A EXPANSÃO DO ESTILO MUSICAL K-POP E O ORIENTALISMO CRESCENTE, por Maria Carolina Stelzer Campos


O debate social do orientalismo, conforme analisado por Edward Said, revela-se de extrema importância ao examinarmos o fenômeno do K-pop e sua expansão global. O conceito de orientalismo destaca como o Ocidente construiu e perpetuou estereótipos e representações exóticas do Oriente, criando uma visão distorcida dessas culturas. No contexto do K-pop, essa construção orientalista influencia a forma como o gênero musical é percebido no Ocidente, muitas vezes estigmatizando-o como um mundo obscuro ou estranho. O debate social sobre o orientalismo é crucial para desafiar esses estereótipos e promover uma compreensão mais complexa e justa do K-pop como uma forma cultural genuína e diversificada.

 

O surgimento do K-Pop e a Hallyu

A expressão Hallyu tem como significado onda coreana [COSTA, 2022], esse fenômeno possui como característica principal a distribuição pelo mundo dos produtos culturais coreanos, como o gênero musical, k-pop ou as séries coreanas. De acordo com o guia sobre a Hallyu, criado pelo Serviço Coreano de Cultura e Informação “o primeiro produto sul-coreano a ter popularidade nos países asiáticos vizinhos foram os k-dramas. Os fãs internacionais dos dramas sul-coreanos começaram a enxergar o povo sul-coreano como educado, generoso e sofisticado. Assim, a Hallyu passou a ser tratada não somente como um plano lucrativo, mas também como um instrumento político poderoso para formação de opinião sobre a Coreia do Sul.” [COSTA, 2022, p. 27]

A década de 1990 foi essencial para o desenvolvimento da “onda coreana”, e não por coincidência foi nessa mesma década em que o estilo musical K-pop nasce. O K-pop é um gênero musical que tem origem na Coreia do Sul e se destaca por sua rica variedade de elementos audiovisuais, e é considerado um gênero musical composto por vários ritmos musicais [COSTA, 2022].

O surgimento do gênero pode ser atribuído ao grupo Seo Taiji and Boys, um dos primeiros grupos de K-pop formado em 1992. O seu estilo musical misturou vários estilos musicais, reformulando a estrutura musical da Coreia do Sul, que até o momento era voltada para majoritariamente para músicas que possuíam letras de exaltação do país. O Seo Taiji and Boys trouxe consigo uma das mais marcantes características do Kpop: o “sistema de ídolos” – que basicamente é o ato de treinar adolescentes e jovens que desejam ingressar no meio musical com todo aparato necessário para que eles alcancem o sucesso [CUNHA, 2013].

Podemos compreender como as representações do K-pop são moldadas por discursos e narrativas que têm suas raízes em contextos históricos e culturais específicos. Essas representações não são fixas ou imutáveis, mas sim produtos de um processo contínuo de construção e desconstrução cultural [CHARTIER, 1988]. Ao examinarmos a história cultural do K-pop, podemos desvendar como as representações ocidentais e orientalistas foram forjadas ao longo do tempo e, assim, questionar sua validade e impacto na construção da identidade do K-pop.

Em suma, a importância do debate social do orientalismo no contexto do K-pop reside na necessidade de questionar e desafiar as representações estereotipadas e exóticas que podem obscurecer a complexidade e a diversidade dessa forma cultural. Chartier [1988] nos permite compreender como essas representações são construídas ao longo do tempo e espaço, e como as narrativas ocidentais podem moldar nossa percepção do K-pop. Ao considerarmos o debate social do orientalismo, podemos promover uma compreensão mais informada e justa do K-pop como uma expressão artística genuína e significativa que transcende fronteiras culturais.

A Representação do gênero Kpop no Ocidente

De acordo com Silva [2014], a identidade é construída através da relação com o outro, sendo a diferença um elemento fundamental nesse processo, então quando pensamos no K-pop e sua identidade formada no ocidente, é possível perceber que ela acaba sendo construída baseada em uma hipotética diferença entre a indústria cultural coreana e a indústria cultural ocidental. Construindo-se então um processo de estigmatização do K-pop no Ocidente.

