IMAGENS NO CORPO: UM ENSAIO SOBRE MEMÓRIA, EXPERIÊNCIA E TESTEMUNHO DAS “MULHERES DE CONFORTO” NORTE COREANAS, por Tamires Barbosa da Costa


Introdução

Este ensaio tem como objetivo principal fazer uma análise da imagética do testemunho e também trabalhar com a imagem no corpo como forma de memória de um passado ainda não superado por sua vítima. Isso será observado a partir do vídeo “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016) (tradução do autor).

 

Tal reportagem foi transmitida por uma plataforma de jornalismo investigativo online chamada “Newstapa”, onde o fotojornalista, Takashi Ito, foi entrevistado e forneceu algumas das entrevistas que ele próprio realizou com ex-escravizadas sexuais do Império Japonês na Coreia do Norte, também conhecidas pejorativamente como “Mulheres de Conforto”. Percebe-se que esta abordagem difere do conceito de uma imagem enquadrada numa fotografia ou filmagem. Por mais que esteja sendo analisada a partir de um vídeo, o ponto central da discussão é poder refletir o silêncio e a memória das experiências de violência destas senhoras sobreviventes a partir de suas feridas e marcas físicas.

 

É claro que a presença da edição tem grande influência na narrativa contada pela plataforma jornalística, porém, é importante explicitar novamente, que o foco do debate não é fazer uma análise técnica da produção do vídeo, mas sim um recorte mais específico das violências físicas sofridas pelas testemunhas, além da criação do imaginário de um relato que se transforma em imagem partindo do não visto. Portanto, o ensaio será dividido em uma introdução sobre história do tempo presente, contextualização geral sobre o imperialismo japonês e as “Mulheres de Conforto”, sendo seguido de uma breve apresentação tanto da plataforma jornalística que publicou a matéria, quanto do fotojornalista entrevistado no vídeo, logo após, se inicia propriamente a análise das imagens com discussões sobre conceitos de memória e testemunho, finalizando, assim, com as reflexões finais do trabalho.

 

Conexão com a história do tempo presente

Antes que se possa iniciar a contextualização sobre o imperialismo japonês e as “Mulheres de Conforto”, percebe-se que é importante discutir brevemente a questão da relação do assunto com a história do tempo presente. Dessa forma, de acordo com Delgado e Ferreira em “História do tempo presente e ensino de História” (2013), “a história do tempo presente possui balizas móveis, que se deslocam conforme o desaparecimento progressivo de testemunhas.” (2013, p. 22), nesse sentido, é possível observar que a História está sempre sofrendo alterações ao longo do tempo, se reescrevendo constantemente e se atualizando tanto com a aparição de novos acontecimentos quanto de novas perspectivas historiográficas. Assim, pode-se dizer que “a história do tempo presente é feita de moradas provisórias” (Bédarida, 2002, p. 221), pois se refere a um passado atual. Um fator importante para esse ramo da historiografia é a presença de sujeitos históricos ainda vivos e ativos, que podem contar sobre suas experiências vividas de forma mais profunda e pessoal. Para o historiador, é uma vantagem e ao mesmo tempo um desafio poder lidar e estar em contato com testemunhas ainda vivas, visto que, por mais que possa auxiliar na compreensão do acontecimento de forma mais íntima, pode também ir contra os documentos ditos oficiais, criando, assim, uma possível contradição que o historiador terá que mediar.

 

Imperialismo japonês e “Mulheres de Conforto”

Para que se possa compreender o que ocorreu e quem foram as “Mulheres de Conforto”, é necessário entender o contexto político e social que ocorria naquele momento. Nesse período o Japão exercia um controle imperialista nos territórios estabelecidos no Pacífico, que se iniciou com a Restauração Meiji (1868-1912). Essa restauração trouxe mudanças políticas estruturais para o país, como maior poder nas mãos do imperador e transição do feudalismo para os tempos modernos (GORDON, 2013). A partir disso, o que levou o Japão a ocupar outros territórios foi a ambição de disputar com as influências tanto do ocidente, quanto da China na Ásia. Esse período foi extremamente expansionista e militarista, marcado por violência e seu discurso supremacista japonês (YOSHIDA, 2020). Dessa forma, compreende-se o porquê do país ser conhecido até hoje por seus crimes de guerra.

