HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE: JAPÃO E O MANGÁ “O ZERO ETERNO”, por Janaina de Paula do Espírito Santo


Existem histórias que não passam? Essa é uma questão que cada vez mais historiadores contemporâneos tem se dedicado a responder. O século XX é marcado por uma série de eventos traumáticos às comunidades humanas, os passados que permanecem, em eterno retorno ou ainda os passados que possuem testemunhas vivas à reportar - ou até a chamar a atenção sobre eles. Presente nas discussões historiográficas de maneira mais consistente a partir da década de 1970, a opção de se olhar o tempo presente como uma disciplina do campo da história vem, especialmente do entendimento de que as rupturas e permanências do passado no presente devem ser olhados a com a preocupação do historiador.

 

Como uma das marcas da contemporaneidade, a preocupação com esses temas do presente, traz, junto com o seu olhar sobre o não tão distante no tempo exige dos historiadores um trabalho deveras aproximado a questões da memória e as reivindicações, diretas ou indiretas de diferentes grupos sociais disputam em torno dessas memórias, desse passado transformado em história ainda em processo de construção e alteração.

 

Podemos pensar na Segunda Guerra Mundial como um desses eventos da chamada História do Tempo Presente. Ela se encontra presente em um sem número de artefatos culturais e apresenta um grande apelo público, ainda  que esta não seja uma relação linear ou livre de conflitos. O mesmo pode-se dizer dos espaços de construção de sentido histórico. A opção por construir um diálogo, no espaço deste trabalho, com uma obra em mangá com uma temática comum construída em torno deste  marco histórico que é Segunda Guerra Mundial, enxerga este artefato cultural enquanto um lugar o que é possível observar o processo de produção de sentido histórico. Um espaço de cultura histórica que, para Rüsen, pode ser definido como: formalmente, a estrutura de uma história; materialmente, a experiência do passado; funcionalmente, a orientação da vida humana prática mediante representações do passar do tempo[RÜSEN, 2001, p. 160-161]

 

Existe uma relação direta entre os ambientes de produção do conhecimento histórico e a constituição de uma racionalidade histórica. É ponto pacífico, pela própria fluidez de nossa relação com o tempo e com o estudo dos homens no tempo, para usar uma expressão de Marc Bloch [2002, p. 55], que o conhecimento e a racionalidade histórica não têm uma natureza linear e única, mas antes têm como base uma multiplicidade de possibilidades. Isso porque, nossa relação com o conhecimento histórico é fundada na proximidade constante de experiências, na compreensão que são as questões do presente o grande títere do passado enquanto um espaço gerador de sentido para as diferentes vivências. Esse dinamismo inerente ao saber histórico traz consigo a multiplicidade de narrativas e construções deste passado feito presente”.

 

O pesquisador Henry Rousso chama atenção para o poder de convergência deste marco:

 

A Segunda Guerra Mundial, no sentido amplo do termo, forma não apenas uma matriz histórica comum aos dois continentes, mas constituiu, tanto na Ásia como na Europa, um acontecimento central na história recente cujos efeitos se fazem ainda sentir, não apenas no plano da memória, mas também num plano político e social, e mais ainda no plano das relações regionais e internacionais”. [ROUSSO, p. 268]

 

Neste ponto de vista, pensar as histórias em quadrinhos japonesas, os famosos mangás, especialmente um título que se dedica, em algum nível ao período da Segunda Guerra Mundial, como um exemplo dessa cultura histórica e consequentemente como um elemento em que a memória e a história pública se apresentam para além do trabalho formal dos historiadores, pode fazer com que as revistas, tomadas enquanto veículos de aproximação e percepção da consciência histórica. Ou seja: O mangá, assim como outros objetos culturais são componentes de uma cultura histórica que está construído  sob a influencia de uma  matriz disciplinar, tanto no que diz respeito ao espaço da sala de aula quanto cotidianamente, constituindo e reafirmando uma memória da Segunda Guerra que tem lugar na imagem e no texto, na memória e na cultura.

