A ASCENSÃO DA GRANDE PÉRSIA DE CIRO, O GRANDE, por Willian Spengler

 

Todos os anos, na época em que os dias se tornavam mais longos e a primavera despertava os campos, das regiões mais distantes do mundo conhecido partiam caravanas – burros de carga da Anatólia e da Trácia, comboios de camelos da Bactriana e da Arábia, exércitos de carregadores do grande oásis formado pelo vale do Nilo, carruagens da Assíria, carros de boi dos afluentes do rio Indo. Todos tinham o mesmo destino e transportavam tributos, sob a forma de pedras e metais preciosos, ébano, marfim, peles de animais e tecidos valiosos. Alguns grupos conduziam animais: antílopes da Líbia ou garanhões da Armênia. Os babilônios levavam um carregamento exótico – quinhentos jovens eunucos.

 

Vindos de todas as partes do império, esses cortejos avançavam com rapidez por uma excelente rede de estradas a fim de, pouco antes do equinócio da primavera, chegar a Persépolis – um monumental complexo de palácios e fortalezas que se erguia em esplêndido isolamento no elevado planalto iraniano. Em Persépolis, emissários de todos os estados e satrapias pertencentes ao império persa entregariam seus “presentes” de ano novo – a quantidade e a natureza dos tributos anuais havia sido estipulada pelo governo imperial.  O rei da Pérsia, o grande Rei, o Rei dos Reis, o soberano mais poderoso na face da Terra.

 

Manel García Sanchez, citado por Matheus de Araújo, menciona que:

 

“[...] ao se falar da realeza iraniana, tenhamos em mente que os persas pensaram em seu território em termos de império [...] e não de reino, feito que explicaria a denominação de seu rei não como monarca em paridade a outros, mas como rei dos reis ou Grande Rei”. [Araújo, 2018, p. 47]

 

Ninguém jamais controlara um território tão vasto ou tanta riqueza. Os nobres do Egito, os sátrapas da Mesopotâmia e da Ásia Menor, os chefes nômades dos desertos orientais e os rajás da Índia, todos pagavam tributos ao soberano da Pérsia. No apogeu do império, por volta do início do século V a.C., o domínio persa abrangia cinco milhões de km² de montanhas e estepes, imensos desertos e férteis planícies fluviais, habitados por cerca de 10 milhões de súditos.

 

Para preservar um domínio tão vasto, os persas foram obrigados a desenvolver novas técnicas de governo, que fossem eficazes em enormes áreas onde viviam povos extremamente diversos. O uso da força e do terror, comum no auge do domínio assírio, provavelmente não seria eficaz na consolidação de um império tão extenso – embora o medo não seja um fator desprezível, ele em geral leva rapidamente ao ressentimento e à rebelião.

 

Mario Giordani registra que:

 

“Não era fácil administrar o vasto império cujas fronteiras atingiam o Mar Cáspio, o Cáucaso, o Mar Negro, o Mediterrâneo, os desertos da África e a inóspita Arábia, o Golfo Pérsico e a Índia. Dentro dessa moldura natural e colossal habitavam povos os mais diversos pela língua, religião e costumes, povos esses que suscitavam sérios problemas de ordem política, administrativa, militar e financeira”. [Giordani, 1972, p. 276]

 

Por sua vez, Matheus de Araújo menciona:

 

“O notável sucesso do Império Aquemênida ao longo de tanto tempo não pode ser entendido apenas a partir da estratégia militar ou da conquista. Logo no início, soberanos como Ciro e Cambises obtiveram êxito em seu governo imperial graças a uma política de concessões e alianças na periferia do império. Na Babilônia e no Egito, os reis se aliavam às elites locais e recompensavam seus apoiadores com posições de poder. Ao mesmo tempo, os monarcas se apresentavam a partir de fórmulas locais, respeitando as tradições dos povos submetidos e evitando, assim, promover rebeliões”. [Araújo, 2018, p. 188]

 

