UM REGIME HISTORIOGRÁFICO DE CIRCULAÇÃO AMPLA? A HISTORIOGRAFIA SOBRE A IMIGRAÇÃO JAPONESA DE MARCIA YUMI TAKEUCHI, por Luana Martina Magalhães Ueno

 Introdução

A imigração japonesa é um tema consideravelmente pesquisado na academia, sendo assim, torna-se interdisciplinar e multifacetado. Apesar disso, ainda está em constante desenvolvimento e disputa por espaço. Os estudos sobre o processo imigratório pertenciam inicialmente às Ciências Sociais, somente a partir dos anos 2000 que ocorreu a introdução desse tema em outras áreas. Caso da História, uma vez que por influência da publicação do livro A negociação da identidade nacional [2001], do brasilianista Jeffrey Lesser, os historiadores começaram a se aventurar mais nesse tipo de pesquisa, contribuindo com novos olhares, métodos, fontes e objetos. Dentre os historiadores que abordaram a imigração japonesa, destacamos a pesquisadora Marcia Yumi Takeuchi [1972-2010].

 

Takeuchi formou-se em História pela Universidade de São Paulo, durante o período de 1995-1998, e foi onde realizou seu mestrado [2004] e doutorado [2009] em História Social, sob orientação de Maria Luiza Tucci Carneiro. Em 2010, iniciou o seu pós-doutorado denominado Os imigrantes japoneses: entre a terra da liberdade e o paraíso tropical (1907-1924) na mesma instituição e supervisionada por Sedi Hirano, entretanto, não foi finalizado devido ao seu prematuro falecimento em 1 de junho de 2010 [Carneiro, 2016]. Durante a sua formação, participou do Projeto Integrado: arquivo do Estado e da Universidade de São Paulo [PROIN/USP], do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação [LEER] e do Laboratório de Estudo sobre Intolerância [LEI]. Foram nesses lugares sociais que Takeuchi construiu a sua autoria, pois auxiliou com a publicações das coleções Inventário DEOPS, História da Repressão e Resistência, Histórias da Intolerância, História da Imigração e Série Luzuli Imigrantes no Brasil, sendo que publicou em todas elas.

 

Ademais, foram nesses espaços que ela estabeleceu relações com outros pares, inclusive com Rogério Dezem, outro historiador importante da historiografia sobre imigração japonesa. Sendo assim, a historiadora foi marcada por seus contatos intelectuais, como podemos observar nas escolhas de seus objetos de pesquisa: o processo imigratório e o discurso antinipônico.

 

Neste artigo, analisaremos a obra Japoneses: a saga do povo do sol nascente, publicada em 2007 pelas Companhia Editora Nacional e Lazuli Editora, e é pertencente a Série Luzuli Imigrantes no Brasil. É uma publicação que visava homenagear os imigrantes japoneses e destinada ao público jovem que possuía interesse na história da comunidade japonesa. Assim sendo, objetivamos compreender a operação historiográfica de Takeuchi relacionada com o regime historiográfico de circulação ampla, que ambicionava uma espécie de democratização do saber.

 

A operação historiográfica de Takeuchi

Como exposto, por Takeuchi participar de determinados grupos e laboratórios, possibilitou que ela publicasse alguns livros focando em sua pesquisa acadêmica. Contudo, a autora não permaneceu apenas produzindo para os seus pares, isto é, os acadêmicos e a banca, mas buscou trazer as suas análises para o público em geral que possuía interesse na história da imigração.

 

Para compreender o que estamos denominando de regime historiográfico de circulação ampla, é preciso entender a operação historiográfica da autora. Conforme Michel de Certeau [1982], a operação historiográfica se refere à combinação de um lugar social, de práticas “científicas”, que seriam os procedimentos de análise, e de uma escrita, ou seja, a construção de um texto.

