A IDEIA DE GAIATSU NA JAPONOLOGIA DE RUTH BENEDICT, por Edelson Geraldo Gonçalves

  

Introdução

O presente texto tem como tema o conceito japonologista de “gaiatsu”, que passou a fazer parte desse campo de estudos na década de 1980, com foco em sua influência sobre as relações exteriores do Japão, ou, mais especificamente, como o seu funcionamento foi antecipado pela antropóloga Ruth Benedict no livro O Crisântemo e a Espada”, um trabalho de análise da cultura japonesa, ou mais propriamente do Japão Imperial [1868-1945], originalmente publicado em 1946.

 

Este termo se refere à forma como as pressões exteriores tem efeito sobre a cultura japonesa, podendo levar essa a admitir mudanças internas, mesmo radicais, de forma repentina.

 

Para tratar desse tema, trabalharemos com a abordagem desse conceito nos trabalhos dos autores Kent E. Calder [1988], Patrick Smith [1997] e Mayumi Itoh [2000], analisando, ao final, como esta ideia aparece na obra de Ruth Benedict.

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A Relação do Japão Moderno com o Mundo

Entre a reabertura do Japão ao mundo, em 1853, e o final do período imperial, em 1945, com a rendição do país na Segunda Guerra Mundial, o projeto dos governantes japoneses para a sua sociedade, e a relação deste Estado-Nação com o restante do mundo tive diferentes fases.

 

Internamente, sobretudo após a Restauração Meiji em 1868, o país adotou primeiro um projeto de modernização ocidentalizante, que na década de 1890 foi substituído por uma linha nacionalista e de valorização das tradições pátrias, modelo este, que, após se enfraquecer na década de 1920, voltou a ganhar força na década de 1930, com o abraço a uma política francamente imperialista na Ásia e o alinhamento com a Itália fascista e a Alemanha nazista no cenário político mundial [Beasley, 1987]. 

 

Com a derrota na Segunda Guerra Mundial, um novo projeto nacional se iniciou, inicialmente sob a tutela das forças de ocupação dos EUA, que dirigiram o país para a desconstrução do aparato ideológico nacionalista e militarista do passado recente, buscando promover valores ocidentais de relacionamento social, individualismo, direito, justiça e outras características como valores universais [Sakurai, 2008, p. 202], tendo o Japão se adaptado sem grandes conflitos a esta mudança brusca [Benedict, 2006, p. 255].

 

Uma explicação para essa transição ordeira se encontra no conceito de gaiatsu, que se somou ao aparato teórico da japonologia a partir da década de 1980, mas cujos efeitos, de uma forma geral, foram percebidos pela antropóloga Ruth Benedict pelo menos desde 1946.  

 

Gaiatsu

Como nos lembra José D’Assunção Barros [2016, p. 24], “os cientistas nem sempre criam as palavras, [...] que servirão de termos para os conceitos dos quais necessitam” e que, por vezes, “é o grande ator coletivo formado pelas pessoas comuns quem cria o material que servirá de base para os conceitos” e este material é composto por palavras do cotidiano, “e os cientistas das várias áreas de estudo só precisam se apropriar dessas palavras para dotá-las de um sentido mais específico em seus campos de saber”.

 

Foi isso que ocorreu com o termo “gaiatsu”, que significa literalmente “pressão externa” [Calder, 1988, p. 537], que adentrou o vocabulário conceitual do campo da japonologia [estudos japoneses] na década de 1980.

 

 Esta é uma palavra que se tornou comum em textos e comentários sobre as relações exteriores do Japão a partir da década de 1970, e com uma presença especialmente notável nos jornais na década de 1980, e que nesta mesma década se converteria em um conceito acadêmico, mais propriamente no campo do estudo das relações exteriores do Japão.

 

Gaiatsu, de forma mais precisa, significa uma mudança, em geral, internamente indesejada, feita, relutantemente, por concessão a uma pressão externa, para se adequar a um padrão ideal ditado de fora. Assim, mesmo que o governo, ou outros agentes responsáveis por uma mudança polêmica, movida por esse impulso, possam ser criticados, estes se livram da responsabilidade atribuindo-a à necessidade de atender às demandas exteriores por adequação, se tornando assim um instrumento nas escolhas japonesas nas relações exteriores, que também geram transformações internas, e um escudo para as decisões impopulares [Cooney, 2004, p. 134, 137; Itoh, 2000, p. 6]. 

