AS “MULHERES DE CONFORTO” COREANAS: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DA GRAPHIC NOVEL GRAMA DE KEUM SUK GENDRY-KIM, por Camilly Evelyn Oliveira Maciel

  

Introdução: As "mulheres de conforto"

As “mulheres de conforto” referem-se às mulheres que foram submetidas à escravidão sexual pelo Império Japonês. Não se sabe com exatidão quantas mulheres foram levadas pelo sistema a servir como escravas sexuais, porém, estima-se que esse número esteja entre 80 mil a 200 mil, entretanto, para alguns estudiosos esses números não chegam perto da realidade, muitos acreditam que o dobro foi mobilizado pelo Império Japonês (MIN, 2003).

É importante citar que cerca de 80% das mulheres que serviram eram coreanas — a Coréia, na época, era colônia do Japão — enquanto os outros 20% dividiram-se entre chinesas, japonesas, filipinas, tailandesas, entre outras (MIN 2003). Essas mulheres eram sequestradas, recrutadas à força ou enganadas por meio de falsas promessas de trabalho (SOH, 1996). Uma vez capturadas, eram mantidas em bordéis militares, nomeados de "casas de conforto", onde eram obrigadas a fornecer serviços sexuais aos soldados japoneses.

O “sistema de conforto” já era utilizado pelos soldados japoneses desde 1932 — antes da Segunda Guerra Mundial eclodir. Entretanto, esse sistema foi expandido após um episódio que aconteceu durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa que ficou conhecido como Estupro de Nanquim, no qual os soldados japoneses massacraram de forma brutal os habitantes dessa cidade chinesa, estuprando e assassinando de 20 mil a 80 mil mulheres (LADINO, 2009).

Esse ataque repercutiu mundialmente e afetou a imagem do Japão, devido a esse episódio e aos outros inúmeros casos de estupros cometidos pelos soldados japoneses, o Imperador ordenou a formalização das "estações de conforto" que deveriam recrutar meninas de baixa renda — em sua maioria de origem coreana, tendo em vista que após longas disputas o Japão conseguiu ocupar a Coréia em 1910, a fazendo sua colônia (SOH, 1996) — para evitar que a imagem do Império Japones denegrisse devido a escândalos do tipo. Desse modo, os soldados teriam jovens meninas a sua disposição para os "confortarem" — por esse motivo o sistema de escravidão sexual japonês ficou conhecido como sistema de conforto. (HOWARD, 1995).

A Graphic Novel Grama

Grama é uma graphic novel, escrita por Keum Suk Gendry-Kim, que conta a história de Ok-Sun Lee, uma coreana que foi vítima do “sistema de conforto” japonês. A HQ foi lançada no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim. Neste livro, Ok-Sun Lee narra maior parte da sua vida: desde a infância, mostrando as dificuldades que ela e sua família passaram devido ao colonialismo japonês; o momento em que ela foi raptada; como foi sua vivência como “mulher de conforto” e sua vida no pós-guerra — quando ela e outras “mulheres de conforto” decidiram expor toda a violência que elas sofreram como escravas sexuais dos soldados japoneses, lutar pelo reconhecimento e por um pedido de desculpa decente do Japão. Assim, a história intercala entre passado (a história de Ok-Sun Lee quando criança e adulta) com presente (Ok-Sun Lee já na terceira idade narrando suas vivências para a autora).

No final da graphic novel é trazido um texto, com autoria de Myung-Sook Yun, que contextualiza a história das “mulheres de conforto” apresentando a realidade de várias meninas que viviam em colônias japonesas e que foram tiradas de suas casas e obrigadas a servirem como escravas sexuais, deixando para trás suas famílias e seus sonhos para passar por uma experiência bastante traumática. A HQ trata com o máximo de leveza possível um assunto tão impactante, a história nos faz refletir sobre colonização, guerra e sobre como as mulheres, nessas situações, estão mais suscetíveis à violência — principalmente à violência sexual.