 

Sendo assim, entendemos que Takeuchi estava inserida em uma instituição de extrema importância para o seu fazer história: Universidade de São Paulo [USP]. Além de ser marcada pelos grupos e laboratórios os quais participou. Portanto, a historiadora seguiu as regras, os métodos, os documentos e as questões propostas por esses lugares [Certeau, 1982]. É perceptível essa influência tanto na prática quanto na escrita de Takeuchi, uma vez que ela se utiliza dos métodos apreendidos com a sua orientadora em conjunto com os colegas. Segundo Rogério Akiti Dezem [2023], foi Tucci Carneiro, por meio do projeto PROIN, que oportunizou a eles a pesquisa sobre os imigrantes japoneses. Ademais, a partir de uma reorganização desse grupo, surgiram os módulos de pesquisa:

 

“[...] Quando o grupo se estruturou e se consolidaram os módulos de pesquisa, como os dos japoneses [Márcia e eu], dos alemães [três pesquisadoras] e os outros, começamos a discutir nas reuniões bibliografias afins, só que em perspectivas diferentes, pensando no contexto de cada grupo estudado. Desse modo, aprendíamos mais entre nós, orientandos, e a Tucci organizava e direcionava todo esse processo. Posteriormente, o PROIN cresceu, amadureceu como projeto e produtor de pesquisa acadêmica sobre a Era Vargas. Isso levou, naturalmente, à efetivação de uma certa hierarquização dentro no grupo [...]” [Dezem; Richard, 2023, p. 11].

 

Outrossim, Tucci Carneiro objetivava que seus orientandos fizessem a catalogação e a análise dos documentos do Departamento de Ordem Política e Social [DEOPS/SP] e que realizassem conexões com a história do Brasil:

 

“[...] Assim, a Tucci sempre deixou claro para nós, orientandos, que precisaríamos situar os imigrantes no universo da história brasileira contemporânea, o que se assemelhava ao que ela fez em relação aos judeus. Portanto, tentamos seguir essa metodologia, o que era quase um mantra para jovens pesquisadores como nós. Também havia muita troca de informações e documentos entre os pesquisadores no PROIN [...]” [Dezem; Richard, 2023, p. 13].

 

Desse modo é possível compreender como os lugares socias, em específico o grupo PROIN, definiram e modelaram a prática e escrita da história.

 

Em relação a prática “científica”, percebemos que Takeuchi optou inicialmente pela análise de fontes oficiais, caso do dossiê do DEOPS/SP, buscando compreender o discurso antinipônico durante as décadas de 1930 a 1940, focando em como esse discurso se tornou repressivo e serviu de legitimação para o governo Vargas durante o Estado Novo [Takeuchi, 2002]. Posteriormente, no mestrado e doutorado, o seu arcabouço de fontes e a temporalização foram ampliados, em que analisou as revistas ilustradas durante o período de 1897 a 1945, entendendo como o discurso antinipônico foi construído antes mesmo da chegada dos primeiros imigrantes japoneses, por intermédio das discussões políticas que foram traduzidas por meio do discurso textual e iconográfico. Assim, a autora defendeu que a iconografia funcionou como um instrumento de difusão do preconceito e dos estereótipos em relação ao amarelo e que era presente no imaginário político brasileiro [Takeuchi, 2016]. Portanto, a historiadora se utilizou de fontes oficiais, que inicialmente possuíam outros objetivos, e os transformou em história. Como dito por de Certeau [1982, p. 79]:

 

“Trabalha sobre um material para transformá-lo em história. Empreende uma manipulação que, como as outras, obedece as regras. Manipulação semelhante é aquela feita com o mineral já refinado. Transformando inicialmente matérias-primas [uma informação primária] em produtos standard [informações secundárias], ele os transporta de uma região da cultura as [‘curiosidades’, os arquivos, as coleções, etc.] para outra [a história]”.

 

Assim como, Takeuchi transformou, separou e reuniu as suas fontes. Em sua primeira pesquisa, a autora mapeou, catalogou, inventariou e analisou 154 prontuários, entre eles: 49 requerimentos de transferências de residência, 41 pedidos de salvo conduto e 16 arquivos sobre cidadãos presos por se expressarem em público em língua japonesa [Takeuchi, 2002]. Enquanto no mestrado, Takeuchi analisou esses prontuários do DEOPS/SP, mas adicionou outros: a literatura, as charges políticas e os artigos publicados em periódicos, delimitando o período de 1920-1945. Já no doutorado, como exposto, a autora ampliou também para as iconografias produzidas a partir dos anos de 1897. Desse modo, é notável em como Takeuchi construiu a sua própria coleção. Como dito por de Certeau [1982], a história transforma os objetos em fontes e com o objetivo diferente de sua criação, o que é denominado de distribuição cultural. Sendo assim, os historiadores produzem os documentos, uma vez que ele é recopiado, transcrito ou fotografado; mudando o seu lugar e estatuto.