 

Este conceito, que surgiu originalmente na mídia [Blaker, 2002, p. 27], ganhou teorização acadêmica em 1988, no artigo “Japanese Foreign Economic Policy Formation: Explaining the Reactive State”, escrito pelo asianista Kent E. Calder, voltando a aparecer e ser analisado, alguns anos depois, em livros como “The Emergence of Japan’s Foreign Aid Power”, de Robert M. Orr [1990], e “The New Multilateralism in Japan’s Foreign Policy”, de Dennis T. Yasutomo [1995] [Myiashita, 2001, p. 37-38], sendo posteriormente bem trabalhado nas obras “Japan: A Reinterpretation” de Patrick Smith [1997] e “Globalization of Japan” de Mayumi Itoh [2000], tendo se tornado, atualmente, “um termo muito comum na literatura japonesa de relações internacionais” [Cooney, 2004, p. 136].

 

Na primeira conceitualização deste fenômeno, Calder [1988, p. 526-535] leva em consideração apenas o efeito do gaiatsu nas relações internacionais, atribuindo suas causas à três razões conjunturais do Japão da década de 1980, mais especificamente, primeiro, o comprometimento prioritário do Estado com assuntos internos, sobretudo com o crescimento econômico, se deixando levar principalmente pelos EUA na maioria das questões internacionais, em segundo, sua posição de dependência em relação aos Estados Unidos no sistema internacional, notadamente no campo econômico e de defesa, o que provocaria vulnerabilidade às demandas desse país, e, por fim, um poder executivo fraco, sob controle de um partido grande, porém, profundamente faccionalizado [o Partido Liberal Democrata], dificultando a formação de um centro decisório forte.

 

Segundo Calder [1988, p. 537] estas características teriam convertido o Japão da época em um “Estado Reativo” com dificuldade para tomar iniciativas, e, portanto, suscetível a pressões externas.

 

Ainda com foco na política externa, segundo Mayumi Itoh [2000], o gaiatsu é um instrumento comum na promoção da internacionalização [kokusaika] do Japão, gerando momentos em que o país se adequa a padrões internacionais.

 

Para a autora, isso ocorre em um cenário de frequentes confrontos entre pressão pela internacionalização e a “mentalidade sakoku”, ou “mentalidade de nação fechada”, um traço estrutural da cultura japonesa, que se formou a partir da política de país fechado promovida pelo xogunato Tokugawa entre os séculos XVII e XIX, que habituou os japoneses a práticas que não levam em conta a realidade do mundo exterior [Itoh, 2000, p. 13].

 

Essa “mentalidade sakoku”, como traço cultural, se manifestaria principalmente nos momentos de grande orgulho e confiança nacional entre os nipônicos, sendo um dos principais motores para o nacionalismo japonês [Itoh, 2000, p. 12-13].

 

Por outro lado, em momentos de abalos no orgulho nacional, principalmente quando surge o sentimento de inferioridade frente às nações estrangeiras, o gaiatsu tende a se manifestar, e o Japão começa a ceder às pressões externas por mudanças internas [Cooney, 2004, p.141]. Dessa forma, nas palavras de Patrick Smith [1997, p. 194], para o Japão muitas vezes o que “está por trás dos empréstimos culturais é a tragédia de se sentir inferior”.

 

E o gaiatsu se tornou uma característica evidente na cultura japonesa, a ponto de ser publicamente notada e academicamente estudada, justamente a partir de um momento de revés na confiança nacional [Itoh, 2000, p. 11-13], após o “Milagre Japonês” do pós-guerra ter sofrido abalos, como o Choque Nixon [1971] e a Crise do Petróleo [1973], que levaram ao encolhimento dos índices de crescimento da economia do país.  