As “Mulheres De Confortos” através da Graphic Novel Grama

A Graphic Novel expõe em seus primeiros capítulos a situação econômica da família da protagonista, Ok-Sun Lee, em 1916. Essa situação representa a realidade de miséria que diversas famílias coreanas estavam enfrentando devido à colonização japonesa que teve início em 1910 e durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945 — a colonização afetou drasticamente a vida econômica e social dos coreanos, que foram obrigados a mudar radicalmente a estrutura de sua nação devido à imposição de ordens e costumes japoneses.

Vivendo na dificuldade, a protagonista precisa ajudar seus pais em casa, principalmente na criação de seus irmãos pequenos enquanto os pais trabalham e, por esse motivo, não pôde frequentar a escola, um sonho que ela tanto almejava. No decorrer da história, a situação econômica de Ok-Sun Lee e sua família continua a piorar, principalmente porque em 1937 o Japão ataca a China e se inicia a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Com a situação econômica instável, os pais de Ok-Sun Lee "doam" a filha para trabalhar em um restaurante e, após sofrer continuamente em diversos trabalhos e longe da família, a vida de Ok-Sun Lee piora quando, em 1942, com apenas 15 anos de idade, ela é raptada e levada para fazer parte do "Sistema de Conforto".

Os próximos capítulos apresentam a história de muitas meninas, todas aproximadamente com a mesma idade de Ok-Sun Lee, que foram, assim como ela, sequestradas ou enganadas e colocadas em trens para serem enviadas para as diversas "casas de conforto" espalhadas pelo Extremo Oriente. Segundo Okamoto (2013), a maioria das “mulheres de conforto” estava na faixa dos 14 aos 18 anos de idade, algumas tinham até mesmo 12 ou 13 anos, o motivo se devia ao fato de que o Exército Imperial Japonês preferia mulheres mais jovens, pois acreditava que estas, provavelmente virgens, não iriam passar IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis) para os soldados.

Ao chegarem nas "casas de conforto", as meninas eram obrigadas a utilizar um nome japonês — no caso de Ok-Sun Lee, Tomiko — e forçadas a trabalharem em condições insalubres, sofrendo constantes maus tratos e recebendo pouca alimentação. Ok-Sun Lee narra que ela e outras garotas, ao perceberem as condições de vida naquele local, até mesmo fazem um plano de fuga, porém logo percebem a impossibilidade de tal ato: eram vigiadas e monitoradas todo tempo, situação semelhante às outras “casas de conforto” (SIKKA, 2009).

O capítulo 7 conta da maneira mais sensível possível, porém sem esconder o horror da situação, como ocorreu a primeira vez em que Ok-Sun Lee foi estuprada por um soldado, a protagonista diz que para ela e para muitas outras meninas foi a primeira vez tendo relação sexual e comenta que após a experiência traumática, sentiu vontade de morrer. Ao continuar contando sobre esse dia, Ok-Sun Lee relata que logo após o primeiro, outros soldados continuavam adentrando os quartos e violentando as meninas. Segundo Pyong Gap Min, em seu artigo "'Comfort Women' the intersection of colonial power, gender, and class” (2003), as mulheres de conforto eram obrigadas a "atender" de 10 a 30 soldados por dia, número que aumentava nos fins de semana.

Durante os capítulos 8, 9 e 10 a protagonista narra a sua primeira menstruação e como mesmo durante esse período ainda precisava atender aos soldados, conta também como os finais de semana eram os piores uma vez que o número de soldados tendia a aumentar. No capítulo 9, há uma ilustração da parede de uma "casa de conforto" com o nome das meninas (escritos em japonês) em placas de madeira, Ok-Sun conta que os soldados apenas escolhiam um nome e entravam.

Mesmo que essas mulheres fossem submetidas a exames para prevenir gestações e IST’s e que fosse recomendado aos soldados o uso de preservativos (SIKKA, 2009), muitas mulheres contraiam alguma doença venérea. Ok-Sun Lee, ainda no capítulo 9, conta que ao descobrir que está com sífilis é obrigada a passar por um tratamento com mercúrio para curar a doença, devido a esse tratamento com metal pesado ela se torna infértil.