 

Durante os conflitos, os japoneses surgiram com um sistema que serviria para confortá-los e distraí-los durante os duros e rigorosos momentos de guerra, as “Mulheres de Conforto”. Elas, basicamente, eram meninas feitas de escravas sexuais por volta de 12 a 25 anos que se estabeleciam em locais chamados de Estações de Conforto comandados pelo governo e soldados japoneses. Esse sistema se mantinha com as principais justificativas de diminuir os casos de estupros nos locais ocupados, controlar o contágio de doenças sexualmente transmissíveis e evitar espionagem, ou seja, de acordo com o historiador japonês Yoshimi Yoshiaki em seu livro “Comfort Women” (2000), eles as definiam como uma necessidade do exército japonês para se manter em guerra e suprir suas vontades pessoais.

 

Com a proibição do uso de bordéis locais, o domínio de meninas virgens e um controle da higiene e atendimento médico tanto aos soldados quanto às jovens, fizeram ser possível que essas estações de conforto se expandissem em larga escala pelo leste asiático, como será mostrado no mapa abaixo. Todos esses argumentos foram contestados por Yoshiaki em seu livro através de uma detalhada busca em arquivos japoneses de documentos que provassem a existência dessas mulheres como escravizadas sexuais, assim, também explicando como se deu toda essa sistematização. Após o fim do Império japonês, juntamente com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, essas meninas passaram a viver nas sombras da sociedade por quase 50 anos, por vergonha e medo de julgamentos de uma sociedade que acreditava serem prostitutas. O assunto só voltou a surgir em 1991 quando Kim Hak-Sun (김학순), a primeira sobrevivente a testemunhar sobre o ocorrido, chamou a atenção do mundo e de outras vítimas sobre o assunto, levando-as, da mesma maneira, a se expor quanto a essa questão (YOSHIAKI, 2000).

 

Figura 1: Mapa da estimativa das estações de conforto no Império Japonês

Fonte: Women’s Active Museum on War and Peace

 

Sobre o vídeo analisado

O vídeo em que os relatos foram analisados é uma produção da “Newstapa”, uma organização de jornalistas investigativos sem fins lucrativos e não partidária que têm como missão, segundo o próprio site, destruir as fake news. Ela teve início em 2012, com um grupo de jornalistas demitidos de grandes emissoras durante o governo do ex-presidente sul-coreano, Lee Myung-Bak (이명박), visto que seu mandato foi marcado por medidas autoritárias, refletindo, também, na imprensa. Dessa forma, a reportagem faz parte de uma série de documentários chamada “Testemunhas” e este é o episódio 47 intitulado “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte”.

 

Os repórteres da Newstapa entrevistaram o fotojornalista japonês Takashi Ito em sua própria casa e ele mostra alguns dos relatos das “Mulheres de Conforto" realizados em suas visitas à Coreia do Norte. De acodo com sua entrevista para o “Instituto de Pesquisa em Escravidão Sexual Militar Japonesa” (tradução do autor) em 2019, Ito diz que costumava cobrir a situação dos coreanos afetados pela bomba atômica no Japão e com o andar das investigações, descobriu o caso da violência sexual cometida pelos soldados japoneses desde 1932 até o fim da Guerra do Pacífico-Asiática (1941-1945). Desde então, passou a visitar a Coreia do Sul para entrevistar essas vítimas e a partir de 1992 também passou a ir à Coreia do Norte. Ele disponibilizou oito testemunhos em que quatro foram transmitidos na primeira parte e o restante na segunda parte, no episódio 48.

 

Por mais que as edições do vídeo não sejam foco deste trabalho, é importante separar um espaço para que se fale das influências que elas têm no sentimento e compreensão que o telespectador terá sobre o que está sendo assistido. Pode-se notar que os relatos não foram distribuídos de forma cronológica, talvez para deixar por último o que seria mais tocante e assim criar uma narrativa que se enquadrasse melhor com a proposta da plataforma. Outro ponto é a existência de animações para ilustrar o que está sendo contado, presença de trilha sonora, juntamente com a voz da narradora, tendo forte poder de persuasão no entendimento e emoção da reportagem.

