KIMONO: SÍMBOLOS DE UMA HISTÓRIA, por Rodrigo de Sousa Barreto


O seguinte texto se trata de um fragmento do Trabalho de Conclusão de Curso, Sonezaki, defendido pelo autor em 2022. O trabalho tratou do estudo histórico, de vestuário e direção artística de uma adaptação da peça do repertório japonês, Sonezaki Shinjū (曾根崎心中), ou Suicídio Duplo em Sonezaki, da autoria de Chikamatsu Monzaemon (1653 d.C. – 1725 d.C.), a partir de intertextualidades artísticas, literárias e históricas de diferentes geografias.

 

Nesta parcela do trabalho, temos a perspectiva do desenvolvimento do tradicional traje japonês em formato de “T” doravante um recorte da Corte e da classe militar até a confluência da efervescência citadina do período Edo (1603 d.C. – 1868 d.C.); período esse que determina, definitivamente, o que seria um quimono ainda na contemporaneidade.

 

O Futuro do Quimono: do Asuka ao Azuchi-Momoyama

Por quimono ou kimono (きもの/着物), abreviação de kirumono, temos literalmente “coisa de vestir” (YAMANAKA, 1982), onde ki () = "vestir" e mono () = “coisa”, ou ainda “objeto”. A história do quimono está intrinsecamente ligada as formas ancestrais de vestir no Japão, que parte de um passado de referências extra regionais até um desenvolvimento com viés militarista. Tratemos, inicialmente, do assunto por um viés da corte e classes militares governantes.

 

Desde antes do período Nara, ainda no período Asuka (552 d.C. – 646 d.C.), influências chinesas se instauraram no modo de vestir japonês (em destaque, os da corte) com suas amplas mangas, colarinhos de pé, calças largas e saias fluídas, graças as expedições japonesas à China que trouxeram fortes influências confucionistas e outros aspectos da cultura das dinastias Sui (581 d.C. – 618 d.C.) à T’ang (618 d.C. – 907 d.C.) (YAMANAKA, 1982).




Figura 1: Reconstruções de trajes do período Nara. Vemos o Imperador e uma dama de companhia. Fonte: Museu do Traje de Kyoto.

 

É no período seguinte, o Heian, dos séculos VIII até o XII, que o Japão começa a instaurar um modo de vestir mais original após romper relações com a dinastia T’ang, o que se alinha com o início de uma produção artística mais autoral por membros da corte imperial, onde a arte da corte Heian é vista como o primeiro grande apogeu da cultura japonesa (ANAWALT, 2011). Logo, as mulheres começam a utilizar verdadeiros “invólucros” amarrados ao corpo com seus trajes multicoloridos de doze camadas (os famigerados jūnihitoe) e os nobres homens da corte utilizavam, principalmente, longos robes chamados de sokutai. Com combinações de tonalidades exploradas a exaustão em sedas e brocados luxuosos, as vestes femininas viriam a ser de grande referência pictórica, pois é aqui que conceitos como o koromogae (lit. “troca de roupa sazonal”) ficam estabelecidos e passam a ser reverberados até a história contemporânea do Japão, porquê se seguiam estritos códigos de cores, estampas e motivos a serem usados em cada época específica do ano.





Figura 2: Reconstruções de trajes do período Heian. Vemos o Imperador e sua esposa, em um Sokutai de inverno e um Jūnihitoe de verão. Fonte: Museu do Traje de Kyoto.

 

Um estado embrionário do quimono como conhecemos hoje foi gerado ainda no período Heian, segundo Liza Dalby, com a utilização do kosode (lit. “pequenas mangas”, termo que se refere mais a pequena abertura para passagem do braço e mãos do que ao comprimento da manga, nesse caso), uma roupa de baixo para as mulheres da corte, sendo adotado como uma roupa padrão pelas plebeias, em composições de fibras naturais como rami e cânhamo; o que viria a influenciar o vestir dessas mulheres de samurais em estilos mais simplificados, com a utilização do kosode com o uchigi, uma jaqueta brocada presente nos trajes do Heian. Já ao fim do período Heian, a classe militar dos Samurai obteve seu epítome como os grandes redentores do poder, com o período Kamakura (1185 d.C. – 1333 d.C.) seguinte marcado por constantes embates provinciais, a ascensão dos senhores de terra e a fatídica impotência da classe de nobres vigente.

