A DIÁSPORA COREANA NO JAPÃO: APONTAMENTOS NA OBRA LITERÁRIA PACHINKO, DE MIN JIN LEE , por Maria Gabriela Moreira e Nayla Lumy de Andrade Kuroki

 

O presente artigo tem como propósito a exposição de relevantes questões diaspóricas concernentes aos sujeitos coreanos residentes no Japão, em consonância com a narrativa literária de Pachinko, da escritora Min Jin Lee. Cumpre destacar que não se almeja, tampouco dispõe-se do espaço necessário, para exaurir a discussão entre o conhecimento histórico e a trama do livro, mas sim instaurar o campo para reflexões mais aprofundadas. Nesse sentido, optou-se, primeiramente, por uma breve elucidação acerca da referida ficção histórica, com o intuito de enfatizar certos aspectos inerentes à obra, interligando-os à própria análise histórica e social. A diáspora, como veremos, não é um fenômeno simples, tem laços estreitos com a individualidade dos sujeitos diaspóricos, condicionando tanto comportamentos quanto identidades.

 

Apresentaremos, de forma concisa, a história de Pachinko. Apesar dos inúmeros personagens que a obra nos leva a conhecer, a figura central é Sunja, o fio condutor entre as várias gerações que são abordadas. Ela é a filha de um pescador aleijado e uma mãe dedicada que possuem uma pequena estalagem em Yeongdo, um distrito de Busan. O enredo inicia-se em território coreano, em 1910, quando o Japão anexou a Coreia. Ainda adolescente, Sunja se apaixona por Hansu, um coreano muito rico que tem negócios na cidade. Quando ela descobre que está grávida - e que seu amante é casado - ela se recusa a ser comprada pelos planos de Hansu. Em vez disso, ela aceita uma oferta de casamento de um ministro gentil que estava se hospedando com ela e a mãe, durante uma pausa no caminho dele para o Japão. Após a decisão de abandonar sua casa e ir viver com o marido em Osaka, a trama desencadeia uma saga dramática que ecoa através das gerações.

 

Nos agradecimentos presentes ao término da obra, a autora compartilha conosco um pouco de sua trajetória de vida e sua experiência como escritora, revelando que somente ao se estabelecer em Tóquio e entrar em contato com a comunidade coreana residente ali é que ela efetivamente encontrou inspiração para a criação de Pachinko. A partir das diversas entrevistas realizadas com membros dessa população, a autora pôde compreender que, embora tenham sido vítimas de acontecimentos históricos adversos, cada um deles transcendia essa condição singular. Ela diz ter ficado comovida com a envergadura e a complexidade das pessoas que conheceu. Acreditamos que a habilidade da autora em compartilhar brilhantemente essas vivências através da narrativa literária, efetivamente condensa a intrincada conjuntura das gerações de coreanos diaspóricos vivendo em solo japonês.

 

A história de sobrevivência retratada na obra ressoa profundamente sobre a essência da humanidade e identidade, aspectos cruciais quando abordamos o tema da diáspora, constituindo, assim, um relevante objeto de discussão no contexto desta análise. Sob o olhar atento da história, Pachinko pode vir a ser uma leitura extremamente útil para adentrar nas sensibilidades e memórias que um tema como este carrega em seu conteúdo. Neste sentido, encontramos na literatura, um campo que se constitui a partir do complexo espaço social e cultural, e que, portanto, se apresenta como uma configuração lírica da realidade. Sua análise, ainda que permeada pelo debate entre a narrativa histórica e literária, se constrói como uma leitura possível no resgate da memória e da história. O historiador Valdeci Rezende Borges propõe que: “[…] a literatura, seja ela expressa nos gêneros crônica, conto ou romance, apresenta-se como uma configuração poética do real, que também agrega o imaginado, impondo-se como uma categoria de fonte especial para a história cultural de uma sociedade.” [BORGES, 2010, p.108]

 

A história cultural, que dentro de suas vertentes se inclina sobre diversos gêneros textuais para a construção de sua escrita, enfatiza o resgate das memórias coletivas e individuais em sua produção [SANTOS, 2007, p. 119], e é a partir da experiência histórica pessoal que também se faz possível a criação literária. Entre outras questões, a história cultural tem se esforçado na busca pela sensibilidade no passado e pelas práticas culturais do sensível, essas encontradas muitas vezes nos arquivos das artes e literatura. Sob esse aspecto, a historiadora Sandra Pesavento propõe que:

 

