A MEMÓRIA E A IDENTIDADE NA NARRATIVA DO ROMANCE A POLÍCIA DA MEMÓRIA, DE YOKO OGAWA, por Allana da Silva Araujo


O romance A Polícia da Memória, da japonesa Yoko Ogawa, foi lançado em língua japonesa em 1994, pela editora Kodansha Ltd., cuja publicação brasileira, com tradução de Andrei Cunha, foi lançada pela editora Estação Liberdade em 2021. A Polícia da Memória narra a história de uma escritora que vive em uma ilha controlada por uma instituição responsável por ditar o que deve ou não ser apagado da memória de seus habitantes. Essa escritora ajuda seu amante — e editor — a se esconder da polícia da memória, uma vez que ele é uma das poucas pessoas da ilha que não são afetadas pelos sumiços (maneira com que nomeiam o fenômeno dos esquecimentos).

 

No decorrer da narrativa, vários elementos são adicionados de modo que haja uma relação entre memória e identidade. A cada sumiço de objetos aparentemente comuns e inofensivos, memórias relacionadas a esses também desaparecem, causando o surgimento gradativo de vazios na identidade não apenas dos habitantes da ilha, como também dela própria.

 

A primeira característica que chama a atenção é o fato de que nenhum dos personagens possuem (ou são identificados com) um nome próprio. Com exceção de R, personagem que chega mais perto de ter uma identidade e um dos únicos ativos na narrativa que não são afetados diretamente pelos sumiços, o professor Inui, um velho amigo dos pais da protagonista, e a própria protagonista, todos os outros são identificados por suas profissões ou funções sociais. Nem mesmo a ilha tem um nome, o que ajuda a descaracterizá-la como um local de acolhimento ou um lar:

 

‘Hoje, a chapelaria do outro lado da rua é uma loja de guarda-chuvas. O marido de minha babá passou de motorneiro da balsa a guarda-noturno de um silo. Uma amiga minha da escola, mais velha que eu, de cabeleireira, se transformou em parteira. Nunca vi as pessoas reclamarem disso, nem quando passavam a ganhar menos. Ninguém expressa pesar nem saudade. Além do quê, todos sabem que resmungar pode causar suspeita e chamar a atenção da polícia secreta’. [Ogawa, 2021, local. 124, grifo nosso]

 

O trecho acima é apenas um dos muitos exemplos que se tem desse processo de perda de identidade presente na narrativa. O ex-balseiro passa a ser chamado de “o velho” à medida em que toma espaço de destaque no enredo, mas nunca pelo seu nome; a esposa do professor Inui é referida apenas como esposa, bem como o filho do casal é referido como “o filho de oito anos”; e a esposa de R, que é identificada como Senhora R, dando a entender que ser uma esposa é o único papel que lhe cabe naquela sociedade.

 

Paim et al. (2019, p. 200) diz que a identidade se estabelece a partir das interações internas e externas, o que faz da identidade algo não fixo, instável, já que “[...] é possível afirmar que as identidades precisam ser vistas a partir do panorama social, visto que se constroem na diferenciação com os outros e na relação com os indivíduos e o meio que nos cercam [...]”. Essa diferença fica clara à medida que a narrativa avança e percebemos que as identidades dos indivíduos afetados e não afetados pelos sumiços são bem demarcadas: os indivíduos afetados não se importam de perder as lembranças relacionadas aos objetos que somem e apenas se adaptam à sua nova condição, enquanto os indivíduos que lembram têm que conviver com a nostalgia causada por essas lembranças sem poder compartilhar com outras pessoas.

 

No decorrer da narrativa, embora a narradora-personagem e protagonista seja uma das pessoas afetadas pelos sumiços, há vários relatos de memórias com seus pais. O primeiro deles é de quando sua mãe, capturada pela polícia da memória há alguns anos por ser uma das pessoas que não eram afetadas pelos sumiços, conta-lhe como a ilha era antes de a primeira coisa desaparecer e o quão abundante era de coisas, além de mostrar-lhe as coisas sumidas que havia guardado em uma cômoda: fita de cetim, um guizo, uma esmeralda, selo para cartas, perfume… Todos esses objetos ligados não só às memórias individuais e afetivas, como também à memória coletiva:

 