No capítulo 11, a protagonista continua narrando sobre alguns maus tratos que eram cometidos: algumas mulheres morriam por doenças, outras devido a espancamentos, elas também eram punidas por qualquer desrespeito, desde falar sua língua nativa a responder aos soldados ou desobedecer qualquer ordem. De acordo com Okamoto (2013), as “mulheres de conforto” sofriam diversos tipos de violências, como espancamento, tortura e esfaqueamento.

O capítulo 12 relata a tão sonhada liberdade: com a derrota do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial, a maioria das "casas de conforto" foi abandonada (YUN, 1997). No caso da "casa de conforto" onde Ok-Sun Lee vivia, os soldados fugiram e as mulheres passaram um dia sem saber que estavam livres, entretanto a vida dessas mulheres infelizmente não melhora, sem dinheiro e em um país diferente, Ok-Sun Lee e as outras jovens são obrigadas a se separar para tentar sobreviver. Mesmo livres, as “mulheres de conforto” tiveram que lutar sozinhas para reingressar na sociedade.

Segundo Pyong Gap Min (2003), embora algumas vítimas tenham voltado para casa após o fim da guerra, muitas decidiram não viver mais com os seus pais, e, devido à vergonha dos acontecimentos do passado, elas mantiveram em segredo a sua situação como “mulheres de conforto” de familiares e amigos. Essas mulheres tampouco podiam viver uma “vida normal”, visto que muitas traziam consigo doenças físicas e/ou psicológicas devido à escravidão sexual ao qual foram submetidas.

Os últimos capítulos vão narrar a vida da protagonista após o fim da guerra: o matrimônio, a vida conturbada com seu cônjuge, o amor pelo seu filho adotivo, a realização do sonho de ir para a escola, a busca pela família e a rejeição. Ok-Sun Lee, após a morte do marido, recuperou sua nacionalidade e foi morar na "Casa se Partilha" — essa casa, também conhecida como "House of Sharing", faz parte de um projeto do "Korean Council for the women drafted for military sexual slavery by Japan" e foi fundada em 1991, a casa possui, entre outros objetivos, dar apoio às vítimas da escravidão sexual do Império Japonês, servindo como alojamento para as vítimas e também auxiliando com apoio médico e social (MIN, 2003).

A Casa de Partilha foi a casa onde a autora da HQ, Keum Suk Gendry-Kim, entrevistou a halmonie para fazer a obra. O capítulo final também apresenta aos leitores as Manifestações de Quarta-feira — protesto que ocorre desde 2011, todas as quartas-feiras, em frente à Embaixada japonesa em Seul, capital da Coréia. Nesses protestos as vítimas e apoiadores lutam por reconhecimento e por justiça ao caso das "mulheres de conforto" (AZENHA, 2018).

Conclusão

As “mulheres de conforto" foram vítimas do brutal regime de escravidão sexual do Império Japonês. Enganadas ou sequestradas pelo sistema, eram mantidas em bordéis militares, conhecidos como "casas de conforto", onde eram exploradas sexualmente pelos soldados japoneses. Elas sofriam não somente abusos físicos e emocionais, como também negligência em termos de cuidados de saúde e direitos humanos básicos: estavam suscetíveis a infecções sexualmente transmissíveis, gestações indesejadas e viviam em condições precárias, sem suporte e sem poder voltar para casa (Yun, 1997).

Após a guerra, as mulheres de conforto enfrentaram estigmatização e marginalização na sociedade coreana. Muitas sofreram com problemas de saúde física e mental decorrentes de suas experiências traumáticas, De acordo com Pyong Gap Min (2003): “Todas as vítimas sofreram de vários problemas de saúde e traumas psicológicos causados por suas experiências de escravidão sexual. Muitas vítimas continuaram a sofrer de doenças venéreas e algumas tiveram histerectomias. Elas regularmente tinham pesadelos nos quais soldados japoneses as perseguiam, mas tiveram que esconder suas experiências horríveis por mais de 50 anos” [texto traduzido]. Assim, grande parte delas evitava mencionar o passado devido à vergonha e ao estigma sofrido.