 

Memória e os registros no corpo

Com isso, após assistir aos testemunhos mostrados no vídeo, consegue-se perceber que as vítimas buscam, através de seus relatos, sobreviver a essas memórias subterrâneas que ficaram escondidas por tanto tempo e que de maneira quase imperceptível se afloram em momentos de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados. Quando essas memórias atingem o espaço público, as reivindicações se juntam à disputa de memórias. “No momento em que as testemunhas oculares sabem que vão desaparecer em breve, elas querem inscrever suas lembranças contra o esquecimento” (Pollak, 1989, p. 7). Por isso, esse longo silêncio se transforma em resistência, pois viver com essa dor e suportá-la todo esse tempo é uma forma de resistir aos discursos oficiais.

 

Segue abaixo imagens das marcas deixadas pelos militares japoneses no corpo da ex-escravizada sexual norte coreana Jung Ok-Sun (정옥순) em sua entrevista feita em 1998 por Takashi Ito. Em seu relato, descreve ter sido levada aos 14 anos de idade em 1933 pelos militares. Ela os acompanhou forçadamente do norte da Coreia do Norte para o Norte da Coreia do Sul, depois para Taiwan e por fim para a China. Seu testemunho contém histórias tão impactantes que podem parecer inverossímeis, tirando a credibilidade do relato. Isso faz lembrar de uma passagem do livro “É isto um homem” (2013) do escritor Primo Levi, visto que em certo momento fala sobre a falta de referencial para explicar violências tão extremas em que estava vivenciando no campo de concentração em Auschwitz e também da dificuldade de fazer os outros entenderem essa realidade sem que duvidassem. Assim, vê-se em Ok-Sun uma riqueza de detalhes de uma dor que não passou.

 

Figura 2: Ex mulher de conforto mostra marcas com tinta em seu colo feitas por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

Figura 3: Ex mulher de conforto mostra marcas com tinta feitas por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

Figura 4: Ex mulher de conforto mostra marcas com tinta feitas por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

Figura 5: Ex mulher de conforto mostra marcas com tinta feitas por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

O trecho a seguir é uma das diversas demonstrações da permanência da violência até os dias de hoje. “Fui espancada com uma barra horizontal e, quando caí, fui espancada na cabeça. O espancamento continuou, mesmo com o sangue escorrendo pelo meu rosto. Mesmo 50 anos depois, inúmeras cicatrizes ainda permanecem em minha cabeça. Perdi um olho neste dia.” (Jung Ok Sun, Ryoedo, Coreia do Norte). Esse relato confirma a violência extrema dos soldados japoneses e a dificuldade de viver com essas marcas sem poder esquecer do que de fato aconteceu no passado, pois sabe-se que já é difícil conviver com a vergonha e culpa do ocorrido e isso se intensifica ainda mais com marcas que nunca desaparecerão de seu corpo. Tudo isso cria um ambiente propício para se esconderem dos olhares de julgamento de uma sociedade cheia de estigmas como a coreana.

 

A imagem a seguir é de Ree Gyung-Seng (리경생), entrevistada em 1992. Ela foi a primeira a se abrir sobre o assunto na Coreia do Norte. Em seu relato diz ter sido levada aos 12 anos de idade. Sua cicatriz é resultado da retirada à força de seu bebê de dentro de sua própria barriga pelos militares japoneses. Não era permitido engravidar nas estações de conforto e por isso, foi feito um corte no meio de sua barriga com uma faca antes que o bebê nascesse. Um fato importante a ser lembrado e que não se encontra apenas no testemunho dela, mas também na de diversas outras, é o fato da incompreensão da violência, uma vez que eram novas demais para entender a dimensão das agressões que sofriam em seu início.

 

Figura 6: Ex mulher de conforto mostra cicatriz em sua barriga feita por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

“Para poder relatar seus sofrimentos, uma pessoa precisa antes de mais nada encontrar uma escuta” (POLLAK, 1989, p. 6). Tal citação, no contexto do vídeo analisado, traz certa ironia, posto que após esperarem tanto tempo para que suas histórias fossem escutadas, o entrevistador disposto a escutá-las naquele momento foi um japonês, justamente pertencente à nação que as torturou e as causou tantas consequências. O fato de sua nacionalidade ser a responsável pela dor das testemunhas que entrevista, influencia na forma como elas se expressam e se dirigem a ele. Algumas se referem a ele como se estivessem o igualando aos soldados que as abusaram, assim, consequentemente, expressando-se de forma mais inconformada e enfurecida.

