A MISSÃO TENSHŌ: A PRIMEIRA EMBAIXADA JAPONESA NA EUROPA, por Lígia Kaori Kondo

 

A Companhia de Jesus no Japão

Fundada em 1534 por Inácio de Loyola e outros seis estudantes, a Companhia de Jesus tornou-se em poucos anos uma das maiores ordens missionárias no mundo, se fazendo presente em diversos pontos do globo, sendo o arquipélago japonês de maior interesse para a presente pesquisa. Em 1549, nove anos após o reconhecimento oficial da Companhia de Jesus, os jesuítas chegam ao Japão com o objetivo de espalhar a fé cristã no arquipélago.

 

A ação dos missionários no Japão não aconteceu sem que estes tivessem que enfrentar várias dificuldades, tais como as diferenças culturais e linguísticas, a falta de recursos financeiros, a pequena quantidade de religiosos europeus dispostos a se deslocar para o arquipélago, as perseguições e inseguranças geradas pelo contexto político em que o Japão se encontrava e a resistência da população nativa à conversão.

 

A embaixada japonesa

Buscando solucionar diversas dificuldades enfrentadas pela missão japonesa, o jesuíta Alessandro Valignano – enviado ao Japão em 1579 na função de Visitador – iniciou o projeto da primeira embaixada japonesa na Europa, conhecida como Missão Tenshō – esta recebe o nome de Tenshō por ter sido realizada durante a era de mesmo nome [1573-1592]. Valignano foi enviado ao Japão para inspecionar as instalações administradas pelos jesuítas, garantir que as missões estivessem funcionando sem problemas, instituir reformas conforme fossem necessárias e enviar relatórios para a Europa. O jesuíta foi uma figura de grande importância para a missão católica no Japão, visto que implementou diversas mudanças muito significativas na forma como os jesuítas deveriam atuar. Podemos citar como exemplo a ênfase no estudo da língua japonesa e a maior adaptação dos missionários aos costumes japoneses.

 

Desde o início, o principal problema dentre os enfrentados pela Igreja no Japão foi a falta de financiamento adequado para sustentar o trabalho apostólico realizado pelos missionários. Em razão da grande distância entre o Japão e a Europa, os fundos prometidos eram frequentemente atrasados ou nunca chegavam ao seu destino final. Diferentemente das missões localizadas em outras áreas do globo, como América e África, a missão católica no Japão não estava estabelecida em um território colonizado por Portugal ou Espanha. Consequentemente, não houve um financiamento da ação missionária no arquipélago por parte das coroas ibéricas e os missionários muitas vezes contavam apenas com suas alianças com governantes locais, os daimyō, para protegê-los – tendo em vista o contexto de conflitos internos em que o Japão se encontrava. Entretanto, apesar de suas alianças com alguns daimyō, estes, segundo Cooper:

 

“[…] appeared to be wealthy, but had little cash to spare to subsidize missionary activity, for, in accordance with the Japanese politico-economic system of those times, much of their income was used up in sustaining their many retainers.” [2005, p.6]

 

Para cobrir os gastos da missão católica japonesa, os jesuítas se envolveram diretamente com o comércio praticado entre europeus e japoneses, intermediando as relações entre os comerciantes portugueses e japoneses.

 

Ainda que a atuação dos jesuítas no comércio ajudasse a custear a ação missionária, esta não era suficiente para sanar todos os problemas financeiros enfrentados pelos jesuítas. Valignano, portanto, propõe a Missão Tenshō como solução para a questão financeira da missão católica no arquipélago, visto que o jesuíta acreditava que se a missão japonesa fosse mais bem conhecida seria possível atrair mais recursos para a mesma.

 

Além de seu objetivo central – solucionar a falta de financiamento da missão católica no Japão – a primeira embaixada japonesa também cumpria outros propósitos. Para Valignano a embaixada tinha também como objetivo conscientizar as elites clericais e seculares da Europa sobre o Japão, demonstrando, através da presença de jovens nobres e refinados, que o que os jesuítas relataram sobre o Japão não eram invenções ou mentiras [MASSARELLA, 2005, p.331].