Desse modo, somente na década de 1990 o caso das “mulheres de conforto” começou a ser amplamente reconhecido e discutido, graças às denúncias de vítimas do sistema de conforto, apoiado por movimentos feministas, que decidiram contar suas histórias e pedir por justiça. A primeira mulher a dar seu depoimento foi Kim Hak-Sol, a partir do seu testemunho outras mulheres, incluindo Ok-Sun Lee, foram capazes de falar sobre suas experiências mesmo em um país bastante patriarcalista como a Coréia do Sul. (PARRILHA, 2022).

Atualmente, sobreviventes, ativistas pelos direitos da mulher, estudiosos e defensores dos direitos humanos esforçam-se pelo reconhecimento da história das “mulheres de conforto”, lutam também por desculpas oficiais do governo japonês, compensação financeira e divulgação completa dos detalhes históricos sobre o sistema de escravidão sexual durante a guerra — com o intuito de combater a negação e a distorção dos fatos históricos por parte do Japão (SOH, 1996).

As vivências e as violências praticadas contra as “Mulheres de Conforto” pelo Império Japonês durante a Segunda Guerra Mundial é um crime de guerra pouco conhecido e debatido no Brasil. Estudar sobre a história dessas mulheres é importante não somente para a preservação da memória, mas também para contribuir com a luta por uma justiça que ainda não foi feita — uma vez que o Japão se recusa a fornecer as demandas exigidas pelas vítimas. (PARRILHA, 2022).

Assim, faz-se necessário que haja mais estudos sobre esse crime de guerra que afetou a vida de milhares de mulheres e uma forma bastante interessante de fazer isso é através da literatura, ao estudar a história por meio de livros, conseguimos nos conectar com os personagens e suas vivências. Grama é uma graphic novel que traz a história em primeira mão de uma mulher que vivenciou esse sistema de escravidão sexual do Império Japonês e que na atualidade luta por uma justiça que demora a chegar, fazendo com que quem leia essa HQ sinta o impacto de uma das diversas violências que aconteceu durante o período da Segunda Guerra Mundial.

Referências

Camilly Evelyn Oliveira Maciel é graduanda em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

 

AZENHA, Tatiana Sofia Fonseca. Para além do silêncio: o sistema de conforto e o papel dos movimentos feministas na questão das Mulheres de Conforto na Coreia do Sul: 1905-2015. 2018. Tese de Doutorado.

 

GENDRY-KIM, Keum Suk. Grama. 1ª ed. São Paulo: Editora Pipoca e Nanquim, 2020.

 

HOWARD, Keith. True stories of the Korean comfort women. 1995.

 

LADINO, James. “Ianfu: No comfort yet for Korean comfort women and the impact of house resolution 121”. Cardozo Journal of Law & Gender, v. 15, 2009, pp. 338-339

MIN, Pyong Gap. Korean “Comfort Women” the intersection of colonial power, gender, and class”. Gender & Society, v. 17, n. 6, p. 938-957, 2003

 

OKAMOTO, Julia Yuri. As Mulheres de Conforto na Guerra do Pacífico. Revista de Iniciação Científica de Relações Internacionais, v. 1, n. 1, 2013.

 

PARRILHA, Ariel da Silva. As “mulheres de conforto” coreanas e a violência sexual

estratégica: uma análise. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/236504>.

 

SIKKA, Nisha. The official marginalization of comfort women. Honours Thesis. Communications 498. Simon Fraser University. December 11, 2009. (33 fls.)

 

SOH, Chunghee Sarah. “The Korean ‘comfort women’: Movement for redress”. Asian Survey, v. 36, n. 12, dec. 1996, pp. 1226-1240.

 

SOUSA, Vivian Simões de. Estupro enquanto crime de guerra: uma análise sobre as “mulheres de conforto”. 2023.