“A sensibilidade revela a presença do eu como agente e matriz das sensações e sentimentos. Ela começa no indivíduo que, pela reação do sentir, expõe o seu íntimo. Nesta medida, a leitura das sensibilidades é uma espécie de leitura da alma. Mas, mesmo sendo um processo individual, brotado como uma experiência única, a sensibilidade não é, a rigor, intransferível. Ela pode ser também compartilhada, uma vez que é, sempre, social e histórica.” [PESAVENTO, 2007, p. 13-14]

 

A produção literária pode então ser posta como uma alternativa para a representação histórica e social, que permeada de sensibilidade, auxilia na reconstrução da memória coletiva e individual. Ela é em si a testemunha de sua época e um produto sociocultural que representa as experiências humanas do seu tempo histórico [BORGES, 2010, p.98]. E justamente é dentro do entrelaço da história e da literatura que se constitui Pachinko. 

 

A primeira frase do capítulo inaugural da obra de Min Jin Lee é apresentada como: "A história falhou conosco, mas não importa" [LEE, cap. 1, livro 1]. A partir desta colocação, interpretações diversas podem ser feitas. Aqui, estabeleceremos uma conexão com as observações de Sonya Ryang em relação ao apagamento das histórias de coreanos e outros ex súditos coloniais. A mencionada historiadora argumenta que o ​​Japão emergiu do período pós-45 como vítima da violência extrema perpetrada pelas forças aliadas. Nesse contexto, uma consciência japonesa de vitimização frente aos eventos derradeiros da Segunda Guerra Mundial foi desenvolvida, ao passo que os ex-colonizados acabaram sendo relegados ao esquecimento. Tal processo de apagamento histórico foi alcançado primordialmente por meio de um programa de invisibilidade sistematicamente imposto, especialmente através da revogação da cidadania japonesa de todos os coreanos residentes no Japão em 1952 [RYANG, 2009, p. 63]

 

Em contexto amplo, o mundo durante e após as duas grandes guerras mundiais, deixaram muitas populações em situação de violência, insegurança e crises. O século XX é um século de grandes convulsões históricas. Ryang não localiza a origem da diáspora coreana nos anos de colonização japonesa (1910-1945), uma vez que durante esse período muitos coreanos migraram entre os territórios em busca de melhores oportunidades de trabalho. O cenário passa por uma transformação radical com a divisão artificial das duas Coreias, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, ocorrida durante a Guerra da Coreia. A partir desse marco histórico, uma parcela significativa da população coreana foi confinada no arquipélago japonês. Ela ressalta que uma data precisa, de qualquer forma, não poderia marcar o início de uma diáspora, visto que esta depende do fator da consciência diaspórica daqueles que deixaram sua pátria, não somente de um simples abandono físico da terra natal [RYANG, 2009, p. 4]. Dessa forma, faz-se sentir a complexidade deste fenômeno.

 

Pachinko apresenta algumas cenas que denotam a situação de extrema penúria enfrentada pelos coreanos em terras japonesas. A descrição do bairro em que eles residiam, caracterizado como uma espécie de vilarejo caótico, composto por casas minúsculas, precárias e desiguais, situado em uma vizinhança suja e malcheirosa. Em determinado trecho, é dito: "este lugar é adequado apenas para porcos e coreanos". Outras duas sentenças presentes no livro evidenciam a condição de inferioridade sofrida: “Os japoneses acham que os coreanos são sujos, mas eles não têm escolha a não ser viver na imundície” [LEE, cap. 14, livro 1]; “​​Viver todos os dias na presença daqueles que se recusam a reconhecer sua humanidade exige muita coragem” [LEE, cap. 5, livro 2]. A diáspora é então vivenciada como uma forma de vida, uma vez que indivíduos desprovidos de uma pátria encontram-se constantemente em situação de insegurança; se a morte não está iminente, ao menos é a percepção que prevalece [KIM, 2017, p. 15].

 

Mark E. Caprio e Yu Jia demonstraram como as políticas e interesses internacionais, principalmente dos Estados Unidos, interferiram na repatriação dos coreanos após a libertação coreana do domínio colonial japonês. Na exposição dos autores, eles fazem a análise de um relatório, produzido pelo Escritório de Serviços Estratégicos (mais tarde a CIA), o “Aliens in Japan”, que imitou muitos dos estereótipos negativos usados pelos japoneses para julgar a anexação da Coreia em 1910 por seu país, bem como sua administração contínua da península coreana. Nesse relatório, encontramos esta mesma inferiorização do povo coreano que Pachinko buscou demonstrar. O relatório listou duas razões para separação entre japoneses e coreanos, sem possibilidades de assimilação entre eles: primeiro, os japoneses desencorajaram a integração coreana e, segundo, como conta o relatório, os coreanos estabelecidos no Japão eram muito pobres, não tinham instrução, tampouco eram qualificados, ou seja, muito inferiores aos japoneses. Diz ainda que eles pareciam ser “lentos e preguiçosos”, e não eram tão conscientes da limpeza quanto os japoneses [CAPRIO; JIA, 2009, p. 27].

