defesa da vítima; seu estado de raiva, no entanto, continuou durante o dia todo, o que o fez enviesar cognitivamente o seu parecer de um modo "impolido" à revista, tratando o artigo X de forma ríspida e arrogante (logo, viciosa), sem considerar de forma cautelosa o que deveria ser melhorado, mas apenas ofendendo de modo pessoal (ad hominem), causando danos epistêmicos, e não benefícios à comunidade acadêmica como um todo. Em termos xunzianos, R2 estava, naquele momento, obcecado (Bi) pela raiva, tratando o artigo X como um inimigo a ser combatido com violência, e não como um objeto de apreciação crítica que necessitava de argumentos e explicações que geram bens epistêmicos para agentes da sua comunidade. Esse parecer poderia ser também avaliações escolares ou mesmo a escolha de um novo negócio.
      Em resumo: esteja sempre alerta com seus estados emocionais ao processar sua cognição, bem como saiba usar as emoções de modo equilibrado e adequado em cada situação.

      Obrigado pela instigante pergunta!

      Excluir
    5. Tínhamos que inserir esses debates no livro! =D

      Excluir
    6. Seria ótimo mesmo, estou à disposição.

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.