 

O Japão e a Segunda Guerra Mundia

A Segunda Guerra Mundial é um elemento marcante da história do Japão. No dia 15 de agosto de 1945 o povo japonês, ouviu, via rádio, a rendição do país na voz do então imperador Hirohito. Isso aconteceu depois de uma campanha agressiva de bombardeios e e da explosão de duas armas desconhecidas até então, as bombas atômicas detonadas sob as cidades de Hiroshima e Nagasaki.

 

Pode se dizer que desde o fim do conflito, no ano de 1945 se apresentou ao Japão uma aceleradas constituição e também uma disputa entre diferentes memórias, a partir de aspectos sociais, focos distintos que marcam os diversos grupos sociais e as diferentes interpretações sobre os fatos ocorridos durante o conflito. Hoje, essas memórias se dividem  - e as vezes recorrem a uma ou a outra de maneira amálgama - em dois aspectos elementares que caracterizam duas poderosas e também distintas particularidades do país. O Pacifismo e o Nacionalismo, que está presente tanto no ensino escolar quanto nas informações que o estudante acessa fora da escola. Igarashi fala da importância do equilíbrio entre esses discursos e especialmente  o papel que a narrativa em tono da paz representou nos anos posteriores à guerra no Japão:

 

"O esforço do Japão para redefinir a próprio através da recriação de suas memórias das perdas da Guerra culminou em um período de paz e prosperidade na vida cotidiana no final da década de 1960. A imagem estilhaçada da Nação foi recomposta, religada e  reabilitada durante o quarto de século que se seguiu à derrota. [...]  o Japão do pós-guerra conduziu  a restauração de sua nacionalidade por meio de uma teleologia de progresso e de uma recém adquirida riqueza material do país. [...] A narrativa fundadora intencionalmente [... afirmava] que essa nova constituição e a derrota final trouxeram ao Japão [a paz] era o que o povo japonês independentemente e espontaneamente almejava." [IGARASHI. 2011 p. 465-466].

 

De certa maneira, a chamada paz alcançada pela Guerra  cumpre um papel, tanto narrativo como de memória de uma espécie de grande liçãque une o país em detrimento da cultura ocidental, que , ao contrário, continua construindo sua história através de conflitos e batalhas.

 

Ainda assim, essa narrativa enfrenta questionamentos dentro e fora do país. Para Silva:

 

“Já na década de 60 do século passado, a questão voltada para o ensino da História no Japão era pauta para o  Ministério da Educação  do país. De acordo com  Franziska Seraphim, uma das grandes ironias das políticas voltadas para a memória no Japão reside no fato de que o  governo  se  nega  a  assumir  uma  definição  oficial  do  significado  da  guerra.  Assim,  gestos  governamentais  indiretos  demonstram,  algumas  vezes,  a  continuidade  do  nacionalismo  do período da guerra. Após diversas atitudes, como a inserção secreta, em Yasukuni, dos nomes de  criminosos  de  guerra  condenados  pelo  tribunal  de  Tokyo,  […] Questões envolvendo o conteúdo dos livros didáticos utilizados nas escolas japonesas são  chaves  na  análise  da  forma  com  que  a  memória  oficial,  chamada  memória  nacional  por alguns, é transmitida às novas gerações no tempo presente. Neste sentido, a educação no país reflete  a  forma  com  que  o  governo  permite  que  tal  fato  se  dê,  sendo  uma  das  preocupações centrais  em  relação  ao  quadro  de  memória  japonês,  por  parte  de  seus  vizinhos  asiáticos  em especial”.

 

Da mesma forma que os livros, quadrinhos e mangás de temática histórica também figuram como elementos de disputa e controvérsia.