 

“O período Kamakura foi uma era de eficiência militar em vez do luxo cortês. Durante este tempo o decote quimonóide tornou-se padrão até mesmo para os homens. O vestuário público para homens da classe guerreira consistia em um conjunto de duas peças, com uma parte de cima quimonóide e calças curtas, juntos chamados hitatare. Na batalha, homens que lutavam vestiam uma intrincada armadura sobre o hitatare. Golas redondas, altas e mangas largas eram reservadas para cerimônias exaltadas, e finalmente saíram de moda mesmo nesse contexto, exceto entre os já sem poderes membros da corte e da nobreza.” (DALBY, 2001, p. 34)

 



Figura 3: Reconstruções de trajes do período Kamakura. Vemos um samurai em Hitatare e a esposa de um samurai com um vestir mais simplificado com kosode e uchigi. Fonte: Museu do Traje de Kyoto.

 

Já no período Muromachi, claramente, as esposas dos homens de mais alto escalão (já na classe dominante dos samurais) permaneceriam com ecos de estilo da nobreza remanescentes dos períodos anteriores, entretanto apenas em cerimônias muito específicas. No meio tempo, apenas seu kosode branco e suas hakamas (calças amplas e plissadas) vermelhas seriam suficientes para pequenas aparições em público, sempre com os rostos maquiados e cobertos. A não utilização das próprias hakamas passou a ser uma realidade definitiva, com o kosode se alongando até os pés de suas usuárias e tornando-se um traje definitivo, amarrado por uma versão inicial do obi (Lit. “faixa”, uma espécie de cinto, que varia de formato, utilizado para atar roupas tradicionais japonesas), juntamente ao katsugo (uma espécie de kosode sem gola) que era amarrado a cabeça, como um tipo de véu. O traje masculino continuaria com suas dignidades do período anterior, sem grandes mudanças. Na verdade, seu estilo repudiaria certas luxuosidades do período a serem ressaltados com o surgimento do teatro , da Cerimônia do Chá e o desenvolvimento de uma Alta Arquitetura (YAMANAKA, 1982), pois estes acreditavam que o comportamento exuberante da nobreza que os levara a sua queda.

 



Figura 4:  Reconstruções de trajes do período Muromachi. Vemos o samurai em um Suo (traje idêntico ao hitatare, apenas com mudanças em sua composição: enquanto o hitatare seria feito de seda, esse seria feito de materiais próximos ao linho (YAMANAKA, 1982)) e a esposa de um samurai com um kosode e katsugo. Fonte: Museu do Traje de Kyoto.

 

No período Azuchi-Momoyama (1573 d.C. – 1603 d.C.) o poder ainda se mantinha na classe militar. Mulheres de todas as classes já incorporavam o uso exclusivo do kosode, entretanto, as esposas dos daimyō mais poderosos passaram a utilizar o uchikake, a evolução do uchigi do período Kamakura, um traje estofado voltado, principalmente, para o inverno, em cerimônias especiais em razão de enriquecer seus visuais. Traje este que ainda nos dias atuais reverbera em certas ocasiões mais distintas. O traja masculino ainda não recebe grandes mudanças, com a diferença que na Figura 5 temos um suo com emblemas familiares (kamon) estampados, prática que desde o período anterior vinha sendo adotada crescentemente. A utilização desses emblemas também viria a repercutir fortemente no período seguinte, sobrevivendo até a atualidade. Durante esses períodos de amplo regime e embates militares entre diferentes famílias, há um grande desenvolvimento de armaduras e utensílios de batalha que também nos ajudam a entender um tanto mais da história de formação do Japão como um todo. Também há fortes influências culturais advindas de territórios ocidentais, como da Europa, influenciando crenças e maneiras de vestir de diversos samurais e senhores de terra. Contudo, tais questões não serão abordadas aqui.

 



Figura 5:  Reconstruções de trajes do período Azuchi-Momoyama. Vemos o samurai em um Suo e a esposa de um samurai com um kosode e um uchikake. Fonte: Museu do Traje de Kyoto.

 

O visual final que nos é apresentado acima na silhueta feminina, a priori, seria uma prévia dos formatos definitivos alcançados no período Edo. É no Edo que temos o formato do quimono que viria a sobreviver por mais de dois séculos a frente, sendo apenas percebido como “kimono” por seus compatriotas em uma perspectiva ocidental dada somente no período Meiji.