‘– Naquela época, todo mundo conseguia apreciar um aroma. Hoje em dia, ninguém mais sabe o que é isso. Não é mais vendido em lugar nenhum, nem ninguém mais quer comprar perfume. O perfume desapareceu no outono do ano em que me casei com seu pai. Todos trouxeram seus perfumes de casa e se reuniram à beira do rio. As pessoas destampavam os frascos e despejavam o líquido no rio. Houve aqueles que, com expressão arrependida, depois levavam os frascos vazios ao nariz. Mas já não havia mais ninguém que conseguisse sentir o aroma. E, assim como o perfume desapareceu, todas as memórias relacionadas a ele também se evaporaram. O perfume se transformou em algo inútil, degradado ao nível de uma água de segunda classe. Depois disso, por dois dias, em toda parte havia um cheiro tão forte que dava náuseas. Muitos peixes morreram. Mas não houve quem se importasse, porque o belo aroma se apagara do coração de todos’. [Ogawa, 2021, local. 88]

 

Mais tarde, a narradora-personagem mostra essa cômoda para seu editor e amante, R, e, quando encontram os objetos sumidos escondidos em estátuas que sua mãe havia feito, R fica feliz e nostálgico com o reencontro com objetos que haviam sumido 15 anos antes, compartilhando assim uma memória com a mãe da escritora. Sobre isso, o sociólogo francês Maurice Halbwachs [1990, p. 16] diz que:

 

‘[...] nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem. [...]’

 

O sumiço dos pássaros é um dos que mais afetam as memórias individuais da narradora-personagem, uma vez que seu pai havia sido um pesquisador que estudava pássaros e trabalhava em um observatório de aves silvestres, local que ela visitava com frequência. O trecho a seguir ilustra essas visitas:

 

‘Meu pai era pesquisador. Estudava pássaros. Trabalhava em um observatório de aves silvestres no alto das colinas do sul. Por uns quatro meses no ano, ele se mudava para lá e fazia coleta de dados, tirava fotos, cuidava da incubadora, essas coisas. Eu ia visitá-lo com frequência, sob o pretexto de levar a ele algo para comer. Os outros pesquisadores, mais jovens, me mimavam com biscoitos e chocolate quente.

Sentava-me no colo de meu pai e ficava espiando com o binóculo. [...] O binóculo era muito pesado para uma criança, e logo meus braços começavam a formigar. Quando isso acontecia, meu pai me ajudava delicadamente, sustentando o peso do instrumento com a mão esquerda. Quando estávamos os dois assim, bem perto um do outro, eu ficava com vontade de lhe perguntar se ele sabia que, na antiga cômoda do ateliê, havia coisas secretas. Mas logo me vinha à mente a imagem de minha mãe com o olhar parado contemplando a lua crescente pela janela do porão, e a voz me faltava’. [...] [Ogawa, 2021, local. 109-116]

 

Junto a essas lembranças, havia o sentimento de não reconhecimento em relação às coisas desaparecidas, como podemos observar no trecho a seguir:

 

‘[...] Será que algum dia eu vira esse bicho com meu pai no observatório? No momento em que pensei nisso, ocorreu-me que meu coração perdera todas as informações relacionadas a pássaros que um dia pudesse ter tido. Desde o significado da palavra “pássaro”, passando por meus sentimentos por eles, até minhas memórias relacionadas a esses bichos — tudo se perdera’. [Ogawa, 2021, local. 141]

 

Halbwachs [1990] nomeia esse sentimento como o esquecimento pelo desapego de um grupo, no qual determinada memória na qual estamos inseridos nos parece estranha, como se outra pessoa estivesse em nosso lugar e:

 

‘[...] ainda que esse fato possa ser localizado no tempo e no espaço, mesmo que parentes ou amigos disso me fizeram uma descrição exata, acho-me em presença de um dado abstrato, para o qual me é impossível fazer corresponder qualquer recordação viva: não lembro de nada. E não reconheceria mais tal lugar pelo qual passei certamente uma ou várias vezes, nem tal pessoa que certamente encontrei. [...]’ [Halbwachs, 1990, p. 17]

 