 

O Zero Eterno

O mangá o zero eterno [Einen no Zero, no original] é baseado em um romance publicado no ano de 2006, no Japão. O romance se tornou um grande sucesso no país, se tornando o romance mais vendido em seu ano de lançamento. Na campanha publicitária japonesa a obra era anunciada como retrato de um passado de quem viveu uma época de guerra, através do ponto de vista de quem nunca presenciou uma. De fato seu argumento principal se baseia nas relações entre passado e memória, já que trata de um neto tentando, através de relatos de pessoas que conheceram seu avô, um piloto kamikaze que morreu em missão, entender as motivações e característica de seu avô, até então desconhecido. O livro se tornou o mais vendido no Japão e alimentou um debate midiático sobre seu teor e a abordagem nacionalista. No ano de 2017, o romance contabilizava quatro milhões de cópias vendidas. O sucesso nas vendas trouxe a reprodução do enredo em outras frentes, como  o filme, que saiu em 2013 e liderou as bilheterias no Japão, atingindo a marca de oito bilhões em lucro e um prêmio na categoria de melhor filme, do 38º Japan Academy Awards. Uma série, em três capítulos, produzida no ano de 2015, e o mangá, em cinco volumes, manteve como roteirista Naoki Hyakuta, autor do livro homônimo e foi desenhado por Souichi Sumoto. A obra é um romance histórico que trata de fatos reais os esquadrões kamikazes – a partir de um relato ficcional, apresentando em formato mangá o mesmo enredo do romance que o originou.

 

O mangá foi traduzido e publicado no Brasil, pela editora JBC, e foi  concebido com um formato e acabamento mais trabalhado, da proposta de ser comercializada em livrarias e lojas especializadas. Isso faz com que o papel e a capa, em padrão laminado, sejam diferentes do usual em outros títulos da editora lançados no mesmo ano, ainda que atualmente essa opção seja mais presente em outros títulos.O sentido da leitura da esquerda para direita, padrão das edições japonesas foi mantido. A edição em português, traz um glossário no final com explicações mais detalhadas do contexto e dos personagens históricos além legendas explicativas durante o texto, em rodapé, normalmente referente a aspectos da tradução ou aquelas elaboradas pelo autor do mangá, que fazem referência, em  sua maioria às particularidades tecnológicas dos esquadrões. No Japão, apesar do movimento crescente de aceitação e difusão, inspirou controvérsias. Seu autor, Naoki Hyakuta, conhecido membro do partido conservador japonês foi acusado de propagar terrorismo e optar por uma construção excessivamente nacionalista da história.

 

Esta controvérsia aumentou depois que o então primeiro ministro japonês, Shinzo Abe se declarou profundamente comovidocom a adaptação cinematográfica produzida a partir do romance. Representante das alas mais conservadoras da política japonesa e envolvido com uma série de disputas em torno da narrativa histórica no Japão, a declaração de Abe provocou diversas respostas negativas. Na China, o filme foi classificado de propaganda para o terrorismo antes de ser lançado. O diretor de cinema Kazuyuki Izutsu acusou a história de ter pouca base na realidade.  Da mesma maneira, o premiado diretor Hayao Miyazaki, que também produziu uma animação ambientada na segunda guerra mundial, intitulada Vidas ao Vento [Kaze Tachinu no original] enxergou na narrativa de Hyakuta um retorno as explicações fictícias dadas à guerra, ainda no período imperial, e considera a ideia de reconstruir um senso de orgulho frente as ações dos esquadrões suicidas uma simplificação que silenciaria a violência direta e simbólica inerente ao próprio recrutamento destes pilotos.

 

Na história, vemos uma construção centrada na importância dos laços familiares, que movem tanto o piloto avô e o neto que o pesquisa e busca através dos relatos de pessoas que o conheceram. Seu autor defende, através da história que constrói um resgate do orgulho nacionalista japonês, especialmente ao propor, ainda que de maneira ficcional, esse resgate de um passado - heróico - para os pilotos kamikazes.

