MANHWAS NORTE-COREANOS COMO FERRAMENTA ESTATAL DE PROPAGAÇÃO DA FILOSOFIA JUCHE, por Felipe Alberto

  

Introdução

Dado seu caráter sui generis no cenário global, a Coreia do Norte sempre permeia noticiários e até mesmo ambientes acadêmicos com algum grau de exotismo associado ao que advém desse território. No entanto, apesar das dificuldades recorrentes no recolhimento e certificação de informações sobre o funcionamento interno do país ser um fator que alimenta esse discurso, é bastante razoável que seja questionada essa descrição caricata de toda uma nação.

 

Sob o espectro das histórias em quadrinhos em si, é ponto comum que toda expressão artístico-cultural possui também caráter político, seja ele explícito ou não. Bem como super-heróis estadunidenses se proliferaram aos montes a fim de propagar os valores culturais locais para todos aqueles que consumissem aquele material (MARQUES, 2018), há também muito o que aprender da cultura norte-coreana através das produções nacionais, em especial por ser um país que não tem por hábito a exportação de sua própria diminuta indústria cultural.

 

Este trabalho tem por objetivo analisar o manhwa norte-coreano sob uma ótica da influência sofrida pelo mesmo quando da ocupação japonesa e perpetuação da rivalidade regional, gerando consequências em todos os aspectos do cotidiano do país. De maneira adjacente ao objetivo principal, o próprio ato de trazer à tona obras advindas da porção norte da península coreana já possui elementos agregadores ao estudo de quadrinhos asiáticos como um todo, uma vez que os mesmos são frequentemente negligenciados devido ao caráter fechado de sua política governamental. Por fim, objetiva-se também, através das obras estudadas, extrair elementos da cultura local que possam corroborar, ou não, com o que é usualmente propagado como senso comum acerca de um país com tanto ainda por ser explorado.

 

Até pouco tempo restritas exclusivamente ao consumo do público local, uma vez que jornalistas e turistas que estiveram em território norte-coreano relatam forte impossibilidade de acesso a materiais culturais pertencentes ao cotidiano do país, os manhwas da porção norte da península passaram a ver a luz do dia através dos inevitáveis intercâmbios culturais com a China. Vizinha ao norte e principal parceira política do fechado país asiático, a China e sua efervescência comercial não pouparam nem mesmo itens como as histórias em quadrinhos, que hoje podem ser encontradas com alguma facilidade em cidades fronteiriças com a Coreia do Norte.

 

Iniciando-se dessa maneira, mas alcançando uma oficialização de exportação cultural, ainda que distante de um interesse comercial, a Coreia do Norte tem passado a disponibilizar suas produções de maneira menos sigilosa. Sinal disso é o extenso acervo disponibilizado online pela biblioteca da Illinois University, nos EUA. Bebendo dessas fontes disponíveis ao público geral, foram selecionadas obras que, através de análise imagética, ilustram significativamente as influências visuais e temáticas das produções japonesas aos manhwas norte-coreanos.

 

Influência dos mangás japoneses durante a ocupação

Em consonância com o espírito expansionista e imperialista que ditou o ritmo das políticas japonesas no início do século XX, também as histórias em quadrinhos por lá produzidas no período dialogavam intensamente com essa temática (CHINEN, 2013). No entanto, a influência da ideologia propagada por esses materiais não ficaria restrito ao território japonês, especialmente nos âmbitos estético e narrativo. Tanto a China quanto a península da Coreia tiveram parte — ou integralidade — de seus territórios ocupados pelo Exército Imperial Japonês em algum momento histórico e os efeitos dessa sobreposição cultural iriam para muito além do caráter militar.

 

Antes mesmo do fim da década de 30, autores como Suihō Tagawa passaram a produzir histórias de grande sucesso onde a exaltação ao heroísmo no campo de batalha era uma ferramenta de roteiro recorrente (GRAVETT, 2006). Um dos casos mais emblemáticos está no personagem Norakuro, conforme ilustrado nas figuras 1 e 2, que se tornou um ícone de inspiração ao sucesso nas trincheiras e mascote do militarismo. Suas histórias, que haviam começado permeadas de elementos de humor ambientados em um quartel, passaram a simbolizar bravura e perseverança no sonho de elevar sua patente, chegando a culminar, ainda segundo Paul Gravett (2006), em luxuosas publicações de capa dura e mais de um milhão de exemplares vendidos.