 

Os Quimonos de Edo

O período Edo fora um momento de virada em diversos pontos para a nação japonesa. Com Tokugawa Ieyasu (1543 d.C. – 1616 d.C.) tomando conta de todo o país em 1603, foi formado o xogunato Tokugawa. Inicia-se então um período isolacionista do Japão e a decorrente ascensão da classe mercadora, que viria a superar a influência samurai em diferentes âmbitos sociais.

 

A eclosão da arte Ukiyo-e (lit. “imagens do mundo flutuante”) se misturou ao viver desses citadinos. A produção desses mercadores e artesãos ajudou a explicitar e moldar a Estética do que os artistas do teatro Kabuki e as cortesãs usavam ou usariam, através de gravuras que ou colocavam seus espetáculos em vigência, onde seus atores apareciam com elaborados quimonos híbridos dos estilos de kosode dos camponeses e das mulheres da Classe Alta (YAMANAKA, 1982) ou serviam como verdadeiras fashion plates (ilustrações que demonstram as tendências de moda, conceito que se firma popularmente na Europa no século XIX como barômetros de Moda) com cortesãs como protagonistas, a seguir suas demonstrações de estilo. Dessa forma, o poder monetário cada vez mais saía das mãos da classe dos Samurai e partia para a dos mercadores e artesãos, mesmo que o poder militar ainda fosse hegemônico no Japão.

 

As inegáveis trocas de códigos vestimentares entre membros da corte e membros da plebe, já ocorridas em períodos anteriores, estabelecem-se aqui como um fator crucial, especialmente no caso onde as classes da base da sociedade ditam o que será ou não uma tendência de moda.

 



Figura 6: Reconstrução do traje de uma Prostituta do período Azuchi-Momoyama. Temos aqui um kosode amarrado por um Nagoya Obi, formato de obi mais comum ainda na atualidade.  Fonte: Museu do Traje de Kyoto.

 

Quanto a questão de uma Indústria de Moda, Terry Satsuki Milhaupt afirma que “o moderno sistema da moda de quimonos surgiu das fundações institucionais moldadas na virada do século XVII” (MILHAUPT, 2014). Há o desenvolvimento de técnicas exclusivas de tingimento por isolamento (ou técnica “yūzen”, que consiste na aplicação de tingimento dentro de contornos de pasta de arroz tingida ou não tingida) e estêncis, a propagação dos hinagatabon, livros de estampas e designs de kosode que funcionavam como barômetros do que se usar através das grandes massas, além da profusão de artesãos voltados a produção desses quimonos, onde os chōnin (ou “citadinos”) escolhiam (os mais ricos de suas próprias casas) os padrões e cores destes, donde todas as etapas de produção eram delegadas (da modelagem, variando-se os formatos de mangas, aos beneficiamentos da peça).

Figura 7: Esquema social de Edo. Abaixo dos Mercadores, haviam inúmeros grupos de excluídos.

 

Mesmo com a classe artística tendo maior parte da influência estética sobre seus compatriotas, a classe Samurai ainda possuía certa relevância. Prova disso é o furisode (lit. “mangas dançantes), um dos trajes mais simbólicos da história do Japão, ter se estabelecido a partir da utilização desses em situações informais. O furisode surge como uma roupa infantil utilizada por meninos e meninas, caracterizado por suas longas mangas que poderiam até mesmo arrastar no chão. Sempre muito coloridos e chamativos, há especulações que sua origem remonte a notória característica desses trajes em formato de “T” onde painéis quadrangulares são cortados e costurados, moldando-se a todos os tipos de corpos. Logo, a altura de uma manga adulta teria sido aplicada a altura dessas mangas infantis e o estilo teria permanecido. Algo que não seria de todo verdade, visto que no período Heian também temos longas mangas. De qualquer forma, os samurais foram os primeiros a adotar tal estilo em suas vestes, em proclamadas caminhadas com suas mangas dançantes e belamente estampadas. Após um tempo, o estilo foi tomado pelos atores, pelas cortesãs e, consequentemente, pelas citadinas da classe média. E mais algum tempo depois, o fato de possuir uma manga tão fluída caracterizaria uma natureza particularmente feminina, onde se acreditava que apenas uma mulher poderia atrair o espírito do homem que ela amava somente com o balançar de sua manga, mesmo de longe (YAMANAKA, 1982). Dessa forma, estabelece-se a situação onde apenas mulheres solteiras passam a usar o furisode.