 

Mais especificamente, este conceito se tornou notório em um momento de pressão externa, principalmente dos EUA, sobre o governo japonês pelo apoio do país nos assuntos diplomáticos e militares estadunidenses na Guerra Fria, e se tornou especialmente corrente no contexto das negociações sobre questões comerciais e de investimento entre o Japão e os Estados Unidos na década de 1980, sobretudo em relação ao protecionismo comercial nipônico, quando se percebeu que a influência da opinião estrangeira às vezes se mostrava eficaz para mudar a política japonesa onde os atores políticos domésticos por conta própria não conseguiam, seja por resistência do Estado, ou da sociedade civil [Cooney, 2004, p. 134; McCargo, 2004, p. 201; Stockwin, 2005, p.137-138].  

 

Segundo Patrick Smith [1997, p. 37, 193], este é o meio pelo qual muitas coisas são feitas no Japão, sendo, na verdade, uma característica antiga da cultura nipônica, que em vários momentos buscou se adequar a padrões externos.

 

Esta prática, que se origina de uma inclinação a se ver de fora para dentro, por valores externos e estrangeiros, é, segundo Smith [1997, p. 193], uma duradoura tendência iniciada ainda no período Asuka [593-710], quando foi feita uma reforma da estrutura de Estado à moda chinesa, transformando o monarca japonês de um primus inter pares em um soberano celeste e divino, e o império foi também nomeando como "Nippon", a “Terra do Sol Nascente”, o que se refere ao sol no Japão, visto do ponto de vista chinês. Dessa forma, os governantes do Japão trouxeram ao seu povo uma sinização que impôs definitivamente a cultura patriarcal confucionista sobre a provável antiga cultura matriarcal nativa [Smith, 1997, p. 192-193].

 

A outra grande reforma neste sentido viria com a Restauração Meiji em 1868 e seu subsequente programa de modernização e ocidentalização, como resposta às pressões estrangeiras iniciadas em 1853, com a chegada da armada liderada por Matthew Perry ao Japão [Smith, 1997, p. 57].

 

Podemos afirmar, portanto, que para Smith e Itoh, esta é uma característica de longa duração na cultura japonesa, uma estrutura, nos termos de Braudel [1992, p. 49-50].

 

O Gaiatsu na Obra de Ruth Benedict

Em seu livro “O Crisântemo e a Espada”, publicado em 1946, tendo como base estudos feitos para a inteligência militar dos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, Ruth Benedict caracteriza o Japão Imperial como uma “cultura da vergonha”, ou seja, uma cultura na qual os indivíduos orientam seu comportamento em uma perspectiva de fora para dentro, sendo que cada ambiente específico, ou “círculo”, exigiria um comportamento específico, mesmo que completamente contraditório ao de outros círculos que um mesmo sujeito venha a frequentar" [Benedict, 2006, p. 167].

 

Assim, ao invés do comportamento ideal de uma pessoa seguir uma essência ou padrão [entendendo os indivíduos como bons, maus, piedosos ou ímpios, etc.] como é normalmente feito no ocidente, cada ambiente “teria o seu código [de comportamento] especial particularizado, sendo que o homem julga os seus semelhantes, não lhes atribuindo personalidades integradas” [Benedict, 2006, p. 167] dessa forma, na vida japonesa, “as contradições [...] acham-se tão profundamente baseadas na sua visão da existência quanto as nossas uniformidades na nossa” [Benedict, 2006, p. 167]. 

 

 Assim, se espera que o comportamento de cada indivíduo se adéque as regras do meio em que está, e, nas palavras da autora, nesse tipo de cultura “se destacaria o julgamento externo dos indivíduos pelos membros de seu meio social, ou seja, seriam culturas nas quais a imagem da pessoa diante dos outros, a sua honra, seria o mais importante" [Benedict, 2006, p. 188-190]. 

 

Usando estas considerações como base, em sua análise do comportamento do Japão como Estado-Nação no campo das relações internacionais, entre o período imperial [1868-1945] e o início do pós-guerra, Benedict argumenta que entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX, a orientação militarista e imperialista da política externa do país se deu porque este era visto como um comportamento aceitável no “círculo” das grandes potências, meio ao qual os japoneses julgavam pertencer [Benedict, 2006, p. 255-256].

 

O Japão não seria, portanto, um país pacífico ou militarista, mas um Estado que busca se adaptar ao comportamento mais adequado e respeitável no “círculo” de seu pertencimento. Em outras palavras, a mesma lógica que guia as relações interpessoais internas, também o guiaria em sua interação com países estrangeiros. A prática dos indivíduos também se mostraria coletivamente, ao nível nacional.