As percepções ocidentalistas e estereotipadas sobre o K-pop muitas vezes destacam suas diferenças culturais em relação à música popular ocidental, o que pode levar à marginalização e à visão do K-pop como um gênero musical "estranho" ou "exótico", e seus fãs podem ser rotulados como fanáticos ou marginais. A estigmatização do K-pop no Ocidente está enraizada nesses preconceitos culturais e ideias estereotipadas sobre a cultura asiática. Essa estigmatização pode ser atribuída à dinâmica de poder entre os grupos [ELIAS; SCOTSON, 2000] estabelecidos no Ocidente, que tendem a ser dominantes culturalmente, e o K-pop, que é visto como um gênero musical outsider em relação ao cenário musical ocidental.

À medida que o K-pop continua a ultrapassar as fronteiras culturais e a conquistar um público cada vez maior, sua identidade se torna mais complexa e multifacetada. A rejeição e estigmatização enfrentadas pelo K-pop no Ocidente não impedem sua expansão global, mas, em vez disso, tornam-se um componente importante na formação de sua identidade única e influente na cena musical mundial.

Essa expansão e a popularidade global do K-pop o levou a ocupar diferentes espaços em todo o mundo, tornando-se uma força cultural transnacional, podendo ser vista como uma forma de exercer poder cultural e influência, mas também pode levar a delimitações e estigmatizações. O espaço, como explorado no livro "História, Espaço e Geografia" de Barros [2017] é muito mais do que um simples cenário físico; mas sim um lugar de poder e significado, sendo construído e moldado por relações sociais, políticas e culturais, onde ocorrem então as dinâmicas de poder.

A forma como o espaço é organizado e utilizado reflete as hierarquias e desigualdades presentes em uma sociedade, tornando-se uma ferramenta importante para exercer controle, influência e exclusão. O espaço pode ser delimitado por fronteiras físicas e simbólicas, criando divisões entre diferentes grupos sociais. Essas delimitações espaciais podem ser usadas para reforçar estigmatizações, segregando e marginalizando aqueles que são considerados diferentes ou desviantes das normas estabelecidas. E no contexto do mundo K-pop, o espaço também desempenha um papel significativo nas dinâmicas de poder e estigmatização.

O Orientalismo

O conceito de orientalismo, conforme apresentado por Edward Said, aborda as representações e construções culturais do "Ocidente" em relação ao "Oriente". Said argumenta que o orientalismo é uma forma de pensamento que coloca o Ocidente como superior e o Oriente como inferior, resultando em estereótipos e visões distorcidas dos povos orientais e de suas culturas. Essa visão dicotômica cria uma narrativa de poder, na qual o Ocidente se posiciona como dominante e civilizado, enquanto o Oriente é retratado como exótico e bárbaro [SAID, 2007]. Essa perspectiva orientalista não só influenciou as relações coloniais, mas também continua a moldar as percepções e interações entre o Ocidente e o Oriente atualmente.

Barros [2017] acaba dialogando com o conceito de orientalismo de Said [2007], ao abordar como o espaço geográfico é uma construção social e cultural, que reflete relações de poder e dominação. A geografia, como disciplina acadêmica, muitas vezes perpetuou visões eurocêntricas e ocidentalistas do mundo, relegando outras culturas e espaços a posições subalternas. Barros [2017] destaca como o conhecimento geográfico, ao longo da história, tem sido utilizado para legitimar as ações coloniais e imperialistas do Ocidente, reforçando a ideia de superioridade ocidental sobre outras culturas e territórios. Essa geografia eurocêntrica e ocidentalista contribui para a criação de fronteiras simbólicas e reais, que separam o "Ocidente civilizado" do "Oriente exótico" e, assim, reforçam a narrativa orientalista de Said [2007].