No decorrer da narrativa, a pergunta “por que as memórias são tão perigosas?” se torna cada vez mais frequente ao passo que a polícia da memória se torna cada vez mais truculenta e violenta. A resposta não fica clara ao fim do romance, mas o enredo deixa evidente que se trata de uma sociedade que vive em um regime totalitário, no qual pessoas que têm suas memórias intactas são potenciais riscos, uma vez que podem se rebelar. Por isso, elas são perseguidas, e, quando encontradas pela polícia da memória, nunca mais são vistas:

 

‘Eles vinham se mostrando cada vez mais autoritários e violentos. Pensando bem, quinze anos antes, quando vieram buscar minha mãe em casa, acho que aqueles eram os primeiros caçadores de memórias. Tinham acabado de descobrir que havia pessoas especiais que não esqueciam o que deviam esquecer, e a polícia secreta estava tentando prender todas. Até hoje ninguém sabe onde foram parar todos os detidos’. [Ogawa, 2021, local. 263]

 

Quando a narradora-personagem percebe que a polícia da memória está cada vez mais violenta e que R corre risco de vida, oferece a ele abrigo no alçapão de sua casa, onde funciona um depósito de livros. Após os riscos que ela e o velho balseiro correm para escondê-lo, os dias se passam com R acumulando coisas desaparecidas em seu esconderijo, enquanto tenta fazer com que a escritora e o velho balseiro lembrassem dessas coisas:

 

‘— Você quer se lembrar das coisas que perdeu?

— Não sei. Na verdade, não sei nem do que exatamente eu deveria me lembrar. Quando uma coisa me some, o sumiço é completo. Não fica nada para trás. Tenho de continuar vivendo com um coração oco. cada vez com mais buracos. Por isso, imagino o seu coração como algo gelatinoso, mais resistente, translúcido, que muda de aparência conforme a luz nele incide’. [Ogawa, 2021, local. 1085]

 

É assim que fica evidente como os mundos de ambos são diferentes, porque, enquanto R quer que sua amante recupere suas memórias, ela acha o esforço inútil e extremamente cansativo. Isso fica claro quando ocorre o desaparecimento das fotografias, como mostra o trecho a seguir:

 

‘Eu estava pronta para juntar todas as fotografias que tinha em casa (inclusive a de minha mãe que estava no porta-retratos em cima da lareira) e queimá-las no jardim, mas R insistiu que eu não fizesse isso.

— As fotografias servem para guardar as suas memórias. São um bem insubstituível, Se você queimá-las, não tem mais volta. Não faça isso!

— Não tem nada que eu possa fazer. O sumiço já aconteceu.

— Sem as fotos, como você vai se lembrar do rosto de seu pai e de sua mãe? — perguntou, com uma expressão séria.

— O que desaparece é a fotografia, não é meu pai nem minha mãe. Claro que não vou esquecer do rosto deles.

— Pode ser só um pedaço de papel, mas nele fica guardado algo muito profundo. Luz, vento, ar, o amor e a alegria das pessoas retratadas, seus pudores, seus sorrisos, Você tem de guardar essas coisas. É para isso que se tiram fotografias.

— Sim, sei disso. Eu adorava minhas fotos. Cada vez que olhava para elas, ressuscitavam minhas mais queridas lembranças. Sentia saudades, tristeza, um aperto no coração… As fotografias eram a bússola mais confiável que eu tinha para andar na floresta das minhas lembranças, das minhas parcas lembranças. Mas agora preciso renunciar a tudo isso. É desolador e doloroso perder essa bússola, mas não sou capaz de impedir um sumiço.

— Mesmo que seja incapaz de impedir, isso não quer dizer que você precisa queimar suas fotos. As coisas importantes da vida continuam sendo importantes, por mais que o mundo mude à nossa volta. A essência das coisas não muda. Se você guardar suas fotos, elas vão lhe trazer alguma coisa. Você não pode deixar que sua memória fique cada vez mais oca e vazia…

— Mas… — eu disse, balançando a cabeça, triste. — É que já não sinto mais nada olhando para elas. Não sinto saudades, tampouco um aperto no peito. Para mim, são apenas papéis lustrosos. O meu coração já está oco no antigo lugar para fotos. Ninguém sabe como reverter isso. É assim que funcionam os sumiços. Acho que você não é capaz de entender.’ [Ogawa, 2021, local. 1236-1252]

 