 

Ainda que a crítica internacional pouco tenha afetado a comercialização da edição japonesa em países do ocidente e especialmente no Brasil, consideramos, no espaço deste texto que ela funciona como um exemplo interessante das chamadas histórias que não passam e seus processos inacabados, na medida que, enquanto artefato cultural há a preocupação da obra ao construir uma história que seu autor considerava enfraquecida e que é representativa dos discursos mais conservadores da sociedade japonesa, hoje em constante embate pelo país, nas suas mais diferentes frentes e formatos. De maneira geral ao constituir os dois personagens principais de O Zero Eterno, um avô, inicialmente esquecido e que vai tomando forma a partir da busca pelo passado empreendida pelo seu neto, que se fortalece no processo dessa descoberta, o enredo retoma a política governamental sobre os princípios orientadores da educação no Império do Japão, um documento de 1890. Isso porque coloca a opção dos pilotos kamikazes como um exemplo maior do auto sacrifício, uma espécie de verdade universal e força do indivíduo naquele momento. Essa romantização do passado acaba por minimizar a violência e os prejuízos que a guerra causou ao Japão, base do discurso pacifista que prevalece no país, mas que enfrenta uma resistência cada vez mais presente dos setores mais conservadores da sociedade e da política japonesa.

 

Referências

Dr. Janaina de Paula do Espírito Santo é professora adjunta de história e prática de ensino na Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, onde estuda as relações entre mangás, história e ensino de história.

 

BLOCH, Marc. Apologia da História ou oficio do historiador. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

 

IGARASHI, Yoshikumi. Corpos da Memória, Narrativas do Pós-Guerra na Cultura Japonesa [1945-1970], São Paulo: Annablume, 2011

 

Penney Matthew. A Nation Restored: The Utopian Future of Japans Far Right. Mechademia: Second Arc, 10, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.5749/mech.10.2015.0098

 

SILVA, Marina M. B. L. da . A Guerra Aprendida na Escola: A Transmissão de Memórias Japonesas no Tempo Presente. Boletim Tempo Presente UFRJ , v. 1, p. 1, 2014.

 

ROUSSO, Henry. A última catástrofe: a história, o presente, o contemporâneo. Trad. Fernando Coelho e Fabrício Coelho. Rio de Janeiro: FGV.

 

RÜSEN, Jörn. Teoria da história: uma teoria da história como ciência. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. Curitiba: Editora UFPR, 2015. 

10 comentários:

  1. Olá, Janaina. Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo excelente texto. Uma reflexão importante, sobretudo ao considerarmos o grande papel e influência que a "cultura de massa" exerce na construção e consolidação de uma "memória banal" no cotidiano das pessoas.
    Como sabemos, as disputas narrativas e de memórias em relação ao passado japonês foram ambíguas, evidenciado pela proposta de Hashimoto Akiko sobre os três narrativos de interpretação da guerra. Além disso, o governo levava a cabo, um programa de censura em livros de didáticos, como o incidente de Ienaga Saburo, além da difusão de uma "cultura pacifista" que buscava cooptar a opinião pública internacional, após o conflito.
    Ao meu entendimento, a censura foi um instrumento estatal muito importante para o "esquecimento" dos crimes de guerra, e “superação“ deste passado, como é destacado pelo episódio do Ienaga Saburo e os livros didáticos produzidos por este autor. Evidenciando o grande debate entre justiça, história e passado que Berber Bevernage tanto escreve.
    Isto posto, podemos considerar que os produtos midiáticos japoneses inseridos dentro da proposta - Cool Japan, acarretam e contribuem para a construção de uma narrativa e memória coletiva de um Japão, que jamais teria cometidos tais ações, sendo o passado japonês romantizado pelos amantes de tais mídias?
    Agradeço desde já pela paciência, e agradeço pelo excelente texto, sobre uma questão tão importante na história japonesa.
    Atenciosamente,
    Edvan Pereira Costa Rufino.