Além disso, Barros [2017] também explora como o espaço é uma arena de poder, onde se desenrolam dinâmicas de dominação, exclusão e estigmatização. Os espaços são delimitados e organizados de acordo com relações de poder, criando lugares de inclusão e exclusão social. Através do orientalismo, as culturas e povos orientais são frequentemente estigmatizados e marginalizados, sendo relegados a espaços subalternos na narrativa global. O orientalismo contribui para a construção de uma identidade do "Outro", que é visto como diferente e inferior [SILVA, 2014], e, consequentemente, subjugado pelos valores e normas do Ocidente. Essa dinâmica de poder no espaço geográfico perpetua visões distorcidas e estereotipadas das culturas orientais.

O sucesso global do K-pop é frequentemente retratado como um fenômeno exótico e oriental, alinhando-se com as representações orientalistas do "Oriente misterioso" [SAID, 2007] que fascina o Ocidente. O espaço do K-pop é delimitado e organizado por relações de poder, onde os fãs e seguidores ocupam um lugar de inclusão e os críticos podem estigmatizar o gênero musical e seus artistas, encaixando-os em visões preconceituosas de uma cultura estrangeira e inferior. A Hallyu, embora seja uma forma de expressão cultural coreana, também é afetada pelas relações de poder e representa um espaço onde a identidade e a diferença [SILVA, 2014] são construídas e negociadas entre o Oriente e o Ocidente.

Em um artigo na revista “El país”, é possível analisar traços do orientalismo presente em alguns discursos. Abaixo é possível ver alguns trechos onde se descrevem o universo da indústria do k-pop

“Quase sem contato com o mundo exterior, ensaiavam 14 horas diárias, com um só dia livre a cada duas semanas. A indústria do k-pop projeta uma imagem moderna, saudável e positiva da Coreia do Sul, mas seu sistema de fabricação de estrelas esconde contratos abusivos, a anulação do indivíduo e condições sub-humanas.O k-pop nasceu com uma formulação quase matemática: bases musicais sintéticas de hip hop, rock, eurodance, funk, reggae, techno, disco e country, com sons africanos, árabes e asiáticos. Sua estética de fantasia de animação se adaptou ao olhar lascivo do erotismo ocidental. O k-pop, um híbrido de todos os produtos populares do planeta, é a sublimação da globalização. Nos Estados Unidos, as estrelas nascem; na Coreia do Sul, são fabricadas. Mas os que conseguem se formar são máquinas perfeitas de fazer pop, com uma energia e entusiasmo que jamais fraquejam (as câmeras estão constantemente voltadas para eles) e coreografias sincronizadas que os fazem parecer clones digitais. ‘Costumamos praticar danças com pesos de 4 quilos atados aos tornozelos durante dias, para assim nos acostumarmos a esse peso e depois nossos movimentos ficarem mais leves ‘

A cantora JinE, do Oh My Girl, teve que tirar um período de descanso quando a anorexia a levou a pesar pouco mais de 30 quilos, com altura de 1m59. Sojung, do Ladies 'Code, disse que sua dieta diária consistia em uma laranja, 15 tomates-cereja e um pedaço de abóbora, e que fazia um ano que não menstruava.” [SANGUINO, 2020]

Todos esses discursos trazem aspectos extremamente problemáticos na indústria do entretenimento musical coreana, entretanto o que chama a atenção, não são os problemas apresentados, e sim o julgamento que esses problemas acontecem unicamente no universo do K-pop. Em especial quando o artigo faz a comparação entre os Estados Unidos e a Coréia do Sul, apontando que os artistas sul coreanos seriam frutos de uma máquina de produção, e um dos argumentos seguintes para tal afirmativa, é de que os idols coreanos participam de treinos exaustivos de canto e dança.

Um exemplo desse treinamento seria o uso de pesos nas pernas enquanto as artistas executam seus treinamentos de dança, esse fato é apontado como um ponto fora da curva e algo totalmente inesperado e ruim, entretanto é algo extremamente comum no meio da dança, utilizado por dançarinos profissionais e até mesmo pelos não profissionais. Nesse pequeno exemplo é possível perceber o orientalismo e a reafirmação do Oriente como um local exótico, com problemas exclusivamente de lá.