 

Norbert Elias e John Scotson, em uma análise brilhante dos estabelecidos e dos forasteiros de uma cidade, entende a referida condição de inferioridade como uma estratégia para realçar a suposta superioridade do outro, neste caso, dos japoneses. Eles colocam que:

 

“… os sintomas de inferioridade humana que os grupos estabelecidos muito poderosos mais tendem a identificar nos grupos outsiders de baixo poder e que servem a seus membros como justificação de seus status elevado e prova de seu valor superior costumam ser gerados nos membros do grupo inferior - inferior em termos de sua relação de forças - pelas proprias condicoes de sua posição de outsiders e pela humilhação e opressão que lhe são concomitantes (…). A pobreza - o baixo padrão de vida - é um deles” [ELIAS, 2000, p. 28]

 

Identidades diaspóricas

Stuart Hall expõe duas perspectivas de identidade cultural. Valendo-nos de conceitos históricos, diríamos que a primeira delas pode ser caracterizada como uma identidade totalizante, na qual a visão macro é privilegiada. Já a segunda abordagem da identidade cultural enfatiza as diferenças, as rupturas e descontinuidades. Segundo Hall, a primeira categoria concebe a identidade cultural “em termos de uma cultura compartilhada, uma espécie de ‘um verdadeiro eu’ coletivo, escondido dentro de muitos outros ‘eus’, mais superficiais ou artificialmente impostos, que pessoas com uma história e ascendência compartilhadas têm em comum” [HALL, 1990, p. 223]. Para o autor, essa concepção de identidade cultural desempenhou um papel crítico em todas as lutas pós-coloniais, uma vez que, apesar dos rasgos ensaiados ao longo da história, ainda é possível chegar a um lugar comum.

 

Myung Ja Kim ao investigar a trajetória da construção do processo diaspórico e sua tendência de afastar-se consideravelmente da entidade cultural original, aproxima-se da perspectiva da segunda identidade cultural apresentada por Stuart Hall. Enquanto o primeiro eixo enfatiza a origem comum e um senso de continuidade, o segundo eixo, que Kim explora, revela uma profunda irregularidade. Nesse contexto, a identidade mostra-se inconstante, sem fixidez, uma vez que as circunstâncias redefinem seus limites. Kim chega a conclusão de que essas identidades diaspóricas estão se tornando significantes [KIM, 2017, p. 26]. Neste segundo caminho, Hall conceitua a identidade cultural enquanto:

 

“uma questão de 'tornar-se', bem como de 'ser'. Pertence ao futuro tanto quanto ao passado. Não é algo que já existe, transcendendo o lugar, o tempo, a história e a cultura. As identidades culturais vêm de algum lugar, têm histórias. Mas, como tudo o que é histórico, elas passam por uma transformação constante. Longe de serem eternamente fixados em algum passado essencializado, elas estão sujeitas ao contínuo 'jogo' da história, cultura e poder” [HALL, 1990, p. 225, tradução nossa]

 

Em Pachinko, acompanhamos três gerações de coreanos no Japão, primeiro Sunja, depois seus filhos e os filhos deles. A questão geracional desempenha um papel significativo na formação das identidades diaspóricas. Sonya Ryang divide a diáspora em dois modelos distintos: o "clássico" e os "estudos culturais". No modelo clássico, ocorre um deslocamento forçado da pátria em decorrência de perseguição étnica, acompanhado por um forte sentimento de pertencimento. Nesse cenário clássico, como exemplificado pelos judeus, a experiência diaspórica frequentemente culmina em politização e coletividade. Por outro lado, no modelo dos "estudos culturais", observa-se uma constante insegurança de vida e crises de identidade. A autora destaca que a primeira geração pode se encaixar na forma diaspórica clássica, visto que foi deslocada de suas raízes familiares para o país que colonizou sua pátria e, posteriormente, com a divisão das Coreias, o retorno se torna complicado. No entanto, para as gerações seguintes, nascidas no Japão, surge uma situação complexa: “eles são estrangeiros em uma terra natal que poderia se tornar sua referência cultural e prática, mas não sua verdadeira terra natal ou pátria.” [RYANG, 2009, p. 3, tradução nossa].