YUN, Myung-Sook . As mulheres de conforto do Exército Japonês, segundo a HQ Grama. In: GENDRY-KIM, Keum Suk. Grama. 1ª ed. São Paulo: Editora Pipoca e Nanquim, 2020.

16 comentários:

  1. Olá. Adorei o seu texto. Eu não tinha nenhum conhecimento sobre as mulheres de conforto. Muito obrigada pelo conhecimento.
    Minhas questões: Você comentou que há as Manifestações de Quarta-Feira, esses grupos são considerados feministas? Você sabe quais ações são realizadas? Além do desejo de pedido de desculpas do governo do Japão. Há algum grupo mais organizado que busca outras demandas feministas? ou é só esse? Pois, acredito que o Japão ainda é muito patriarcal.
    Obrigada, Paola Rezende Schettert

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    1. Olá, Paola :)

      Em relação às manifestações:
      Elas são sim feitas com apoios de grupos feministas, principalmente pelo Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan” (Korean Council). Mas estão presentes nessas manifestações as sobreviventes e qualquer pessoa que queira prestar apoio às “mulheres de conforto”
      Há a participação de outros grupos feministas, grupos estudantis e até mesmo grupos religiosos coreanos, como o Comité de Direitos Humanos Budista.

      Sobre as ações realizadas:
      Além de um pedido de desculpa oficial, o Korean Council também pede: reconhecimento do crime, compensações às vítimas sobreviventes, punição pelos crimes de guerra, construção de um museu e um monumento em homenagem às vítimas, pedem também que a história verdadeira das mulheres de conforto estejam nos livros de história. Os participantes levam diversos cartazes com esses pedidos.

      Sobre os grupos:
      O principal grupo é o Korean Council, tendo em vista que ele foi criado justamente para apoiar a causa das “mulheres de conforto”, mas como já falado, há outros grupos que apoiam a causa.

      Sim, tanto o Japão quanto a Coreia do Sul são países bastantes patriarcais, porém é importante ressaltar que os movimentos feministas estão cada vez maiores na Coréia do Sul.
      A causa das “mulheres de conforto” é considerada um impasse nas relações diplomáticas entre Japão e Coréia do Sul, já que o Japão não quer negociar novamente com o governo sul coreano (que sofre pressão desses grupos que ganham cada vez mais força) sobre as “mulheres de conforto”.

      Espero que eu tenha sanado suas dúvidas!

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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  2. Parabéns, Camilly! O seu texto ficou muito bem escrito e aborda uma questão muito importante. Já trabalho com esse tema e mobilizo "Grama" a alguns anos, e fico muito feliz quando vejo pares abordando a obra e problematizando o caso das "mulheres de conforto", visto que é um tema ainda pouco debatido.
    Você chegou a acompanhar os debates que vêm sendo travados entre Coreia do Sul e Japão acerca da reparação histórica demandada pelas vítimas da escravidão sexual? Se sim, o que acha do posicionamento ultraconservador do Japão? E até mesmo de alguns políticos sul-coreanos da direita que preferem "abafar o caso" a de fato cobrar uma reparação histórica? Inclusive, um caminho de pesquisa muito interessante é atrelar a cultura patriarcal de base confucionista ao apagamento histórico dado as "mulheres de conforto" e vítimas femininas de crimes sexuais na Coréia do Sul e até no próprio Japão.
    att: Krishna Luchetti

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    1. O Japão alega que a Coréia está sempre dificultando a conciliação entre os países, não é? Para eles, o “acordo” de 2015 — que não levou em consideração vários dos desejos das vítimas — foi o suficiente.
      Percebe-se que a causa das "mulheres de conforto" não é relevante para eles, é apenas uma "pedra no sapato" para as relações diplomáticas e econômicas entre os dois países. É também muito triste que o Japão queira prolongar esse conflito o máximo que der, pois sabem que são poucas as ex-“mulheres de conforto” que ainda estão vivas e merecem indenização.
      Além disso, muitos conservadores (japoneses, mas também coreanos) acreditam que os grupos estão "exagerando na vitimização", sinceramente!
      É muito triste pensar que os próprios coreanos preferem que o fato continue no esquecimento, fico realmente chateada com alguns que não lutam pelos seus :( infelizmente o machismo (e o dinheiro) fala mais alto para esses conservadores! Apesar de o movimento feminista estar crescendo na coreia do sul, eles (assim como nós) têm um longo caminho pela frente na luta para fazer com que esses temas que abordam direito das mulheres seja mais debatido e tratato com seriedade.