 

Segundo Benedict [2006, p. 255], esse comportamento “condicionou [os japoneses] para possíveis mudanças [bruscas] de direção” possibilitando com que um país militarista e imperialista se adaptasse rapidamente, e sem grandes traumas internos, ao papel que a ele foi designado no pós-guerra, destituído de suas colônias e zonas de influência, pacífico e desmilitarizado.

 

Assim, podemos notar, que na análise de Benedict fica subtendida a ideia de gaiatsu, embora a autora não tenha chegado a identificar o fenômeno como conceito, subordinando seu funcionamento à lógica da “cultura da vergonha”, descrevendo um Estado-Nação atento ao comportamento das grandes potências, o seu “círculo”, e que usa essa informação para guiar seu próprio comportamento, inclusive cedendo às pressões externas, como por exemplo, ocorreu no imediato pós-guerra, configurando um comportamento que possibilita inclusive mudanças radicais na política nacional. 

 

Conclusão

Podemos concluir, portanto, que, em seu livro, Ruth Benedict não apenas percebeu a característica estrutural da cultura japonesa; que décadas mais tarde seria conceitualizada como “gaiatsu” no campo dos estudos japoneses; de uma forma semelhante ao entendimento que Patrick Smith e Mayumi Itoh teriam posteriormente, como também ligou sua lógica de funcionamento a outro elemento estrutural, este sim cuidadosamente estudado como conceito em seu trabalho, a “cultura da vergonha”, constatando que, tanto nas relações pessoais entre indivíduos, quanto nas relações coletivas entre nações, o comportamento japonês buscaria a adequação ao ambiente em que se insere, com o objetivo de alcançar a respeitabilidade. Tal fundamento não teria, portanto, problemas com mudanças de qualquer tipo, mesmo as mais radicais.         

 

Referências

Edelson Geraldo Gonçalves é Doutor em História Social das Relações Políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Mail: edelsongeraldo@yahoo.com.br

 

BARROS, José D’Assunção. Os Conceitos: Seus Usos nas Ciências Humanas. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.

 

BEASLEY, W. G. Japanese Imperialism: 1894-1945. Oxford: Clarendon Press, 1987.

 

BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. São Paulo: Perspectiva, 2006.

 

BLAKER, Michael. Negotiations on Orange Imports, 1977-1988. in: BLAKER, Michael; GIARRA, Paul; Vogel, Ezra F. (orgs) Case Studies in Japanese Negotiating Behavior, p. 17-40. Washington: United States Institute of Peace Press, 2002.

 

BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992.

 

CALDER, Kent E. Japanese Foreign Economic Policy Formation: Explaining the Reactive State. World Politics, Baltimore, VOL 40, 1988, p. 517-541. 

 

COONEY, Kevin. Japan’s Foreign Policy Since 1945. Armonk e Londres: M.E Sharpe, 2007.

 

ITOH, Mayumi. Globalization of Japan. Japanese Sakoku Mentality and U.S Efforts to Open Japan. Nova York: St. Martin’s Press, 2000.

 

MCCARGO, Duncan. Contemporary Japan. Nova York: Palgrave Macmillan, 2004.

 

MIYASHITA, Akitoshi. Consensus or Compliance? Gaiatsu, Interests, and Japan’s Foreign Aid. in: MIYASHITA, Akitoshi; SATO, Yoichiro (orgs) Japanese Foreign Policy in Asia and the Pacific, p. 37-52. Nova York: Palgrave, 2001.

 

SAKURAI, Célia. Os Japoneses. São Paulo: Contexto, 2008.

 

SMITH, Patrick. Japan: A Reinterpretation. Nova York: Pantheon Books, 1997.

 

STOCKWIN, J. A. A. Dictionary of Modern Politics of Japan. Londres e Nova York: Routledge, 2005.

4 comentários:

  1. Bom dia, Edelson! Achei muito interessante o seu texto. É a primeira vez que leio algo sobre o termo Gaiatsu. Pode-se perceber que a história do Japão é/foi atravessada por pressões externas.