Aqui, a memória individual é um elemento muito forte tanto para R quanto para a narradora-personagem, já que a falta de memórias coletivas relacionadas aos objetos que sumiram os separa em dois grupos distintos. Halbwachs [1990, p. 22] explica que:

 

‘[...] se essa primeira lembrança foi suprimida, se não nos é mais possível encontrá-la, é porque, desde muito tempo, não fazíamos mais parte do grupo em cuja memória ela se conservava. Para que nossa memória se auxilie com a dos outros, não basta que eles nos tragam seus depoimentos: é necessário ainda que ela não tenha cessado de concordar com suas memórias e que haja bastante pontos de contato entre uma e as outras para que a lembrança que nos recordam possa ser construída sobre um fundamento comum [...]’

 

Outro ponto relevante é que, em determinados momentos, o enredo do romance que a protagonista está escrevendo é apresentado ao leitor e, tão surpreendente quanto a própria história d’A Polícia da Memória, parece surgir como uma extensão da narrativa, uma vez que relata a história de uma estudante de datilografia cuja voz é roubada pela máquina de escrever oferecida pelo seu professor. Sem que saiba das intenções do professor, ela leva sua máquina para que ele possa consertá-la ou não poderia se comunicar com ele, até que ele a mantém em cárcere, lugar em que ela vai gradativamente sendo desumanizada: primeiro perde a voz, depois a visão, e, por fim, todos os seus sentidos, convertendo-se em uma espécie de boneca humana.

 

O romance escrito pela protagonista é importante porque, quando há o sumiço dos romances — e, consequentemente, a queima dos livros e da biblioteca —, a narradora-personagem inicia a sua jornada de reaprender a escrever, processo que lhe é lento e doloroso, já que, para ela, escrever havia perdido o sentido. Entretanto, ela conclui seu romance e conseguimos perceber que ele é uma forma de eternizá-la, uma vez que, mesmo sem suas memórias, ela conta a história do que acontece com as pessoas da ilha que são afetadas pelos sumiços: elas se perdem de si mesmas a cada coisa que some, até chegar ao ponto de deixarem de existir.

 

Helbwachs [1990, p. 32] explica que as memórias que temos mais facilidade para lembrar são as que são comuns a pelo menos um meio, um grupo social, enquanto que as que temos mais dificuldade de lembrar são as “[...] que não concernem a não ser a nós, que constituem nosso bem mais exclusivo, como se elas não pudessem escapar aos outros senão na condição de escapar a nós próprios [...]”. Desse modo, o romance da narradora-personagem é uma de suas memórias mais valiosas, que, ao final, acaba sendo compartilhado, por mais que houvesse travas em sua memória.

 

O perder-se de si é representado fisicamente pelo sumiço da perna esquerda, evento que causa assombramento e estranhamento aos moradores da ilha, que não sabem lidar com uma perna inútil e que, por fazer parte de seus corpos, não podem ser simplesmente lançadas ao fogo:

 

‘— O que vai acontecer?

O vizinho que trabalhava na prefeitura disse:

— Nada, ué. A ilha tem uma coisa a menos. É um sumiço como os outros.

O ex-chapeleiro, apoiado em seu guarda-chuva, opinou:

— Pois é, mas eu não estou convencido. Sinto como se meu corpo estivesse em pedaços.

— Logo, logo você se acostuma. No início, vai ser difícil, mas não é a primeira vez que temos dificuldade com um sumiço. Às vezes demora mais, às vezes menos, mas sempre acabamos por aceitar a sensação de um novo oco. Não precisa ter medo’. [Ogawa, 2021, local. 3279]

 

Sobre isso, Candau [2013, p. 10 apud Paim et al., 2019, p. 201] diz que “memória e identidade se intercruzam indissociáveis, se reforçam mutuamente desde o momento de sua emergência até sua inevitável dissolução”, o que corrobora com a perda de identidade que as pessoas afetadas pelos sumiços sofrem até que não reste mais nada de suas identidades individuais e sociais. E, embora haja uma adaptação quando ocorre o sumiço de outras partes do corpo, é inevitável que haja essa perda de identidade à medida que também se perde a memória. A única forma de eternizar quem e o que foi a narradora-personagem é por meio da escrita e por meio das lembranças de R, uma vez que as palavras e histórias ecoam pelos tempos, tal qual é dito no seguinte trecho, no qual R e a narradora-personagem conversam:

‘— Será que, mesmo depois que eu sumir, as histórias que escrevi continuarão existindo?