Matt Waters traça, de forma concisa, como esse colosso territorial se constituiu. Os ancestrais dos persas haviam migrado para o planalto iraniano por volta de 2000 a.C., com as tribos indo-europeias que viviam nas estepes da Rússia meridional. Entre elas estavam os árias, que chegaram ao planalto por volta de 1000 a.C. Supõe-se que tenham atravessado os desertos do Turquestão e, em seguida, se dirigido para oeste, junto à extremidade sul do mar Cáspio, seguindo até as vertentes dos montes Zagros. Um grupo iraniano aparentado, os medos, estabeleceu-se na região noroeste do planalto iraniano. Os árias prosseguiram rumo ao sul e, após muitas gerações, “se estabeleceram numa região que chamaram de Parsa, na orla sudoeste do planalto”. [Waters, 2014, p. 6]

 

Apesar de deserto, aridez e cascalho, ao norte, leste e ao sul, a região noroeste constituía-se em fértil planície, irrigada por um dos afluentes inferiores do Tigre. Mas aquela área havia muito estava ocupada pelos elamitas, cujo pequeno mas poderoso reino se mantivera independente durante dois mil anos.

 

Em meados do século VII a.C., uma série de convulsões políticas começou a redefinir as estruturas de poder em toda região. “Uma rápida sucessão de reis refletiu a instabilidade resultante em Elam, entre o final dos anos 650 e início dos anos 640, [...] resultando em caos político e atritos com a Assíria” [Waters, 2014, p. 24]. Os elamitas sucumbiram perante às formações de cavalaria e pelas elevadas torres de assédio dos assírios. A capital elamita, Susa, foi reduzida a ruínas. Em seguida, a própria Assíria, que dominava o Oriente Médio havia vários séculos, defrontou-se com uma séria ameaça: os medos.

 

Em seu território nos montes Zagros, eles haviam transformado uma sociedade tribal e nômade em uma monarquia poderosa e estável. O rei medo governava a partir de uma fortaleza no topo de uma colina em Ecbátana. Nos últimos anos do século VII a.C., o rei medo era Ciaxares. Ele reorganizou o exército, criando formações disciplinadas de cavaleiros, arqueiros e lanceiros.

 

Matt Waters relata que “os medos eram os líderes de uma grande coalizão de povos de todo o norte do Irã, uma coalizão unida por uma personalidade forte como Ciaxares e apenas com o propósito de derrotar a Assíria”. [Waters, 2014, p. 34]

 

Em 615 a.C., Ciaxares atacou Assur, o principal centro religioso da Assíria. Em seguida, os medos aliaram-se aos babilônios e destruíram Nínive, a capital assíria; depois, perseguiram e dizimaram o exército assírio. “Os aliados dividiram o ímpeto vencido: os babilônios ficaram com o sul da Mesopotâmia, a Síria e a Palestina; os medos com o restante. O Egito, que os havia apoiado, obteve sua própria independência”. [Waters, 2014, p. 34]

 

Ciaxares passou a controlar um território que ia da Anatólia oriental ao mar Cáspio e, ao sul, abrangia o antigo Elam e as terras persas. Na Anatólia, as terras de Ciaxares limitavam-se com o rico e agressivo reino da Lídia. As hostilidades entre lídios e medos eclodiram em 591 a.C. e se arrastaram por cinco anos.  Exatamente quando se tornava evidente que nenhum dos lados alcançaria uma vitória conclusiva, Heródoto registra que ocorreu um aparente “milagre”: enquanto os exércitos se digladiavam – posteriormente os astrônomos fixariam a data em 28 de maio de 585 a.C. – o céu escureceu ao meio-dia e parecia que a noite havia caído. Era um eclipse solar, que os soldados interpretaram como um sinal de descontentamento dos deuses. Atemorizados, baixaram as armas e abandonaram o campo. Sobre este episódio, Matt Waters registra que “é difícil separar o que é fato e o que é ficção, nos relatos gregos”. [Waters, 2014, p. 35] 

 

De qualquer modo, todos estavam fartos da guerra, inclusive a Babilônia, cujo lucrativo comércio com a Lídia declinara. Por insistência desta, firmou-se um tratado que estabelecia a fronteira entre as duas nações no rio Hális. O filho e herdeiro de Ciaxares, Astíages, selou o acordo casando-se com a filha do monarca lídio. Após anos de conflitos, a paz retornou ao Oriente Médio. Logo após assumir o trono medo em 585 a.C., Astíages deu a mão de sua filha Mandane ao soberano aquemênida Cambises. No ano seguinte, Mandane deu à luz um filho, Kurush – cujo nome entraria para a história sob sua forma grega, Ciro.