 

A construção de si, enquanto indivíduo, será marcado por esta dupla referência na vida de alguém que pertence a uma segunda, terceira geração diaspórica. Essa identidade apresenta-se em um estado de convulsão, caracterizando o modelo de sujeito diaspórico categorizado nos "estudos culturais" de Sonya Ryang. Myung Ja Kim compreende que os coreanos remanescentes no Japão muitas vezes assumem formas de nome japoneses ou usam pseudônimos japoneses, permitindo que eles se misturem com os japoneses na vida cotidiana, mas percebem que sua identidade ambígua mascara uma desvantagem subjacente em termos de suas próprias vidas sociais [KIM, 2017, p. 2].

 

A escritora Min Jin Lee criou personagens diaspóricos que enfrentam complexas crises identitárias, abrangendo aspectos de classe, cultura, etnia e preconceitos. Através desses personagens e da narrativa literária elaborada, temos a oportunidade de adentrar em um mundo marcado por sensibilidades históricas. Concluímos que:

 

Pachinko é uma bela história das dificuldades dos imigrantes em terras estrangeiras […]. Os coreanos sofreram com a discriminação que todos os imigrantes enfrentam, além de uma dimensão adicional que vem de terem sido sujeitos coloniais. Não está perdido para o leitor que, embora o jogo de salão pachinko seja o negócio da família, também pode ser visto como uma metáfora para a vida dos próprios personagens. Eles serão engajados em conflitos no mundo ao nascer, e colidirão contra um lado do jogo e acertarão outro.” [MALI, 2019, p. 8, tradução nossa]

 


 

Referências

Maria Gabriela Moreira possui graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá. Atualmente cursa o mestrado no Programa de Pós-Graduação em História na Universidade Estadual de Maringá, sendo membro do Laboratório de Estudos Medievais [LEM]

Nayla Lumy de Andrade Kuroki é graduanda em História pela Universidade Estadual de Londrina.

 

BORGES, Valdeci Rezende. História e literatura: algumas considerações. rth|, v. 3, n. 1, p. 94-109, 2010.

 

CAPRIO, Mark E.; JIA, Yu. Occupation of Korea and Japan and the origins of the korean diaspora in Japan. In: RYANG, Sonia; LIE, John. Diaspora without Homeland: Being Korean in Japan. California: University of California Press, 2009, p. 22-38.

 

DOS SANTOS, Zeloí Aparecida Martins. História e literatura: uma relação possível. Revista Científica/FAP, v. 2, n. 1, 2007.

 

ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.

 

HALL, Stuart. Cultural Identity and Diaspora. In: J. Rutherford (Ed.), Identity: Community, Culture, Difference. London: Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237

 

PESAVENTO, Sandra. ​​Sensibilidades: escrita e leitura da alma. In: PESAVENTO, Sandra; LANGUE, Frédérique. Sensibilidades na história: memórias singulares e identidades sociais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.

 

KIM, Myung Ja. The Korean Diaspora in Postwar Japan: geopolitics, identity and nation-building. 2017.

 

LEE, Min Jin. Pachinko. Rio de Janeiro: Intrínseca. Ed. digital, 2020.

 

MALI, Dev Singh. Immigrants’ Sense of Dislocation and Identity Crisis in Min Jin Lee’s Pachinko. Kirtipur: Central Departmental of English, 2019.

 

RYANG, Sonia. Introduction. Between the nations: diaspora and koreans in Japan. In: RYANG, Sonia; LIE, John. Diaspora without Homeland: Being Korean in Japan. California: University of California Press, 2009, p. 1-21.