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    1. Oi Edvan! Agradeço sua leitura e sua pergunta. Acredito que o Cool Japan, é palco da Guerra de narrativas nesse sentido. Pq se pensarmos todo o trabalho de Gen pés descalços, por exemplo, que em alguns momentos assume um papel de ativismo contra o militarismo, ou mesmo a preocupação de alguns títulos em retomar essas histórias, acho que as mídias acabam sendo um tipo de palco, em que as interpretações se apresentam, fortalecendo diferentes discursos. Ainda assim, remontando a Adorno, pode-se dizer que em determinados momentos, a sociedade acaba assumindo mais, ou menos esse passado e essa memória romantizados, pq esse pastiche livre de conflitos tem um potencial de se tornar mais popular. Acho que o Zero Eterno sinaliza um desses momentos, mas é limitante pensar que as mídias tendem a um único uso para essa memória.
      Abraços!
      Janaina de Paula do Espírito Santo.

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  2. Olá professora Janaína, primeiramente gostaria de parabenizar pelo texto. Narrativas gráficas são um material que pode ser utilizado em inúmeras pesquisas e muitas vezes acaba sendo descartado.
    Dito isso minha questão vai no sentido dos usos da obra principalmente em sala de aula: Em sua opinião, tendo em vista toda a questão problemática com o mangaká e a quase apologia feita aos tokkotai, é possível usá-la em sala de aula (sejam trechos ou fragmentos) e se não, que materiais você acredita serem mais viáveis para tal?
    Agradeço a atenção e parabenizo novamente.
    Abraços!
    Matheus Felipe

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    1. Oi Matheus! Agradeço sua pergunta e a leitura do texto. Creio que obras em quadrinhos, especialmente as controversas como essa, tem potencial de fomentar debates interessantes em sala de aula, relacionando o passado e as diferentes memórias em torno dos acontecimentos. Exige, entretanto, bastante preparo e mediação do professor. Com relação aos mangás de Segunda Guerra, por exemplo, temos referencias aos Tokkotai em Gen pés descalços e Adolf, que poderiam ser confrontadas a trechos do Zero Eterno e dariam uma aula (ou mais de uma) bacana, na minha opinião, toda centrada nesses mangás. Aí a apologia faria parte da aula em um sentido amplo, o que permitiria a sua crítica, pelos professores e educandos. Acho que de maneira geral, como mangás criam essa relação de empatia entre leitor e personagem, geram discussões bacanas nesse sentido também, que permitem um trabalho com a ideia de empatia histórica e até com a história cotidiana.
      Abraços!
      Janaina de Paula do Espírito Santo.

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  3. Olá, Janaína! Gostaria de parabenizá-la pelo excelente artigo. Suas considerações são extremamente interessantes e relevantes para os pesquisadores de mangás e Segunda Guerra Mundial. É um prazer ter tido mais uma oportunidade de ter acesso ao material que você produz. O seu texto: Gen Pés Descalços e o nacionalismo japonês: interseções, foi de muita importância para minha pesquisa, inclusive se encontra nas referências de meu texto publicado no evento.
    Gostaria de saber como você enxerga essa disputa de memórias propostas a partir de mídias gráficas, e qual o papel dos mangás na construção de um discurso veiculado em ambientes escolares. Você acredita que o discurso utilizado na educação é predominantemente negacionista? Há espaço para visões contrárias ao imperialismo japonês, como no caso de Gen Pés Descalços?
    Obrigado pela atenção!