 

Além disso, para que realmente o objeto se transforme em uma fonte é preciso que se realize uma redistribuição do espaço, ou seja, o “estabelecimento das fontes solicita, também, hoje, um gesto fundador, representado, como ontem, pela combinação de um lugar, de um aparelho e de técnicas [...]” [Certeau, 1982, p. 82]. Assim, não é suficiente apenas “dar voz” as fontes, é preciso que ela seja transformada por uma ação instauradora e por técnicas. Dessa forma, as fontes utilizadas por Takeuchi perpassam por técnicas, que entendemos aqui como o aparato teórico e metodológico. Em suas pesquisas, a historiadora se valeu de trabalhos sobre a imigração japonesa, que são os estudos produzidos a partir da década de 1940, autores como Hiroshi Saito, Célia Sakurai, Giralda Seyferth, Francisca Vieira e Jeffrey Lesser, sobre o governo de Getúlio Vargas, baseou-se nos trabalhos de Alcir Lenhado e de sua orientadora Tucci Carneiro, e para compreender os discursos e a lógica de desconfiança, embasou-se em Michel Foucault e Hannah Arendt. Depois com acréscimo de outros tipos de fontes, Takeuchi inseriu autores que discutem a charge e iconografia, como Boris Kossoy e Pierre Francastel. Além de referenciar os colegas do PROIN, como Rogério Dezem e Priscila Perazzo.

 

Outrossim, a escrita é composta por um discurso histórico que por meio da narração pretender “dar um conteúdo verdadeiro”, ou seja, um lugar de autoridade, que produz credibilidade por intermédio da citação [Certeau, 1982]. Portanto, notamos que Takeuchi cita as autoridades que pesquisaram a imigração e o discurso antinipônico, além de analisar e referenciar as fontes; demonstrando o objetivo de dar credibilidade ao seu texto. Para além disso, a autora transforma a sua escrita em um discurso historiográfico, à medida que compreende o seu outro, apoiando-se em estudos referenciais [Certeau, 1982]:

 

Quando falamos de escrita, é necessário pensar para quem é direcionado o discurso histórico. Segundo de Certeau [1982], os historiadores produzem para um nicho específico: os seus pares; que desempenham um papel de autoridade, legitimando e definindo o estatuto das obras. Isso é perceptível nas produções de Takeuchi, uma vez que a maioria de seus trabalhos são habilitados e acreditados por uma banca, ou por um conselho editorial científico – caso das pesquisas publicas em livro. Apesar disso, é preciso se questionar se essa formulação do público específico ainda consegue ser convincente e dar conta do contexto atual, em que há uma difusão do saber histórico e das relações entre público-leitor. Conforme Fernando Nicolazzi [2019], o público não dever ser visto como passível, assim como, é imprescindível compreender que a recepção da história é uma prática crítica e a sua eficácia depende do grau de conhecimento dos protocolos definidores da operação historiográfica que os leitores possuem.

 

Assim como, quando pensamos em uma produção historiográfica, deve-se considerar o regime de historicidade em que os indivíduos estão inseridos, uma vez que essa categoria possibilita compreender em como a sociedade trata seu passado e trata do seu passado. Bem como, o tempo marca a escrita da história, definindo como certas histórias foram mais possíveis do que outras [Hartog, 2013]. Defendemos que Takeuchi estava inserida em um regime de presentismo, no qual o presente tornou-se estagnante e o futuro não é mais visto como uma promessa, mas passa a ser uma ameaça catastrófica [Hartog, 2013]. Ademais, nos regimes de historicidade se estabelecem os regimes historiográficos, que é considerado as maneiras de escrita e elaboração do saber histórico. Nicolazzi [2019] argumenta que há mais de um tipo de regime historiográfico, definindo que há pelo menos três, e que podem dialogar entre si: acadêmico, escolar e o de circulação ampla. Em cada um deles, a história é escrita seguindo regras e protocolos distintos. Portanto, percebemos que não tem como considerar que os historiadores produzem apenas para academia, mas é possível também que, por meio de outros regimes historiográficos, direcionem o seu discurso histórico para outros públicos. O que é possível notar nas produções de Takeuchi, pois há obras que não foram publicadas com a intenção de alcançar os pares, mas a sociedade em geral.