12 comentários:

  1. Li a obra no ano passado e me interessei muito pelo tema. Gostaria de perguntar se há algum motivo para que o Pachinko seja uma profissão desvalorizada pelas pessoas da época, porque fica evidente que era um dos poucos lugares em que coreanos conseguiam ser contratados, mas ou mesmo tempo tratava-se de um ramo bastante lucrativo, visto que é através do Pachinko que a família de Sunja consegue melhorar suas condições de vida.
    Nome: Beatriz Guedes Sant'Anna

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    1. Maria Gabriela Moreira8 de agosto de 2023 às 21:17

      Oi, Beatriz. Para responder a sua pergunta, acreditamos que possamos verificar dois aspectos do Pachinko: o primeiro é que ele é um jogo de azar e os jogos de azar são ilegais no Japão. E, como todo e qualquer jogo dessa categoria, pode ser visto como um grande tabu pela população. Mas, mesmo pertencendo a categoria, os salões de pachinko são liberados pois a forma de premiação é diferente, não envolvendo apostas em dinheiro diretamente. Essa questão da premiação é o segundo aspecto que gostaríamos de mencionar, porque durante as últimas décadas do século XX, a troca de prêmios eram controladas pela Yakuza, o “crime organizado” japonês, o que com certeza legou um grande mal-estar em relação ao jogo e os salões de pachinko. Isto certamente recai na desvalorização do jogo, e das pessoas que trabalhavam com ele, pelas pessoas da época como você apontou.

      Agradecemos o comentário,
      Maria Gabriela Moreira
      Nayla Lumy de Andrade Kuroki.

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  2. Olá Maria e Nayla!

    Primeiramente gostaria de parabenizá-las pelo trabalho interessantíssimo que fizeram. Li Pachinko no início desse ano e fiquei completamente apaixonada pela história das gerações da família retratada e pela escrita da Min Jin Lee. Acredito que por eu conhecer um pouco sobre a história coreana e japonesa, a leitura me trouxe ainda mais empolgação ao saber o que estava por vir quanto ao contexto histórico por trás em monetos decisivos do livro como o momento em que a bomba atômica atinge Nagasaki.

    Bom, mas quanto a minha pergunta. Durante o texto, vocês discutem sobre a questão da inferiorização do povo coreano no Japão, dizendo que os viam como lentos, sujos e preguiçosos. No livro, o primeiro filho de Sunja, se não me falha a memória, ao longo de seu crescimento tenta cada vez mais se afastar se seus laços coreanos, buscando se misturar e viver a vida como um jovem japonês comum, tudo isso por ter vergonha da origem humilde de sua família. Com isso, eu gostaria de saber se até os dias de hoje esse preconceito por parte dos japoneses em relação aos coreanos que residem no Japão ainda existe, e se sim, em que situações são mais perceptíveis?

    Atenciosamente,
    Tamires Barbosa da Costa

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    1. Maria Gabriela Moreira8 de agosto de 2023 às 21:50

      Olá Tamires. Pachinko é uma leitura engrandecedora de muitas formas, ficamos contente em podermos dividir nossas reflexões aqui. Nossa análise não contemplou o presente momento da historia desses coreanos que residem no Japão. Podemos ter uma ideia mais clara a partir da leitura que fizemos para construir o texto que as fronteiras de nacionalidade/identidade/descendência são sempre confusas, complexas e, determinantemente, a causa de crise identitária e insegurança da parte dos sujeitos diasporicos, como são os coreanos, até os dias atuais. De qualquer forma, os tramites foram muitos, tiveram muitas politicas, diplomais diversas e os próprios coreanos em uma luta ativa para serem reconhecidos no território japonês. Toda esta historia com certeza não se apaga facilmente e por ter sido um acontecimento tão recente, dado a grandíssima duração da historia e suas continuidades, acreditamos que sim, ainda deve existir setores da população japonesa que carregam preconceitos em relação aos coreanos residentes ali.

      Agradecemos pelo comentário,
      Maria Gabriela Moreira
      Nayla Lumy de Andrade Kuroki.

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  3. Ótimo trabalho, Maria e Nayla! Não li a obra ainda, apesar de estar em minha lista de leitura, mas o título do trabalho de vocês chamou a minha atenção e, ao ler, percebi que ele vai um pouco de encontro com alguns assuntos que tenho estudado no mestrado, como a questão da identidade. Bem, vi que o Stuart Hall está nos referenciais teóricos de vocês, e, não sei se vocês já leram, mas há um livro organizado pelo Tomaz Tadeu da Silva em que há um capítulo escrito pelo Stuart (além de um escrito pelo próprio Tomaz e outro pela Kathryn Woodward), e todos os capítulos são bastante interessantes e pertinentes para o trabalho de vocês. O nome do livro é "Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais".

    Bem, faço agora apenas um apontamento em vez de uma pergunta, mas é bastante interessante quando, ao fim do texto, vocês pontuam a adoção de nomes japoneses, pelos coreanos em diáspora, para que eles possam se misturar aos japoneses; o que, também levando em consideração a questão da inferiorização (e por que não dizer, desumanização) que os coreanos fixados no Japão sofrem na narrativa, demonstra o quanto uma identidade (nesse caso, marcada pelas diferenças étnicas) pode se tornar arma de opressão a depender do contexto político/histórico/cultural.