 

A penúltima entrevista mostrada é de Kim Young-Suk (김영숙), ela foi levada para a China e ao descrever o que viveu tirou suas roupas sem hesitar, num ato de necessidade de mostrar o que foi feito em seu corpo. Ao tirar praticamente toda sua roupa aponta para marcas em suas costas, colo e até mesmo em suas nádegas, mostrando as facadas realizadas em um de seus momentos de resistência. Seus joelhos também foram feridos numa tentativa de quebrá-los. Ela conta que, em sua chegada, um dos soldados disse “vamos brincar com essa menina bonita”, tendo em vista que ela, da mesma forma que as outras, também foi levada para as estações de conforto muito nova, dessa forma, não conseguia interpretar o real significado desse “brincar” pela sua ingenuidade.

 

Figura 7: Ex mulher de conforto mostra marcas de facadas em suas costas feitas por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

Figura 8: Ex mulher de conforto mostra cicatrizes nos joelhos feita por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

Por último, Ree Sang-Ok (리상옥), que chegou a estação de conforto aos 17 anos com duas amigas, disse que quando lembra dessas memórias sangue sai de sua garganta e se treme ao pensar. Diz também, enquanto chorava, que viveu sozinha por conta do trauma e não teve filhos, dessa forma, percebe-se que claramente sofreu muito por conta disso. Sang-Ok foi a que se referiu de forma mais agressiva a Ito e por isso seu relato foi o mais emotivo. Suas cicatrizes no joelho surgiram quando militares japoneses tentaram quebrá-lo em um dos momentos que resistiu a seus abusos.

 

Figura 9: Ex mulher de conforto mostra cicatriz em seu joelho feita por militares japoneses. Fonte: “Newstapa testemunhas Ep. 47 “Triste retorno ao lar parte 1 ‘testemunho da avó do norte’”” (2016)

 

Reflexões finais

Portanto, vê-se que no livro “Goya à sombra das luzes” (2014) de Tzvetan Todorov, o autor questiona o motivo de Goya produzir gravuras tão explícitas e brutais sobre a Guerra de Independência Espanhola. A resposta que ele chega é “Porque não podia agir de outra forma. O fato de ter vivido e observado essa experiência faz dele uma testemunha preciosa.” (TODOROV, 2014, p.18). Ou seja, o artista encarava a sua arte como uma forma de responsabilidade em representar aqueles que não podiam estar ali para contar por si mesmos.

 

Tal justificativa se enquadra com a questão das “Mulheres de Conforto”, dado que relatar as dificuldades e violências que sofreram tanto dos japoneses quanto da pressão social é uma forma de se solidarizar com as vítimas que não puderam ser ouvidas, as que não tiveram a coragem de falar ou que nunca terão por medo ou vergonha. O grito de aflição sai como desespero de não serem esquecidas e como missão de que isso não ocorra novamente.

 

Assim, conclui-se podendo perceber que a partir do imaginário do não visível e das impressões de memórias no corpo, é possível compreender a dimensão que certas violências, nesse caso, físicas, implicam na memória coletiva de uma sociedade que não consegue superar tais acontecimentos. É importante deixar destacado que a memória não está viva apenas na construção de monumentos e museus, mas também nos próprios indivíduos que sobreviveram às violências e estão ativos para contar de forma íntima e pessoal suas experiências tão únicas e particulares.

 

Referências

Tamires Barbosa é graduanda do 7° período de Licenciatura em História na UFRJ.

 

BÉDARIDA, François. Tempo presente e presença da história. In: FERREIRA, Marieta de M.; AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. 5.ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002.

 

DELGADO, Lucilia; FERREIRA, Marieta. História do tempo presente e o ensino de História. Revista História Hoje, v. 2, n. 4, p.19-34, 2013.