    Gostaria de saber se você consegue enxergar a aplicação do Gaiatsu na atualidade do Japão?

    Luana Martina Magalhães Ueno

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    1. Olá Luana. Obrigado pela leitura.

      O gaiatsu permanece presente no Japão do século XXI, inclusive sendo usado como oportunidade de mudança por grupos de interesse locais. Alguns exemplos são a pressão dos EUA pela criação e fortalecimento de leis contra o terrorismo após os atentados de 11 de setembro de 2001, usada pelo governo japonês, segundo David Leheny, para a criação de leis mais duras que pudessem ser direcionadas contra a presença norte-coreana na costa japonesa, ou mesmo contra imigrantes em connflito com a lei dentro do Japão.

      Além disso a pressão internacional pelo favorecimento dos direitos humanos, infantis e das mulheres também foi usada como oportunidade. Um exemplo é o surgimento de uma legislação mais dura contra a pedofilia e a pornografia infantil, aproveitada também para combater a prostituição de menores de idade (enjo kosai), uma prática notavelmente comum pelo menos desde a década de 1990.

      Além disso as velhas pressões por apoio aos EUA em seus interesses na Ásia seguem ainda hoje. Um exemplo é o alinhamento japonês contra a China em torno da questão deTaiwan.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  2. Olá, professor Edelson. Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo excelente texto. Você trouxe uma importante reflexão, demonstrando mais uma vez, a grande sensibilidade da Ruth na sua "interpretação" sobre o Japão.
    Como sabemos, com a estagnação econômica japonesa desde 1990, o país vem buscando dinamizar sua economia em várias frentes. Principalmente no setor cultural, sobretudo com a perspectiva do cool japan. O pesquisador Henry Jenkins ao abordar o Japão, sempre enfatiza o conceito "transmidiático" dos produtos culturais japoneses, isto é, o mangá que se torna anime, em seguida video-game, alcançando um amplo mercado consumidor e de fãs. Além disso, temos o processo de adaptação de uma mídia para outra, sempre adequando-se ao novo ciclo "cultural e social", seja cinema, jogos eletrônicos ou outros. Ao meu ver, o exemplo de "adaptação" do Final Fantasy XVI é um exemplo que salta aos olhos, sobretudo em como a Square Enix buscou adequar-se aos gostos ocidentais em detrimento da tradição que os jogos anteriores trazem.
    Dessa forma, feito essa breve consideração, a minha pergunta é:
    Em que medida, você "enxerga" o uso do gaiatsu, imbricado na política externa do cool japan, adequando-se ao padrões internacionais de consumo e "gostos"?
    Pergunto isto, pois na medida que temos exemplos como o Final Fantasy XVI, também temos exemplos indo em direção contrária, como a resistência em manter elementos eróticos, sendo o erotismo muito presente em obras nipônicas.
    Agradeço desde já pela paciência, e agradeço pelo excelente texto.
    Atenciosamente,
    Edvan Pereira Costa Rufino.

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    1. Olá Edvan. Obrigado pela leitura.

      De fato existe pressão externa e interna pelo controle dos conteúdos das obras da cultura pop do Japão, inclusive tendo em vista o mercado internacional, como é abordado no texto de Francisco Kelvin Moreira de Sousa e Jakson dos Santos Ribeiro, presente neste evento.

      Sobre o exemplo que você citou, a questão da presença do erotismo, principalmente envolvendo crianças e adolescentes, é um tema de debate atual na política japonesa, tendo organizações progressistas e políticos, como o ex-governador de Tóquio Naoki Inose defendendo a intervenção sobre tais conteúdos, e outros, que defendem a continuidade da situação como está. Um exemplo é o autor de mangás Ken Akamatsu, recentemente eleito para o parlamento japonês, e que tem como uma de suas plataformas a liberdade de expressão dos artistas, acusando de censura tanto o liberalismo e o feminismo pátrios, quanto o gaiatsu, a que se refere explicitamente.
      Vejo portanto que existe um embate em torno da adaptação dos conteúdos do Japan Cool às pressões do momento atual, mas também há resistências internas (que também contam com apoio externo), que em geral o gaiatsu enfrenta também em outros casos.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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