 

Figura 8: Gojōzaka, da série Sessenta e nove Estações da Estrada do Kisokaidō. 1852. Gravura nishiki-e, tinta sobre papel. Utagawa Kuniyoshi. Na gravura vemos uma menina, com um par de okobo (variação das geta, geralmente utilizadas por crianças, em cerimônias de Chegada de Idade e aprendizes de gueixa) e um furisode, e um samurai, com um par de geta e espadas e um furisode, caminhando com guarda-chuvas. Fonte: Museu de Belas Artes de Boston, MA. N. de Acesso: 11.38972.19

 

“O furisode [...] em seu sentido mais amplo, o termo se refere a roupas com mangas que balançam porque apenas parte dela são costurados ao corpo, e, portanto, pode incluir katabira (veste sem forro, um quimono de fibra de cânhamo usado no verão), hitoe (veste sem forro, um quimono de seda também usado no verão) e uchikake (forrado, um quimono de seda com bainha amassada, usado sem uma faixa como um quimono externo em ocasiões formais). Enquanto kosode normalmente seria o termo guarda-chuva para se referir a todas essas roupas, furisode se refere especificamente a um quimono de seda forrado com um fino enchimento - mas não usado como uchikake - e mangas balançando, que no período Edo crescia cada vez mais.” (IWAO, Nagasaki in JACKSON, 2015, p. 10)

 

Outro tópico crucial no período Edo é o obi. Evoluções consideráveis do estilo Nagoya (visto na Figura 6) ocorrem, com o alargar da faixa e elaborados bordados e pinturas brocado comparecendo na formação de seu visual. Atualmente, existem cerca de cinco variações de obi compartilhadas entre homens e mulheres, com distinção em sua largura e construção visual. Para as chōnin, temos alguns outros itens essenciais na formação do visual, como as tabi, meias tradicionais japonesas que remontam ao século XV, as sandálias zōri (planas, feitas de fibras naturais como madeira, couro e etc.) ou as geta (dentadas, também feitas de fibras naturais) e uma variedade de acessórios para o cabelo (chamados kanzashi). Estabelece-se também neste período algumas questões essenciais de utilização sazonal do vestuário diretamente herdadas do período Heian, onde a influência de suas múltiplas camadas e cores permaneceria presente, de certa maneira, nas camadas menos numerosas de Edo. Tais questões evoluíram com o passar dos anos até a atualidade e podem ser conferidas no esquema abaixo:

 

Figura 9: Esquema de sazonalidade do vestuário do período Edo até atualmente. Apresentação Quimono: Símbolos no Feminino, 2021. Fonte: Acervo do autor.

 

Quanto ao traje masculino, poucas alterações ocorreram. A vida masculina ocorria de maneira vividamente citadina, o que deixava pouco espaço para expressão individual através do vestir vide as obrigações sociais dos homens. Mas aos mais ricos, aplicava-se ainda a possibilidade de grandes extravagâncias (sobretudo nas roupas de baixo e partes internas das roupas). Ainda assim, o estilo masculino era demarcado por tons mais neutros, mesmo que o esquema de sazonalidade acima pudesse ser aplicado em certo nível ao seu vestuário. Na verdade, a maior demonstração de prosperidade que um homem poderia dar através do vestir seria dada por sua esposa.

 

“[...] Um rico comerciante chamado Rokubei... reunidos com muitos outros cidadãos na rua para ver o xogum procissão ao Templo Kan'ei. O xogum notou Rokubei na multidão, exibindo sua riqueza nas magníficas vestimentas das mulheres de sua casa. Por tal extravagância inapropriada de um citadino, suas casas e terras foram confiscadas e ele foi banido.” (JACKSON, 2015, p. 27)

 

A história do Japão é demarcada por constantes cisões sociais, e a indumentária representava um grande papel nessa questão. A extravagância vestimentar dos citadinos chamava a atenção de seus governantes como um todo, o que levou a promulgação de constantes leis suntuárias que definiam quem poderia usar o que. As punições não eram nem um pouco menos severas do que a da citação acima. Limitações a tipos de bordados e fios, tingimentos e outros luxos eram muito específicas. Os citadinos encontraram diversas formas de “burlar” tais leis sem de fato as burlar: ao utilizar tingimento por estêncil que mimetizava técnicas como o shibori (técnica manual de tingimento tie-dye por amarração e isolamento de áreas) e bordados em seus kosode ou deixar certas belezas escondidas no forro de seus haori (jaqueta de tamanho médio, utilizada em razão de proteger o quimono de poeira e outras avarias), uma bela pintura em um recorte da mais fina seda, por exemplo, em um claro desenvolvimento da estética que viria a ser conhecida como Iki, um conceito estético japonês que prega por um ideal de sofisticação natural, em um sentido que remonta a um visual “chique”, “elegante” e “discreto”, elemento que vemos ser empregado na Figura 10.