 

GORDON, Andrew. A Modern History of Japan: From Tokugawa Times to the Present. USA: Oxford University Press, 2013, p. 115-137.

 

KYEOL: Research Institute on Japanese Military Sexual Slavery. Website. [S. l.]: Ahn Hae-ryong, 2019. Disponível em: https://kyeol.kr/en/node/160. Acesso em: 27 jul. 2023.

LEVI, Primo. É isto um homem?. [S. l.]: Rocco, 2013.

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.

 

TODOROV, Tzvetan. Os estragos da guerra. in: Goya à sombra das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 125-143.

 

WOMEN’S Active Museum on War and Peace. [S. l.], 2005. Disponível em: https://wam-peace.org/en/. Acesso em: 11 jul. 2023.

 

YOSHIAKI, Yoshimi. Comfort Women: sexual slavery in the japanese military during world war II. New York: Columbia University Press, 2000.

 

YOSHIDA, Takashi. Violence and the Japanese Empire. The Cambridge World History of Violence, Cambridge University Press, p. 326-344, 2020. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/books/abs/cambridge-world-history-of-violence/violence-and-the-japanese-empire/A053FAAE0F7F90113551D0F70F917709. Acesso em: 27 jul. 2023.

 

뉴스타파 목격자들 47슬픈 귀향 1북녘 할머니의 증언’”'. Newstapa: Youtube, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=azQj4ktgA0k&list=PLtZnhRoQo2PwsvhsZN7NfEuNxIKQk309b. Acesso em: 14 jul. 2023. 

7 comentários:

  1. Prezada Tamires,

    Antes de tudo, gostaria de expressar meus sinceros elogios pelo excelente trabalho que você realizou. Sua análise aprofundada e sensível a partir dos sofrimentos das mulheres de conforto durante um dos capítulos mais tenebrosos da história da península coreana me deixou completamente em prantos. Assim como falei no texto do Felipe Alberto, fiquei realmente satisfeito ao perceber que neste ambiente encontram-se pessoas, assim como eu, que compartilham o interesse em explorar temas associados à República Popular Democrática da Coreia. No caso a sua maravilhosa contribuição, e a do Felipe, que aborda questões de influências na consolidação da linguagem das histórias em quadrinhos norte-coreanas. É ótimo ver que estamos unidos nesse empreendimento de pesquisa. Cada um de nós, em nossa área específica de estudo, está empenhado em enriquecer o entendimento sobre a realidade da Coreia Popular. No meu caso, concentro-me no estudo do cinema norte-coreano.

    Por falar nisso, adoraria receber a sua avaliação sobre o trabalho que estou apresentando no evento. Tenho certeza de que nossa troca de ideias será muito enriquecedora.

    Agora a minha questão: Você explora de maneira substancial o poder das entrelinhas e dos silêncios presentes nos relatos das mulheres, reconhecendo-os como formas potentes de narrativa. É inegável que o silêncio possui uma voz própria. No desfecho de seu trabalho, você faz menção a Goya, cuja habilidade em transmitir a brutalidade da Guerra Civil Espanhola transpareceu na plasticidade de suas obras, carregando consigo uma estética igualmente impactante. Assim como Goya pintou, a Newstapa filmou. Por mais que este não seja o foco da sua análise, me ficou uma pulga atrás da orelha. Você percebe a presença de algum aspecto na dimensão estética da composição visual e sonora dos vídeos, que pode ter sido empregada como instrumento de expressão para representar o sofrimento das mulheres de maneira mais acentuada? Você acredita que recursos audiovisuais, como a montagem, foram empregados com o intuito de estender e intensificar esses momentos de silêncio? Não sei se é pelo fato de eu pesquisar audiovisual mas eu acho essa questão também muito instigante.

    Agradeço antecipadamente por sua atenção e consideração.

    Atenciosamente,
    Gabriel da Silva Pinheiro

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    1. Olá Gabriel!

      Fico feliz que tenha gostado da minha pesquisa. Realmente é muito bom ver pessoas aqui compartilhem do interesse em relação a Coreia Popular. Dei uma olhada em seu texto e realmente parece bem interessante, durante o resto da semana irei parar para ler melhor e contribuir para a discussão de sua pesquisa!