 

Valignano também buscava impressionar os jovens japoneses, visto que os japoneses não viam os estrangeiros europeus como iguais, ou seja, consideravam os estrangeiros como inferiores. Consequentemente, a Missão Tenshō teria sido criada objetivando a mudança da imagem dos europeus na sociedade japonesa. A viagem à Europa possibilitaria que os jovens japoneses presenciassem a grandeza da Igreja Católica e a riqueza e o esplendor dos reinos europeus e suas cidades, de modo que ao retornar ao Japão, poderiam prover testemunhos sobre sua experiência positiva na Europa. De acordo com Derek Massarella:

“Valignano insisted on this because the Japanese knew nothing concrete about Europe and tended to see the missionaries as materially poor and socially inferior individuals who had come to Japan ostensibly to preach about Deus but in reality to make their fortune. It was imperative, therefore, that the boys be treated properly, befitting their high status, and given every opportunity to see the churches, ecclesiastical palaces, gardens and other riches of the church. The trip was to be edifying." [2005, p.331]

 

Os preparativos para a Missão

A embaixada teve o apoio inicial de Oda Nobunaga e foi impulsionada por três daimyō católicos: Ōmura Sumitada [batizado como Bartolomeu em 1563], Arima Harunobu [batizado como Protazio em 1579] e Ōtomo Yoshige [batizado como Francisco em 1578] [COOPER, 2005, p.13]. Estes enviaram para a Europa quatro jovens embaixadores: Mancio Itō, Miguel Chijiwa, Martin Hara e Julian Nakamura. Nascido em 1569, Mancio Itō era neto de Itō Yoshisuke, daimyō de Hyūga, e representava Ōtomo Yoshige em razão de seu parentesco com o mesmo – ambos eram ligados pelo avô de Mancio Itō. Os outros dois daimyō, Ōmura Sumitada e Arima Harunobu, foram ambos representados por Miguel Chijiwa. Nascido em Arima em 1567, Miguel era sobrinho de Ōmura Sumitada e primo em segundo grau de Arima Harunobu. Segundo Luís Fróis, em seu escrito denominado “Tratado dos embaixadores japões que forão de Japão a Roma no ano de 1582”, optou-se pelo envio dos jovens japoneses em razão da impossibilidade dos daimyō de deixarem suas terras por um longo período de tempo. Pode-se observar tal questão no seguinte trecho:

 

“E supposto que pelos muitos, e frequentes guerras, que ha em Japão, elles [os daimyo] pessoalmente não podião por tantos annos, como no caminho se havião de gastar, deixar seos reynos, e terras, ao menos dezejavão mandar quem nas pessoas lhes não fossem inferior, e quem no sangue lhes fossem muito propinquos; el Rey Francisco, alem do Principe herdeiro dos Reynos, que ja governava, tinha outros dous filhos mossos, mas pela urgente necessidade das guerras, cada hum delles estava em sua fortaleza metido fronteiras dos inimigos; Dom Bartholomeu tinha filhos, mas erão crianças, tambem no mesmo tempo estava opprimido de hum grande inimigo seo vizinho; Dom Protazio por ser mancebo não, tinha ainda filho, Nem filha: pelo q pareceo bem a el Rey Francisco mandar a Dom Mancio seo sobrinho filho de hu'a irmã del Rey de Fiunga; e Dom Protazio mandou a Dom Miguel filho de hum seo tio Senhor de Chigiwa; e Dom Bartholomeu acrescentou a Dom Miguel tambem seo sobrinho outros dous parentes seos fidalgos de sua caza, hum por nome Dom Martinho, e outro Dom Julião; e por escuzar a pompa, e gente , que era necessaria que os acompanhasse.” [FRÓIS, [ca 1701], p.10-11]

 

Além dos representantes diretos dos daimyō, foram enviados também Martin Hara e Julian Nakamura. Estes foram escolhidos para se juntar à delegação de Valignano em razão de suas pequenas ligações com Ōmura Sumitada. Segundo Cooper, “only Mancio and Michael were the official legates of the daimyo, and on formal occasions it was they who took precedence, delivered speeches and presented letters from Japan” [2005, p.17], entretanto, nas atividades diárias não havia diferenças entre os quatro jovens. Em casos de imprevisto e ausência de um dos representantes – Mancio ou Miguel – era possível que os outros dois jovens os substituíssem. [COOPER, 2005, p.17-18]

 

Valignano incumbiu ao padre Nuño Rodrigues a tarefa de acompanhar os jovens japoneses, levar suas cartas e registros à Europa e entregar algumas cartas dos daimyō para o papa em Roma. Juntamente à Rodrigues estavam também o jesuíta Diogo de Mesquita, Jorge de Loyola – um japonês convertido – e dois serventes japoneses, Constantino Dourado e Agostinho.