 

Figuras 1 e 2 - Da esquerda para a direita: poster de divulgação da série em mangá Norakuro, de Suihō Tagawa; e capa do primeiro volume da série, publicada originalmente pela editora Kōdansha.

 

Discordâncias internas à Coreia, com um dos lados apoiado por japoneses em relação aos rumos que o país deveria tomar, acabaram tendo seu futuro definido por duas guerras historicamente próximas e com o Japão como coadjuvante: a primeira contra a China (1894-1895) e a segunda contra a Rússia (1904-1905). O ano de 1905 marcou, então, o início de uma presença japonesa na península coreana, ainda que a anexação oficial viesse apenas em 1910 (MASON, 2017).

 

Aqueles mesmos japoneses que outrora haviam passado valores de nacionalismo e liberdade aos jovens coreanos dessa vez lideravam uma opressão imperialista que provocou décadas de humilhações e genocídio, se estendendo até 1945, ou seja, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Casos historicamente marcantes como a proibição do uso da língua coreana, a adoção de sobrenomes japoneses e prática das chamadas “mulheres de conforto”  foram apenas algumas características nefastas desse período.

 

Essa ocupação em muito se conecta à cultura militarizada e expansionista que tomava conta do Japão à época e o mesmo se refletiu nas produções culturais da época, que, por consequência, eram também consumidas por coreanos ocupados e soldados japoneses (LUYTEN, 2011). A década de 30, conforme mencionado anteriormente, foi prolífica em produções não só de mangás, mas quadrinhos por todo o mundo, com cunho belicista e contendo personagens que personificavam aquele zeitgeist (CALLARI, 2021).

 

A interminável Guerra da Coreia nos manhwas

Nada sobre a política das duas Coreias contemporâneas pode ser compreendido sem esmiuçar os acontecimentos do período que se estende de 1945 até 1953. Esse foi o marco de um terreno ideologicamente fértil para os dois países, de uma guerra catastrófica e de uma reordenação da política internacional no nordeste asiático. Como pode ser visto nas figuras 3 e 4, a narrativa norte-coreana pregada em manhwas para sua própria história perpassa o antigo período de unidade na península, mas inclui também mitos fundadores que exaltam os trabalhadores locais e os membros da dinastia Kim (LENT, 2009).

 

Figuras 3 e 4 - Da direita para a esquerda: capas dos volumes 2 e 4 da série em manhwa History of Korea (1999), de Cha Hyeong-sam, Kim Myeong-je, Kim Byeong-ryong e Pak Seung-jeong, publicados originalmente pela The Association of Choson Publication Exchange.

 

O historiador Bruce Cummings (1997, apud VISENTINI et al., 2015) define o sistema político norte-coreano: “[...] com base em sua singularidade histórica, como um regime corporativista neoconfuciano, no qual o papel revolucionário da classe operária, pregado pelo marxismo, teria sido substituído pelo da nação. Conceito derivado na tradição confucionista do papel da família como ideal de comunidade, a nação, portanto é entendida como uma grande família, que deve estar acima de tudo. Essa ênfase justifica a existência de um Estado forte e centralizado, que tenha controle sobre toda a sociedade e a economia.”

 

Somando-se a isso, há um fator bastante sui generis na compreensão da política local: o culto à personalidade do líder — sempre na figura do membro da dinastia Kim — dessa sociedade altamente corporativista, porém pretensamente igualitária. Dessa maneira, a mescla entre o marxismo europeu e o confucionismo asiático se consolida no sentido da priorização de um regime sólido, unitário e nacionalista. Outrossim, cabe recordar a fala de Kim Jong-il quando do desmembramento da União Soviética, ocasião em que explicita a centralidade da ideologia no sistema político norte-coreano ao alegar que a queda da URSS teria vindo em decorrência da falta de doutrinação da juventude (JESUS, 2018).

 

Figuras 5, 6 e 7 - Da esquerda para a direita: capa do manhwa The Secret of Frequency A (1994), de Eom Jeong-hui e Ko Im-hong, publicado originalmente pela Kumsong Youth Publishing Company; e duas páginas internas da mesma obra, traduzidas pelo Prof. Dr. Heinz Insu Fenkl.