      Quanto a resposta de sua pergunta, ao assistir o vídeo percebo bem claramente a inflência da trilha sonora e da voz da narradora para a intensificação do sofrimento durante os relatos das "mulheres de conforto". Não explorei muito essa parte por não ser minha área de maior interesse mas compreendo perfeitamente a importância dessas composições para a manipulação das possíveis interpretações do documentário. Os recortes feitos são bastante apelativos ao meu ver, focando em suas marcas físicas sem sensuras, exceto pelas partes íntimas, suas lágrimas e expressões faciais que demonstram raiva, tristeza e trauma. Em um dos parágrafos destaquei que os testemunhos não são transmitidos de forma cronológica e pude observar que, especialmente o último relato, era o que mais continha emoção e tristeza por parte da vítima, talvez tê-lo colocado por último tenha sido uma estratégia da newstapa para finalizar o episódio deixando os telespectadores mais tocados e sensíveis. Portanto, acredito que a forma como a plataforma lidou com as imagens foi enquadrada de acordo com seus interesses de atingir o público pelo absurdo, além do interesse jornalístico.

      Espero ter respondido sua pergunta, Gabriel.

      Atenciosamente,
      Tamires Barbosa da Costa.

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  2. Olá, Tamires...interessante sua reflexão, eu não tinha conhecimento sobre a questão das "mulheres de conforto", penso que nós mulheres, por séculos e independente dos eventos históricos, temos nossos corpos expropriados ao bel prazer dos homens! Nesta linha de pensamento, da expropriação dos corpos, da violência sexual e psicológica e das memórias que as vítimas carregam pela vida, impedindo-as de estabelecerem vínculos pessoais e/ou profissionais. Existe alguma política pública que resguarde o bem-estar financeiro das vítima ou atendimento psicológico?

    At.te.: Lidiane Álvares Mendes

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    1. Boa noite Lidiane

      Para ser sincera não sei bem se houve um apoio psicológico para essas mulheres mas o único apoio financeiro que as foi oferecido veio do Japão através do "Asian Women's Fund", que foi uma forma que o governo japonês encontrou de reparar as conquências que as violência geradas troxeram a elas. Entretanto, de modo geral, esse apoio financeiro não foi bem visto pelas ex "mulheres de conforto" visto que estão pedindo por desculpas sinceras do governo do Japão e não por dinheiro.

      Espero ter respondido sua pergunta.

      Atenciosamente,
      Tamires Barbosa da Costa

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  3. Olá Tamires! Estou muito feliz que há outro artigo nesse simpósio falando sobre as mulheres de conforto! (o meu, que trata sobre as "mulheres de conforto" através de uma HQ chamada Grama, está na Mesa Orientalismos estudos coreanos. Seria muito bacana se conseguíssemos trocar ideias sobre nossos temas! Adorei que você estudou e trouxe sobre as norte coreanas!)

    Minha pergunta é: essa plataforma de jornalismo investigativo que postou a reportagem sobre as "mulheres de conforto" norte-coreanas é de qual país? Você sabe dizer se há vínculos com o governo norte-coreano ou se o governo norte coreano já falou alguma vez sobre as "mulheres de conforto" norte coreanas?
    Atenciosamente, Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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  4. Boa tarde, gostaria de parabenizar pelo trabalho incrível que você fez. Minha pergunta é se você saberia me dizer sobre como foi a recepção dos japoneses e coreanos com os relatos das mulheres? Desde já grata,
    Ana Clara Valadão de Carvalho

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    1. Boa Ana clara,

      Então, quando os primeiros relatos saíram a público não haviam comprovações documentais sobre o ocorrido além de suas próprias palavras. Por isso, por parte dos japoneses e do governo japonês, foi difícil de acreditarem na veracidade ou admitirem o que estavam acusando. Entretanto, já os coreanos, até onde sei, compadeceram com seus dolorsos testemunhos e se aliaram a elas. Mas claro que houveram pessoas na Coreia que não devem ter recebido muito bem como pessoas no Japão que apoiaram as causas das "mulheres de conforto".

      Espero ter respondido sua dúvida.

      Atenciosamente,
      Tamires Barbosa da Costa

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