    Novamente, parabéns pelo trabalho!

    At.te,
    Allana da Silva Araujo

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  4. Maria Gabriela Moreira8 de agosto de 2023 às 20:56

    Olá, Allana. Não tínhamos conhecimento da obra do Tomaz Tadeu da Silva, mas de fato parece uma leitura pertinente ao nosso trabalho, agradecemos a indicação. Quanto a situação dos coreanos no Japão, acreditamos que a inferiorização dos mesmos vem sim atrelado a uma degradação do entendimento do “outro” enquanto ser humano. É sempre interessante debater aspectos identitários pois eles nos atravessam de muitas formas. Boa sorte com seu mestrado!

    Agradecemos o comentário,

    Maria Gabriela Moreira
    Nayla Lumy de Andrade Kuroki

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  5. Muito bom o teu texto! Não li a obra ainda, mas comecei a ver a série baseada no livro, e a maneira como você retratou foi de uma grande maestria. Ainda hoje é possível ver esse preconceito no Japão com os coreanos ou a população mais jovem não tem mais esse olhar do preconceito enraizado como os idosos?

    Suelen Bonete de Carvalho
    suelenbc@edu.unirio.br

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Oi Maria Gabriela! Muito interessante seu texto. Em Pachinko, o conflito das diferentes gerações apresenta resoluções diferentes, ou o centro do enredo é o conflito entre ser coreano e viver no japão, de maneira geral?

    Janaina de Paula do Espírito Santo.

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    1. Maria Gabriela Moreira11 de agosto de 2023 às 18:32

      Olá Janaína, agradecemos o elogio. Acreditamos que ambas as premissas colocadas podem condensar o centro da trama. De fato, ser coreano e viver no Japão, ou ainda, ser da segunda, terceira geração, nunca deixa de ser uma questão no livro, pois, como tentamos demonstrar, são sujeitos condicionados por esta “experiencia diaspórica”. Mas, o mais encantador do livro é justamente o tratamento que dá aos seus personagens individualmente, apesar de dividirem uma história em comum, eles trilham caminhos diferentes e as diferenças entre as gerações aparecem de forma clara. Esperamos ter elucidado sua questão.

      Agradecemos o comentário,

      Maria Gabriela Moreira
      Nayla Lumy de Andrade Kuroki.

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  8. Boa tarde, Maria Gabriela e Nayla!

    A Coreia se tornou meu interesse de estudo nos últimos anos. O tema da diáspora coreana é muito pertinente principalmente com a adaptação do livro para tv pela Apple. Um outro ponto interessante é que esse ano a comunidade coreana no Brasil está comemorando os 60 anos da imigração para o país. Cito esse acontecimento com ressalvas por entender a diferença teórica entre imigração e diáspora. Contudo, achei importante trazer essa questão a tona por também se trabalhar uma busca de identidade e pertencimento em um processo migratório.

    Ao ler o texto de vocês, fiquei me perguntando o porquê do Japão ter sido o país de diáspora, reconhecendo o forte processo colonizador que os coreanos sofreram. Existe alguma característica histórica que justifique isso? Qual o papel dos EUA em todo esse processo? Pergunto isso levando em consideração um "acordo de cavalheiros" que os dois países possuíam durante a colonização coreana e a expansão Japonesa.

    Ademais gostei bastante do trabalho de vocês. Parabéns!
    Maria Clara Pessoa de Moraes

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    1. Nayla Lumy de Andrade Kuroki11 de agosto de 2023 às 21:21

      Olá, Maria Clara. No período da colonização, a mudança para o Japão se deu na tentativa de maiores oportunidades de emprego e uma melhora na qualidade de vida, ainda que os dois países em questão estivessem enfrentando problemas, o Japão apresentava maiores oportunidades neste sentido, e por isso, seria uma enfática justificativa para o movimento. Entretanto, quanto ao papel dos EUA e a sua participação em todo o processo, que é extremamente abrangente, não nos cabe aqui, resumir em algumas linhas detalhes que precisam ser discutidos em um outro trabalho, devido sua significativa e complexa importância. Esperamos, de alguma forma, ter esclarecido a questão referente à diáspora.

      Agradecemos o comentário,

      Maria Gabriela Moreira
      Nayla Lumy de Andrade Kuroki.

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