 

A delegação de Valignano era de fato pequena, porém essa seria uma escolha proposital de Valignano. Apesar de ser nomeada como embaixada, a missão Tenshō não pode ser de fato entendida como uma embaixada no senso usual do termo – representação de um governo ou chefe de Estado. Segundo Michael Cooper:

 

“Valignano did not, of course, have the authority to organize a national embassy, and in any case Japan did not possess a central government at that time to be represented. Instead, he would settle for a less ambitious project and lead a small legation on behalf of the three Christian daimyo of Kyushu.” [2005, p.12]

 

Os jovens japoneses enviados à Europa, apesar de serem chamados de embaixadores, não exerceram um papel diplomático ou político. A viagem feita à Europa assume um caráter edificante, sendo possível constatar tal questão nas cartas escritas pelos daimyō católicos. As cartas presentes no “Tratado dos embaixadores japões que forão de Japão a Roma no ano de 1582” são destinadas ao Papa e ao Rei de Portugal – Filipe I – e nelas observa-se a presença da questão religiosa – conversão ao cristianismo – e a justificativa para a não vinda dos daimyō a Europa. Para exemplificar tal questão, citamos um trecho da carta de Ōmura Sumitada enviada ao Papa Gregório XIII:

 

“Copia de hua carta de Dom Bartholomeu para sua Santidade.

Ainda que seja atrevimento, com tudo com a graça do Senhor humildemente offereço á Vossa Santidade esta ignorante carta. Por quanto Vossa Santidade está em lugar de Deos no mundo e juntamente por Santo Mestre, e Doutor de toda a Christandade, pelo qual passando eu em pessoa os mares havia de hir lá a beijar, e pór a cabeça debaixo dos pés de Vossa Santidade; mas por ter tantas ocupaçoens que me estorvão, Não o faço; assim que agora Nestes tempos Veio á estas terras tão remotas para Vizitalas o Padre Visitador da Companhia de JESUS , e com Sua Vinda depoes de haver ordenado Muitas Couzas dignas de Muitos agradecimentos , Se torna para Seos Reynos , e com esta boa ocasião Vay em sua Companhia Dom Miguel meo sobrinho Senhor de Chingiwa; e posto que nem elle , nem eu temos merecimentos para fazer esta Viagem, nem atrevermos a chegar aos pés de V. Santidade, o qual fora para mim couza de grande agradecimento, e obrigação, rogo á V. Santidade humildemente se queira lembrar daqui por diante desta terra, e nova Christandade, e juntamente de mim, e fora disto não tenho desejo de outra couza alguma.” [FRÓIS, [ca 1701], p.149]

 

Toda a missão japonesa foi organizada de modo que os jesuítas estivessem em constante comunicação entre si, no arquipélago, como também com seus superiores em Roma e com o povo europeu, através de cartas. Estas possuíam diferentes formas de escrita, a depender do destinatário da correspondência. Caso fossem para seus superiores, as cartas deveriam ser mais informativas do que edificantes, relatando o andamento das missões e suas dificuldades e avanços. De forma oposta, nas cartas destinadas à população geral “se produzia a imagem da Companhia para provocar edificação e apoio” [LONDOÑO, 2002, p.19]. Essas cartas escritas pelos daimyō católicos são um grande exemplo dos escritos que visavam a edificação e refletem os objetivos da Missão Tenshō.

 

Por fim, nas cartas enviadas à Europa não são mencionados interesses políticos ou econômicos. Tal questão evidencia novamente o caráter edificante da Missão Tenshō – um dos objetivos de Valignano para a legação japonesa.