— Mas é claro. As palavras que você escreveu persistirão na memória. Nada some do meu coração. Não se preocupe’. [Ogawa, 2021, local. 3566]

 

Um pouco antes da voz da narradora-personagem, última parte de si que lhe restou, sumir, ela diz o seguinte para R: “— Depois que eu for embora, continue cuidando deste recinto. Quero seguir existindo em sua memória, em seu coração” [Ogawa, 2021, local. 3607]. O esconderijo virou um lugar seguro para as memórias, e, quando o última coisa que havia para sumir, o fez, despersonalizando as pessoas que sofriam os efeitos dos sumiços, R se viu livre para voltar à superfície e juntar-se aos outros que também conseguiram manter não apenas suas memórias, como também suas identidades.

 

Dessa forma, por meio de R e outras pessoas que não foram afetadas pelos sumiços e sobreviveram à caça da polícia da memória, a memória servirá não apenas como um resgate do passado, mas também como um recurso para a reconstrução do futuro, bem como de uma identidade.

 

Referências

Allana da Silva Araujo é mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pesquisa sobre a literatura fantástica no Japão. Graduada em Letras Português-Espanhol também pela UFMA.

 

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad.: Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Vértice/Revista dos Tribunais, 1990.

 

OGAWA, Yoko. A Polícia da Memória. Trad.: Andrei Cunha. 1ª edição. São Paulo: Estação Liberdade, 2021. Livro eletrônico.

 

PAIM, L. et al. “Nos becos da memória: a relação entre a memória, identidade e escrita na obra de Conceição Evaristo”. In: Scripta Uniandrade, v. 17, n. 2, p. 196-212. Curitiba: Paraná, 2019. Disponível em: file:///C:/Users/allan/Downloads/gbellin2,+11_V_1362_Ferreira_Paim_Umbach_Aok.pdf. Acesso em: 29 de maio. 

4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!
    Não conhecia esse romance e fiquei interessada em ler.
    A maneira como as pessoas são perseguidas por ainda manterem as memórias se assemelha ao modo como acontecem as censuras, ao longo da narrativa, além da polícia da memória, existem outros elementos que de algum modo caracterizem esse regime totalitário?
    Rafaella Candido Rodrigues

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    1. Oi, Rafaella! Obrigada! Na verdade o que temos são diversas ações da polícia da memória, e não apenas essas perseguições. Por exemplo, eles invadem as casas dos habitantes em busca de objetos sumidos e fazem uma espécie de desfile (no sentido de que fazem isso a qualquer hora do dia e acabar virando uma espécie de evento, já que todos param para assistir) com carros em que se podem ver partes do corpo de pessoas capturadas (como um braço que fica exposto mesmo com todos os outros corpos cobertos), como meio de dar avisos. Além disso, quando temos diálogos entre a protagonista e R (antes dele se esconder), percebemos como há toda uma atmosfera de medo de ser pego em flagrante por falar sobre esconderijos ou qualquer outro assunto que possa ser encarado como proibido). E , após ele se esconder, há o constante medo de que sejam descobertos e, consequentemente, mortos. Obrigada pela pergunta, espero ter sanado sua dúvida!

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  2. Boa noite, Allana! Já peço desculpas pelo fato de mandar uma questão tão perto do fim do prazo, mas não pude evitar. Em primeiro lugar queria parabenizá-la pelo seu texto, extremamente bem escrito e interessantíssimo seu tema. Me interessei em ler porque há pouco tempo tive conhecimento da obra e está na minha lista de leituras futuras, ainda mais depois de ler seu trabalho.
    A minha questão em si parte do ponto que a autora é japonesa e a partir dos trechos do livro que você expõe vemos como a cada sumiço, mais e mais é a violência estatal dessa ilha contra o individualismo das pessoas, perdendo suas memórias, objetos, partes físicas até, ganhando grandes vazios, ausências. Você acredita que essa obra seja de alguma forma crítica à sociedade japonesa, que como se sabe é evidentemente coletiva e extremamente punitiva ao individualismo?
    Atenciosamente,
    Gabriel Lacerda de Souza.

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