 

Como pode ser visto nas figuras 5, 6 e 7, as mensagens transmitidas mesmo em obras voltadas ao público infantil são de caráter replicante daquilo que o Partido dos Trabalhadores da Coreia considera um futuro ideal de nação (PETERSEN, 2018). A passagem dos valores defendidos pela filosofia Juche às novas gerações se mostra uma condição sine qua non para a manutenção do sistema vigente. O último quadro da figura 13 contém uma referência direta a esses preceitos no diálogo entre os personagens: “Esplendido! Vocês combateram bem como jovens coreanos exemplares que seguem a filosofia Juche” (EOM; KO, 1994, tradução nossa). Tal prática contém elementos claros de replicação da supracitada instrumentalização da mídia dos quadrinhos, não sendo uma exclusividade da Coreia do Norte e nem mesmo pioneirismo da dinastia Kim, mas guardando grande influência das produções japonesas.

 

É importante notar que esse futuro de nação imaginado pelas lideranças locais passa por uma constante iminência de conflito, uma vez que os EUA e o Japão são considerados rivais a serem derrotados, uma vez que são culpabilizados pela dinastia Kim quanto à separação das Coreias. Em paralelo, a abundante presença estadunidense na porção sul da península, tanto militarmente quanto em influência cultural, torna recorrente a alimentação do ambiente belicoso. Os investimentos militares norte-coreanos representam uma alta porção do PIB do país (SANTORO, 2013), mas suas demonstrações de força não se dão de maneira injustificada, pelo menos segundo a narrativa adotada internamente e reforçada através dos mais diferentes meios culturais e de informação. Conforme ilustrado pelas figuras 8, 9 e 10, ação, guerra e espionagem são temas recorrentes nos manhwas norte-coreanos também de forma mais direta, assim como têm sido questões que permeiam a vida política do país desde sua fundação, algo que perpassa obrigatoriamente o cotidiano de sua população, uma vez que se trata de uma nação substancialmente fechada.

 

Figuras 8, 9 e 10 - Da esquerda para a direita: capa de Three Days at the ‘Area 7’ (1987), de Kim Pyong-taek e Pak Yun-kol; capa do primeiro volume de The Silent Outpost Line (2006), de Kim Chol-guk, Kim Song-il e Choe Kun-ho; e capa de The Identity of the ‘White Fox’ (2012), de Chang Chae-gap e Chang Sun-ae. Todos três manhwas publicados originalmente pela anteriormente citada Kumsong Youth Publishing Company.

 

Assim como já pôde ser percebido em outras obras destacadas anteriormente, a incipiente indústria norte-coreana de histórias em quadrinhos ainda se utiliza de um padrão estético bastante similar àquelas produzidas no ocidente em meados do século XX. Essa característica não pode ser apontada isoladamente, uma vez que muito do que o país se constitui hoje ainda é remanescente do período de separação da península coreana. Os mais diversos embargos econômicos e barreiras diplomáticas impostas ao longo dos anos pelo sistema internacional ao regime da família Kim tornaram o insulamento cultural e tecnológico uma opção única (HARRIS, 2007). Como simbolizado pelas figuras 11 e 13, mesmo manhwas produzidos no escopo do século XXI possuem tipografia e elementos visuais que remetem a um período histórico de passado recente. Essa percepção em muito dialoga com os consistentes relatos de que a sociedade norte-coreana tem seu cotidiano arraigado no passado.

 

Figuras 11, 12 e 13 - Da esquerda para a direita: capa de Snowstorm at the Tropical Forest (2001), de Cho Hak-nae e Yi Chol-kun; capa de The Legend of Pisasong (2008), de Song Kwang-myong; e capa de Emergency Telegram (1992), de Chang Chae-gap e Chang Sun-ae. Todos três manhwas também foram publicados originalmente pela supracitada Kumsong Youth Publishing Company.

 

Já na figura 12, outro aspecto merece destaque: o resgate de elementos e sujeitos míticos da história nacional como personagens de protagonismo mesmo em manhwas desenvolvidos para o público infanto-juvenil. Para além da manutenção de uma estética que remete ao mangás japoneses das décadas de 40 e 50, a propagação para a população mais jovem dos feitos desses indivíduos compõe parte importante da construção de um senso de continuidade histórica que é defendido pela política governamental, incluindo a unidade da península coreana.

 

A instrumentalização em prol da coesão social

Ao contrário do que possa ter parecido até o presente momento, a propagação da ideologia Juche através dos manhwas norte-coreanos não se limita aos preceitos de uma sociedade ordeira e subordinada ao seu líder vigente. Outro aspecto bastante relevante observado nessas obras é a perpetuação do ideário de uma perpétua preparação para uma guerra iminente. Não seria razoável dissociar completamente esse fator da ordem social pregada, porém, assim como ilustrado nas figuras 14, 15 e 16, essa mesma ordem só tem uma razão de ser caso esteja centrada na ativa política de defesa — ou ataque preemptivo, segundo a narrativa nacional — do governo norte-coreano.