Em especial, outro exemplo que é interessante a observação, é a descrição de uma idol com distúrbios alimentares, mais uma vez sendo retratado como um problema exclusivo do mundo do k-pop, entretanto, esse é mais um problema extremamente comum no meio do entretenimento mundial. A artista Demi Lovato, é um exemplo no meio artista ocidental, de vários artistas que falaram abertamente sobre como a pressão estética é extremamente forte no meio musical e do entretenimento.

Considerações Finais

O conceito de orientalismo [SAID, 2007] nos alerta sobre a tendência do Ocidente em construir narrativas de poder e superioridade em relação ao Oriente, alimentando estereótipos e visões distorcidas. Essa perspectiva orientalista tem sido historicamente utilizada para justificar a dominação colonial e imperialista, perpetuando a ideia de que a cultura ocidental é civilizada e avançada, enquanto a cultura oriental é exótica e inferior. No contexto do K-pop, essa dinâmica pode ser vista quando o gênero musical é retratado como uma forma de entretenimento estranha e exótica, reforçando estereótipos sobre a Coreia do Sul e seus artistas.

O espaço do K-pop também é influenciado por dinâmicas de dominação e poder, onde o gênero musical ocupa diferentes lugares de poder na narrativa cultural global. Enquanto alguns fãs encontram identificação e pertencimento no espaço do K-pop, outros podem estigmatizá-lo, colocando-o em um lugar subalterno e exótico. Essas delimitações espaciais contribuem para a perpetuação das desigualdades e injustiças, que afetam não apenas o K-pop, mas também outras formas de expressão cultural oriundas do Oriente.]

Promover um diálogo intercultural respeitoso e inclusivo é fundamental para combater a estigmatização e as dinâmicas de poder que afetam o K-pop e outras formas de cultura oriental no cenário global. É necessário questionar as representações simplistas e distorcidas, buscando compreender a complexidade das culturas asiáticas e suas contribuições para a diversidade cultural do mundo. E isso não significa ignorar as problemáticas e os erros presentes, mas sim, executar as críticas sem as diferenciá-las e sem colocá-las em um meio de estereótipos.

Ao fazermos isso, podemos valorizar a autenticidade e a originalidade do K-pop, respeitando sua identidade e a diversidade de seus fãs em todo o mundo. A Hallyu e o K-pop são expressões culturais influentes que transcendem fronteiras, e é através do diálogo, e da abertura que podemos promover uma apreciação significativa dessas formas de arte.


Referências

Maria Carolina Stelzer Campos é mestranda no Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e Licenciada em História pela UFES.

 

BARROS, José D’Assunção. História, espaço, geografia: diálogos interdisciplinares. Petrópolis/RJ: Vozes, 2017.

CHARTIER, Roger. A História cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1988. (Memória e Sociedade).

COSTA, Larissa G. Silva. Mídias sociais e Hallyu: um estudo sobre a projeção no Twitter do grupo K-pop sul coreano BTS. 2022. 69 f. Monografia (Bacharel em Gestão da Informação), Faculdade de Informação e Comunicação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2022.

CUNHA, Vinícius Ferreira. A ascensão do pop coreano: o boom do K-pop a trotes de cavalo, o papel da comunicação e as articulações com o modelo pop ocidental. 2013. 49 f. Monografia (Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo), Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Jahar, 2000.

SAID, Edwuard W. Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SANGUINO, Juan. Sob a perfeição do K-pop, contratos leoninos, dietas radicais e vigilância contínua. El País, 28 out. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/cultura/2020-10-28/sob-a-perfeicao-do-k-pop-contratos-leoninos-dietas-radicais-e-vigilancia-continua.html. Acesso em: 20 jul. 2023.

SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis/RJ: Vozes, 2014. 