      Obrigada pelos elogios e conselhos sobre pesquisa!

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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  3. Maria Carolina Stelzer Campos8 de agosto de 2023 às 14:39

    Parabéns Camily, que texto ótimo! Acho que o tema acerca das "mulheres de conforto" é algo que deve ser trago cada vez mais no meio acadêmico. E queria comentar sobre o k-drama "Tomorrow", no episódio 13 é retratado esse período da história, e ao longo do drama é retratado várias circunstâncias onde as mulheres sofrem violências ao longo da sua vida e ao longo da história. Você já assistiu? Consegue relacionar a Graphic Novel com o drama?
    - Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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    1. Obrigada pelo elogio! Sim, espero que esse tema seja cada vez mais conhecido e abordado.
      Em relação ao K drama, assisti sim (chorei demais). É outro material bom de se usar para conhecer mais sobre as “mulheres de conforto”.
      Tanto o episódio como a graphic novel contam a história de uma “mulher de conforto”, podemos ver muitas semelhanças nas duas histórias, mas também algumas diferenças, pois cada história é única. Dá pra fazer outro artigo apenas com esse magnífico episódio!
      Acho que uma das coisas mais tocantes deste episódio é a ligação entre o passado e o presente e sobre como podemos fazer a diferença na vida das pessoas apenas ouvindo-as.
      Gostei bastante de um tópico que foi trazido lá e que não está em Grama (tendo em vista que a protagonista não teve essa experiência) que foi as tatuagens que alguns soldados japoneses faziam no corpo dessas meninas, principalmente com insultos como “prostituta” e “suja”, mais uma vez violando o corpo dessas garotas e marcando-as por toda a vida, o episódio também um pouco o quão foi difícil pra protagonista se estabelecer de novo na sociedade, e o quanto várias pessoas a julgavam pelo seu passado, fiquei bastante comovida.
      Por fim, uma pauta que há tanto na graphic novel como no episódio que eu gosto muito é a certeza de que essas mulheres irão conseguir justiça e que apesar de elas terem sofrido tanto, elas ainda acharam forças pra continuar lutando!

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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  4. Oi Camilly, parabéns pelo excelente texto! Pelo pouco que conheço do Grama - graphic novel, a obra recebeu diversos prêmios fora da Coréia do Sul e foi traduzida para vários idiomas, inclusive para o Português. No entanto, você saberia dizer como foi a recepção da obra na própria Coreia do Sul? A obra teve a aceitação dos coreanos?
    Obrigada!
    Renata Ary.

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    1. Olá! Muito obrigada! Renata, confesso que após sua pergunta fui atrás dessa informação pois não tinha esse conhecimento! A autora ganhou o prêmio Best Creative Manhwa Award pela curta-metragem “Sister Mija”, sobre uma “mulher de conforto”, mas não achei nenhum prêmio referente à Grama, na Coréia (não significa que não tenha! como não sei coreano essa informação é um pouco mais difícil de encontrar). Entretanto, achei uma entrevista da autora sobre suas obras e duas perguntas do entrevistador mostram que, aparentemente, Grama não é muito divulgado na Coréia do Sul
      as duas colocações foram: “ (Grama) e são histórias que surgiram de eventos históricos na Coréia, mas são mais populares no exterior, como EUA e Europa, do que na Coréia.”
      “Você se arrepende do relativamente baixo reconhecimento de seu trabalho na Coréia?”. Vou deixar o link da entrevista aqui, está e coreano mas nada que um tradutor não resolva rs!
      https://m.khan.co.kr/culture/culture-general/article/202210010823001