 

Figuras 14, 15 e 16 - Da esquerda para a direita: capa do manhwa The Great General Mighty Wing (1994), de Cho Pyong-kwon e Lim Wal-yong, novamente publicado originalmente pela Kumsong Youth Publishing Company; e duas páginas internas da mesma obra.

 

Mighty Wing é um dos personagens mais famosos das histórias em quadrinhos locais e possui um significado muito especial nesse intenso diálogo entre política e a nona arte. Publicada originalmente em 1994, ano da morte de Kim Il-sung — fundador da Coreia do Norte —, e contando com páginas inteiramente coloridas, ao contrário do tradicional papel jornal preto e branco, a obra trata de temas duros como a ocupação japonesa na península, ainda que fosse voltada para atenuar ideologicamente entre crianças os efeitos deletérios da inédita ausência do “Grande Líder” (FENKL, 2008).

 

Dentro desse mesmo âmbito, outra temática muito explorada pelos manhwas infantis do país é o folclore tradicional, que carrega consigo uma série de lições passadas há séculos e séculos através de histórias fantasiosas. As figuras 17, 18 e 19 trazem algumas capas de vasta coleção voltada para este fim, publicada em 2004, e demonstram bem claramente duas características centrais desse material: propagação de ideais tidos como bons costumes pela cultura local; e a manutenção de tradições típicas do período anterior à separação das Coreias, ilustrando o apreço norte-coreano pela reunificação nos moldes de uma cultura que não mais existe é propagada ao sul da península.

 

Figuras 17, 18 e 19 - Da esquerda para a direita: capa de The Sword and Three Strong Men (2004), de Pak Song-nyong; capa de The Frog Who Used to Not Listen (2004), de Pak Song-nyong, Im Myong-huI e Choe Sung-ok; e capa de A Boy Who Caught a Thief (2004), de Pak Song-nyong, Son Myong-hui e Choe Sung-ok. Todos três manhwas publicados originalmente na coleção de Picture Books of Choson Folkores.

 

Narrativa do inimigo estrangeiro

Assim como as estereotipizações presentes nos primórdios dos comics estadunidenses e nos mangás japoneses do período das Grandes Guerras, tal ferramenta também pode ser encontrada em obras norte-coreanas. Uma diferença digna de nota é o fato desse recurso ter sido largamente utilizado por lados beligerantes em conflitos armados (ou não) no início do século XX, enquanto as figuras 20, 21 e 22 são capazes de demonstrar como um manhwa publicado originalmente no ano de 2005 ainda se inspira expressivamente nessa estética outrora popular no vizinho Japão.

 

Figuras 20, 21 e 22 - Da esquerda para a direita: capa do manhwa The Losing "General" and a Mayfly (2005), de Mun Yong-chol e Paek Hak-hun, publicado originalmente pela Literature and Arts Publishing Company; e duas páginas internas da mesma obra, onde George W. Bush figura como personagem.

 

Seguindo fielmente a narrativa de culpabilização dos EUA em relação à separação da península, uma vez que a Coreia do Norte não procura rivalizar diretamente com seu vizinho ao sul e adota uma retórica de pertencimento mútuo, o manhwa The Losing "General" and a Mayfly traz como um de seus personagens o ex-presidente estadunidense George W. Bush. À época da publicação, Bush ainda exercia seu cargo na Casa Branca e ostentava uma relação nada amigável com o governo norte-coreano, liderado por Kim Jong-il (FIFIELD, 2020). As páginas internas, representadas pelas figuras 21 e 22, trazem uma profusão de insultos ao chefe do executivo dos EUA, reproduzindo em quadrinhos o discurso de ódio que podia ser observado na realidade de ambas as partes.

 

Considerações finais

Por fim, recorda-se que este trabalho objetivou traçar correlações de influências estética e temática entre os mangás japoneses do início do período das Grandes Guerras e a produção de manhwas norte-coreanos ao longo da segunda metade do último século. Na impossibilidade de esgotar o tema, mas sim proporcionando insumos para que futuras pesquisas sejam também desenvolvidas na área, acredita-se ser razoável a alegação de que a ocupação japonesa em território coreano, com sua respectiva sobreposição cultural nada amigável, deu o tom de muito do que seria produzido culturalmente na porção da península que optou pelo insulamento após a divisão das Coreias.