 

A repercussão gerada pela embaixada

A embaixada japonesa na Europa recebeu muita atenção por onde passou, sendo constatado em diversos episódios narrados no “Tratado dos embaixadores japões que forão de Japão a Roma no ano de 1582” uma grande recepção dos japoneses. Citamos como exemplo a recepção dos embaixadores em Madri durante seu encontro com Filipe II:

 

“Mandou lhe sua Magestade dous coches ricamente preparados com suas almofadas de veludo dentro, em que fossem, com algúa gente de guarda sua, que os acompanhas se: eles se vestirão ao modo Japão com suas catanas, e vaquizaxis tabis, e xiquires calçados; e posto que não houve particular acompanhamento de gente, conforme a ordem, que sua Magestade tinha dado; todavia foi tanto o concurso da gente de pé, e de cavalo, que hião de traz, e ao redor dos coches, que se não podia buscar mais acompanhamento. Sahirão de caza as 3 horas depoes do meio dia; [...] e ao sahir dos coches no paço era tanta a Multidão, e concurso de gente de todo genero, que se ajuntava para os ver, que não poderam entrar no paço por estarem apertados, e haver ja pedaço que el Rey os esperava, foi necessário que Sebastião de Santayo principal da camara de sua Magestade desse recado aos sargentos da Guarda para que com ella acodissem abaixo a lhes fazer caminho” [FRÓIS, [ca 1701], p.30].

 

Segundo Charles R. Boxer, “This embassy fulfilled his [Valignano] double intention of attracting the attention of Christendom to the splendid progress the Jesuits were making in Japan, and of impressing the Japanese with the power and civilization of Catholic Europe” [1967, p.73]. Por conseguinte, a atenção gerada pela embaixada também buscava ajudar a amenizar as dificuldades relativas aos custos financeiros e a falta de mão-de-obra missionária no Japão.

 

A trajetória dos quatro embaixadores foi amplamente difundida pelos quatro cantos do mundo, e os jesuítas usaram intensamente a Missão Tenshō como propaganda da Companhia de Jesus. Tal fato pode ser constatado através das “[...] 76 obras publicadas no espaço de doze anos, entre 1585 e 1593, com informações directamente relacionadas com os quatro jovens conversos japoneses que visitaram a Europa” [LOUREIRO, 2020, p.243].

 

A constante difusão de informação sobre o Japão e a construção de uma imagem positiva dos japoneses pelos jesuítas atraiu outras ordens religiosas ao arquipélago, interessadas em atuar no local divulgado como favorável à disseminação do catolicismo. A vinda de outras ordens missionárias ao Japão era muito desaprovada pelos jesuítas, visto que defendiam “a importância estratégica de fazer a evangelização apenas por intermédio de uma só ordem religiosa e apenas através do padroado português” [FRANCO, 2007, p.212].

 

Valignano em várias correspondências se mostra completamente contrário à vinda de outros missionários ao Japão, pois temia que a chegada de membros de outras ordens inexperientes na vida e costumes japoneses atrasasse sua política de difusão do cristianismo no arquipélago. Podemos observar seu posicionamento no seguinte trecho:

 

“Las qualidades, costumbres, y modo de preceder de los Japones son tan diferentes , y contrarios a los Nossos , que no es aun Japon capaz del modo de proceder que tienen otras religiones de Europa; y como esto no pueden bien entender, sino despues de mucho tempo, y mucha experiencia, vivendo elles a Japon, han de hacer pr.o los erros , q nosotros hizemos al principio , q seran aora peores, y no ayudaran para mas, que deshazer lo que nosotros despues de haver tomado mucha experiencia de la tierra, passando por muchas tribulaciones, vamos aora haciendo. Como arriba a quedadho , no es Japon q se pueda hacer fundamentalmente de governarse por medio de estrangeros; porque no es gente de tan poco brio , ni de tan poco saber , que sufre esso, y por esso no se ha de hazer cuenta sino de criar naturalles , y dexarles despues á ellos el governo de sus Iglesias , y para esso basta una sola Religion para começarlos a encaminhar […].” [FRÓIS, [ca 1701], p.233-234]

 

Ao mesmo tempo em que buscava retratar o Japão como um local muito próspero para a difusão do cristianismo, Valignano não desejava que outros missionários viessem ao Japão – ambicionando manter o monopólio jesuíta no arquipélago. Ou seja, a vinda dos quatro jovens japoneses à Europa deveria apenas atrair recursos, promover os trabalhos feitos pelos jesuítas e impressionar os jovens japoneses. A embaixada teria, portanto, fins propagandísticos muito bem definidos e orquestrados.

 

A fim de que tudo ocorresse da forma como foi idealizada por Valignano, o jesuíta deixou diversas instruções sobre como as atividades da embaixada deveriam ser conduzidas. Deste modo, a forma específica de como a Missão Tenshō deveria ser organizada e recepcionada indica a intenção de Valignano para a legação – nesse caso, a embaixada deveria atrair apenas a atenção desejada pelo jesuíta e evitar que os jovens japoneses tivessem contato com questões vistas como negativas pelos jesuítas, como por exemplo o protestantismo.