23 comentários:

  1. Olá Maria Carolina, seu texto me despertou para um situação que vejo acontecer em relação à China, quanto às séries que se apresentam nas diversas plataformas on-lines. Assim como a cultura k-pop, segundo o seu texto, a cultura chinesa também permeia o Ocidente, como um "softpower" deixando as impressões que, naturalmente, os governos tanto coreano, quanto chineses, programação para impregnar as lentes ocidentais, mesmo que tais lente estejam embassadas pelas teorias de Said. Você concorda? Grande abraço de luz, triZ périZ (beatriz jobim pérez senra)

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    1. Olá Maria Carolina, seu texto me despertou para um situação que vejo acontecer em relação à China, quanto às séries que se apresentam nas diversas plataformas on-lines. Assim como a cultura k-pop, segundo o seu texto, a cultura chinesa também permeia o Ocidente, como um "softpower" deixando as impressões que, naturalmente, os governos tanto coreano, quanto chineses, programação para impregnar as lentes ocidentais, mesmo que tais lente estejam embassadas pelas teorias de Said. Você concorda? Grande abraço de luz, triZ périZ (beatriz jobim pérez senra)

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    2. Maria Carolina Stelzer Campos9 de agosto de 2023 às 14:24

      Olá Beatriz, primeiramente gostaria de agradecer seu comentário. E concordo sim, o Ocidente busca promover essa narrativa de superioridade por quase todo o continente asiático. Então acredito que sim!

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  2. Beatriz Carazzai Pereira7 de agosto de 2023 às 21:52

    O seguinte trecho me chamou a atenção: "A Hallyu, embora seja uma forma de expressão cultural coreana, também é afetada pelas relações de poder e representa um espaço onde a identidade e a diferença [SILVA, 2014] são construídas e negociadas entre o Oriente e o Ocidente"

    Sobre essa negociação, quando conheci o kpop em 2011, não via letras que enfatizavam que os artistas eram coreanos ou asiáticos, afinal, naquele período maior parte do mercado se voltava para o próprio continente asiático. É nesta era, inclusive, que temos o início de uma expansão para o ocidente (com I Am The Best do 2NE1 e a versão americana de The Boys do Girls' Generation, por exemplo).

    Recentemente, com o novo boom Hallyu, tenho notado que artistas que visam o mercado ocidental têm criado uma imagem pública que enfatiza que são "os outros" asiáticos. A letra de Spicy (CL) diz "ela tem o molho e é apimentado, você está olhando para os asiáticos mais descolados", e recentemente XG lançou um rap em que Harvey diz "duas pequenas asiáticas, e somos ambas 10 no microfone". Ambos os trechos citados são, inclusive, cantados em inglês.

    Considerando esse contexto, é correto afirmar que a indústria do k-pop tem se valido da reprodução desses orientalismos para expandir seu mercado no ocidente, com empresas lucrando com a "exoticidade" de seus artistas? Ou seria essa tendência nas letras uma forma de resistência e afirmação da identidade destes idols, que emprestam do Rap e Hip-Hop o conceito de um orgulho étnico para minorias?

    *XG é um grupo japonês que canta em inglês, portanto há um debate caloroso sobre se enquadrarem ou não no gênero kpop. Aqui, tomei elas como parte do k-pop uma vez que se valem do mesmo formato estético, de produção musical e comercialização do kpop, buscando se consolidar na Coreia com apresentações em programas de tv etc.

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    1. Logo, um "softpower" coreano😃 ao modelo chinês ou podemos englobar tudo em um "softpower" asiático

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    2. Maria Carolina Stelzer Campos9 de agosto de 2023 às 14:33

      Olá Beatriz, muito obrigada pelo seu comentário extremamente pertinente. Eu acredito que possa ser uma mistura das duas afirmações, creio que em muitos momentos o k-pop busca se reafirmar e resistir a tantos estereótipos criados em cima dos mesmos, buscando se reafirmar como asiáticos e demonstrando orgulho com isso, como exemplo disso, em diversas entrevistas de alguns grupos, principalmente quando são realizadas nos EUA ou em países do ocidente, vemos os mesmos se afirmando como asiáticos como uma maneira de determinar sua identidade e resistir a uma certa ocidentalização dos mesmos. Entretanto também temos que lembrar que muito da indústria do k-pop é muito influenciada pelo movimento do capitalismo, então me permito afirmar que em certos casos, as agências se utilizam disso nos conceitos dos artistas para vendê-los.
      - Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  3. Fernando de Barros Honda8 de agosto de 2023 às 10:00