 

Conforme demonstrado pelas numerosas capas e páginas de manhwas presentes ao longo do texto, mesmo quando de obras norte-coreanas datadas de poucos anos atrás, ou seja, aquelas mais recentes que puderam ser obtidas dentro das condições dificultosas de disponibilização de material primário, possuem características de ilustração e acabamento de produção que remetem a um passado cada vez mais distante. Ao passo que essas características certamente dialogam com as dificuldades econômicas enfrentadas pelo pequeno país, em função dos sucessivos embargos a ele empregados pelo sistema internacional, não se pode negligenciar também que cultuar um passado virtuoso e de união da península coreana parece fazer parte de um contexto intencionado por essa incipiente indústria local.

 

Outro tema evidenciado pela análise do corpus aqui esmiuçado é a replicação através de histórias em quadrinhos da narrativa de um inimigo estrangeiro comum a toda a península. Conforme as relações políticas bilaterais de alto escalão entre os dois países indicam, há uma simpatia norte-coreana pela reunificação, ainda que haja enorme inflexibilidade quanto aos moldes desse processo. Já na porção sul, o regime democrático acaba proporcionando uma alternância de poder entre grupos políticos antagonistas que tem historicamente gerado falta de continuidade nas negociações. No entanto, ao menos um elemento cultural é significativamente compartilhado entre os dois lados da península: o rancor em relação ao Japão pelo que foi praticado durante o período de ocupação e até hoje gera desconforto diplomático ao país vizinho. Não à toa esses entes estrangeiros às Coreias são os principais vilões de uma cultura de quadrinhos pouco explorada que, por vezes, espelha de maneira inversa produções ocidentais, em termos de estereótipos e propagação ideológica.

 

Referências

Felipe Alberto é mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI/UERJ) como bolsista da CAPES. Pesquisador do Núcleo de Estudos Atores e Agendas de Política Externa (NEAAPE/IESP) e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS). E-mail: fvidal804@gmail.com

 

CALLARI, Victor. A Segunda Guerra Mundial e os quadrinhos em dois tempos: da propaganda política ao direito à memória. In: CALLARI, Victor; RODRIGUES, Márcio dos Santos (orgs.). História e quadrinhos: contribuições ao ensino e à pesquisa. Belo Horizonte: Letramento, 2021. p. 93-120.

 

CHINEN, Nobuyoshi. Linguagem mangá: conceitos básicos. São Paulo: Criativo, 2013.

 

EOM, Jeong-hui; KO, Im-hong. 아음파의 비밀 (The Frequency of A). Pyongyang: 금성 청년 출판사 (Kumsong Youth Publishing Company), 1994.

 

FENKL, Heinz Insu. Inside North Korea. Azalea: Journal of Korean Literature & Culture, v. 2, n. 1, p. 73-76, 2008.

 

FIFIELD, Anna. O grande sucessor: o destino divinamente perfeito do brilhante camarada Kim Jong-un. Tradução: Samantha Batista. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.

 

GRAVETT, Paul. Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos. Tradução: Ederli Fortunato. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006.

 

HARRIS, Mark Edward. Inside North Korea. San Francisco: Chronicle Books, 2007.

 

JESUS, José Manuel Duarte de. Coreia do Norte: a última dinastia Kim. Lisboa: Edições 70, 2018.

 

LENT, John A. The Comics Debates Internationally. In: HEER, Jeet; WORCESTER, Kent (orgs.). A Comics Studies Reader. Jackson: University Press of Mississippi, 2009. p. 69-76.

 

LUYTEN, Sonia Bibe. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, 2011.

 

MARQUES, Edmilson. Histórias em quadrinhos: valores e luta cultural. Curitiba: Appris, 2018.

 

MASON, Colin. Uma breve história da Ásia. Tradução: Caesar Souza. Petrópolis: Vozes, 2017.

 

PETERSEN, Martin. North Korean Graphic Novels: Seduction of the Innocent?. Londres: Routledge, 2018.

 

SANTORO, Maurício. Ditaduras Contemporâneas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

 

VISENTINI, Paulo G. Fagundes ; PEREIRA, Analúcia Danilevicz; MELCHIONNA, Helena Hoppen. A Revolução Coreana: o desconhecido socialismo Zuche. São Paulo: Editora Unesp, 2015.