 

David Asheri relata que:

 

“Na área montanhosa irânica [...] a monarquia meda apoiava-se em um vasto agregado de reinos vassalos e tributários. Em um destes, que os textos assírios do século VII conheciam como Párshua, reinava então um certo Kurash (Ciro), possível antepassado do fundador homônimo do império persa: este último, com efeito, fez-se chamar, em seu ‘Cilindro’, ‘filho do Grande Rei Cambises, rei da cidade de Ashan, neto do Grande Rei Ciro, rei da cidade de Ashan’”. [Asheri, 2006, p. 20]

 

Existem várias histórias sobre o nascimento e a infância de Ciro II. Heródoto, mencionado por Matt Waters, menciona uma versão segundo a qual, pouco antes de Ciro nascer, seu avô Astíages teve um sonho no qual “uma videira brotava das costas de Mandane, lançando gavinhas que envolviam toda a Ásia. Os sacerdotes interpretaram o sonho, dizendo ser a videira o futuro filho de Mandane que, ao crescer, conquistaria não apenas a Média, mas o mundo inteiro”. [Waters, 2014, p. 48]

 

Astíages decidiu cortar a ameaça pela raiz. Ele ordenou a seu mordomo-mor, Harpago, que levasse o recém-nascido Ciro para as montanhas e o matasse.  Mas, ao contemplar a beleza e a nobreza do bebê, Harpago não teve coragem de cumprir a ordem, reza a lenda. Em vez de matar a criança, ele a entregou a um pastor, para que este a criasse.

 

Seja qual for a história de seus primeiros anos, Ciro certamente foi educado como os meninos persas, os quais por tradição aprendiam a “cavalgar um cavalo, atirar com um arco e falar a verdade” [Heródoto, 2017, p. 97]. Na realidade, a educação era mais abrangente, incluindo o uso de outras armas, o combate a pé e o treinamento para sobrevivência em regiões desérticas. Ao se tornar adulto, Ciro era hábil com o arco, bastante sábio para sua idade e extremamente ambicioso. Quando tomou o lugar de seu pai em 559 a.C., ele unificou as tribos persas e transferiu a corte para Elam, onde reconstruiu a antiga capital, Susa, que se tornou o centro administrativo e logo ele revelou sua independência: iniciou conversações diplomáticas com a Babilônia – confirmando os piores temores de Astíages.

 

Este, por sua vez, havia se tornado cada vez mais tirânico e uma oposição silenciosa começou a se organizar entre os medos. Em 550 a.C., Astíages enviou um exército para humilhar seu ambicioso neto. As duas forças encontraram-se na árida planície próxima a Pasárgada e, logo no início do confronto, a maior parte do exército medo desertou para o lado inimigo. Astíages foi preso por seus próprios generais e conduzido até Ciro. Em vez de degolar seu prisioneiro, Ciro demonstrou a generosidade que caracterizaria todo seu reinado: embora destituísse o avô de sua posição e seus títulos, poupou sua vida.  Em seguida, marchou em triunfo para Ecbátana e assumiu o controle do império medo.

 

Além dos territórios, Ciro herdou as instituições dos medos: uma eficiente burocracia, um exército poderoso e cerimoniais majestosos. Os funcionários mantiveram seus cargos e trabalharam em aparente harmonia com os recém-nomeados “colegas” persas.