 

Caso da obra Japoneses: a saga do povo do sol nascente. Como apontado, era uma publicação paradidática idealizada pelo PROIN em colaboração com o LEER, como uma espécie de homenagem aos imigrantes japoneses, já que fazia parte dos eventos programados pela USP para o centenário da imigração japonesa. Sendo destinada ao público jovem e as futuras gerações [Takeuchi, 2007].

 

Um Regime historiográfico de circulação ampla?

O livro foi publicado em 2007, um ano antes da comemoração do Imin 100, como parte da série Lazuli imigrantes no Brasil, organizada por Tucci Carneiro. Para a publicação, Takeuchi se uniu com as instituições vinculadas ao governo japonês e com a comunidade japonesa. A pretensão do livro era reconstituir a trajetória dos imigrantes desde 1908 focando nas dificuldades enfrentadas pelos japoneses na metade do século XX [Takeuchi, 2007].

 

Neste trabalho estamos nos questionando, como uma inicial tentativa de responder, se essa obra pode ser inserida no regime historiográfico de circulação ampla, o qual possui regras, protocolos, demandas, modos de difusão e recepção distintos do regime historiográfico acadêmico que era comum nas produções anteriores da historiadora [Nicolazzi, 2019]. Compreendemos que as publicações de circulação ampla não é simplesmente uma adaptação de pesquisas acadêmicas, mas uma mudança completa levando-se em conta todas as características citadas acima.

 

A obra é dividida em três principais capítulos que abordam a história, cultura e memória da imigração japonesa. Além de outros capítulos como a apresentação, introdução, cronologia e glossários e siglas. De forma geral, o livro foi produzido para que o público em geral, aqueles não possuem o conhecimento das regras da operação historiográfica, compreendesse e conhecesse o processo imigratório. Apesar disso, Takeuchi se utiliza de alguns elementos que são pertencentes à uma pesquisa acadêmica, como as referências no corpo do texto. O que demonstra que a historiadora, em sua escrita, se utilizava de recursos pertencentes a outro tipo de regime historiográfico. Portanto, defendemos a hipótese de que Takeuchi estava tentando se inserir em outro regime, contudo, ela ainda estava no processo de adaptar os seus textos, ao invés de escrever uma outra obra seguindo os procedimentos específicos do regime historiográfico de circulação ampla.

 

Logo na introdução, a autora analisa o processo imigratório e o dividi em três principais momentos: uma primeira fase, delimitada de 1908 a 1930, marcada pelos discursos antinipônicos e pelo aumento progressivo do número de imigrantes japoneses; a segunda fase é durante os anos de 1930 a 1940, um período em que ocorreu o crescimento nacionalista brasileiro e o imperialismo japonês. Bem como, é quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial e aconteceu o alinhamento do Brasil ao lado dos aliados, tornando os imigrantes japoneses, italianos e alemães como inimigos e “súditos do eixo”; enquanto a terceira fase é delimitada de 1952 a 2007, em que se destaca a retomada da imigração japonesa no pós-guerra, a diminuição dos conflitos internos da comunidade japonesa, o movimento dekasegui e o início da integração [Takeuchi, 2007]. Essa divisão foi uma tática de Takeuchi para tornar mais explicativo a história da imigração japonesa para aqueles que não haviam tido algum contato ou lido sobre.

 

Apesar da tentativa da autora em buscar uma outra modalidade discursiva, ela ainda se mantinha muito próxima de uma produção historiográfica acadêmica, como podemos observar no primeiro capítulo denominado Histórico. Embora Takeuchi explore de forma geral a história da imigração japonesa, perpassando por diversos eventos, ela ainda se dedica com mais afinco aos debates relacionados à imigração japonesa, isto é, os discursos antinipônicos e “filo-nipônicos”; focando nos argumentos dos deputados e intelectuais das décadas de 1930-1940, como Miguel Couto e Bruno Lobo. Além de analisar a repressão que a comunidade japonesa sofreu durante o período varguista, destacando as fontes presentes no arquivo do DEOPS/SP [Takeuchi, 2007]. Sendo assim, notamos que Takeuchi adaptou as suas pesquisas anteriores, realizadas durante a graduação e o mestrado.