 

Figura 10: Haori virado do avesso, detalhe do forro, em um ótimo exemplo de Iki. Início do século XX. 114.3 cm x 131,1 cm. Fonte: Museu Metropolitano, NY. N. de Acesso: 1983.564

 

Do outro lado, mais especificamente nos distritos dos prazeres, do lado dos profissionais do teatro e da prostituição, tais leis suntuárias eram abolidas. Como uma espécie de “terreno neutro”, bairros de ação extralegal como o Yoshiwara na cidade de Edo, onde todos poderiam usufruir dos juízos efêmeros do ukiyo-e como estilo de vida, mesmo os contratantes de serviços poderiam andar da forma que lhes apetecesse. A extravagância no teatro Kabuki se mantinha, com trocas de figurinos que beiravam a exaustão e motivos muito expressivos, assim como a avassaladora profusão pictórica de cores dos quimonos das cortesãs, muitos desenvolvidos pelos maiores artistas e pintores da época, como o lendário Ogata Kōrin (1658 d.C. – 1716 d.C.).

 

Deste modo, vestir o quimono se consagrou como uma arte clássica com o decorrer dos anos, arte esta denominada Kitsuke (着付け). Com a chegada de uma modernidade visual e a mesclagem da tradição às formas de cultura mais recentes, podemos frisar a importância do período Edo a níveis artísticos e culturais e sua reverberação na atualidade.

 

Referências

Rodrigo de Sousa Barreto é mestrando em Design pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e co-coordenador do Grupo de Estudos em Arte Asiática (GEAA - UFRJ) [barreto_rodrigo@yahoo.com.br].

 

DALBY, Liza. Kimono: Fashioning Culture. Londres: University of Washington Press, Seattle and London, 1993.

JACKSON, Anna. Kimono: The Art and Evolution of Japanese Fashion. Londres: Thames & Hudson, 2015.

MILHAUPT, Terry Satsuki. Kimono: A Modern History. Londres: Reaktion Books, 2014.

YAMANAKA, Norio. The Book of Kimono. Tokyo, New York and San Francisco: Kodansha International, 1982. 



12 comentários:

  1. Olá, os trajes historicamente descritos pelo autor é parte relevante da história cultural japonesa. Gostaria de saber mais sobre às leis santuárias e as punições.
    Parabéns pela pesquisa, Elaine Alves da Silva

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    1. Olá, Elaine! Muito obrigado pela atenção ao texto... Sobre essa questão das leis suntuárias, deixarei dois artigos em domínio público que você encontra facilmente e considero boas referências mais detalhadas sobre o assunto... vale também procurar as referências bibliográficas presentes nos artigos, que possuem fontes mais aprofundadas ainda (maior parte em inglês, nesse caso). Os artigos seriam:
      - DO QUIMONO À CASACA: TRANSFORMAÇÕES E MARCAS
      IDENTITÁRIAS NO INDUMENTÁRIO JAPONÊS, por Jaqueline de Sá Ribeiro e Fabiano Vilaça dos Santos
      - LEIS SUNTUÁRIAS NO JAPÃO: O PAPEL DA MODA NA MANUTENÇÃO DO REGIME TOKUGAWA E DA SOCIEDADE DO PERÍODO EDO, por Rafael Felipe dos Santos e Alfeu Sparemberger
      Acredito que neles você possa se inteirar de forma mais completa sobre essa questão, que realmente é importantíssima e acarretaria na escrita de um outro texto. Mais uma vez obrigado!
      Rodrigo de Sousa Barreto

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  2. Olá Rodrigo, parabenizo-o pelo texto, desde já. Lendo-o entendi que se trata de um fragmento de TCC, correto? Se sim, imagino que muitas informações foram suprimidas, obviamente, pelos limites do evento. Independente disso, dada a urbanização, ocidentalização econômica e cultural do oriente, e tantos outros hibridismos que vem transformando parcelas culturais no mundo, minha indagação é sobre "qual o impacto desse vestuário, nos dias de hoje?