 

Acerca das tropas persas, Nick Sekunda registra que Heródoto cunhou a alcunha de “Os Imortais”, para a infantaria pesada de elite, pois “suas divisões eram dotadas de força infalível, cada morto era imediatamente substituído, de forma que o ímpeto ofensivo era sempre mantido”. [Sekunda, 1992, p. 6]

 

O passo seguinte de Ciro foi ampliar seu território. Seu alvo inicial foi a Lídia, antiga inimiga dos medos. Desde a época da batalha do eclipse, a Lídia prosperara sem cessar. Os cofres reais estavam tão repletos que seu soberano, Creso, era considerado a personificação da riqueza extravagante.

 

Creso também tinha ambições imperiais e cobiçava as terras a leste do rio Hális, que lhe haviam sido negadas pelo antigo tratado com a Média. Ao planejar a campanha, ele – como vários monarcas prudentes da época – relata Mario Giordani, não deixou de consultar um adivinho. Não um adivinho qualquer, mas o melhor que o dinheiro podia comprar: o Oráculo de Delfos, na Grécia. Perguntado se Creso iria “destruir grande império”, Sibila Délfica, a sacerdotisa por meio da qual falava o deus Apolo, acenou positivamente – “se Creso atravessasse o Hális, um grande império seria destruído”. [Giordani, 1972, p. 259]. Nem passou pela cabeça do soberano lídio indagar qual império seria destruído. Confiante na vitória, em 547 a.C. ele invadiu a Média.

 

Enquanto isso, Ciro conduzira seu exército através da orla setentrional da Mesopotâmia. Ele encontrou o inimigo em Ptéria, uma aldeia fortificada nas proximidades do rio Hális, e lá os dois exércitos enfrentaram-se do amanhecer ao pôr do sol. Na manhã seguinte, em desvantagem numérica, Creso ordenou que suas tropas retraíssem a Sardes, capital lídia.

 

Na Antiguidade, a guerra era uma atividade sazonal. Os exércitos eram mobilizados na primavera e desmantelados no outono, de modo que os homens pudessem cuidar dos rebanhos ou plantar as safras de inverno. Os lídios abandonaram o campo de batalha na época em que as hostilidades normalmente cessariam. Creso começou a dispensar seus soldados e a fazer os preparativos para a estação seguinte.

 

Ciro, no entanto, não pretendia esperar. Detendo-se apenas o tempo suficiente para que os lídios se dispersassem, ele marchou em direção a Sardes. Creso reconvocou apressadamente o que restara de seu exército para enfrentar os atacantes. A cavalaria lídia arremeteu contra os persas. No entanto, não tardou a desorganizar-se devido a uma perspicaz tática de Ciro: “seus cavaleiros montavam camelos e o cheiro desses animais estranhos aterrorizou de tal forma os cavalos lídios que estes debandaram” [Sekunda, 1992, p. 46]. Após o desastre, Creso refugiou-se em Sardes, mas a cidade, uma fortaleza supostamente inexpugnável no alto de uma colina, caiu em duas semanas. Por fim, Creso compreendeu o verdadeiro significado da mensagem da Sibila de Delfos: ele realmente havia destruído um império, o seu próprio.

 

Nos anos seguintes, Ciro consolidou seus domínios no planalto iraniano e ampliou seus territórios a leste. Ao alcançar as margens do atual Syr Daria, finalmente interrompeu seu avanço. Ciro fez daquela desolada região a fronteira setentrional do império e mandou construir uma série de fortificações. Entretanto, não se contentaria com as vitórias já alcançadas. A Babilônia – o mais importante centro cultural do Oriente Médio – ainda se conservava independente, embora estivesse quase inteiramente circundada por territórios persas. Aquela região tornar-se-ia o objetivo seguinte de Ciro.