 

Considerações finais

Para Valignano a embaixada japonesa tinha três objetivos principais. O primeiro era obter uma solução para as dificuldades financeiras da missão japonesa e adquirir um maior apoio de Roma e das Coroas Ibéricas. Em segundo lugar, a embaixada deveria atrair a atenção das elites clericais e seculares da Europa para o Japão, demonstrando, através da presença e testemunho dos quatro japoneses, que o trabalho dos jesuítas no Japão era muito triunfante e merecedor de reconhecimento. Em terceiro lugar, a Missão Tenshō deveria impressionar os jovens japoneses a fim de que estes servissem como testemunho da grandiosidade da religião cristã e dos reinos católicos europeus.

 

Tais objetivos são parcialmente atingidos, visto que Valignano conseguiu uma pequena ajuda financeira – mesmo que essa tenha sido descontinuada pouco tempo após o retorno dos jovens japoneses ao Japão – e a embaixada atraiu muitas pessoas por onde passou. A delegação de Valignano foi recebida por diversas figuras de muito poder e prestígio como o Papa Gregório XIII, Filipe II e Toyotomi Hideyoshi – durante seu retorno para o Japão – e a grande quantidade de publicações produzidas sobre a Missão Tenshō também demonstram o grande alcance das notícias sobre a embaixada. Entretanto, o sucesso de Valignano não levou a maiores mobilizações por parte da Igreja para o desenvolvimento da missão japonesa. Da mesma forma, também não houve um maior interesse por parte das monarquias católicas em um projeto de conquista ou de apoio ao trabalho dos jesuítas no arquipélago. Por fim, a embaixada apresentou o Japão à Europa e a terra misteriosa apontada a muitos anos por Marco Polo – nomeada como “Zipangu” – havia se tornado uma realidade para os europeus.

 

Referências

Lígia Kaori Kondo é mestranda no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense [UFF] e integrante do grupo de pesquisa Cia das Índias - Núcleo de História Ibérica e Colonial na Época Moderna. E-mail: ligiakondo@id.uff.br

 

BOXER, Charles Ralph. The Christian Century in Japan 1549-1650. Los Angeles: University of California Press, 1967.

 

COOPER, MICHAEL, The Japanese mission to Europe, 1582-1590: The journey of four samurai boys through Portugal, Spain and Italy. 1 ed. [S.I.]: Brill, 2005.

 

FRANCO, José Eduardo, Jesuítas e franciscanos perante as culturas e as religiões do Extremo Oriente: o caso da Apologia do Japão e a dramática missionação das Ilhas do Sol Nascente, História Unisinos, v. 11, n. 2, p. 210–221, 2007.

 

FRÓIS, Luís. Tratado dos embaixadores japões que forão de Japão a Roma no ano de 1582. Lisboa: Biblioteca Nacional de Lisboa, [1701]. Cópia de parte da "Historia de Japam" do Padre Luís Fróis, compilada pelo Padre José Montanha.

LONDOÑO, Fernando Torres. Escrevendo cartas: jesuítas, escrita e missão no século XVI. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 22, n. 43, p. 11-32, jul. 2002.

 

LOUREIRO, Rui Manuel. Livros europeus para o Japão: algumas notas sobre o de missione legatorum iaponensium [macau,1590]. In: RODRIGUES, Vítor Gaspar; AVELAR, Ana Paula [org.]. Os portugueses e a Ásia Marítima: trocas científicas, técnicas e sócio-culturais [séculos XVI-XVIII]. [S.L.]: Academia de Marinha, 2020. p. 239-250.

MASSARELLA, Derek. Envoys and Illusions: the japanese embassy to europe, 158290, de missione legatorvm iaponensium, and the portuguese viceregal embassy to toyotomi hideyoshi, 1591. Journal Of The Royal Asiatic Society, [S.L.], v. 15, n. 3, p. 329-350, nov. 2005. Cambridge University Press [CUP]. http://dx.doi.org/10.1017/s1356186305005304.