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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    2. Oi Camily, boa tarde! Foi o que eu imaginei.... que na própria Coreia o livro não teria tido tanta aceitação! Vale a máxima: "casa de ferreiro, espeto de pau". rs Obrigada!!!
      Att. Renata Ary

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  6. É chocante, revoltante e triste ao mesmo tempo. O corpo feminino sempre foi vulnerável historicamente e visto como algo "usável", e isso é extremamente revoltante! O governo japonês trata sobre este assunto como algo que nunca existiu? Ou ao menos eles reconhecem que foi uma atrocidade o ocorrido, mesmo não fazendo um pedido de desculpa formal?

    Suelen Bonete de Carvalho
    suelenbc@edu.unirio.br

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    1. É triste como as mulheres estão sempre vulneráveis, principalmente em épocas de tensões/guerras.
      Em relação a sua pergunta: Por muitos anos o governo japonês tentou negar a existência do sistema de conforto, inclusive alegando que ninguém tinha provas concretas sobre isso. Depois, quando mais estudos foram feitos, mais ex-“mulheres de conforto” expuseram seus casos, e vários grupos de direitos humanos protestaram também houve uma mudança gradual nessa abordagem.
      Em 1993, o governo japonês emitiu uma declaração de desculpa e em 2015 houve um acordo entre Coréia do Sul e Japão, mas esse acordo não levou em consideração vários dos pedidos das ex-“mulheres de conforto”. Portanto, ainda há desafios no que diz respeito a pedidos de desculpas formais, responsabilização completa e reparação adequada para as vítimas.

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel.

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  7. Bom dia, gostaria de antes parabenizar o seu trabalho, achei incrível! Minha pergunta é sobre esse trecho "20% dividiram-se entre chinesas, japonesas, filipinas, tailandesas, entre outras" se de alguma forma isso é falado por essas nações (exceto Japão) e se há ativistas dessas nações que lutam por um pedido de desculpas, pois lendo me criou essa dúvida de a luta ser algo das coreanas ou mais geral.
    Desde já grata.
    Ana Clara Valadão de Carvalho

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    1. Oi, Ana! Então, há sim ativistas de outras nações como China (as ex- “mulheres de conforto” chinesas já até mesmo moveram processos contra o Japão) e Taiwan (onde até mesmo políticos já doaram para uma arrecadação de fundos para as ex- “mulheres de conforto” taiwanesas), atualmente há ativistas até mesmo em outros países como Estados Unidos, porém, como grande parte das vítimas foram coreanas, os eventos se concentram mais na Coréia do Sul.
      Fonte: Chinese Comfort Women Testimonies from Imperial Japan’s Sex Slaves, by Peipei Qiu, with Su Zhiliang and Chen Lifei.

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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  8. Boa tarde Camilly!

    Muito bacana ver que compartilhamos de um tema tão importante para a História Contemporânea do leste asiático. Adorei a sua análise do quadrinho, o li no final do ano passado e fiquei extremamente tocada com a história, por mais que não me interesse tanto por esse tipo de literatura. Você fez um ótimo trabalho! Parabéns!

    Pergunta: Gostaria de saber se após os anos 90, quando o assunto veio a tona novamente, se houve algum tipo de julgamento em que buscaram encontrar o(os) culpado(os) para a violência ocorrida durante os tempos do Japão imperialista.

    Atenciosamente,
    Tamires Barbosa da Costa.

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    1. Oi, Tamires, obrigada pelo elogio!

      Então, pelo que pesquisei e estudei até agora, houve alguns processos judiciais movidos contra o Japão por algumas sobreviventes, mas é bastante complicado devido às questões diplomáticas. A questão das mulheres de conforto já foi debatida até mesmo na ONU, mas não houve nenhum tribunal internacional a respeito desse caso específico.

      Att: Camilly Evelyn Oliveira Maciel.

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