Nabucodonosor, que subira ao trono em 604 a.C., circundara a cidade da Babilônia com espessas muralhas, em cujo topo construíram-se duas fileiras de casas separadas por uma rua que permitia a passagem de uma carruagem puxada por quatro cavalos. Entretanto, sua morte, em 562 a.C., desencadeara um período de descontentamento. Seu sucessor, Nabonido, negligenciou os negócios do Estado e desperdiçou tempo e riqueza em um culto ao deus lunar Sin, afastando-se do poderoso clero do principal deus babilônico, Marduk. Ademais, Nabonido permaneceu onze anos longe da capital, empenhado numa campanha militar na Arábia. “O desgoverno e o suborno eram desenfreados, os camponeses foram oprimidos e seus campos ficaram sem cultivo”. [Olmstead, 1999, p. 45]

 

Nesse momento crítico, os persas invadiram a Babilônia. Houve um sangrento confronto junto à cidade de Opis, mas em geral Ciro parece ter sido saudado como um libertador. Um dos governadores provinciais da Babilônia, Gobrias, passou para o lado dos persas e Ciro enviou-o à capital com “Os Imortais”. Gobrias tomou a cidade em 13 de outubro de 539 a.C. Ciro lá chegou dezesseis dias depois, marchando em triunfo sob a grande Entrada de Ishtar.

 

Ciro apropriou-se do título de rei da Babilônia e apresentou-se como legítimo herdeiro do reino, escolhido pelo próprio deus Marduk. Diariamente fazia suas devoções no templo de Marduk, conquistando o apoio dos sacerdotes. Ele manteve os funcionários da burocracia babilônica em seus cargos, confiando-lhes a administração do país. Os governantes dos estados dependentes da Babilônia declararam lealdade a Ciro.

 

Ciro administrou seus domínios ampliados com o mesmo tato que caracterizava suas vitórias. Sempre que possível mantinha em suas funções os governadores locais, exigindo apenas lealdade e tributos. Nas cidades gregas da Jônia, permaneceram no poder os soberanos que se submeteram, mas ele respeitou seus costumes e instituições.

 

Dentre os beneficiados por esse regime estava o povo de Judá – grande parte do qual vivia em exílio forçado na Babilônia. Os desterrados não se esqueciam da época não muito distante, em que possuíam seu próprio reino independente nas colinas da Judéia. Isso proporcionou a Ciro uma oportunidade na distante Palestina. Assim, em 537 a.C., ele autorizou os exilados a retornarem à Judéia. As gerações seguintes considerariam Ciro como “o messias persa”.

 

Com um aliado agradecido na Palestina e sua fama consolidada, Ciro passou a controlar o corredor até os tentadores campos de cereais do vale do Nilo. Estava aberto, portanto, o caminho para a conquista do Egito. Mas, enquanto Ciro se preparava, sua atenção foi desviada para a fronteira nordeste do Irã. Uma tribo de nômades das estepes, os masságetas, estava saqueando a região da fronteira entre os mares Cáspio e Aral.

 

Em 530 a.C., Ciro dirigiu-se para o norte, a fim de repelir os invasores. Essa foi a única batalha que perdeu, morrendo junto com a maior parte de seus homens. Heródoto relata que seu corpo foi levado de volta a Pasárgada e sepultado num modesto mausoléu de pedra, que ele próprio projetara. Durante muitas gerações, todos os meses os sacerdotes persas ali sacrificaram um cavalo em homenagem ao grande conquistador.

 

Nos dizeres de Maria Brosius:

 

“No espaço de cerca de vinte anos, Ciro II liderou uma série de campanhas militares em que submeteu os reinos do mundo conhecido, Média, Lídia e Babilônia, bem como territórios a leste de Parsa, controlando uma área aproximadamente equivalente ao Oriente Médio moderno, estendendo-se desde Turquia e a costa do Levante até as fronteiras da Índia, e das estepes russas ao Oceano Índico. Isso foi fenomenal e uma realização notável para um único governante, cujo carisma e a habilidade militar permitiu-lhe comandar um vasto exército multiétnico, e que impôs uma organização política que permaneceu uma ferramenta eficaz por mais de 200 anos”. [Brosius, 2006, p. 8]

 

Em suma, Ciro, o Grande, foi um líder visionário e habilidoso que conquistou vastos territórios e estabeleceu o Império Aquemênida. Sua política de tolerância e respeito pelas culturas locais o distinguia de muitos outros conquistadores da Antiguidade – cabe ressaltar que apesar destas práxis, Ciro também foi criticado por seu estilo de governo, especialmente nos territórios mais distantes do império, onde a repressão era mais comum. Seu legado é uma mistura de conquistas militares impressionantes e sua reputação como um governante benevolente e sábio, fatores estes que proporcionaram que seu nome atravessasse os séculos e permanecesse popular até nossos dias.