 

Por outro lado, o segundo e o terceiro capítulo possuem uma dimensão diferenciada, uma vez que Takeuchi dedica-se mais em comprovar, de certa forma, a integração e a contribuição desses imigrantes à sociedade brasileira. É um discurso muito parecido àqueles que surgiram no período dos Imin, que são articulados para reproduzir um conjunto de recordações sociais, buscando uma construção de memória dos imigrantes japoneses e de seus descendentes, bem como, fornecem elementos culturais para identificação de indivíduos ou grupos [André, 2009]. Portanto, identificamos duas espécies de modalidades discursivas, uma mais próxima da historiografia acadêmica e uma outra que seria relacionada ao público, em específico aos que se interessam pela imigração.

 

No segundo capítulo denominado Cultura e Identidade, Takeuchi destaca a influência dos nipo-brasileiros em diversos setores: nos espaços [Bairro da Liberdade e os festivais], nas práticas culturais [origami, taikô, ikebana, cerimônia do chá], nos esportes [judô, karatê, beisebol] e na religião [templos budistas] [Takeuchi, 2007]. Dessa maneira, a historiadora procurou explicitar como os nikkeis contribuíram e se inseriram na cultura e na sociedade brasileira. O que aproxima a sua escrita dos discursos memorialistas, caso da literatura nikkei da década de 1980.

 

No terceiro capítulo História, Memória e Cultura, a historiadora salienta a herança culinária, trazendo receitas do Misoshiro, Tempurá e Sukiyaki. Além de elaborar um roteiro de lugares que buscaram preservar a memória sobre o processo imigratório japonês, como a Casa de Cultura Japonesa, o Casarão Japonês de Santos, o Museu da Imigração da Associação Cultural Tomé-Açu, o Museu da Imigração Japonesa no Brasil, o Museu Histórico da Imigração do Paraná, entre outros. Por fim, Takeuchi realiza um levantamento de periódicos nikkeis, filmografia, sites e exposições [Takeuchi, 2007]. Desse modo, nos últimos dois capítulos, a historiadora narra e escreve focando em outro público, que possuem demandas especificas.

 

Considerações finais

Com este trabalho podemos compreender que Takeuchi era uma historiadora inserida em dois regimes historiográficos: um acadêmico e outro de circulação ampla. Entretanto, ela ainda estava muito mais próxima dos protocolos definidores da operação historiográfica, o que dificultava que sua escrita fosse para além da adaptação. Por fim, levantamos a hipótese de que a obra analisada foi a primeira que Takeuchi escreveu sem ser direcionada para os seus pares e que buscava a legitimação de um público relacionado à comunidade nikkei. Sendo, portanto, uma historiadora que estava pensando em expandir o seu espaço de atuação, não se restringindo mais só à academia.

 

Referências

Luana Martina Magalhães Ueno é doutoranda em História e Cultura pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” [UNESP]. Membro do Laboratório sobre Culturas Orientais [LAPECO/UEL] e do MEMENTO - Grupo de Pesquisa de Memórias, Trajetórias e Biografias.

 

ANDRÉ, Richard Gonçalves. A imigração japonesa no Brasil: história e memória, fronteiras e interpretações. História e-história, v. 1, p. 1-21, 2009. O periódico encontra-se fora do ar.

 

CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

 

DEZEM, Rogério Akiti. Entrevista com Rogério Akiti Dezem. [Entrevista concedida a] Richard Gonçalves André. Prajna: Revista de Culturas Orientais, v. 3, n. 5, p. 5-43, 2023.

 

HARTOG, François. Regimes de historicidades: presentismo e experiências no tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

 

LESSER, Jeffrey. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e luta pela Etnicidade no Brasil. Tradução de Patrícia de Queiroz Carvalho Zimbres. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

 

NICOLAZZI, Fernando. Os historiadores e seus públicos: regimes historiográficos, recepção da história e história pública. Revista História Hoje, v. 8, nº 15, p. 203-222, 2019.

 

TAKEUCHI, Marcia Yumi. O Perigo Amarelo em Tempo de Guerra (1939-1945).  São Paulo: Arquivo do Estado: Imprensa oficial do Estado, 2002.

 

TAKEUCHI, Marcia. Japoneses:  A saga do povo do sol nascente.  São Paulo: Companhia Editora Nacional: Lazuli Editora, 2007.

 

TAKEUCHI, Marcia. O perigo amarelo: imagens do mito, realidade do preconceito. São Paulo: Humanitas, 2008.

 

TAKEUCHI, Marcia. Imigração nas Revistas Ilustradas: Preconceito e Imaginário Social (1897-1945). São Paulo: Fapesp, 2016

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