3 comentários:

  1. Prezado Felipe,

    Antes de tudo, gostaria de expressar meus sinceros elogios pelo excelente trabalho que você realizou. Fiquei realmente satisfeito ao ver que neste ambiente encontram-se pessoas, assim como eu, que compartilham o interesse em explorar temas associados à República Popular Democrática da Coreia. Gostaria de destacar a sua valiosa contribuição, bem como a da pesquisadora Tamires Barbosa da Costa. Ela aborda um capítulo histórico de extrema relevância para a península coreana, a questão das mulheres de conforto coreanas no contexto da Coreia Popular. É ótimo que estamos unidos nesse empreendimento de pesquisa. Cada um de nós, em nossa área específica de estudo, está empenhado em enriquecer o entendimento sobre a realidade da Coreia Popular. No meu caso, concentro-me no estudo do cinema norte-coreano.

    Por falar nisso, adoraria receber a sua avaliação sobre o trabalho que estou apresentando no evento. Tenho certeza de que nossa troca de ideias será muito enriquecedora.

    Gostaria agora de abordar a minha pergunta: Conforme você mencionou, muitas histórias presentes nos manhwas norte-coreanos, especialmente em seus estágios iniciais, assumem papéis centrais como mitos fundadores para a identidade do povo coreano. Essa dinâmica parece se manifestar também nas manifestações artísticas como o teatro e o cinema da RPDC, especialmente nas óperas revolucionárias norte-coreanas. Algumas dessas óperas, como "Mar de Sangue" e "A Garota das Flores" (que inclusive estou analisando neste evento), foram posteriormente adaptadas para o meio cinematográfico. É inegável que tais obras continuam a ser uma fonte de inspiração para o engajamento contínuo da sociedade norte-coreana no contexto revolucionário. Você teria informações sobre a natureza desses mitos fundadores? Quais personagens específicos desempenham papéis centrais nesses mitos? Também gostaria de saber se o acervo que você utilizou em sua pesquisa está disponível para consulta.

    Agradeço antecipadamente por sua atenção e consideração.

    Atenciosamente,
    Gabriel da Silva Pinheiro

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    1. Caro Gabriel,

      Agradeço imensamente aos elogios por você proferidos, pois sabemos o quanto é dificultosa a aquisição de fontes primárias fidedignas dentro deste campo de estudo. Logo, você pode imaginar que não foi uma pesquisa das mais simples de desenvolver, apesar do meu enfoque ser na especialização em histórias em quadrinhos como uma ferramenta de linguagem, para além apenas do recorte norte-coreano. Dito isso, é com grande prazer que leio seu comentário interessado, uma vez que temas mais "nichados" tendem sempre a estar reféns de pequenas brechas introdutórias para chamar atenção do grande público.

      Respondendo diretamente a suas perguntas, imagino que o principal mito fundador ao qual se refira seja o de Dangun. Centrado no ideário do norte, Kim Il-sung definiu tal personagem não somente como uma lenda, mas como alguém que teria nascido há mais de 5 mil anos. Há um mausoléu erguido em homenagem a essa figura mítica no suposto local de sua morte, ainda que não haja comprovação inquestionável dessa narrativa intensificada por volta dos anos 90. Há também quem associe Dangun a algum indivíduo histórico que teria desenvolvido grande conexão com a agricultura e, consequentemente, possibilitado a estabilização daquela população na península coreana.

      Fora Dangun, que estaria mais conectado às origens da vida na península, os heróis mais comumente retratados nos manhwas que estudei são aqueles já inseridos no contexto do período dos Três Reinos e da Unificação. A idealização dessas figuras, em especial no conteúdo voltado ao público infanto-juvenil, me parece dialogar de maneira bastante próxima com o heroísmo militaresco que é assunto recorrente nos quadrinhos estadunidenses mainstream.

      Por fim, o acervo que utilizei foi retirado de fontes bastantes variadas, mas há um número elevado de itens catalogados no site da biblioteca da Universidade de Illinois: https://guides.library.illinois.edu/ias/korean/nkcollection

      Este link vai direto para o departamento voltado aos estudos norte-coreanos. Parte do material está disponível online, outra parte apenas catalogada e disponível presencialmente, mas há um acervo considerável.

      Sem dúvida lerei o seu trabalho, bem como o da Tamires, conforme você indicou, e farei minhas ponderações. Agradeço novamente pela atenção.

      Abraços,
      Felipe Vidal Benvenuto Alberto

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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