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    1. Olá, Jander! Muito obrigado pela leitura e comentário.
      Respondendo a primeira pergunta: sim. O capítulo dentro do meu TCC serviu como uma base para desdobramentos posteriores dentro do texto: como um TCC em artes cênicas (figurino), tratei da adaptação de uma peça do teatro Bunraku e escrevi um capítulo mais enxuto, quase um breve histórico sobre o quimono, que é o texto que você acaba de ler (com algumas boas alterações, sim). Mas, de fato, as questões que surgiram com o fazer dos figurinos dos bonecos ficaram totalmente de fora.

      Sobre o impacto desse vestuário nos dias de hoje, poderíamos falar sobre duas visões mais específicas:
      Pelo olhar ocidental, podemos citar as criações de Yves Saint Laurent, nos anos 90, a partir de inspirações na silhueta do quimono, e mais uma míriade de designers de moda que vêm adaptando o formato do quimono em seus olhares artísticos pessoais até os dias atuais (muitas vezes por uma ótica orientalista, mas isso seria um outro assunto). Isso se reflete também no figurino de cinema (a citar o filme "Memórias de Uma Gueixa" (2005), de Rob Marshall) ou de teatro ("Madama Butterfly" (2023), da Royal Opera House), e em uma infinidade de outras mídias.
      Já em sua cultura mãe, no Japão, o vestuário ainda vive em diversos âmbitos de manisfetação cultural, como o teatro, cinema, mangás, animações (talvez o anime Demon Slayer (2019-atualmente) seja um bom exemplo a investigar, vide a indumentária estilizada aos moldes de kosodes e haoris que os personagens utilizam, vide também sua presença eminente em eventos de cosplay e cultura pop na América ou na Ásia, por exemplo, uma verdadeira transformação do "vestir o quimono") e por fim: na própria moda. As silhuetas e senso de sobreposições ainda vivem na indumentária nipônica, além de motivos e cores, sejam nas estéticas 'harajuku', 'lolita' ou no mais básico 'streetwear'.

      O texto das colegas Beatriz Carazai Pereira e Cyntia Simioni França, que também está fazendo parte da mesa Extremo Oriente dessa edição, toca no tópico da Moda e acredito que ele possa ser de grande valia para você! Mais uma vez, obrigado!
      Rodrigo de Sousa Barreto

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  3. Olá, Rodrigo!
    Muito interessante seu texto, li com muito entusiasmo por estar descobrindo um panorama que por vezes parece até antecipar processos semelhantes que ocorreriam na Europa após a Idade Média. Parabéns pela pesquisa! Fiquei curiosa para saber: durante sua investigação, você localizou alguma coisa que teria influenciado no vestuário para práticas esportivas/artes marciais? Seriam também oriundos de estilos utilizados pelos samurais?

    Um abraço,
    Natália de Noronha Santucci

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    1. Olá, Natália! Obrigado pela atenção ao texto, fico muito feliz de você tê-lo aproveitado...
      Sobre a influência na indumentária de práticas esportivas: poderia citar em primeiro lugar o Kyūdō, ou tiro com arco. Existem, principalmente no âmbito feminino, mas não exclusivo dele, os protetores de busto que podem ter sua origem atrelada às armaduras dos samaruais. É mais utilizado por mulheres graças a protuberância do busto feminino em comparação ao masculino, mas existem casos de homens que os utilizem (por uma questão de roupas não adequadas para treino, protuberância do próprio busto e etc.).
      Poderíamos também citar o Kendo, ou esgrima, também. Basicamente, todo o uniforme do esporte é remanescente da estética/construção das armaduras samurai, mas com algumas alterações significantes.
      E para além disso tudo, existe a confluência de diversos estilos de vestir inspirando uns aos outros, diferentes âmbitos... não citamos questões dos religiosos, camponeses e dos próprios militares (em ação, nesse caso), mas é sempre bom ressaltar a conexão para lá de viva entre todos esses meios.

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  4. Maravilhoso teu texto!!! E que riqueza a história do quimono! Vejo como até nos dias de hoje ele serve como referência na moda. Nos dias atuais, como é a utilização do quimono? Ele é utilizado em algum evento comemorativo ou não tem uma tradição específica onde o vestuário é muito presente?