    Lucas Ciamariconi Munhóz

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    1. Oi Lucas! Que bacana! Agradeço a menção e a sua pergunta. Acredito que, apesar dos avanços inegáveis, a história é ainda a história dos vencedores. Isso vale para o ocidente: no Brasil, as parcas menções ao custo humano da bomba atômica, ou o uso indistinto, agora, de memes mesclando os filmes de Barbie e Oppenheimer, que geraram uma campanha, no Japão, para barrar esse tipo de iniciativa por lá, ainda mais em agosto. Na pesquisa da Marina Silva, sobre livros didáticos japoneses, ela comenta que embora exista nas obras uma tentativa de amenizar ou desconsiderar o militarismo e os crimes de guerra japoneses, existem outras que vão na contramão e buscam um aprofundamento neste ponto. Dito isso, acredito que negacionismo é um termo forte para se pensar em educação nesse caso, mas sim, especialmente nos dias atuais, com a ascensão dessa extrema direita as tensões sobre esse ponto aumentam. Lembro que a alguns anos, se falou de uma tentativa de barrar gen nas escolas japonesas, mas era uma iniciativa isolada desse mesmo grupo de direita. Assim, há espaço para visões contrárias, mas, ao mesmo tempo, não deixo de pensar que o preço desse tipo de liberdade é a "eterna vigilância". Espero ter respondido. Abraços!
      Janaina de Paula do Espírito Santo.

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  4. Olá, professora Janaina! Em primeiro lugar gostaria de parabenizar seu texto, foi uma leitura extremamente instigante, além de ter proximidade com meu tema de pesquisa que também está na área das mídias japonesas relacionadas à Segunda Guerra Mundial.
    Mas minha pergunta é mais direcionada para o que comenta no início de seu texto, sobre as rupturas e permanências do passado no presente, neste caso sendo o mangá de O Zero Eterno tratando da Segunda Guerra Mundial. Porém, acha possível que outras obras de animes e mangás, não relacionadas com este conflito, também sirvam para esse propósito da escrita da História do Tempo Presente, visto a difusão que esses elementos culturais possuem na sociedade tanto japonesa quanto internacional?
    Desde já, agradeço a atenção!
    Gabriel Lacerda de Souza

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    1. Oi Gabriel! Que pergunta legal, agradeço. Nos últimos tempos, tenho me dedicado no Gedhi, ao estudo da categoria de "Cultura Histórica", que é meio que a história do "domínio público", que escapa da história acadêmica ou escolar, ainda que não seja independente delas. Acredito que mangás e animes são elementos em que essa Cultura Histórica e as relações que ela cria com a memória podem ser observados analisados e problematizados. Nesse sentido, outras obras também poderiam sim, ser elementos de análise tanto da história do tempo presente, quanto dos processos de construção de sentidos que se dá ao passado, a história e a memória.
      Abraços!
      Janaina de Paula do Espírito Santo.

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  5. Parabéns pelo texto interessantíssimo! É muito bom ver mais textos sendo produzidos sobre cultura popular contemporânea! Tendo em vista a mudança de abordagem da imagem do Japão e outras mudanças culturais, onde se encaixaria a ideia de "Cool Japan" nesse processo de formação de um novo "moderno"?
    Agradeço desde já!
    Lara Oushi Escobar

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    1. Oi Lara! Obrigada pela pergunta, acho que dá outro artigo... altas ideias aqui. Mas... tentando sintetizar um pouco, penso que o Cool Japan é uma forma de soft power, no sentido de uma imagem que se cria para o outro. Mangás e animes sempre, de alguma maneira, são encarados como um elemento de mensagem, de construção de imagem, mesmo dentro do governo japonês, ainda que isso oscile, em maior ou menor grau. Nesse ponto, acredito que se pensarmos o cool japan com essa chave interpretativa, o novo moderno, mesmo em sua variante mais nacionalista (medo de colocar em palavras essa questão) não entra em conflito, apenas assume uma nova roupagem. Pode parecer fatalismo, mas se pensarmos a partir da visão de Horkheimer sobre o capitalismo, não tanto. Vejo o próprio exemplo de "o Zero Eterno", que , em sua edição brasileira, focou na ideia de uma nova visão histórica do conflito, sem abordar a recepção e a controvérsia da história em outros países.
      Enfim, dá um debate maior, e se quiser, podemos conversar mais sobre isso. janainapes@gmail.com
      Abraços!

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