    Maria Campos, o seu texto me fez refletir acerca da noção de "representação", pois diz respeito a uma corrente de pensamento que se aprofunda desde platão. Isto diz respeito aquele pensamento de que há um original e se derivaria uma cópia, uma dictomia entre o que seria o real e o virtual também pode ser vislumbrado. A minha dúvida vem acerca da incrível performance que muitos desses grupos apresentam, detalhes bem explorados em seu texto. Penso que só assim eles foram reconhecidos, digamos assim, "deste lado do globo", enquanto temos cantoras pop que dublam ou mesmo nem dançam, muitas vezes apresentam desta forma por uma hora e meia, esses grupos coreanos, o contrário, cantam, dançam e permanecem em palco por mais de quatro horas. O K-pop pode ser apenas "Pop" ou "Gayo", assim, de acordo com a sua experiência de pesquisa, as impressões formadas pela industria do entretenimento coreana não estariam fomentadas pela necessidade desta cultura ser muito mais em tudo para ser vislumbrada pelo centro econômico estadunidense?

    Fernando de Barros Honda PPGF-PUCPR

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos9 de agosto de 2023 às 14:55

      Olá Fernando, gostaria primeiramente de agradecer o seu comentário. E gostaria de iniciar comentando que sim, também percebo que existe esse esforço dobrado para os artistas do oriente serem reconhecidos aqui. Um grande exemplo disso foi o Grammy do ano passado, onde um grupo coreano se apresentou, com uma performance cheia de camadas, com muitos artifícios artísticos, enquanto outros artistas ocidentais somente cantaram em pé no palco, sem nenhuma outra camada artística em conjunto.
      Então concordo com a afirmação da pergunta, os artistas do oriente tendem a ter que se esforçar em muitas camadas artísticas para serem notadas aqui, entretanto isso também é uma característica desde sempre do gênero, então fica uma nuance de que, até que ponto isso é uma característica do k-pop e até que ponto isso é uma busca pelo reconhecimento no ocidente.
      -Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  4. Seguem abaixo alguns questionamentos acerca da produção textual:
    1. Por que não é citado um único autor sul-coreano e sim monografias para fundamentar sobre a Onda Coreana (Hallyu)?
    2. Por que é citado o KOCIS (Korea Culture and Information Service, Serviço de Cultura e Informação da Coreia), mas não está nas referências o relatório da instituição, que foi tirada a citação?
    3. Para além da idealização dos documentos governamentais, você acredita que a Hallyu é uma forma de imperialismo sul-coreano, tal qual os produtos de Hollywood?
    4. O que significa Ocidentalismo?
    Helmer Marra (MidiÁsia | UFF)

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos9 de agosto de 2023 às 15:10

      Olá Helmer, obrigada pelo seu comentário.
      Vou responder cada pergunta sinalizando os números que você indicou para assim ficar mais fácil de localizar.
      1. Existe uma grande barreira linguística que ainda não fui capaz de superar, então esse é o motivo da não utilização de autores sul-coreanos.
      2. Citei o KOCIS retirando-o de outro texto, então ele foi o referenciado.
      3. Não acredito que seja uma forma de imperialismo, mas sim de propagação e reestruturação do país. Acredito que a Hallyu é mais uma forma de soft power do que uma forma de imperialismo, podendo vista como uma maneira pela qual a Coreia do Sul compartilha sua cultura e valores com o mundo, estabelecendo conexões interculturais e ganhando influência global por meio de atrações culturais.
      4. Acredito que tenha se confundido na escrita, pois meu texto aborda o orientalismo, que de acordo com Edward Said refere-se a um conjunto de representações, imagens e estereótipos que o Ocidente criou sobre o Oriente, sendo quase como uma lente através da qual o Ocidente tem interpretado, definido e dominado o Oriente. O conceito de orientalismo de Said ressalta como essa representação do Oriente como uma construção ideológica que reflete as atitudes, valores e interesses do Ocidente.
      Mas sobre o ocidentalismo, acredito que seria a adoção de elementos culturais, ideias, valores e práticas do Ocidente (principalmente da Europa e dos EUA) por outras culturas ao redor do mundo. Entretanto, não me sinto apta para discorrer o suficiente sobre.
      - Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Cara Maria Eduarda, boa noite! Gostaria de te parabenizar pelo ótimo texto. No mais, você acredita que o K-pop atualmente está deixando suas heranças culturais e traços específicos à medida que passa a ganhar maior espaço dentro do Ocidente? Como você enxerga esse possível risco do gênero musical estar cada vez mais 'padronizado'? Abraços!