    Suelen Bonete de Carvalho
    suelenbc@edu.unirio.br

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    1. Olá, Suelen! Obrigado pela leitura e o comentário!
      Para não entrarmos em um campo muito generalizado, coloquemos a utilização do "quimono" como "ainda presente" na sociedade nipônica. Ele se destaca muito mais em meios artístico-culturais, como teatro, cinema e festas culturais, e ainda é utilizado e retomado por pessoas com o desejo de valorização histórica/socio-cultural. Como você mesma disse, ele ainda hoje serve de referência na moda e os próprios designer japoneses sempre estão a repensar seu significado e construção.
      Muitos festivais mais típicos do Japão ainda fervem com a utilização de diversos tipos de quimono: yukatas (para homens e mulheres) nos festivais de verão, furisodes muito coloridos para as meninas no Hinamatsuri, algumas noivas ainda estão casando com uchikakes de gerações familiares.... Então podemos afirmar que há um panorama bem amplo para sua utilização.
      Rodrigo de Sousa Barreto

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  5. Parabéns pelo texto. Muito rico em detalhes que abordam a história do kimono e suas respresentações e relações de gênero articuladas ao contexto histórico. Gostaria de saber sobre a utilização de kimonos hoje no Japão? Se é restrito a uma idade e classe social? Como os mais jovens vêem o uso do kimono hoje?

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    1. Olá, Kalna! Muito obrigado pela leitura e seu comentário!
      No comentário acima, o da Suelen, acredito que eu tenha respondido uma parte da sua pergunta. Vou responder o que vejo que está faltando, ok?
      Sobre restrições: o quimono é para todos. Dentro de suas diferentes categorias, existem algumas limitações de idade e gênero sim. Classe social eu já não diria, nos dias atuais. Mas existe uma relação de trajes cerimoniais e formais (haregi) e trajes mais casuais (fudangi).
      No caso do furisode, por exemplo, que se tornou um traje utilizado exclusivamente por mulheres solteiras e jovens vemos a limitação de idade. Eu poderia ressaltar "mulher solteira", mas existem vendedoras que nem mesmo vendem furisodes para mulheres solteiras que aparentem serem mais velhas (só para se ter uma noção).
      Em alguns lugares/ocasiões mais tradicionais, como a cerimônia do chá, a utilização do iromuji por mulheres é quase que obrigatória (para não dar um veridito final, pois hoje algumas dessasregras podem variar de lugar para lugar).
      Ficando somente nesses dois exemplos (eu poderia falar alguns outros) podemos afirmar que existem uma infinidade de pequenos códigos para a formação do "visual correto" quando falamos de utilizar o quimono, ainda na contemporaneidade. Muitos dos mais péritos na arte de "vestir o quimono" ainda buscam manter essas regularidades, e que bom!
      Eu não poderia dar um veredito da visão dos jovens sobre o quimono hoje, mas, como um símbolo muito tradicional, ele continua a ser reutilizado e revisitado em diferentes formatos e mídias. Não é tão comum que jovens utilizem o quimono nas situações mais práticas do dia a dia, mas sua utilização ainda existe. Desse modo, os detalhes (que para nós podem passar despercebidos as vezes) de cores, motivos, modelagens e estampas ainda vivem na cultura nipônica contemporânea.
      Rodrigo de Sousa Barreto

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  6. MARCOS JOSÉ SOARES DE SOUSA10 de agosto de 2023 às 21:12

    Parabéns pelo texto, escrita muito interessante e envolvente. minha pergunta se refere ao uso do quimono pelos camponeses, como os mesmos no seu trabalho pesado no campo adaptaram essa vestimenta??

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    1. Obrigado pela atenção ao texto, Marcos!
      Quanto a questão dos camponeses: sua indumentária engloba um mundo (quase) completamente diferente do mundo citadino. As tais leis suntuárias se estendiam a eles, de maneira bastante restrita; logo, materiais como a seda não poderiam ser utilizados na produção de suas vestes, por exemplo. Alguns nem ao menos poderiam consumir o arroz que consumiam ou utilziar espelhos (sim, esses leis se estendiam a todos os limites do 'consumo').
      Existia também uma certa simplificação dos formatos, elementos mais curtos. A classificação fudangi (roupas informais) se aplica bem dentre a classe, e acredito que valha uma pesquisa visual para você entender melhor de que tipo de "quimonos" falamos. Temos também silhuetas que saem do kosode, explorando calças e blusas... Vai depender muito do trabalho realizado por cada camponês.
      Rodrigo de Sousa Barreto

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