 

Referências

 

Willian Spengler é historiador militar/professor vinculado à Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina, pós-graduado pela UFRJ, podcaster do SciCast [https://www.deviante.com.br/podcasts/scicast] e do Fronteiras no Tempo [https://www.deviante.com.br/podcasts/fronteirasnotempo/].

 

ARAUJO, Matheus Treuk Medeiros de. O Império Aquemênida em Heródoto: identidade e política nas Histórias. Tese (Doutorado em História Social) – USP. São Paulo, 2018.

 

ASHERI, David. O Estado Persa: ideologias e instituições no império aquemênida. São Paulo: Perspectiva, 2006.

 

BROSIUS, Maria. The Persians: An Introduction. Routledge Taylor & Francis Group, 2006.

 

GIORDANI, Mario Curtis. História da Antiguidade Oriental. Petrópolis: Vozes, 1972.

 

HERÓDOTO. Histórias. São Paulo: Edipro, 2017.

 

OLMSTEAD, Albert T. History of the Persian Empire. The Universty of Chicago Press, 1999.

 

SEKUNDA, Nick. The Persian Army 560-330 BC. Osprey Publishing, 1992.

 

WATERS, Matt. Ancient Persia: A Concise History of the Achaemenid Empire, 550–330 BCE. Cambridge University Press, 2014.

9 comentários:

  1. Olá, Willian.
    Parabéns pelo texto, interessantes os detalhes sobre esse líder persa.
    Num dos parágrafos, você cita Nick Sekunda [1992, p. 6] ao relatar Heródoto sobre o apelido da infantaria pesada de
    elite de Ciro, o Grande; que para cada morto em combate, ele era imediatamente substituído por outro guerreiro,
    justificando a expressão “Os Imortais”. Você saberia dizer se os agrupamentos militares desse conquistador já
    contavam com “reservas” para cada destacamento, que apenas aguardavam sua entrada nos conflitos ou se, conforme
    os soldados eram mortos, outros eram convocados para atender a nova demanda?
    Espero ter contribuído.
    Obrigado.
    Junior Pleis.

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    1. Salve! Tudo na paz?

      Primeiramente, obrigado pela leitura do texto.

      Tal como acontece com muitas civilizações antigas, muito da história do Império Aquemênida se perdeu no tempo.

      Infelizmente, o conhecimento histórico acerca Imortais é um tanto limitado, além dos escritos de Heródoto, Xenofonte e Ateneu, o que faz com que seja difícil confirmar os detalhes.

      Richard A. Gabriel, em sua obra "The Great Armies of Antiquity", menciona que haviam reservistas - segundo os gregos. Essa força de manobra ficaria à retaguarda dos três escalões principais (que compunham a frente de combate), em condições de ser empregada.

      Espero ter contribuído para elucidar sua questão.

      Grato pela atenção!

      Saudações!

      Willian Spengler

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    2. Olá, Willian!
      Respondeu sim, vou procurar este livro.
      Obrigada!
      Tudo de bom!
      =)

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  2. Olá Spengler!
    Ao analisarmos o reinado de Ciro, notamos que manteve seu grandioso império adotando uma política de conciliação e tolerância com os povos vencidos contrariando seus monarcas vizinhos que utilizavam de métodos hostis e violência para manterem-se no poder. Diante disso, é possível indicarmos que a educação obtida por Ciro foi um fator responsável para as suas conquistas e feitos?
    Clésio Fernandes de Morais

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    1. Salve! Tudo na paz?

      Primeiramente, obrigado pela leitura do texto.