    Marcela Langer

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos9 de agosto de 2023 às 15:18

      Olá Marcela, agradeço muito pelo comentário e elogio!
      Eu acredito que não. Vejo que sim, alguns grupos cada vez mais investem em letras totalmente em inglês (pelo menos alguma do álbum) por exemplo, entretanto não vejo como uma padronização do gênero, enxergo mais como uma fase. Os grupos, e principalmente suas agências, veem esse momento como uma porta aberta para a exportação do gênero para o ocidente, então acredito que nesse momento, estratégias para uma maior ocidentalização podem ser utilizadas, mas apenas para a "conquista" do público aqui no ocidente. Um exemplo disso é o grupo BTS, que lançou desde 2020 três músicas consecutivas em inglês, e isso promoveu um boom enorme da popularidade do grupo no ocidente, entretanto, suas músicas atuai voltaram a ser em coreano, com algumas frases em inglês, como é bem comum no gênero.
      - Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  7. Olá, Maria Carolina.

    Ao propor o diálogo intercultural em suas considerações finais, em quais ações/iniciativas poderíamos pensar (nós como um todo)? O debate sobre Orientalismo talvez esteja muito restrito ainda ao círculo acadêmico de humanas, mesmo que nos deparemos com frequência com a hierarquia Ocidente x Oriente em muitas fontes de informação que consumimos.

    Só um comentário: no trecho do “El País” que citou, o autor escreve “Nos Estados Unidos, as estrelas nascem; na Coreia do Sul, são fabricadas”.

    Me fez lembrar de outro texto compartilhado neste simpósio (“Pressuposto dominante e o estudo da China”, de André Bueno) e seu trecho: “a absurda teoria de que somente os ocidentais ‘filosofam’ enquanto os outros povos apenas ‘pensam’”.

    Desde já, obrigada.

    Elizabeth Paik

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos11 de agosto de 2023 às 10:38

      Olá Elizabeth, primeiramente gostaria de agradecer pelo seu comentário!!!
      Eu acredito que o caminho para quebrarmos um pouco essa restrição no mundo acadêmico e expandi-la para os meios da comunidade é principalmente através de redes sociais, infelizmente esse é um espaço que cresce cada dia mais e creio muito que temos que ocupá-lo também com coisas da academia. Vejo em muitas páginas de fãs de k-pop esse diálogo crescendo.
      E muito interessante o trecho que você trouxe, vou visitar o texto do André com certeza!!!!
      -Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  8. Olá! Parabéns pelo texto, é muito interessante. A minha questão é a seguinte: de que maneira você acredita que o K-pop rompeu com os paradigmas ocidentais em relação ao Oriente?
    Camilla Mariano

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos11 de agosto de 2023 às 10:44