2 comentários:

  1. Arthur Denófrio Silva8 de agosto de 2023 às 21:32

    Olá, achei o seu texto ótimo e muito esclarecedor, com um tópico muito interessante.
    Porém, quando você fala sobre os impactos da embaixada há um foco maior no impacto que teve nos empenhos dos jesuítas e no interesse dos europeus em geral. Gostaria de saber se é possível reconhecer algum impacto desta embaixada na dispersão e permanência (ou falta dela) do cristianismo dentro do Japão.
    A embaixada aconteceu em 1582, em questão de uma década após ela então já começariam perseguições contra cristãos. É possível relacionar essa perseguição, ou até mesmo a presença contínua de cristãos clandestinos dentro do Japão, etc., com a embaixada ou com o maior interesse de outras ordens cristãs pelo Japão gerado por ela, como citado? Sua menção da recepção da embaixada por Hideyoshi me interessa particularmente, já que ele estabeleceria algumas das mais violentas e marcantes perseguições de cristãos dentro do Japão algum tempo depois.

    Espero sua resposta,
    Arthur Denófrio Silva

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    1. Olá Arthur. Agradeço pelo seu comentário e interesse no tema.

      Até o momento, em minha pesquisa, não pude averiguar nenhuma relação direta entre a Missão Tenshō e a perseguição dos cristãos no Japão, tanto no sentido de intensificação da perseguição – ou seja, se a embaixada teria causado um aumento da perseguição – quanto no sentido de diminuição da perseguição – se a embaixada teria causado a redução da perseguição. Como foi expresso nas minhas considerações finais, o projeto do Valignano foi um sucesso parcial. Dado que o sucesso de Valignano não levou a maiores mobilizações por parte da Igreja e das monarquias católicas para o desenvolvimento da missão japonesa, a embaixada na prática não interferiu positivamente para a dispersão do cristianismo no Japão – tendo em vista que um projeto de apoio poderia auxiliar a expansão do cristianismo no arquipélago. Também não é possível constatar um aumento da vinda de missionários ao arquipélago por causa exclusivamente da embaixada, pois, apesar da grande difusão das notícias sobre a embaixada, esta não pode ser considerada como único fator de atração das ordens missionárias ao Japão (devemos ter em mente que notícias da missão japonesa já circulavam na Europa desde 1577. Estas eram majoritariamente produzidas pelos jesuítas para divulgar sua atuação no arquipélago e as notícias da embaixada apenas somam-se a elas). E em relação a repercussão que a embaixada teve no Japão, ela não amenizou a perseguição dos cristãos, porém também não foi um fator que a intensificou.

      No que se refere ao encontro com Toyotomi Hideyoshi, é interessante notarmos que o retorno da embaixada aconteceu apenas 3 anos após a publicação do primeiro édito de perseguição dos cristãos (24 de julho de 1587) e, inicialmente, ciente da importância dos jesuítas para a manutenção do comércio, Toyotomi Hideyoshi não iniciou uma perseguição imediata dos cristãos. Segundo as autoras Alexandra Curvelo e Ana Fernandes Pinto (O martírio de cristãos no Japão: uma estratégia dos Tokugawa 2009 p.147-148.),
      “Este primeiro édito redundou, no entanto, numa medida política preventiva e de afirmação da autoridade central. Tanto assim é, que, nos anos, que se seguiram a sua promulgação, Hideyoshi, ciente da importância dos missionários para a manutenção do comercio, não hostilizou os jesuítas, os únicos religiosos estabelecidos nesse momento no Japão, nem impediu a entrada de missionários pertencentes as ordens mendicantes”.

      Tendo em vista esta questão, o encontro com Hideyoshi foi positivo: durante o encontro com Hideyoshi os jovens japoneses tocaram instrumentos musicais aprendidos na Europa, relataram como foi sua experiência na Europa e entregaram as cartas e presentes trazidos de sua viagem. Entretanto, apesar do encontro ter sido positivo, este não resultou em mudanças na perseguição aos cristãos. Talvez por causa da atitude de cautela de Hideyoshi com os jesuítas, a embaixada foi recebida, porém Hideyoshi também não tinha interesse em estabelecer um contato próximo com os missionários visto que estes foram considerados uma força religiosa com capacidades para ditar intervenções militares e ameaçar o poder de Hideyoshi.

      Por fim, espero ter elucidado as suas questões e caso tenha sobrado alguma dúvida estou à disposição para saná-la também.

      Atenciosamente,
      Lígia Kaori Kondo.

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