      Segundo Xenofonte, o grande mentor de Ciro foi seu pai, que durante a sua infância e juventude foi quem mais o preparou para se tornar um grande líder: ensinou-lhe a arte da caça como teoria para a arte da guerra, a prática constante de exercícios físicos e treinamento para si e para o seu exército, os cuidados e a valorização para com seus companheiros e os valores morais que tornaram Ciro uma barreira intransponível. Dentre os muitos ensinamentos de seu pai, Ciro também aprendeu a importância da generosidade: “[...] muitos, não satisfeitos com a parte que lhes tocou, pretenderam apossar-se de toda a herança, e esta ambição lhes fez perder o próprio quinhão”.

      Logo, é possível acreditar que a educação tenha tido um papel preponderante na prática desenvolvida por ele, nos campos de batalha.

      Espero ter contribuído para responder sua questão.

      Grato pela atenção!

      Saudações!

      Willian Spengler

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  3. Boa tarde e parabéns pelo excelente texto. Podemos extrair daí que Roma, alguns séculos mais tarde, teve alguma influência da práxis administrativa e militar dos persas no modo de governo?
    Fabio Machado do Nascimento

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    1. Salve! Tudo certo?

      Obrigado pela leitura do texto.

      Na obra "The Great Armies of Antiquity", de Richard A. Gabriel, o título do capítulo dedicado às forças persas chama bastante a atenção: "Persia and the Art of Logistics - 546-330 B.C.E.". Não só a logística empregada nas conquistas propriamente ditas, mas o "modo persa de governar" também é mencionado - a abertura de estradas, a criação do "Correio Real", a adoção de uma moeda única, a divisão do território em satrapias. p. ex.

      É possível que essa "arte" possa ter influenciado Alexandre da Macedônia e seus comandados, que, por sua vez, poderiam ter inspirado a "velha bota".

      Espero ter contribuído para responder sua questão.

      Grato pela atenção!

      Saudações!

      Willian Spengler

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  4. Olá Sr. Spengler, boa tarde.

    Sobre as circunstâncias envolvendo a morte de Ciro, eu assisti, há alguns anos atrás, uma palestra que levantou a possibilidade de a versão mais conhecida do que ocorreu (de que ele foi morto em combate contra os masságetas) seria, na verdade, uma narrativa fictícia, cuja moral era de que Ciro deixou-se ser vencido por uma ambição desmedida (o desejo de realizar mais uma conquista) e foi morto por isso. Tal apresentação também mostrou outra versão da história (não me lembro qual foi a fonte utilizada, infelizmente) em que Ciro teve uma morte natural, na capital de seu império.

    Qual é a visão do senhor sobre esta hipótese?

    Grato,
    Vinícius Andrade de Araújo

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    1. Salve! Tudo certo por aí?

      Obrigado pela leitura do texto.

      A morte de Ciro é um mistério tão grande quanto às narrativas sobre sua infância. Existem várias versões, algumas bastante contraditórias.

      O “Pai da História” afirmou que o rei persa morreu em uma batalha contra os masságetas, um povo nômade que habitava o oriente do Império Persa.

      Em um relato diferente, Xenofonte conta que Ciro contraiu uma doença letal que o matou em três dias. Nesse meio tempo, o rei teria chamado seus dois filhos para dividir o império e teria passado seus últimos momentos em meditação.

      Por fim, Ctesias expressou nos escritos gregos duas maneiras pelas quais Ciro teria perecido: uma na cama e outra durante a batalha.

      Todos os três relatos da morte de Ciro são diferentes, possivelmente para fornecer propaganda a seu favor, mas a de Heródoto é a versão mais amplamente referenciada.

      Daniel Beckman publicou, em janeiro de 2018, um artigo bastante interessante intitulado "The Many Deaths of Cyrus the Great", na "Iranian Studies" (vol. 51 ), da Universidade de Cambridge. Talvez possa te interessar.

      Espero ter contribuído para responder sua questão.

      Grato pela atenção!

      Saudações!

      Willian Spengler

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