      Olá Camila, obrigada pelo elogio e pelo seu comentário!!
      Eu acredito que essa pergunta possui muitas respostas, mas irei trazer uma das minhas visões. Acredito que esse movimento foi gradativo, mas é inegável que, se tratando das produções audiovisuais e musicais coreanas, o período da pandemia fortaleceu ainda mais essa expansão. Com o tempo "ocioso" em casa, muitas pessoas foram em busca de novos entretenimentos e com isso se depararam com as produções coreanas, em especial em serviços de streaming por exemplo, a Netflix trouxe muitas produções durante o esse período. E com o maior acesso aos k-dramas é uma questão de tempo até o público se interessar em alguma música da trilha sonora, ou até mesmo procurar por conta própria mais produtos artísticos coreanos.
      -Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  9. Boa tarde. Parabéns pelo trabalho. Como você escreveu, Hallyu, essa onda se transformou em projeto político ou já nasceu como projeto político? Agora, e hoje, esse onda como parte de um projeto político ainda é forte ou o lado comercial suplantou essa intenção? Obrigado. Marlon Barcelos Ferreira

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos11 de agosto de 2023 às 10:48

      Olá Marlon, agradeço muito pelo elogio e pelo comentário!!
      Essa onda já nasceu como um projeto político, no final da década de 1990 a Coreia do Sul passa por uma grave crise econômica, e uma das frentes de combate a essa crise é o financiamento governamental na cultura coreana, principalmente o K-Pop e o K-drama.
      E eu acredito que o lado comercial cresceu muitíssimo, mas ainda temos muita influência do poder político, principalmente nos grandes grupos, que acabam se tornando "a cara da Coréia", então o governo passa a desejar controlar e promovê-los o máximo possível. Um grande exemplo disso é o grupo BTS, um dos maiores grupos de k-pop da atualidade, o grupo e suas atividades comerciais são responsáveis por 0,5% do PIB do país, então o governo acaba buscando utilizá-los bastante como uma propaganda política.
      -Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  10. Olá, Maria Carolina!
    Primeiramente, gostaria de parabenizá-la pelo excelente texto!

    Tendo em vista o trecho: “o primeiro produto sul-coreano a ter popularidade nos países asiáticos vizinhos foram os k-dramas [...]" [COSTA, 2022, p. 27].
    Minha pergunta é: os k-dramas sobre K-pop como Let Me Be Your Knight e So I Married An Anti-Fan, que abordam a rotina dos idols, por exemplo, contribuem para a desmistificar estereótipos do orientalismo em países do ocidente ou está relacionado apenas a expansão do K-pop?

    Atenciosamente,
    Maria Vanusa Sousa Melo

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    1. Maria Carolina Stelzer Campos11 de agosto de 2023 às 10:52

      Olá Maria Vanusa, agradeço muito pelo elogio e pelo comentário!!
      Eu acredito muito que k-dramas como esses citados (ótimos por sinal) acabam contribuindo muito para a desmitificação de estereótipos mas também ajudam com a expansão, pois além de mostrar um pouco da realidade e da visão coreana sobre os idols, também provocam a curiosidade do público se interessar e buscar mais sobre esse universo, e consequentemente ouvir as músicas e acompanhar os grupos.
      -Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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  11. Maria Carolina, gostei bastante do seu texto e temática ainda não tinha lido nada nesse sentido e pensar esses gêneros a forma como ela é vista para o mundo todo é realmente instigante.
    Pergunta: Esse estilo musical está se expandindo e alcançando lugares que antes não eram alcançados, você acredita que essa disseminação da cultura pode mudar o modo como eles são vistos?
    Jucirene Martins Costa

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    Respostas
    1. Maria Carolina Stelzer Campos11 de agosto de 2023 às 10:57

      Olá Jucirene, muito obrigada pelo seu comentário e seu elogio!!
      Eu acredito sim! Cada vez mais com a expansão do gênero, mais pessoas se interessam e consequentemente mais pessoas passam a acompanhar e acabam disseminando a informação entre amigos e colegas, e até mesmo acabam expondo na internet. Tudo isso acaba propiciando a criação de espaços de debates do assunto, e com acredito que cada vez mais o k-pop vai ocupar espaços onde antes ele não era bem recebido, e aos poucos alguns estereótipos vão sendo desmanchados. Entretanto, como estamos no ocidente, é inegável que sempre formularemos alguma representação sobre os mesmos que será baseada em pré conceitos que estão dentro da identidade que nós formulamos sobre os mesmos.
      -Maria Carolina Stelzer Campos (Ufes)

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